CULTURA AFRO-BRASILEIRA E POLÍTICAS DE PATRIMÔNIO NO BRASIL: UM CONVITE AO TEMA

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
CULTURA AFRO-BRASILEIRA E POLÍTICAS DE PATRIMÔNIO NO BRASIL: UM CONVITE AO TEMA
Autores
  • Otair Fernandes de Oliveira
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 04] Cultura e Desenvolvimento
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/112810-cultura-afro-brasileira-e-politicas-de-patrimonio-no-brasil--um-convite-ao-tema
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Cultura afro-brasileira; Patrimônio; Políticas de preservação
Resumo
O presente trabalho tem como objeto de reflexão a cultura afro-brasileira no contexto das políticas de patrimônio cultural no Brasil. Através de pesquisa documental e bibliográfica, procuramos ressaltar aspectos históricos, sociais, políticos e institucionais do fenômeno de reconhecimento das referências culturais dos afro-brasileiros como patrimônio nacional que é recente. O que representa o reconhecer como patrimônio cultural a cultura, ou parte dela, de povos que foram escravizados, filhos da diáspora africana, que ainda vivem sob a lógica da exclusão social e em condições assimétricas de poder? Como as políticas de preservação lidam com a questão das diferenças étnico-raciais numa sociedade altamente estratificada e desigual? Como pensar o patrimônio em consonância com uma sociedade multicultural e pluriétnica como a brasileira? Essas perguntas, longe de serem respondidas por este trabalho, servem como estímulos a abertura de diálogos e interlocução no campo de estudos do patrimônio cultural no Brasil. São questões que movem as reflexões do Grupo de Estudo Patrimônio e Cultura Afro-Brasileira (GEPCAfro - CNPq), realizadas no âmbito do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (LEAFRO) e no Programa de Pós-Graduação em Patrimônio, Cultura e Sociedade (PPGPaCS), na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Por ora, serão apresentadas neste trabalho algumas idéias preliminares sobre o assunto como um convite a novos estudos e pesquisas. O reconhecimento das matrizes culturais de povos formadores da sociedade brasileira, como os indígenas e africanos escravizados, no âmbito das políticas de preservação do patrimônio cultural é recente e carece de maiores aprofundamentos teórico-metodológicos, bem como a importância política e o significado histórico desta transformação na perspectiva de seus beneficiários e sujeitos detentores, em particular os descendentes dos africanos escravizados que sofreram o processo histórico da diáspora, isto é, os afro-brasileiros. Qual o significado da transformação das referências culturais afro-brasileiras em patrimônio cultural numa sociedade altamente estratificada, marcada por profundas desigualdades sociais (em várias dimensões) estruturada pela lógica do racismo institucional e relações assimétricas de poder? A literatura especializada sobre o assunto ressalta a relevância dos estudos sobre o patrimônio para compreensão política do processo de construção da identidade nacional. A definição do que é ou não patrimônio, isto é, o que deve ou não ser preservado é uma operação política em que há a eleição, a escolha, de bens de um determinado grupo ou etnia, por parte do Estado, para representar simbolicamente a nacionalidade. Para além das representações da nacionalidade e da identidade nacional, patrimônio entendido como política de Estado é lócus de luta permanente, de conflito material e simbólico, de disputas por memórias coletivas e históricas de grupos ou etnias que irão representar a nação e expressar o sentimento nacional. Portanto, uma “demonstração de poder” onde as elites políticas decidem o que deve ou não ser protegido. Aliás, os grupos “poderosos” além de conseguir preservar as marcas de sua cultura e identidade, muitas vezes, se apropriam das “referências de outros grupos”, como os negros e indígenas no Brasil, semantizando essas referências, conforme sua interpretação (NOGUEIRA, 2008; FONSECA, 2012). Há consenso sobre o fato que, até pouco tempo, as políticas de preservação no mundo e no Brasil eram conservadores e elitistas, focadas nos bens materiais (aspectos físicos e arquitetônicos, monumentos) e o tombamento como único método ou instrumento para reconhecimento e proteção da cultura que se quer preservar. Porém, mudanças conceituais e institucionais importantes ocorreram nos últimos anos, alterando essa situação. A aceitação da noção da imaterialidade da cultura e o advento do patrimônio imaterial ou intangível, bem como a necessidade e possibilidade concreta de seu registro, contribuíram positivamente para um novo cenário no campo das políticas de preservação (ABREU & CHAGAS, 2009, CHUVA, 2012; FONSECA 1997, 2009; GONÇALVES, 2009; LIMA, 2012; NOGUEIRA, 2008, SANT’ANNA, 2009). As políticas de patrimônio cultural no Brasil não apenas reproduzem as características citadas anteriormente, foram construídas a partir dos valores civilizatórios dos colonizadores europeus. Se o reconhecimento de um bem como patrimônio é uma operação política por parte do Estado para eleger os símbolos representativos e expressivos da brasilidade, é lamentável não haver nos estudos sobre patrimônio, salvo raríssima exceção, menção a questão racial. A institucionalização das políticas de preservação no Brasil seguiu, desde 1937, uma tendência de invisibilizar ou desconsiderar o problema central ressaltado pelas elites políticas e econômicas associado ao projeto político e ideológico da formação do Estado-Nação que buscava a construção de uma nação com identidade única e homogênea. Projeto que deveria solucionar a principal causa do atraso e obstáculo ao desenvolvimento do país: a presença negra africana. Para muitos, a solução passava pela imigração européia vista como “instrumento da civilização”? O fato é que a construção do patrimônio nacional ocorre numa atmosfera política e científica marcada pela “negrofobia” ou “africanofobia”. Tudo associado ao negro/a recebia conotação negativa, de inferioridade caracterizada primeiramente pela negação dos africanos escravizados e seus descendentes, e mais tarde, pela aposta em um “processo de assimilação no qual o/a negro/a sucumbiria, física e culturalmente, ao avanço da civilização ocidental” defendida pelas elites nacionais através da “teoria de branqueamento da raça” (SEYFERTH, 1989, p. 13). Existe uma história que precisa ser revisada e reconstruída com fins à reparação dos danos materiais, psicológicos, sociais e culturais causados aos grupos sujeitos-detentores da cultura afro-brasileira como as comunidades e terreiros de matriz africana, por exemplo, na perspectiva das ações afirmativas e de uma educação preconizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) pautada pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 (Artigo 16a) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Resolução nº 01 e 03/2004). Trata-se, portanto, de uma opção política de conotação pedagógica no sentido de uma educação para o patrimônio no enfrentamento do grande desafio epistemológico: superar o caráter eurocêntrico e a visão monocultural que ideologicamente sustentam as políticas de patrimônio cultural em nosso país.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Otair Fernandes de. CULTURA AFRO-BRASILEIRA E POLÍTICAS DE PATRIMÔNIO NO BRASIL: UM CONVITE AO TEMA.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/112810-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-E-POLITICAS-DE-PATRIMONIO-NO-BRASIL--UM-CONVITE-AO-TEMA. Acesso em: 07/06/2025

Trabalho

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