ETNOSABERES E PINTURA CORPORAL NO CIBERESPAÇO

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
ETNOSABERES E PINTURA CORPORAL NO CIBERESPAÇO
Autores
  • Isabel Teresa Cristina Taukane
  • ALINE WENDPAP NUNES DE SIQUEIRA
  • Ludmila Brandao
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 15] Narrativas Midiáticas, Representação e Tecnologia
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/106642-etnosaberes-e-pintura-corporal-no-ciberespaco
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Etnosaberes, Pintura Corporal, Ciberespaço
Resumo
O texto apresentado aqui – fruto de discussões interdisplinares ocorridas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso – pretende suscitar reflexões a respeito de como o etnosaber da pintura corporal indígena se atualiza e se ressignifica no ciberespaço. Tendo em vista o contexto contemporâneo, em que a ancestralidade adentra os novos meios de comunicação (e vice-versa), sobretudo através das redes sociais e aplicativos de comunicação, para continuar (r)existindo, estudar os etnosaberes indígenas, mais especificamente as pinturas corporais, e, como estes são atualizados e ressignificados no ciberespaço, abre a possibilidade de quebrar as regras condicionantes tradicionais de viagens de campo, de visitas a aldeias em Terras Indígenas (que demandam um tempo muito mais longo de pesquisa e imersão) e que, apesar de importantes, não são mais condição sine qua non de pesquisa. Assim a netnografia, aparece como uma metodologia possível e adequada, já que segundo seu próprio criador, o pesquisador Robert Kozinets, “a netnografia é a etnografia adaptada às complexidades de nosso mundo social contemporâneo, mediado pela tecnologia” (KOZINETS, 2010, p. 05). A respeito deste estudo é interessante pensar sobre como o etnosaber da pintura corporal indígena ao adentrar o ciberespaço pode potencializar os movimentos de resistência protagonizados por estes povos e intervir na busca destes por uma democracia mais justa e igualitária. Verifica-se, contemporaneamente, de um lado, o fenômeno da inserção do etnosaber das pinturas corporais em etnias que não a possuíam e, de outro, a reinserção das práticas naquelas que haviam abandonado esta tradição. Processo, muitas vezes, suscitado pela imersão dos indígenas contemporâneos na cibercultura e no ciberespaço, movimento gerador de novas sociabilidades tecno-sociais. Pois, como argumenta a pesquisadora Eliete Pereira (2012), a presença indígena no ciberespaço parece representar a capacidade de integração de múltiplos pontos de vista nesse espaço social promotor de uma nova sociabilidade, interativa e flexível movida pelos fluxos comunicativos. Aliás, é diante destas novas condições de sociabilidade, propiciada pela conexão e interação via internet, que os povos indígenas podem divulgar os seus valores e pontos de vistas para o mundo, e, não só podem formar a rede de apoio, ao conhecer pessoas, mas, construir relacionamentos e se fazerem presentes para além das aldeias, ou dos espaços territoriais demarcados. Interessante notar neste processo cultural-comunicacional, a característica interativa – no sentido de interferência no texto original, do outro – que é promovida pelas etnias, quanto às técnicas e aos próprios grafismos, uma vez que, ao incorporá-las, introduzindo ou reintroduzindo este etnosaber nas etnias, os indígenas reproduzem, copiam, criam, recriam mas, sobretudo, inventam novas pinturas corporais, e tal como o princípio da mutabilidade da cultura, os etnosaberes também se reinventam e são flexíveis o suficiente para atender as demandas materiais e simbólicas do contemporâneo. É bom lembrar que no contexto primordial, daqueles guardiões da tradição cultural, essas pinturas eram perpassadas por vários significados. Na atualidade, além de se configurarem como uma forma de expressão vinculada ao segmento social indígena, a pintura corporal adquire forte caráter político que extrapola os limites dos territórios indígenas, e, de modo especial, para aqueles povos que foram despropriados da sua condição étnica, ela serve como elemento de afirmação, ou, autoafirmação da sua indianidade. Ganha portanto, aspectos de linguagem transcultural, evidenciada em ocasiões de mobilizações e manifestações contemporâneas, passando a representar os povos indígenas como um todo e, não apenas uma etnia isoladamente. Por outro lado, é fácil verificar que foi no imaginário da população não indígena, a pintura corporal funciona como um pré-requisito para identificação do indígena. Nesta perspectiva, para que a população não indígena o identifique como indígena, o indivíduo deve estar pintado, independentemente de onde estejam e em que circunstância. A pintura corporal surge então como sinônimo de etnicidade, instaurando uma obrigatoriedade de estar pintado para ser “índio”. Todavia isso não condiz com o cotidiano da maioria da população indígena, que, aliás, não usa as pinturas corporais o tempo todo, sobretudo se estiverem “à paisana” na cidade. No interior das aldeias, geralmente, as pinturas corporais são utilizadas em rituais, nos quais esse etnosaber serve como elemento potencializador da conexão com outras dimensões cosmológicas, que estão fora da vida cotidiana. Assim sendo, para os povos indígenas, igualmente para a maioria da população anônima, o ciberespaço torna possível a colocação em evidência de pessoas comuns, funcionando como um suporte à voz indígena, tornando-os protagonistas de suas próprias histórias. O ciberespaço materializa o acesso democrático a maiores informações sobre os povos indígenas e seus etnosaberes, podendo ainda aproximar pessoas de diferentes lugares, tendo em vista a interação e a interatividade entre os povos. Como exemplo dessa eficiência em facilitar o acesso aos etnosaberes e as interações a partir deles, localizamos na rede social Facebook, a página “Grafismo indígena” e o Grupo “Escola de Grafismo”, que trabalham na divulgação e propagação dos etnosaberes ligados ao grafismo e que podem ocorrer em vários suportes como a cerâmica, a cestaria, mas com ênfase na pintura corporal. O ciberespaço é um ambiente virtual que torna possível, e mais do que isso, que estimula o diálogo intercultural, pois permite o aumento e a troca de informações referentes a essa população e seus etnosaberes de um modo horizontalizado e direto. Esse tipo de diálogo entre culturas favorecido pelo ciberespaço merece ser estudado sistematicamente, para explorarmos ao máximo as possibilidades de construção de novos conhecimentos, por meio da interação e da interatividade, horizontalmente, sem, portanto, a subalternização recorrente dos etnosaberes, avançando deste modo, na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

TAUKANE, Isabel Teresa Cristina; SIQUEIRA, ALINE WENDPAP NUNES DE; BRANDAO, Ludmila. ETNOSABERES E PINTURA CORPORAL NO CIBERESPAÇO.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/106642-ETNOSABERES-E-PINTURA-CORPORAL-NO-CIBERESPACO. Acesso em: 16/05/2025

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