MEMÓRIA E IDEOLOGIA EM HANNAH ARENDT

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
MEMÓRIA E IDEOLOGIA EM HANNAH ARENDT
Autores
  • André Luis de Souza Alvarenga
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 12] Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/105656-memoria-e-ideologia-em-hannah-arendt
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Memória. Ideologia. Hannah Arendt.
Resumo
A pesquisa tem como objetivo pensar o campo discursivo da Memória Social no pensamento político de Hannah Arendt, especificamente no conceito basal de toda a sua obra: a "dignidade da política". Vinculada ao PPGMS/UNIRIO, a CAPES e ao NEHTIPO/PUCSP, a pesquisa tem a justificativa de que o aumento nos estudos sobre a filósofa nos últimos anos possibilita uma análise imanente de suas obras. Neste sentido, visa-se produzir uma crítica ontológica a respeito da ideologia arendtiana. Arendt é uma típica pensadora da cultura de Weimar, daquilo que ela denominou de "tempos sombrios". A pensadora lamenta a perda da experiência política no mundo contemporâneo, que fez dos homens genuínos feixes de encargos orgânico-fisiológicos, sem a capacidade de um julgamento adequado da realidade. Visa-se examinar a ideologia político-filosófica de Arendt que se inicia na pólis grega, passando pela autoridade santificada sustentada pelo fio condutor da tradição e sua ruptura que, de acordo com a pensadora judia, resultou na subida do totalitarismo ao poder na Europa no início do século XX. Para Arendt, a pólis grega abrigava a "pluralidade humana", onde o local "entre" os homens, libertos de suas necessidades primitivas, possibilitava o exercício da liberdade. Neste sentido, a natureza dialógica do agonismo incentivava o encontro dos diferentes e valorizava o aspecto inventivo do psiquismo humano e milagroso da história. Aspecto criativo que fora esquecido e substituído no declínio de Roma pelo surgimento da autoridade daquilo que a autora chamou de "absoluto": um modelo político meramente contemplativo capaz de orientar os homens dentro da lógica do comando-obediência. Referência que se esgota na passagem para a Era Moderna e impulsiona os indivíduos a buscarem outro amparo cognitivo. Esgotamento realçado pela tragédia das experiências revolucionárias, sobretudo a francesa, que, ao tentarem o restauro da santidade romana, teriam contagiado a "dignidade da política" com o autoritarismo do mundo privativo. Neste sentido, a síntese da privatividade e da publicidade, teria legado a modernidade o gerenciamento das necessidades de indivíduos solitários, comprimidos uns contra os outros, que encontraram um refúgio no surto totalitário europeu. O consentimento aos movimentos totalitários no início do século XX, com sua inovadora tanato-política, teria aberto, definitivamente, a lacuna "entre o passado e o futuro". Essa lacuna significa a quebra do elo hermenêutico a respeito do passado e do futuro, que tem como seu ponto de partida o presente. Elo que, para a autora, se realiza pela memória e pela lembrança. Afinal, essa lacuna, ao suplantar a capacidade do julgamento humano, concretizou a autoridade "absoluta" nos campos de extermínio. A ideologia totalitária por trás dos campos outorgava uma "Lei da Natureza" e uma imobilidade da história que reduziam qualitativamente a "dignidade da política" em um aparato burocrático. Esse fenômeno fora denominado pela filósofa de "banalidade do mal", como atestado em seu relato do julgamento de Eichmann. Desta maneira, a proposta de toda sua obra é, partindo da própria lacuna deixada pelo campo de extermínio, compreender o presente, como uma tentativa vigorosa de reencontro com a "dignidade" e a "ontopositividade" da política de via teológico-agostiniana. Em um período histórico assombrado pelo crescente obscurantismo intelectual, o idealismo de Arendt nos revela sua incapacidade de entender a dupla barbárie causada pelo sistema sociometabólico do capital que levou ao ilusório "fim da história" e a um indulto ao marxismo ocidental para o seu recuo político e culto ao pós-modernismo, em miúdos, a uma história "em migalhas". Para além da obviedade da resultância de alguns pontos de suas obras, sua inocente propositura politicista, de uma racionalidade autossustentável, isola a demanda gnosiológica do real, velando, porém supondo, o fundo histórico-social de sua fonte ontológico-imanente, produzida na materialidade desigual do mundo objetivo, como demonstrara no seu enaltecimento política grega e da experiência revolucionária americana. O elogio da filósofa à contingência semiológica e a um mundo-teológico "dado ao Homem", de outro modo, sem o seu controle produtivo consciente da vida, impede a tomada de uma consciência científico-revolucionária, subsumindo a produtividade social genérico-humana a um subjetivismo apologeta ao capital que incrimina tudo aquilo que se aproxima do marxismo, de um "projeto social". Por desconsiderar a "generidade ontológica do ser social", Arendt busca na talassocracia-escravista ateniense um suposto, porém inexistente, gérmen da sociabilidade iluminista-burguesa, da "liberdade política contra o ardil do trabalho", trazido pelos "elementos totalitários do marxismo", para indicar uma saída para aquilo que ela considera serem os males contemporâneos. Sua busca pelo ideal político grego tem como fundamento uma teleologia weberiana trans-histórica de um modelo societal-especulativo burguês, que nega toda a espécie de coerência e objetividade histórica, tida como arbitrária. No entanto, sua premissa mostra-se como um anacronismo intencional que oblitera a especificidade histórica do capitalismo com os seus "tipos ideais" analíticos de feitio demiúrgico, decantando justamente aquilo que deseja facear: "os elementos totalitários". Permite, assim, o domínio inegável do capital e uma análise seletiva da tipologia formalista-burguesa sobre o conceito de totalitarismo, ou seja, sendo tudo aquilo contrário ao legalismo idealizado do pensamento liberal, escondendo todo o substancial conteúdo histórico-social, a título de exemplo, do "modernismo reacionário" de Weimar, que fora equiparado ao socialismo "do tipo soviético" pela autora, que os analisou "de cima". Na esteira dessa tipologia, sua obra omite a violência promovida pelo liberalismo ao longo da história, deixando intocado o processo revolucionário americano e sua subsequente história imperialista em suas mais variadas formas. Sob o nebuloso ventre de uma suposta neutralidade racional, Arendt fomenta o cinismo esclarecido do romantismo burguês, antípoda da historicidade em suas múltiplas banalidades tautológicas. Como a Memória Social é um "perpétuo construto contemporâneo do psiquismo humano", Arendt fornece aos seus leitores desavisados a miséria, não apenas de uma mera anticomunista, que enxerga uma saída na lembrança do passado ao contrário de uma ultrapassagem deste, mas de um complexo-memorial manipulatório de categorias bastante sutis e tortas, em outras palavras, um irracionalismo com roupagem racionalista, a despeito da análise concreta da realidade, fruto do fetichismo ideológico-liberal do qual faz parte. Acreditamos que um hercúleo "acerto de contas" com o anti-humanismo de Arendt se faz urgente no embate franco e científico com outros autores consagrados da historiografia.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ALVARENGA, André Luis de Souza. MEMÓRIA E IDEOLOGIA EM HANNAH ARENDT.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/105656-MEMORIA-E-IDEOLOGIA-EM-HANNAH-ARENDT. Acesso em: 09/06/2025

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