O PAPEL DA ESCOLA E A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
O PAPEL DA ESCOLA E A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR
Autores
  • Williane de Sá Marques
  • Jackeline Barcelos Côrrea
  • Profª. Drª. Eliana Crispim França Luquetti
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 08] Ensino e aprendizagem de língua materna
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/112793-o-papel-da-escola-e-a-variacao-linguistica-no-contexto-escolar
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Políticas linguísticas, Variação linguística, Cotidiano escolar. Preconceito linguístico, Prática pedagógica.
Resumo
RESUMO: Partindo da concepção de que a variação linguística está presente nas escolas, principalmente por meio da fala dos alunos oriundos de camadas estigmatizadas da sociedade, o presente artigo tenciona contribuir para a efetiva conscientização a respeito das manifestações culturais expressas por meio da língua. Assim, verifica-se o alcance dos estudos sociolinguísticos no meio escolar frente aos resultados de uma pesquisa realizada junto às professoras duas escolas municipais situadas no interior de Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro. Tal estudo aponta o despreparo das educadoras diante da heterogeneidade linguística e a necessidade de ressignificar a prática pedagógica da língua materna. 1. Considerações iniciais Uma vez que a aprendizagem da linguagem escrita deve ser vista como um instrumento de integração dialógica entre professor, criança e o ambiente social em que esta está inserida, faz-se necessária a discussão a respeito da abordagem e respeito às variações linguísticas no ambiente escolar. Diante dessa hipótese, as autoras realizaram uma pesquisa em duas escolas municipais situadas na área rural do município de Campos dos Goytacazes, mais precisamente na Baixada Campista. Tal estudo consistiu na aplicação de um questionário a 20 (vinte) professoras de duas turmas do primeiro e do segundo ano do Ensino Fundamental. Buscou-se verificar como ocorre a abordagem das variações linguísticas direcionada aos alunos e se os vocábulos e expressões oriundos do meio social em que eles vivem são inseridos nas atividades propostas nas aulas de língua portuguesa. O direcionamento deste estudo partiu da proposição de que o reconhecimento e a valorização da linguagem dos alunos das camadas populares pode proporcionar para a efetiva mudança no processo de ensino-aprendizagem. 2. Fundamentação Teórica As línguas são heterogêneas e apresentam uma série de variantes, a depender dos aspectos individuais, sociais, culturais, geográficos, econômicos, etc. referentes aos seus falantes. Dentro dessa perspectiva, é importante lembrar ainda que as línguas são continuações históricas, sofreram inúmeras transformações no decorrer das gerações e, portanto, estão suscetíveis a mudanças conforme as necessidades dos seus enunciadores (ALKMIM, 2006). Diante dessas conceituações, destaca-se que o ambiente escolar é um local propenso à ocorrência de manifestações linguísticas diversas. Isso porque, tanto os alunos quanto os professores estão inseridos em comunidades de fala e pronunciam-se de acordo com suas particularidades. Acontece que, mesmo que essa pluralidade linguística esteja presente nas escolas, essas instituições não têm se mostrado competentes para lidar com a aprendizagem dos alunos oriundos das camadas estigmatizadas da sociedade. É o que afirma a autora Magda Soares (2000); para ela o fato de a escola prestigiar a variante padrão e/ou culta da língua evidencia as desigualdades entre os grupos sociais, gera discriminações, preconceitos e, consequentemente, fracassos, como a evasão, a indisciplina e a reprovação. Segundo Soares (2000), a escola, por meio dos professores, difunde sua mensagem através da linguagem social e economicamente “legitimada”, comum à classe dominante, desconsiderando a heterogeneidade da língua e, portanto, as outras linguagens, não “legítimas”. O excesso de correção de pronúncia e a proibição de termos regionalistas dentro da sala de aula, por exemplo, estigmatiza os educandos, os reprime e difunde a percepção de que esses pertencem impreterivelmente à classe dominada. O papel da escola no ensino da língua é, portanto, ensinar e propor a reflexão da norma padrão, sem que haja rejeição ao dialeto utilizado pelo aluno em sua comunidade de fala. Os professores devem respeitar as diferentes manifestações linguísticas, mas, concomitantemente, possibilitar o aprendizado da norma de prestígio, reconhecendo as duas variações, mas incentivando a aquisição de novas habilidades de uso da linguagem. Cagliari (2007, p. 83) destaca ainda que o aluno “não pode achar que as pessoas de sua comunidade são incapazes porque falam errado, ao passo que a cultura só está com quem fala o dialeto padrão”, ao contrário, deve entender que existem muitos e distintos usos linguísticos. Aos poucos, abordagens críticas têm ganhado espaço nas reflexões sobre o ensino de língua materna, em consonância com a realidade linguística brasileira, e com vistas à superação do olhar purista da tradição normativa conservadora. 3. Resultados Participaram da pesquisa 20 professoras, sendo 10 em cada escola. No questionário, havia duas perguntas-base: a primeira, indagava sobre a maneira como as professoras lidavam com a pronúncia de vocábulos típicos da região dos alunos na sala de aula; já a segunda estava relacionada ao conhecimento dos professores quanto ao fenômeno da variação linguística. Por meio dessa pesquisa, constatou-se que a maioria das professoras desconhece a ciência linguística e, talvez por isso, não permite e/ou valoriza o uso da variação linguística dos alunos, confirmando a nossa hipótese. Notou-se ainda que há uma distância entre a escola e a universidade, visto que muitas professoras sequer conhecem os preceitos dos estudos linguísticos. 4. Considerações finais Os pressupostos teóricos e o breve estudo aqui impendido permitiu considerar que o tratamento da variação linguística é indispensável para que haja eficácia e eficiência no ensino-aprendizagem. Trata-se de pensar em discussões e metodologias de ensino que possibilitem aos estudantes a apropriação da variação urbana de prestígio, observada em gêneros discursivos da cultura letrada e em situações variadas de monitoramento linguístico, mas com aceitação às outras manifestações regionais presentes na fala. Contudo, ainda são escassas as ações efetivas de conscientização, que deveriam acontecer desde o princípio, na formação dos professores. Enquanto essa perspectiva não é, de fato, adotada, mantem-se os antigos padrões pedagógicos e um ensino de língua que desconsidera questões regionalistas e culturais e, assim, serve como mecanismo de reforço às desigualdades sociais. Logo, apreende-se que embora haja importantes contribuições teóricas a respeito do tema, falta ainda ampliar o acesso a esse conhecimento, garantindo a sua devida democratização, passo fundamental para superação do ensino normativo de língua. REFERÊNCIAS ALKMIM, Tânia Maria. Sociolinguística. Parte I. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à linguística: domínios e fronteiras, v.1, 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006. p. 21-47. BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico - como é como se faz. São Paulo: Loyola, 2015. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2007. FARACO, Carlos Alberto. Norma Culta Brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Contexto, 2000.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARQUES, Williane de Sá; CÔRREA, Jackeline Barcelos; LUQUETTI, Profª. Drª. Eliana Crispim França. O PAPEL DA ESCOLA E A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/112793-O-PAPEL-DA-ESCOLA-E-A-VARIACAO-LINGUISTICA-NO-CONTEXTO-ESCOLAR. Acesso em: 23/05/2025

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