MORTE, MEMÓRIA E SEGREGAÇÃO: A TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS FÚNEBRES NO TERRITÓRIO DA SERRA GERAL DE MINAS GERAIS

Publicado em 17/01/2025 - ISSN: 2359-4306

Título do Trabalho
MORTE, MEMÓRIA E SEGREGAÇÃO: A TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS FÚNEBRES NO TERRITÓRIO DA SERRA GERAL DE MINAS GERAIS
Autores
  • Marcos Winicio De Sousa
Modalidade
Resumo Simples
Área temática
ESPAÇO DE DIÁLOGO 12: CONFLITOS E CONFLUÊNCIAS NA CONSTRUÇÃO DOS TERRITÓRIOS TRADICIONAIS
Data de Publicação
17/01/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viicoloquiopcts/915616-morte-memoria-e-segregacao--a-transformacao-dos-espacos-funebres-no-territorio-da-serra-geral-de-minas-gerais
ISSN
2359-4306
Palavras-Chave
Espaços fúnebres; Urbanização; Segregação social; Memória coletiva; Território.
Resumo
A morte sempre fez parte da vida da sociedade, mas nem sempre teve uma representação clara em nossas mentes. Lugares fúnebres são locais de despedida, emoção e ampla contemplação da vida e da morte. Uma característica intrínseca ao estudo geográfico é sua natureza como representação do mundo, uma representação mental abstrata que ganha significado dentro do contexto de uma ideologia e de questões específicas (Almeida, 2022). Este projeto pretende analisar a relação das civilizações com a morte, desde a formação dos núcleos urbanos do Território da Serra Geral de Minas Gerais, que se inicia no início do século XVII, até a sociedade contemporânea, e de que forma todas criaram seus rituais e símbolos para recordar e respeitar seus mortos. A escolha do tema surgiu da necessidade de compreender a morte e os espaços fúnebres, principalmente os cemitérios, dentro da vivência histórica da sociedade. A pesquisa busca descrever os tratamentos culturais da morte, analisando os princípios herdados do processo de colonização e observando, entre outros fatores, o afastamento da sociedade dos assuntos ligados à morte, devido às mudanças sofridas nos últimos séculos. Citado por Lucília de Almeida Neves Delgado, Poulet enfatiza a importância da memória: "Graças à memória, o tempo não está perdido, e se não está perdido, também o espaço não está" (Poulet apud Delgado, 2010, p. 37). A proposta metodológica deste estudo será qualitativa e quantitativa, com base na fenomenologia, focando na análise do processo de estudo e não apenas nos resultados. O caminho metodológico inclui pesquisa exploratória cronológica, com análises bibliográficas, iconográficas e mapas para mostrar como as mudanças ao longo do tempo transformaram os espaços e a forma de vivenciar a morte na região. Será realizada uma revisão de literatura narrativa bibliográfica seguindo o método de Gil (2002), que envolve a busca por referencial teórico já publicado em livros e artigos científicos. A pesquisa de campo qualitativa incluirá imersão no ambiente natural, coleta de dados por meio de entrevistas, registros iconográficos, produção de mapas de localização e observações de grupos focais. Todas as informações serão registradas de forma organizada e sistematizada. Os dados coletados serão analisados em relação às teorias e conceitos estabelecidos, identificando semelhanças, diferenças ou novos entendimentos. Em seguida, os resultados das análises teórica e de campo serão sintetizados e interpretados à luz das teorias relevantes. Por fim, será realizado um estudo de registros iconográficos, incluindo pintura, gravura, ilustração, fotografia, desenho técnico e cartaz. Os registros serão identificados por localização e data, classificados por estilo arquitetônico ou cultural, e analisados conforme as mudanças nos ritos e espaços fúnebres, comparando diferentes momentos históricos. Os dados iniciais da pesquisa indicam que a relação entre os vivos e os mortos desempenha um papel vital na configuração urbana do Território da Serra Geral em Minas Gerais. Desde a antiguidade, dedica-se espaço para os mortos, o que se traduz, diretamente, na urbanização e na constituição das cidades. Como apontado por Mumford (1998), "os mortos foram os primeiros a ter uma morada fixa, com locais que eram preparados para as cerimônias fúnebres e para o sepultamento do corpo". Esta prática de reservar espaços para os mortos antes mesmo de desenvolver aglomerados humanos permanentes ressalta a importância dos rituais fúnebres na formação das cidades. Entretanto, a pesquisa tem demonstrado que essa relação é construída em torno de desigualdades profundas. Como se pode observar em outros contextos, por exemplo, o Cemitério dos Pretos Novos no Rio de Janeiro, a segregação racial e social reflete-se nos espaços fúnebres onde os grupos marginalizados são relegados a espaços periféricos ou, até mesmo, submetidos a sepultamentos precários. O trabalho de Achille Mbembe quanto à necropolítica contribui para compreender como essas dinâmicas se reproduzem, evidenciando que o poder determina quem deve viver e quem deve morrer, subordinando, portanto, grupos inteiros a condições desumanas. Nos espaços fúnebres da Serra Geral de Minas Gerais, essa lógica diz respeito à exclusão dos pobres e à imposição de ritos empobrecidos e menos dispendiosos, a exemplo da cremação, uma vez que os espaços centrais e tradicionais seriam reservados para as elites locais. A produção do espaço urbano na Serra Geral de Minas Gerais apresenta-se como produto da relação de diferentes agentes sociais, proprietários, promotores imobiliários, o Estado e grupos excluídos, conforme expressa Côrrea (1989). Esses agentes constituem atores centrais para a produção dos espaços fúnebres e para a dinâmica urbana. Lefebvre (2006) aduz que "a produção do espaço está atrelada às relações sociais e culturais da sociedade", indicando que as transformações nos espaços fúnebres traduzem transformações maiores na sociedade. As transformações sociais e urbanas atingem a relação da comunidade com a morte e o luto e, portanto, também os ritos fúnebres. Metz e Rocha (2015) indicam que "a forma como lidamos com a morte está sob transformação previsível e refletindo os valores da sociedade contemporânea". A pesquisa aponta para uma evolução nas práticas rituais e na arquitetura fúnebre, influenciada tanto pela modernização quanto pela persistência de tradições rurais. A fé e as práticas religiosas continuam a desempenhar um papel fundamental, como descrito por Rodolpho (2004 apud Metz; Rocha, 2015): "a morte cristã não se relaciona simplesmente com cadáver, com o fim de uma vida, mas trata-se igualmente de uma nova condição, uma iniciação à vida eterna". Outro aspecto relevante é a segregação socioeconômica nos espaços fúnebres. José de Souza Martins, em "A Morte e os Mortos na Sociedade Brasileira", observa que a desigualdade no acesso aos locais de sepultamento é uma questão histórica e persistente, afetando até mesmo os ritos de despedida e a memória dos mortos. Na Serra Geral, essa exclusão é evidente na diferença de tratamento entre os cemitérios destinados às elites e aqueles destinados aos grupos mais vulneráveis, incluindo povos e comunidades tradicionais. Os dados preliminares indicam que a memória coletiva e a valorização do passado continuam a influenciar a produção do espaço urbano. Argumenta-se que a busca pela identidade dos lugares tem sido, fundamentalmente, uma busca de raízes e de passado. Essa memória coletiva, socialmente construída e compartilhada por grupos, tem uma atuação no espaço urbano e nos espaços de morte. Até agora, a pesquisa está em andamento e ainda procurará verificar se as metas elencadas estão sendo alcançadas. As perguntas suscitadas mostram que existe um contato entre as transformações da cidade e a produção dos espaços de morte do Território da Serra Geral de Minas Gerais. A pesquisa procura entender como as alterações históricas e culturais afetam a memória, identidade e dinâmica social local em relação à morte. Este trabalho sublinha a importância de resgatar e preservar a memória dos grupos marginalizados, em especial dos povos e comunidades tradicionais, cuja cultura e seus rituais funerários, muitas vezes, são deslegitimados nos processos da vida urbana contemporânea. A investigação demonstra que há necessidade de políticas públicas que reconheçam e protejam espaços de memória de cada um desses grupos, de modo que a história deles e a sua concepção de morte não sejam erradicadas pelas forças da modernização e da segregação. As considerações finais e preliminares indicam que a pesquisa está num bom caminho para descobrir as complexidades das interações entre os fatores socioespaciais que produzem as evoluções urbanas e os espaços de morte. O trabalho segue investigando como se dão essas relações, com o que se espera aprofundar o entendimento da relação entre urbanização, memória coletiva e práticas de morte. O andamento da pesquisa deverá fornecer informações muito mais detalhadas sobre esses processos e suas implicações para a sociedade contemporânea.
Título do Evento
VII COLÓQUIO INTERNACIONAL POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS - PRIMAVERA DOS POVOS RUMO À COP 30 Ancestralidade, Justiça Climática e Direitos Territoriais!
Cidade do Evento
Montes Claros
Título dos Anais do Evento
Colóquio Internacional Sobre Povos e Comunidades Tradicionais
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOUSA, Marcos Winicio De. MORTE, MEMÓRIA E SEGREGAÇÃO: A TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS FÚNEBRES NO TERRITÓRIO DA SERRA GERAL DE MINAS GERAIS.. In: Colóquio Internacional Sobre Povos e Comunidades Tradicionais. Anais...Montes Claros(MG) UNIMONTES, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/viicoloquiopcts/915616-MORTE-MEMORIA-E-SEGREGACAO--A-TRANSFORMACAO-DOS-ESPACOS-FUNEBRES-NO-TERRITORIO-DA-SERRA-GERAL-DE-MINAS-GERAIS. Acesso em: 04/07/2025

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