A PEDRA FUNDAMENTAL DO DOCAS DE D. PEDRO II: ENTRE O INÍCIO E A EMERGÊNCIA CONTEMPORÂNEA

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
A PEDRA FUNDAMENTAL DO DOCAS DE D. PEDRO II: ENTRE O INÍCIO E A EMERGÊNCIA CONTEMPORÂNEA
Autores
  • Débora Anízio Rios
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 22] Turismo, Hospitalidade e Lazer: memória e etnossaberes
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/109530-a-pedra-fundamental-do-docas-de-d-pedro-ii--entre-o-inicio-e-a-emergencia-contemporanea
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Memória social, patrimônio cultural, políticas públicas, turismo, Docas de D. Pedro II,
Resumo
A discussão acerca dos bens patrimoniais demonstra-se cada vez mais presente no contexto contemporâneo. Além de despertar o interesse de organizações dispostas a reconhecê-los como bens a serem preservados e não destruídos, substituídos ou esquecidos, os patrimônios culturais, como objetos tradicionais, tem performado papel de transmissor de memórias, e, uma vez institucionalizados, detendo de autoridade comunicacional, são objetos de desejo e consumo, sendo recurso para a atividade turística, que instrumentaliza esses espaços dentro da lógica do capital. Graças às intervenções urbanas operadas nos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo na região portuária do Rio de Janeiro, lugares e bens culturais até então menosprezados, foram “reintegrados” à sociedade por meio de narrativas que envolviam sua relevância histórica para a memória da cidade, e que marcavam a rejeição às políticas públicas vistas como responsáveis pela degradação e esquecimento da região. Dentre esses bens culturais, chamaremos atenção para o caso do armazém Docas de D. Pedro II. Idealizado pelo engenheiro negro e abolicionista André Rebouças, o prédio foi rememorado como consequência das obras do projeto Porto Maravilha, que ocorrera entre 2009 e 2016. À sua frente, na Praça Jornal do Comércio, aconteceram em 2011, na oportunidade concedida pelas intervenções, escavações arqueológicas visando encontrar vestígios do antigo Cais do Valongo. Esse local, que fora até meados do século XIX, a maior porta de escravos do Brasil, onde desembarcaram cerca de um milhão de africanos cativos, foi redescoberto como sítio histórico de memória sensível. Graças à sua relevância histórica, em 20 de novembro de 2013, o local foi alçado a categoria de Patrimônio Cultural da cidade do Rio de Janeiro pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – IRPH, e, em 09 de julho de 2017, recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco. No que tange nosso objeto de análise, durante o trabalho de escavação do cais, foi encontrada, fora de contexto aparente, a pedra fundamental do Docas de D. Pedro II a 60 metros do local onde se localiza o edifício, lavrada em bloco de granito com as iniciais D DPII e a data 15-09-1871. No período fora contestada a sua localização, em frente à Avenida Barão de Tefé, 105, uma vez que haveria sido supostamente laçada fora do local de praxe. Aberta posteriormente em outubro de 2012, pelo IRPH, foi revelada dentro do bloco, uma capsula do tempo de chumbo, que continha, datados do dia de seu lançamento, o Diário Oficial do Império do Brasil, o Jornal do Commercio e A Reforma, assim como moedas de bronze, prata, cobre e ouro. Como brevemente apontado por Lima, Sene e de Souza (2016), o assentamento irregular da pedra fundamental, teria se dado por um “açodamento em lançá-la”. Os autores apontam para uma forte tensão no dia de lançamento, comprovada pelo Diário Oficial do dia 15 de setembro de 1871, no qual estão contestações feitas a André Rebouças e a Companhia Docas de D. Pedro II sobre início das obras. Ocasionada, primordialmente, por uma discordância sobre a posse de terrenos públicos, encontram-se também críticas a possíveis privilégios concedidos a Rebouças e demais membros de sua companhia para construção das docas. Motivadas pela descoberta do Cais do Valongo e da pedra fundamental do armazém, sendo eles marcos dos traços da presença africana na zona portuária do Rio de Janeiro, em 2011 fora apresentadas propostas, como as Recomendações do Valongo, que incluía o tombamento do Docas e de sua pedra fundamental. Em 23 de julho de 2012, a pedido da superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, foi solicitado o “tombamento do bem em caráter emergencial e posterior a inscrição no Livro do Tombo Histórico”, sendo acatado em 27 de agosto de 2012. Após o lançamento da candidatura do Cais do Valongo à Patrimônio da Humanidade em janeiro de 2016, novas possibilidades foram consideradas para o futuro do armazém e a toda zona de amortecimento ao redor do sítio arqueológico. O considerando como local que “guarda aspectos dessa memória da resistência e luta abolicionista”, o edifício se tornou objeto de disputa, onde uma das reivindicações pretende transformá-lo em um Memorial de visitação do Cais do Valongo, destino ainda incerto. Podemos concluir, no entanto, que é a partir de sua transformação em um suporte à memória do então descoberto Cais do Valongo, que sua memória foi iluminada, posta como de grande relevância, e que, é dado aos possíveis desdobramentos os quais está sujeito que o armazém passa por um novo ciclo de sua biografia, e, como bem patrimonializado, inserido em um espaço que se afirma como nova imagem do Rio de Janeiro, o Boulevard Olímpico, como museu ele deverá compor os demais atrativos turísticos e equipamentos culturais da região. Obedecendo ao método utilizado na dissertação, que recomporá o contexto histórico e cultural do Docas de D. Pedro II a fim de trazer para luz suas memórias e processos que fizeram narrativas a seu respeito, como as rememoradas pelas consequências anteriormente expostas, serem lembradas ou esquecidas, a pedra fundamental como marco material inicial de sua existência, e objeto a partir do qual foi também iniciada sua rememoração no presente, é dela que demonstra ser factível o início da pesquisa sobre suas memórias. Considerando como o fez Kopytoff (2010), que os objetos como coisas possuem uma biografia, e que, a fim de nos apropriarmos do conceito de lugar de memória em Nora (1993) é necessário uma perspectiva processual de determinado objeto ou manifestação, é necessário, então, reconhecer o Docas de D. Pedro II como tal, buscando dar voz também a sua narrativa. Nesse momento inicial é posto à analise edições do Diário Oficial do Rio de Janeiro datados de 1867 a 1871, nos quais se tornaram explícitos o desejo de construção das novas docas por André Rebouças, a disputa na qual sua construção esteve submetida até o ano de lançamento de sua pedra fundamental, e assim demarcar o início de um projeto acerca da biografia dessa importante construção do século XIX.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RIOS, Débora Anízio. A PEDRA FUNDAMENTAL DO DOCAS DE D. PEDRO II: ENTRE O INÍCIO E A EMERGÊNCIA CONTEMPORÂNEA.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/109530-A-PEDRA-FUNDAMENTAL-DO-DOCAS-DE-D-PEDRO-II--ENTRE-O-INICIO-E-A-EMERGENCIA-CONTEMPORANEA. Acesso em: 07/09/2025

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