INSEGURANÇA ALIMENTAR EM IDOSOS QUE VIVEM SOZINHOS EM UM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
INSEGURANÇA ALIMENTAR EM IDOSOS QUE VIVEM SOZINHOS EM UM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO
Autores
  • Marlus Henrique Queiroz Pereira
  • Maria del Carmen Bisi Molina
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Determinantes e efeitos da Insegurança Alimentar e Nutricional
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/493860-inseguranca-alimentar-em-idosos-que-vivem-sozinhos-em-um-municipio-do-nordeste-brasileiro
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Segurança Alimentar e Nutricional; Idosos; Domicílios unipessoais.
Resumo
Introdução O envelhecimento populacional é um fenômeno global crescente e que se apresenta de forma heterogênea entre as regiões. Segundo dados das Nações Unidas, em 2020 os idosos representavam mais de 13% (1,1 bilhão de habitantes) da população mundial. No Brasil, em 2020 existiam quase 30 milhões de idosos, ou seja aproximadamente 14% da população brasileira (DESA, 2019). Nos países de média e baixa renda, como o Brasil, o indivíduo idoso é aquele que apresenta idade igual ou superior a 60 anos. Nesta fase da vida ocorrem alterações sociais, econômicas, fisiológicas, psicológicas e de saúde, que poderão produzir um processo ativo e com uma melhor qualidade de vida; ou essas mudanças podem acentuar vulnerabilidades acumulados no decorrer da vida e que repercutirão de forma negativa no processo de envelhecer (SILVA et al., 2016). A estrutura familiar também se torna resultante dessas mudanças. Assim, percebe-se de forma cada vez mais comum os arranjos familiares formados por idosos que moram sozinhos, denominados domicílios unipessoais. Isso acontece principalmente por questões envolvendo fecundidade, mortalidade e casamento. Às vezes são idosos que moravam sozinhos ou escolheram viver sozinhos, mesmo com família estabelecida. Mas geralmente são idosos divorciados ou que tiveram morte de cônjuge; ou mortes ou êxodo dos filhos (CAMARGOS; RODRIGUES; MACHADO, 2011). No Brasil, aproximadamente 15% dos idosos vivem sozinhos, sendo que na região Nordeste esse percentual é um pouco menor (13,3%) (NEGRINI et al., 2018). Com todas essas mudanças, domicílios com idosos podem ficar expostos a situações de Insegurança Alimentar (IA), que se caracterizam por uma instabilidade no padrão alimentar ocasionada por dificuldades econômicas no acesso aos alimentos no ambiente familiar (WOLFE et al., 1996). A IA pode apresentar estágios progressivos, se iniciando com uma preocupação sobre a durabilidade dos alimentos e chegando até a escassez total dos suprimentos (fome). Aspectos como renda familiar insuficiente, barreiras geográficas para acessar os alimentos, mobilidade reduzida, inabilidade culinária e capital social reduzido estão relacionados com o agravamento da IA nesses idosos que vivem sozinhos, causando repercussões do estado nutricional e saúde em geral (SHIM; HWANG; KIM, 2019; KIM; PARK; KIM, 2019). Com o crescimento da população idosa e o aumento no número desses indivíduos que moram sozinhos, surge a necessidade de conhecer o panorama da IA nesse contexto. Desta forma, o estudo objetiva identificar a prevalência de IA e fatores associados em idosos residentes em domicílios unipessoais. Método Estudo transversal e com coleta de dados primários realizado com idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF), no município de Barreiras/BA. Trata-se de uma subamostra de um projeto matriz intitulado “Avaliação de saúde dos idosos do município de Barreiras/BA”, realizado em 23 equipes da ESF no período de fevereiro de 2017 a agosto de 2018. Como critérios de inclusão foram considerados somente os idosos que moravam sozinhos, de ambos os sexos, urbanos e atendidos na ESF. Foram excluídos os idosos institucionalizados ou hospitalizados; aqueles com limitações de mobilidade para comparecerem até o local da coleta; e idosos com comprometimento cognitivo. A coleta de dados foi realizada diretamente com os idosos por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). A EBIA é instrumento validado para população brasileira e apresenta 14 questões dicotômicas, podendo gerar uma pontuação que classifica os domicílios/família em quatro níveis: Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), IA leve, IA moderada e IA grave (SARDINHA et al., 2014). Outras questões foram coletadas pelo questionário geral da pesquisa, que apresentou informações sobre condições social, demográfica, econômica, de saúde e estilo de vida. A análise dos dados foi realizada com o auxílio de programa estatístico e as variáveis foram expressas através de análise descritiva dos dados (frequência absoluta e relativa). Além disso, a análise bivariada foi realizada através do teste qui quadrado, tendo em vista que todas as variáveis foram categóricas. As análises consideraram um a=0,05 para determinação da significância estatística. O trabalho foi avaliado e aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer: 1.447.361). Resultados/Discussão Foram avaliados 316 idosos, sendo que 51 (16,1%) destes moraram em domicílios unipessoais. Entre os idosos que moravam sozinhos observou-se que a maioria era do sexo feminino (52,9%), pretos/pardos (51%), idade entre 60 a 69 anos (45,1%) e com menos de quatro anos de estudo (70,6%). Além disso, grande parte dos idosos não fumava (82,4%), não consumia bebida alcoólica (84,3%) e era formada por sedentários (58,8%). Em relação à condição de saúde, uma parcela importante era hipertensa (70,6%) e diabética (19,6%). A prevalência de IA foi de 60,8%, sendo 25,5% IA leve, 21,6 % IA moderada, e 13,7% de IA grave. Na análise bivariada, houve associação somente entre IA e idade (p=0,001), em que 83,3% dos idosos com 70 a 79 anos estavam em IA. Assim, o estudo aponta uma elevada prevalência de IA em idosos que vivem sozinhos, quando comparada com os poucos estudos realizados sobre essa temática. Pesquisa realizada com 815 idosos sul-coreanos com mais de 65 anos, apontou uma prevalência de 15,3% de IA (KIM; PARK; KIM, 2019). Já Shim et al. (2019), também em um estudo realizado em áreas rurais da Coreia do Sul, identificou 34,7% de IA. Os idosos brasileiros, com destaque para aqueles que vivem no Nordeste, apresentam um perfil característico para a população em situação de IA, geralmente relacionado com vulnerabilidades (pobreza, iniquidades em saúde, e falta de acesso às políticas públicas). Possivelmente esse cenário social explique essa proporção tão alta de IA. Para compreender melhor o cenário de morar sozinho entre idosos brasileiros, dados retirados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) apontam que essa condição foi associada com sexo feminino, baixa renda, idade acima dos 75 anos, déficit funcional para atividades da vida diária, processos patológicos agudos, quedas, e um consumo alimentar de baixa qualidade (NEGRINI et al., 2018). Além disso, comer sozinho apresenta relação com sintomas depressivos, síndrome metabólica e mortalidade (BJÖRNWALL et al., 2021). Um ambiente comunitário inadequado nos territórios de vivências desses idosos pode dificultar ainda mais o acesso aos alimentos, principalmente para aqueles itens relacionados a uma alimentação adequada e saudável. A escassez de estabelecimentos comerciais como feiras livres, sacolões, supermercados, bem como uma deficiente oferta de transporte público agravam a possibilidade do acesso e escolhas alimentares. São barreiras geográficas que não favorecem a construção de hábitos alimentos saudáveis e facilitam o consumo de alimentos industrializados. Além disso, a situação de baixa renda vivenciada por essa população é decisiva para a aquisição dos alimentos. São idosos que vivem com uma única fonte de renda, geralmente oriunda de aposentadorias com valores incompatíveis com as necessidades do idoso (moradia digna, gastos com saúde, transporte, alimentação, vestuários, lazer, entre outras). Os preços dos alimentos sempre serão considerados no momento da sua compra. Outra questão é a inexistência ou insuficiente rede de equipamentos públicos de SAN, formada por restaurantes populares, bancos de alimentos, feiras livres e mercados públicos; que poderiam facilitar o acesso desses idosos aos alimentos (SHIM et al., 2019). Desta forma, surgem desafios para a saúde pública e assistência social voltados aos idosos que vivem sozinhos, tendo em vista o acelerado crescimento da população com 60 anos ou mais. Certamente a identificação desses indivíduos nas comunidades e um acolhimento integral poderão amenizar os problemas vivenciados por esses sujeitos, como a IA. Conclusão A prevalência de IA em idosos que vivem sozinhos foi elevada e pode estar relacionada com vulnerabilidades geradas possivelmente por desigualdades sociais e déficit de políticas públicas. Financiamento: Trabalho sem financiamento. Conflitos de interesse: Os autores declaram não apresentar conflito de interesses. Referências: UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS. 2019 Revision of world population prospects. 2019. SILVA, M. L. N. et al. Tratado de nutrição em gerontologia. 2016. CAMARGOS, Mirela Castro Santos; RODRIGUES, Roberto Nascimento; MACHADO, Carla Jorge. Idoso, família e domicílio: uma revisão narrativa sobre a decisão de morar sozinho. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 28, p. 217-230, 2011. NEGRINI, Etienne Larissa Duim et al. Quem são e como vivem os idosos que moram sozinhos no Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 21, p. 523-531, 2018. Wolfe WS, Olson CM, Kendall A, Frongillo EA. Understanding Food Insecurity in the Elderly: A Conceptual Framework. Journal of Nutrition Education. março de 1996;28(2):92–100. SHIM, Jae Eun; HWANG, Ji-Yun; KIM, Kirang. Objective and perceived food environment and household economic resources related to food insecurity in older adults living alone in rural areas. BMC geriatrics, v. 19, n. 1, p. 1-8, 2019. KIM, Youngmi; PARK, Aely; KIM, Kyeongmo. Food insecurity and depressive symptoms of older adults living alone in South Korea. Ageing & Society, v. 39, n. 9, p. 2042-2058, 2019. SARDINHA, L. M. V. et al. Escala Brasileira de Insegurança Alimentar–EBIA: análise psicométrica de uma dimensão da Segurança Alimentar e Nutricional. Ministério do Desenvolv Soc e Combat à Fome [Internet], p. 1-15, 2014. BJÖRNWALL, Amanda et al. Eating Alone or Together among Community-Living Older People—A Scoping Review. International journal of environmental research and public health, v. 18, n. 7, p. 3495, 2021.
Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PEREIRA, Marlus Henrique Queiroz; MOLINA, Maria del Carmen Bisi. INSEGURANÇA ALIMENTAR EM IDOSOS QUE VIVEM SOZINHOS EM UM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/493860-INSEGURANCA-ALIMENTAR-EM-IDOSOS-QUE-VIVEM-SOZINHOS-EM-UM-MUNICIPIO-DO-NORDESTE-BRASILEIRO. Acesso em: 19/07/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes