A TENDA MARIA EMÍLIA NO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA: AMPLIANDO SABERES E DISCUSSÕES SOBRE A SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
A TENDA MARIA EMÍLIA NO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA: AMPLIANDO SABERES E DISCUSSÕES SOBRE A SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR
Autores
  • Beatriz Gouveia Moura
  • Jamile Xavier da Costa da Maceno
  • Júlia Borges Giudice Monteiro
  • Larissa Dantas Santos
  • RODRIGO DO NASCIMENTO LOPES
  • João Lucas Aguiar Amaral
  • Juliana Ramos da Mota
  • Williany Isis Santos
  • Silvia Maria Voci
Modalidade
Resumo expandido - Relato de experiência ou extensão
Área temática
Comida e cultura: os múltiplos olhares sobre a alimentação
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/495027-a-tenda-maria-emilia-no-xi-congresso-brasileiro-de-agroecologia--ampliando-saberes-e-discussoes-sobre-a-soberania
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Soberania Alimentar, Segurança Alimentar e Nutricional, Educação Popular
Resumo
Apresentação Entre os dias 04 e 07 de Novembro de 2019, no XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que ocorreu na Universidade Federal de Sergipe (UFS), aconteceu também a segunda edição da Tenda Maria Emília. A Tenda surgiu a partir de reflexões sobre a formação em Nutrição de estudantes, majoritariamente mulheres, do Centro Acadêmico de Nutrição Maria Emília Lisboa Pacheco, da Universidade Federal de Sergipe (CANUT/UFS), em conjunto com a Liga Acadêmica de Saúde na Comunidade (LASC/UFS) e com o Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado de Sergipe (OSANES/UFS). As considerações das estudantes giravam em torno de discutir a Nutrição de uma forma ampliada, unindo diversos saberes e experiências que partissem de diferentes áreas e que pudessem ocorrer fora do espaço da sala de aula. As reflexões vão ao encontro das discussões de Freitas et al. (2011), que debatem o campo da Nutrição para além do saber técnico e pautado no aspecto biológico, sendo enxergada de maneira interdisciplinar, política, que integra sentidos e práticas alimentares. Além disso, as ideias foram baseadas na Educação Popular, e se encontraram com os princípios de Paulo Freire, em busca de um processo de troca de saberes, autônomo, que valoriza as vivências como parte da construção de um conhecimento em constante inconclusão (FREIRE, 2018). Na 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN), as mulheres participantes, destacando a importância da centralidade feminina na Soberania Alimentar, seguraram cartazes que diziam “Maria Emília, você nos representa”. Enquanto mulheres que construíam e vivenciavam o curso de Nutrição com um olhar ampliado, o sentimento foi representado nestes cartazes. Dessa forma, ao considerar a luta pela Soberania Alimentar, pela Comida de Verdade e pelo Direito à Alimentação com a transformação para sistemas alimentares sustentáveis, foi escolhido o nome de Maria Emília Lisboa Pacheco - primeira mulher presidente do extinto Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), assistente social, mestre em Antropologia Social - para nomear a Tenda. Método-ação A primeira edição da Tenda ocorreu durante a comemoração dos 10 anos de criação do Curso de Nutrição da UFS, em 2018, e teve como público principal os estudantes da graduação. A segunda edição, objetivo principal deste relato, envolveu um público ainda mais diverso, desde participantes do CBA até visitantes da UFS. A existência de um espaço plural, aberto e disponível para todos e todas, que possibilitasse a discussão da alimentação e nutrição de forma ampliada, e que também se conectasse com os princípios da Agroecologia, foi o objetivo central do evento. Esta edição foi organizada pelo OSANES, em parceria com o CANUT, ambos da UFS, sendo construída a partir de rodas de conversas com temáticas em torno da Alimentação e Nutrição, e de atividades práticas que ocorreram junto aos participantes. As rodas de conversas, presentes na nossa vida social, na contação de histórias, no sentar entre amigos e pessoas queridas, são resgatadas como um recurso que possibilita o diálogo e as trocas entre vivências, além de reflexões (MOURA; LIMA, 2015). Estas rodas tornam possível a discussão sobre determinada temática e despertam um pensar compartilhado. É importante que os espaços das rodas sejam idealizados de forma a tornar confortável o compartilhamento de ideias (FIGUEIRÊDO; QUEIROZ, 2012). Assim, o espaço físico da Tenda Maria Emília foi aberto, montado entre as didáticas da UFS com cadeiras, almofadas e esteiras, organizadas em formato circular. A decoração da tenda foi realizada em parceria com a organização do XI CBA, com faixas com frases de resistência (“Se o campo não planta, a cidade não janta”) e bandeirolas coloridas. Além disso, os participantes das atividades práticas elaboraram cartazes e mensagens que também fizeram parte da identidade da tenda. As temáticas discutidas nas rodas de conversa foram: 1) Sem agroecologia não há Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN); 2) Agroecologia, feminismo e SAN; 3) Construindo indicadores qualitativos em Soberania Alimentar; 4) Aproximando SAN da agroecologia: programas e políticas públicas; 5) Sementes vivas da agroecologia: juventudes do campo e da cidade; 6) Territórios e bens comuns dos povos: cultura, Soberania Alimentar e agroecologia e 7) Experiências sergipanas em Educação Alimentar e Nutricional (EAN). Houve também espaços de livre convivência, em que as pessoas podiam utilizá-los para conversar, descansar e comer, assim como participar de uma oficina de cartazes e uma partilha de sabores (lanche coletivo). Os facilitadores das rodas de conversa foram diversos, sendo convidados pesquisadores e professores de diferentes áreas, gestores estaduais de políticas da SAN, representantes de movimentos sociais (Movimento Sem Terra, Movimento dos Pequenos Agricultores, Rede Sergipana de Agroecologia) e estudantes. Todas as rodas foram acompanhadas por uma dupla da equipe do OSANES ou do CANUT, havendo também uma pessoa responsável por relatar cada momento. A partir dessa memória, que focou em escrever os pensamentos e ideias coletivas suscitadas no debate, foi elaborada a Carta Política da Tenda, ao final da sua realização. A programação da Tenda foi divulgada no XI CBA, assim como nas redes sociais do OSANES e pelo Departamento de Nutrição (DNUT) da UFS. Resultados e discussão As tendas são espaços livres, democráticos, solidários, que integram práticas e saberes, vozes de movimentos populares locais que se intercalam com eventos acadêmicos. Esse processo possibilita a construção de novos entendimentos acerca da saúde e permite desdobramentos em outros movimentos (BONETTI; PEDROSA; SIQUEIRA, 2011). A Tenda Maria Emília trouxe uma comunhão de diálogos, de saberes e de sentimentos, algo maior do que a soma de todas as partes. A diversidade e a participação foram alimentos para a alma e para a construção de uma ciência-cidadã. Foram momentos místicos e que contribuíram para o esperançar em tempos difíceis, de vivências que ajudam a resistir e persistir. Em todas as rodas de conversas, aconteceram participações expressivas de inscritos no XI CBA, estudantes da UFS e visitantes. Por ocorrer em um espaço que abrigava um Congresso em nível nacional, existiram diálogos e o compartilhamento de experiências vindas de diversos territórios e estados. Durante a tenda, houve debates sobre o papel dos atores que compõem os sistemas alimentares, acerca dos interesses que pairam sobre o que comemos, as contradições existentes e o avanço do neoliberalismo e dos impérios alimentares. Como resposta às problemáticas debatidas, foram colocados elementos que visualizaram a agroecologia como um movimento contra-hegemônico e revolucionário, e que abordaram a necessidade de incentivar os mercados de proximidade na defesa dos bens comuns e da luta pela reforma agrária popular. Estas questões foram colocadas como promotoras da Soberania Alimentar, da defesa dos territórios e como uma expressão da luta contra a perspectiva ideológica capitalista. Além disso, foi debatida a defesa de uma abordagem feminista de base camponesa e popular, assim como as questões que envolvem o campo, tendo como eixo a defesa das sementes crioulas (sementes da liberdade) e da promoção de oportunidades no campo, sem esquecer a luta pelos programas e políticas que envolvem a SAN, dentre outras questões abordadas. Freitas et al. (2011) discutem a necessidade de aproximar teorias e práticas acadêmicas com o mundo real, que faz parte do cotidiano da população que é atendida pela Nutrição, propondo a necessidade de ir além do que foi feito até agora, embora sem desconsiderar os processos já existentes. Em consonância, e considerando as discussões que ocorreram na Tenda Maria Emília, pode-se dizer que houve um exercício da abordagem sistêmica da Alimentação Adequada e Saudável (AAS) (BURLANDY et al, 2021), e buscou considerar a alimentação a partir de uma integração das suas múltiplas dimensões. A Educação Popular em Saúde (EPS) pode ser direcionada a partir de um contexto para abordar qual o projeto de sociedade que queremos, visando discutir a nossa cidadania e os deveres do Estado, com a construção de um projeto inédito viável (BONETTI; PEDROSA; SIQUEIRA, 2011). Há experiências semelhantes que também trazem contribuições políticas e formativas, como a Tenda Oraida Abreu, ocorrida na 11ª edição do Congresso Nacional da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCÃO), que destacou a valorização da participação popular e o urgente resgate dos movimentos de luta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) (JARDINI, 2016). Outro exemplo é a Tenda Josué de Castro, que já ocorreu em diversos eventos da Nutrição, e que busca oferecer um espaço interativo, de diálogo e discussão sobre a SAN e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) (MACHADO et al, 2016). As tendas possibilitam um espaço de promoção de troca entre culturas e saberes, sendo um movimento contra-hegemônico extremamente necessário e fundamental na perspectiva de democratizar processos de educação e participação popular (SILVA et al, 2012; MARANHÃO et al, 2014). Por fim, tendo como inspiração a fala de uma participante, a militante Maria, do Movimento dos Pequenos Agricultores - “O elo que unifica os trabalhadores do campo e da cidade é o alimento, é a semente” - é percebido, a partir da experiência da Tenda Maria Emília, a possibilidade de existência de um espaço que promove a interlocução de diversos atores que constroem e atuam com a Soberania Alimentar e a SAN. Considerações finais A Tenda Maria Emília, ocorrida no XI Congresso Brasileiro de Agroecologia, foi uma construção coletiva, horizontal e que tinha como pressuposto a ideia de que o conhecimento precisa ser realizado, integrado e socializado com todos e todas. A sua execução possibilitou um espaço rico de trocas de saberes que discutiu aspectos da Alimentação e Nutrição, a partir de um olhar ampliado e com a participação de atores de campos diversos, incluindo movimentos sociais. Em um espaço aberto e aconchegante, foi dialogado sobre a SAN, a Soberania Alimentar, a juventude do campo e da cidade, o feminismo, os programas e políticas públicas, a EAN e os modos e formas do comer associados com a agroecologia, tendo como resultado a elaboração de uma carta política propositiva. Sugerimos a realização de mais debates, de outros espaços como as Tendas e do desenvolvimento de estudos e ações de extensão que tenham como elementos primordiais a Educação Popular e um olhar sistêmico para a Alimentação e Nutrição. - Palavras-chaves: Soberania Alimentar; Segurança Alimentar e Nutricional; Educação Popular. - Fonte(s) de financiamento: Trabalho sem financiamento. - Conflito de interesses: Não há conflito de interesse a declarar. Referências bibliográficas BONETTI, Osvaldo Peralta; PEDROSA, José Ivo dos Santos; SIQUEIRA, Theresa Cristina de Albuquerque. Educação popular em saúde como política do Sistema Único de Saúde. Revista de APS, v. 14, n. 4, 2011. BURLANDY, Luciene et al. Reflexões sobre ideias e disputas no contexto da promoção da alimentação saudável. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, 2021. FIGUEIREDO, Alessandra Aniceto Ferreira de; QUEIROZ, Tacinara Nogueira de. A utilização de rodas de conversa como metodologia que possibilita o diálogo. Anais Eletrônicos do Seminário Internacional Fazendo Gênero: 10 Desafios Atuais dos Feminismos, 2012. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro / São Paulo: Paz e Terra, ed. 57, p.143, 2018. FREITAS, Maria do Carmo Soares de; MINAYO, Maria Cecília de Souza; FONTES, Gardênia Abreu Vieira. Sobre o campo da Alimentação e Nutrição na perspectiva das teorias compreensivas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p. 31-38, 2011. JARDINI, Victor Hugo Ferreira. Tenda Oraida Abreu: o grito em defesa do Sistema Único de Saúde no Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida, 2016. MACHADO, Neila Maria Viçosa et al. Tenda Josué de Castro-uma homenagem a um dos precursores do debate sobre Fome e Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil e no mundo. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 7, n. 2, p. 3-8, 2016. MARANHÃO, Thaís et al. Espaços de Saúde e Cultura: experiência do Fórum Social Mundial às Tendas de Educação Popular em Saúde. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 18, p. 1175-1186, 2014. MOURA, Adriana Borges Ferro; LIMA, Maria da Glória Soares Barbosa. A Reinvenção da Roda: Roda de Conversa, um instrumento metodológico possível. Interfaces da Educação, v. 5, n. 15, p. 24-35, 2015. SILVA, Maria Edna et al. Os caminhos da Educação Popular em Saúde na Universidade: uma experiência da Tenda Damião Alexandrino. Anais do 10º Congresso Internacional da Rede Unida, 2012.
Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MOURA, Beatriz Gouveia et al.. A TENDA MARIA EMÍLIA NO XI CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA: AMPLIANDO SABERES E DISCUSSÕES SOBRE A SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/495027-A-TENDA-MARIA-EMILIA-NO-XI-CONGRESSO-BRASILEIRO-DE-AGROECOLOGIA--AMPLIANDO-SABERES-E-DISCUSSOES-SOBRE-A-SOBERANIA. Acesso em: 08/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes