INSEGURANÇA ALIMENTAR E O PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR DOS ADOLESCENTES BRASILEIROS

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
INSEGURANÇA ALIMENTAR E O PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR DOS ADOLESCENTES BRASILEIROS
Autores
  • Lívia Gomes de Oliveira
  • Michele Ribeiro Sgambato
  • Renata Rodrigues
  • Rosely Sichieri
  • Rosana Salles-Costa
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Determinantes e efeitos da Insegurança Alimentar e Nutricional
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/495018-inseguranca-alimentar-e-o-padrao-de-consumo-alimentar-dos-adolescentes-brasileiros
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Segurança alimentar, consumo alimentar, adolescentes
Resumo
Introdução De acordo com a última Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2018 (IBGE, 2018), foi possível observar o aumento da prevalência de famílias brasileiras vivenciando as formas mais severas de IA. No período de 2013 a 2017, houve aumento de 76,1% de IA moderada e 43,7% de IA grave (IBGE, 2020a). Ainda, segundo o relatório da POF 2018, observou-se que a presença de crianças e/ou adolescentes nas famílias aumentava a vulnerabilidade à restrição alimentar, indicando um aumento na gravidade de IA (IBGE, 2020a). Dados do inquérito de IA e Covid-19 indicaram o aumento do número de famílias expostas a IA grave no país, destacando a eminente retomada da fome no cenário nacional (PENSAN, 2021). Segundo o relatório, a estimativa é de que cerca de 116,8 milhões de brasileiros convivem com algum grau de IA; destes, 19 milhões enfrentam a fome nos seus domicílios. Neste cenário da retomada da fome no país, cabe reforçar que as crianças mais novas representam um grupo com maior proteção do que as crianças mais velhas e os adolescentes dentro das famílias com vulnerabilidade nos níveis de renda (RODRÍGUEZ, 2017; KUSUMA, 2017). A adolescência é a faixa etária que expressa maior consumo de alimentos ultraprocessados e de má qualidade nutricional; somado a isso, apresenta menor consumo de frutas, verduras e legumes, e isso é acentuado em famílias que têm menor renda per capita (IBGE, 2020b). Essa alimentação inadequada e inacessível contribui para o aumento no risco do desenvolvimento de desnutrição, excesso de peso e do sobrepeso, obesidade e das doenças crônicas não transmissíveis como doenças cardíacas, diabetes e câncer, no decorrer da vida adulta (COLLESE,2017; LEE, 2019, LOPES, 2013; D’ AVILLA, 2017; RODRIGUEZ 2017; IBGE,2020b). Visto que a IA se reflete em inadequações alimentares na adolescência, momento em que é indispensável a quantidade suficiente e qualidade adequada de micronutrientes para o satisfatório crescimento e desenvolvimento, este estudo se justifica pela necessidade de pesquisas em âmbito nacional que proporcionem melhor conhecimento da atual relação entre a IA e o consumo alimentar dos adolescentes brasileiros. Objetivo Avaliar o consumo alimentar de adolescentes segundo os níveis de insegurança alimentar. Métodos Trata-se de um estudo transversal e quantitativo a ser realizado com base nos microdados da POF 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de junho de 2017 a julho de 2018. O IBGE dispõe de uma amostra mestra comum para pesquisas domiciliares, que são compostas por unidades primárias de amostragem (UPAs), constituídas por setores censitários. A seleção da UPAs para a POF 2018 foi realizada de forma aleatória simples, em que foram selecionados 5.041 UPAs de um total de 15.096, em setores pertencentes à amostra mestra. A seleção de UPAs foi realizada a cada três meses, durante o período de 12 meses da pesquisa. A amostra final foi composta por cerca de 58 mil domicílios entrevistados no país, entre os quais foi selecionada uma subamostra de 20.112 domicílios, de forma aleatória, para avaliar o consumo individual (IBGE, 2019). Os critérios de exclusão para a realização deste projeto foram: (i) domicílios que apresentam mais de uma unidade de consumo (uma unidade de consumo compreende a um único morador ou conjunto de moradores que compartilham da mesma fonte de alimentação ou despesas compartilhadas com moradia) (IBGE, 2020b), (ii) domicílios sem a presença de adolescentes e (iii) domicílios com adolescentes gestantes. A IA foi estimada pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), elaborada com base na escala americana Household Food Security Survey (HFSSM) que tem como fundamento a experiência de pessoas que vivenciaram fome e insegurança alimentar. A EBIA foi adaptada e validada para a população brasileira, respeitando as suas especificidades e diversidades (PÉREZ-ESCAMILLA, 2004). Os domicílios são classificados em quatro categorias: 1) Segurança alimentar, quando não há restrição alimentar de qualquer natureza, nem a preocupação ou incerteza com a falta futura de alimentos; 2) Insegurança alimentar leve quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso próximo e futuro aos alimentos, comprometendo, assim, a qualidade da alimentação; 3) Insegurança alimentar moderada quando há restrição quantitativa dos alimentos entre os adultos; 4) Insegurança alimentar grave é quando a restrição quantitativa dos alimentos atinge as crianças e adolescentes e, neste nível, há episódios de fome (SEGALL-CORRÊA, 2014). O consumo alimentar foi avaliado através de dois recordatórios de 24 horas, aplicados em dias não consecutivos. Está presente na POF 2017 e foi preenchido por um agente de pesquisa mediante entrevista pessoal com cada indivíduo do domicílio acima de 10 anos. Foram obtidas informações detalhadas dos alimentos e bebidas consumidos: quantidade, unidade de medida, tipo de produto, forma de preparação, horário, ocasião e local de consumo (IBGE, 2017). No presente estudo, foi avaliado o consumo alimentar dos adolescentes com idade entre 10 e 18 anos completos, quanto ao padrão de consumo alimentar individual. Os grupos de alimentos foram divididos em 26 grupos. Para a análise dos dados, foram estimadas as gramaturas médias, e intervalos de confiança de 95% (IC95%) de cada grupo de alimento segundo os níveis de IA. Em todas as etapas de análise foram serão considerados 5% como nível de significância estatística. As análises estatísticas foram realizadas pelo Stata 16.0. Resultados e Discussão : Em relação ao consumo alimentar dos adolescentes, o arroz [SA: 132,0g (IC95% 123,8 – 140,2); IAG : 157,5g (IC95% 142,0 – 173,1)], farinha de .mandioca [ SA : 7,4g (IC95% 6,2 – 8,6); IAG: 23,9g (IC95% 17,7 – 30,0)] e pescado [ SA: 11,3g (IC95% 8,6 – 14,0); IAG: 16,8g (IC95% 11,5-22,0)] foram mais consumidos e apresentaram maior número no grupo de insegurança alimentar grave que no grupo em Segurança Alimentar. O grupo do feijão apresentou crescente consumo até o nível de IAM, com redução na IAG (SA 173,0g IC95% 161,8-184,1| IAL 186,2g IC95% 172,6-199,8| IAM 199,0g IC95% 174,5-223,5 | IAG 151,5g IC95% 131,9-171,0). O grupo de legumes (SA: 10,1g IC95% 8,4 -11,8| IAL:6,2g IC95% 4,8-7,5| IAM: 5,4g IC95% 2,9-7,8| IAG 4,8g IC95% 2,4-7,2-), verduras (SA 21,5g IC95% 19,0-24,0| IAL 19,9g IC95% 16,0-23,8 | IAM 12,0g IC95% 4,5g-19,6g), frutas (SA 53,1g IC95% 45,5-60,7| IAL 36,4g IC95% 31,6-41,3| IAM 45,6g IC95% 32,4-58,9 | IAG 41,9g IC95% 28,2-55,7), sucos (SA 160.9g IC95% 114,8-173.7| IAL 151,4g IC95% 136,9-165,8| IAM 134,3g IC95% 100,7-168,0 | IAG 91,4g IC95% 73,1-109,8) e leite (SA 42,1g IC95% 36,0-48,3| IAL 31,8g IC95% 24,9-38,7-| IAM 28,1 IC95% 20,3-36,0 | IAG 24,5 IC95% 15,6-33,5) foram menos consumidos pelos adolescentes em IAG. As escolhas alimentares, bem como o acesso ao alimento, difere de acordo com o nível de Insegurança alimentar [FAO, 2020] [IBGE, 2020b]. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), quanto menor a renda ou maior a severidade de insegurança alimentar, aumenta a proporção de consumo de alimentos básicos [FAO, 2020]. O relatório do IBGE 2017/2018 mostrou que conforme aumenta a severidade de IA, maior é o consumo per capita de arroz e feijão, o que reforça que, em situação de pobreza, esses alimentos são priorizados [IBGE, 2020a]. No presente estudo, que investiga o consumo alimentar em adolescentes, também apresentou consumo mais elevado de arroz em níveis de insegurança alimentar mais grave, enquanto o feijão apresenta consumo crescente da SA até a IAM, enquanto na IAG reduz. Apesar da redução em nível nacional do consumo de arroz e feijão, ainda são considerados alimentos base da população brasileira [IBGE, 2020a]. Estudo realizado em cidades de nove países relatou que os adolescentes consomem menos frutas, verduras, legumes e laticínios, assim como consumiam mais alimentos com gordura e açúcares (FAO, 2020). O presente estudo mostra que o consumo de frutas, verduras e leites nesta faixa etária é ainda menor, de acordo com o aumento da gravidade da IA. As frutas, legumes e verduras apresentam um maior custo comparado aos alimentos considerados não saudáveis e, com isso, talvez não representem a prioridade de famílias em situações de IA ( RAIZEL, 2018). Segundo o inquérito nacional POF 2017/2018, a inadequação de cálcio foi de 98,1% em adolescentes do sexo masculino, e 99% em adolescentes do sexo feminino (IBGE, 2020a). De acordo com o aumento da gravidade de IA os adolescentes diminuíram o consumo de leite. Esse alimento é rico em cálcio, nutriente essencial nessa fase de crescimento ósseo, e na adolescência é responsável por cerca de 40 a 60% do acréscimo da massa óssea que ocorre na adolescência; ou seja, a ingestão adequada durante essa fase da vida é necessário para alcance de pico de massa óssea e consequente prevenção de osteoporose e fraturas por toda a vida adulta e na velhice (ASSUMPCAO, 2016). Conclusão: Os adolescentes em insegurança alimentar grave consumiram menor quantidade de frutas, legumes, verduras e leite. Portanto é necessário fortalecer a retomada de outras políticas sociais de combate à fome e promoção de SAN no país, no intuito de aumentar a renda de famílias em pobreza extrema, como o aumento do salário mínimo, garantir o acesso à merenda escolar de qualidade, incentivo à produção agrícola de frutas e vegetais e o abastecimento dessa produção para os centros urbanos. Assim, será possível minimizar os agravos das desigualdades no país no acesso aos alimentos de maior qualidade nutricional. Fonte(s) de financiamento: CNPq e FAPERJ Conflito de interesses: não há conflito de interesse a declarar. Referências Bibliográficas: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: Análise da segurança alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2020a. p. 1-69 VIGISAN – Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil. Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional- Rede PENSSAN, 2021. RODRÍGUEZ, Luis A. et al. Dietary quality and household food insecurity among Mexican children and adolescents. Maternal & child nutrition, v. 13, n. 4, p. e12372, 2017. RODRÍGUEZ, Luis A. et al. Dietary quality and household food insecurity among Mexican children and adolescents. Maternal & child nutrition, v. 13, n. 4, p. e12372, 2017. KUSUMA, Dian et al. The impact of household and community cash transfers on children's food consumption in Indonesia. Preventive medicine, v. 100, p. 152-158, 2017 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2020b.p.1-114 COLLESE, Tatiana Sadalla et al. Role of fruits and vegetables in adolescent cardiovascular health: a systematic review. Nutrition reviews, v. 75, n. 5, p. 339-349, 2017. LEE, Arthur M. et al. 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Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Lívia Gomes de et al.. INSEGURANÇA ALIMENTAR E O PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR DOS ADOLESCENTES BRASILEIROS.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/495018-INSEGURANCA-ALIMENTAR-E-O-PADRAO-DE-CONSUMO-ALIMENTAR-DOS-ADOLESCENTES-BRASILEIROS. Acesso em: 23/06/2025

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