MEMÓRIA E SEXUALIDADE EM LEONILSON

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
MEMÓRIA E SEXUALIDADE EM LEONILSON
Autores
  • Kris Herik de Oliveira
  • Carolina Cantarino Rodrigues
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 12] Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/106550-memoria-e-sexualidade-em-leonilson
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Leonilson, Memória, Sexualidade, Cartografia queer, Narrativas biográficas
Resumo
José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993) foi um artista visual e plástico proeminente da chamada “Geração 80”, cuja estética situava o lugar dos afetos frente às questões morais, políticas e sociais daquele período. Com o passar dos anos, o artista voltou-se de modo cada vez mais intenso às enunciações de si por meio de suas obras de cunho autobiográfico. São alguns temas abordados por Leonilson: os discursos de verdade, o desejo, a paixão, o erotismo, a solidão, a sexualidade, a memória, as viagens, a religião e a doença. A partir das narrativas biográficas de Leonilson, esta comunicação oral apresentará o tema da memória em sua vida-obra. De modo específico, analisará como a memória se constitui em relação com a sua sexualidade. Serão delineados os primeiros resultados da pesquisa de mestrado interdisciplinar – que relaciona cartografia, teoria queer e narrativas biográficas – do primeiro autor, a qual versa sobre as enunciações das sexualidades em narrativas biográficas nos territórios da vida e da arte. Metodologicamente, tem-se realizado uma cartografia queer das narrativas biográficas do artista através de suas obras e entrevistas concedidas, assim como de seu audiodiário. Grosso modo, a cartografia queer volta-se aos discursos, aos espaços e às técnicas de representação visual produtoras de sexualidades periféricas, portanto, passíveis de correção e sanção. A partir do princípio cartográfico queer, memória e sexualidade serão abordadas a partir dos três eixos: i) experiência: as percepções e constituições de territórios acerca dos eventos vividos; ii) estética: as formas que ganham a memória e a sexualidade nas narrativas; iii) poética: as (trans)formações dos modos de expressão de si. A memória é entendida aqui em seu aspecto rizomático, composta por linhas de experiência sempre em movimento dando a ver recordações e seus devires possíveis. Neste sentido, tal aspecto na vida-obra do artista tem sido explorado em dois planos profundamente imbricados: macropolítico (políticas de identidade) e micropolítico (afetos e desejo). Nesta perspectiva, são analisados: i) o lugar do artista enquanto representante de uma geração que experienciou a repressão artística-cultural no Brasil e o processo de redemocratização na década de 1980, bem como a epidemia de HIV/Aids; ii) a obra de arte enquanto arquivo da vida posto à mercê das interpretações de quem as observa. “Uma tela não é muito diferente de uma manhã minha”, relata Leonilson em seu audiodiário. Através de diferentes modos de expressão (texto, pintura, tecido, desenho, costura, bordado...), as suas obras dão acesso às páginas de seu diário íntimo. Uma autobiografia. Cada composição funciona como uma pequena construção do mundo e um grande arquivo de memórias. Todos os rios levam a sua boca (1988) pode ser mencionada como uma obra-arquivo que articula, em tons laranja e azul, o desejo e os (des)encontros. A tela, segundo Leonilson, recupera lugares, sensações e momentos de sua memória: “Em Todos os rios levam a sua boca, de uma boca vermelha no meio da tela saem vários rios da região Oeste de São Paulo, misturados com frases minhas. Às vezes acho que pode ser um exercício de memória, para ficar relembrando”. O erotismo é outro aspecto que entrecruza memória e sexualidade nas narrativas biográficas do artista. Há, por exemplo, as suas experiências narradas em Pobre Sebastião (1991). Na obra, Leonilson constituiu a cena de uma “sauna gay” com seus vapores e cenas de sexo. Carregada de moralidade cristã, o título da obra dialoga com a cena mais subentendida em razão dos vapores que de fato vista. Segundo Leonilson, o sentido do vapor remete ao sexo, ao fetiche, à perversão. O mesmo ocorre com o mictório (presente em O cometa e Mr. One Night Stand, ambas de 1991), sendo o banheiro como local de encontro entre homens para sexo casual. São obras que funcionam como uma documentação da experiência, seja ela real ou ensaiada. O espectador é transportado de forma simbólica e experienciada para saunas, ruas, banheiros e tantos outros possíveis nos quais o desejo excede a qualquer dispositivo. Leonilson registra também o surgimento da epidemia de HIV/Aids no Brasil. Na pintura sobre jornal Saque e aproveite a vantagem (1985), pinta de manchas vermelhas e amarelas a superfície de um jornal que dedica uma página completa à AIDS: “A doença mortal que assusta o mundo”. No centro da página, há um canivete rodeado por círculos imperfeitos vermelhas e amarelas. Como se a doença viesse para cortar vidas. Em 1991, o artista se descobre portador do vírus HIV. A experiência com a doença será outro processo documentado em suas obras. Em entrevista recorda com certa nostalgia o modo como os encontros entre rapazes se davam há dez anos, antes da epidemia de HIV: “Você encontrava com alguém e você transava. Agora existe uma coisa de perigo, existe uma coisa de responsabilidade. (...) Agora a gente já tem uma ideia formada do perigo. Agora mudou, as relações mudaram, completamente”. Prazer e perigo passaram a caminhar juntos. Portanto, são alinhavados e organizados em arquivos do cotidiano as impressões da cidade, dos lugares frequentados, de seus relacionamentos, dos filmes que vê, artistas que admira, a violência que observa, datas que considera importantes, sensações das quais se entrega, o desejo, a maneira pela qual se sente, os discursos religiosos e morais. Leonilson, por meio de suas obras, dá a ver suas memórias através das linhas de experiências que a constituíram. As narrativas biográficas, então, como método de registro e acesso às memórias que traçam a vida em diferentes grafias.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Kris Herik de; RODRIGUES, Carolina Cantarino. MEMÓRIA E SEXUALIDADE EM LEONILSON.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/106550-MEMORIA-E-SEXUALIDADE-EM-LEONILSON. Acesso em: 25/06/2025

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