REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER ARBITRÁRIO E CIRCUNSTANCIAL DOS ARRANJOS DA MEMÓRIA

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER ARBITRÁRIO E CIRCUNSTANCIAL DOS ARRANJOS DA MEMÓRIA
Autores
  • CARLOS EMILIO IBARRA MONTERO
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 07] Educação Memória História
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/108622-reflexoes-sobre-o-carater-arbitrario-e-circunstancial-dos-arranjos-da-memoria
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
construção da memória, arbitrariedade e circunstancialidade
Resumo
O presente trabalho é um fragmento da nossa pesquisa de doutorado que se encontra ainda em processo de desenvolvimento. O intuito deste escrito é o de refletir sobre a construção da memória como caraterística imanente ao ser humano. Partimos da ideia de que a construção da memória, por se encontrar ligada à experiência humana, também se encontra atravessada de forma indefinida pela arbitrariedade, ou seja, pelos desejos do Outro, e pela circunstancialidade (NORA, 1993), esta última entendida como tudo aquilo que foge de nosso campo de visão, aquilo que é imprevisível e que nos pega de surpresa (LATOUR & WOOLGAR, 1997). Para dar continuidade ao desenvolvimento do nosso trabalho, começaremos por explicar a teoria do caos primordial e da origem, posteriormente descreveremos os diversos aspectos que fazem parte da experiência humana e, finalmente, refletiremos acerca do caráter arbitrário e circunstancial da memória. Refletir acerca da construção da memória nos exige voltar a pensar na ideia do caos primordial que diz respeito a um todo que, na realidade, é impossível de ser totalmente conhecido, medido e categorizado – isto por ser infinito – mas, graças à virtualidade , pode ser imaginado. É a partir dessa percepção virtual que é possível enxergar os corpos e seus movimentos. Convém apontar algumas especificações sobre o todo, como por exemplo que ele encontra-se conformado pelo cheio e pelo vazio. O primeiro é constituído pelos corpos que transitam no todo. Estes produzem choques em contato uns com os outros e isso, por sua vez, permite que os corpos ocupantes do todo elaborem uma percepção acerca da existência de um Outro e de si mesmos. O segundo – o vazio – diz respeito ao espaço onde tudo acontece. É ele que torna possíveis os encontros e o reconhecimento (FARIAS & PINTO, 2016). A origem, ou seja, aquilo que existia antes do caos primordial, diz respeito à: “[...] vastidão, a solidão, as trevas” (FARIAS & PINTO, 2016: 182). Seguindo o que anteriormente colocamos, podemos dizer que a partir da origem e do caos primordial é possível pensar sobre as primeiras composições de memória, pois ali foram gestados os primeiros choques de partículas, de corpos que apontam a existência de uma anterioridade, de algo que ficou para atrás e que é irrecuperável. Não obstante, graças à construção da memória, é possível simular sua recuperação e reconstituição (FARIAS & PINTO, 2016). No que diz respeito à experiência humana, esta pode ser entendida como um processo transitório que se encontra atravessado pela arbitrariedade e pela circunstancialidade. Para entender melhor essa questão há quatro aspectos que devem ser destacados. a) Ordem da desordem: a imprevisibilidade, a desorganização, o desconhecido, a ruptura da ordem. São questões que sempre estarão presentes na experiência humana. b) Transitoriedade da vida: diz respeito à finitude. Tudo o que tem vida eventualmente conhecerá a morte. No processo da transitoriedade do homem, os limites da natureza e dos desejos dos outros lhe permitem lembrar sobre o seu caráter frágil e vulnerável diante do universo. c) Imensidão angustiante: ao entrarmos em contato com o Outro, percebemos não só que ele existe como também que nós existimos. Temos a noção da nossa dimensão corporal, do espaço, do vazio, da imensidão, uma imensidão que diz respeito ao que desconhecemos, que não acaba por nos aniquilar, mas que nos gera angústia (HEIDEGGER, 2012). d) Artifício: é uma ação, técnica de simulação que procura desvendar a “verdade”, enxergar o que foge da vista. Ela é gerada pelo sentimento de “angústia radical” (HEIDEGGER, 1996: 52). Devemos apontar que a memória e seus arranjos fazem parte de uma estratégia que nos permite “fugir” da nossa condição humana marcada pela finitude, pelo devir. Ela nos permite simular uma satisfação “plena”, dando sentido ao vazio e à nossa solidão. Farias e Pinto (2016) afirmam que é justamente a tentativa de o homem dar sentido ao abismo e à descoberta da sua solidão e da sua estranheza que o leva à construção daquilo que chamam de memória. Seguindo essa linha de pensamento, acrescentamos que estamos diante da construção da memória que, pelo fato de ser atravessada e originada pela ordem da desordem, pela transitoriedade da vida, pela imensidão angustiante e pelo artifício, tem, subsequentemente, um caráter arbitrário e circunstancial. Disso resultam alguns questionamentos que queremos compartilhar: será que o caráter arbitrário e circunstancial que atravessa permanentemente a experiência de vida humana e o processo de construção da memória diz algo a respeito do medo e da angústia? O caráter arbitrário nos arranjos de memória está ligado ao fato de existirem memórias predominantes, memórias que importam mais do que outras? Será que o atravessamento do caráter circunstancial na memória está ligado de alguma forma ao trauma? Tanto a circunstancialidade e a arbitrariedade poderiam por acaso apontar acerca para uma memória violenta? Os questionamentos colocados neste resumo fazem parte do nosso estudo de doutorado, eles se encontram em processo de aprimoramento. Decidimos compartilhar as nossas reflexões com a finalidade de enriquecer os debates e discussões que giram em torno da construção da memória.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MONTERO, CARLOS EMILIO IBARRA. REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER ARBITRÁRIO E CIRCUNSTANCIAL DOS ARRANJOS DA MEMÓRIA.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/108622-REFLEXOES-SOBRE-O-CARATER-ARBITRARIO-E-CIRCUNSTANCIAL-DOS-ARRANJOS-DA-MEMORIA. Acesso em: 07/08/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes