O CINEMA E A PRODUÇÃO DE VERDADES: UMA ANÁLISE COM BASE EM BENJAMIN, FOUCAULT E BUTLER

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
O CINEMA E A PRODUÇÃO DE VERDADES: UMA ANÁLISE COM BASE EM BENJAMIN, FOUCAULT E BUTLER
Autores
  • Marcelle Raja Gebara
  • Ricardo Salztrager
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 15] Narrativas Midiáticas, Representação e Tecnologia
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/109595-o-cinema-e-a-producao-de-verdades--uma-analise-com-base-em-benjamin-foucault-e-butler
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Cinema, Representação, Favela, Narrativas
Resumo
Este trabalho pretende analisar a realidade representada pelo cinema acerca de jovens de periferias e favelas do Rio de Janeiro. Para tal, destacaremos os conceitos de reprodutibilidade técnica em Walter Benjamin, de enquadramento em Butler – para discutir os limites produzidos pelo enquadre – e traremos como as mais diversas formações discursivas produzem um regime de verdades, baseando-nos na obra de Foucault`. Por fim, pensaremos como esses autores e seus conceitos podem contribuir para refletirmos como se deu a representação de jovens moradores da Cidade de Deus na produção cinematográfica de mesmo nome. A produção cinematográfica Cidade de Deus (2002), adaptação roteirizada a partir do livro de mesmo nome escrito por Paulo Lins traz, em certa medida, uma forma específica de contar a história do cotidiano das favelas cariocas. Existe um campo de tensões dado a partir da repercussão da obra, onde jovens moradores da favela Cidade de Deus afirmam não se sentirem representados pelo filme que, segundo eles, produz uma visão estigmatizada sobre os jovens que ali vivem. Suas percepções perpassam pelo entendimento do filme abordar o cotidiano da favela pelo viés da violência e do crescimento do crime organizado e não sobre outras tantas belezas presentes na favela e sobre seus moradores. Nesse sentido, entendemos que os mais diversos discursos produzidos sobre o cotidiano vivido e as representações criadas sobre os jovens moradores da Cidade de Deus, estão imersos em jogos disputa pela verdade. Segundo Benjamin, a partir do século XIX, a reprodução técnica causa um impacto na vida cotidiana, gerando uma transformação profunda tanto no processo de reprodução de imagens – pois aceleraram este processo – como na forma como eram vistas as obras de artes tradicionais – que perde sua dimensão “aurática”, seu caráter original, sua autenticidade. Esses processos transformam profundamente as relações do sujeito com a imagem. A magia cede lugar ao reprodutível, o culto é substituído pela exposição, não há mais uma autenticidade, mas imagens e histórias que alcançam as massas. Nesse contexto o cinema ganha espaço pois é uma arte que envolve o coletivo, as multidões e de certa forma, dá conta dos anseios do homem moderno: o homem da cultura de massa. A partir dessas transformações, a tradição, o culto, os rituais perdem espaço para as artes reprodutíveis. É nesse impacto coletivo do cinema que Benjamin também vê um instrumento revolucionário, pois que se liberto dos mecanismos de exploração capitalistas e fascismos, podem impactar as pessoas em grande escala. Butler também traz o poder das técnicas de reprodução e reprodutibilidade quando reflete sobre as molduras que são criadas para mostrar uma realidade. Afirma que a moldura não reflete a realidade: algo ultrapassa a moldura. Nesse caso, aponta que a reprodutibilidade técnica pode produzir um deslocamento crítico, pois mesmo que mídias dominantes queiram mostrar apenas uma guerra asséptica, por exemplo, a circulação das imagens seguramente mostra outros contextos e cria também novos contextos, evidenciando os limites do próprio quadro. O enquadre dar-se-á sempre como uma moldura limitada, e por sua própria constituição, negando o que está do lado de fora – o que escapa às regras normativas – mas esse campo exterior ao quadro não cessa, porém, de retornar mostrando-lhe o seu próprio fracasso constituinte. Essa questão é fundamental para Butler, pois ela evidencia que em tempos de guerra, a forma como os quadros são apresentados conduzem de forma determinante o expectador a algumas conclusões. A percepção da cena nos implica afetos que nos aproximam ou nos tornam indiferentes à dor do outro. Portanto, o posicionamento ético que a autora propõe é que os nossos afetos ou a forma como reagimos a um acontecimento drástico depende da forma como ele é apresentado. Nesse sentido podemos pensar que o cinema cria representações e enquadramentos que produzem discursos, opiniões, saberes, normas, valores e subjetividades. Ao mesmo tempo, no que diz respeito à sua abrangência, ele também dá margens a quebras nesses quadros constituídos. Foucault por sua vez, trabalha com o regime de verdades. Afirma que o discurso se dá em um complexo jogo de forças e tensões, onde há disputa de poder e vontade de saber sobre o discurso verdadeiro. “O que é conhecido”, “como é conhecido” não é algo natural, o conhecimento é produzido pela violência, pela imposição de ordem a uma realidade absolutamente caótica. O conhecimento é, portanto, produzido, pontual, parcial, histórico, fruto de relações, discursos e verdades que o legitimam. É possível dizer que o discurso é um dos principais produtores de verdade, que por sua vez influencia a realidade. Trazendo o discurso cinematográfico para a cena, buscaremos pensar nos limites do enquadramento que o cinema produz, especialmente no que tange as representações de jovens moradores de periferias e favelas. Qual enfoque esse quadro dá? Que representações ele escolhe mostrar? O que é deixado de fora? A serviço de que interesses o quadro se constitui? Como o que está fora do quadro emerge, questionando a própria estrutura do quadro? Buscaremos analisar as construções discursivas e as representações sociais produzidas pelo cinema, bem como as reivindicações pelos jovens não como algo de caráter estanque ou determinante, mas questionarmos em que medida essas reforçam normatizações ou criam processos de singularização. Não se trata pois, de um convite a novos tipos de enquadramento, mas de pensar os limites normativos e onde há escape possível.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GEBARA, Marcelle Raja; SALZTRAGER, Ricardo. O CINEMA E A PRODUÇÃO DE VERDADES: UMA ANÁLISE COM BASE EM BENJAMIN, FOUCAULT E BUTLER.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/109595-O-CINEMA-E-A-PRODUCAO-DE-VERDADES--UMA-ANALISE-COM-BASE-EM-BENJAMIN-FOUCAULT-E-BUTLER. Acesso em: 12/09/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes