CONSUMO ALIMENTAR NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
CONSUMO ALIMENTAR NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Autores
  • Letícia Matias Lacaz
  • Elaine Cristina De Souza Lima
  • Thaiane Ingrid Silva de Oliveira
  • Laura Buarque Goulart Coutinho
  • DIOGO ALVES DOS SANTOS
  • Katia Cilene Tabai
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Abastecimento e consumo alimentar saudável
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/489170-consumo-alimentar-no-brasil-durante-a-pandemia-da-covid-19
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Consumo alimentar, Ultraprocessados, Brasileiros, Segurança Alimentar e Nutricional.
Resumo
Introdução A pandemia da Covid-19 e as medidas adotadas para o seu controle marcaram diversos aspectos da sociedade. No Brasil, que recentemente retornou ao patamar do Mapa da Fome, as desigualdades de renda, étnico-raciais, de gênero e de acesso aos serviços de saúde, já existentes antes da pandemia, foram amplificadas durante o período pandêmico (ALPINO et al., 2020). O impacto da pandemia da Covid-19 foi maior nos âmbitos sociais, econômicos e alimentares, pois o cenário agravou a fome, o desemprego e a pobreza da população e, consequentemente, a insegurança alimentar e nutricional no Brasil. O aumento do desemprego e a consequente redução do nível de ocupação da população acarretou um cenário propício à disseminação e contágio pelo vírus da Covid-19, além do aumento dos índices de insegurança alimentar e nutricional no país, com cada vez mais indivíduos sem renda e o crescente aumento dos preços dos alimentos (FAO, 2021). Em meio a uma emergência sanitária tão grande, sabe-se que as diferentes formas de desnutrição podem levar ao desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT. A desnutrição pode ocorrer devido à falta de alimentos, e também ao consumo daqueles prejudiciais à saúde e com baixo valor nutricional (SILVA et al., 2021). Alimentos obtidos a partir de processos industriais que transformam commodities como trigo, soja, óleo e açúcar em alimentos formulados com diferentes tipos de aditivos, geralmente utilizados para prolongar a vida desses produtos na prateleira e alterar as características físico-químicas dos mesmos, são denominados ultraprocessados, e substituem muitas vezes os alimentos frescos (in natura) devido ao seu preço e comodidade na sua obtenção (MONTEIRO et al., 2021). No caso da alta dos preços dos alimentos, os processados e ultraprocessados, ricos em açúcares, sódio e gordura, se tornam mais atraentes ao consumidor devido aos preços competitivos, quando comparados àqueles preconizados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, reconhecido mundialmente por defender o consumo de alimentos in natura e minimamente processados, que são considerados os grupos mais saudáveis (BRASIL, 2014). A mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2020), relata que o grupo de alimentos mais consumido no Brasil foi o de Bebidas e Infusões, que inclui bebidas alcoólicas, refrigerantes, chás, sucos, entre outras ultraprocessadas. O segundo grupo de alimentos mais consumido foi o de leite e derivados, seguido por cereais, hortaliças e carnes. Tal pesquisa retrata o caráter onívoro da população, ou seja, há consumo tanto de produtos de origem vegetal quanto de origem animal, a identidade alimentar dos brasileiros e o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados. No Brasil, quanto maior o salário de uma família, maiores são as suas possibilidades de consumo, e quanto menores os rendimentos, maiores serão os esforços necessários para a realização de suas necessidades e de seus desejos de consumo (SILVA et al., 2021). De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - REDE PENSSAN (2021), 19,1 milhões de brasileiros estavam em situação de Insegurança Alimentar e Nutricional - IAN - grave durante o ano de 2020. Devido à importância do tema, o presente estudo teve como objetivo identificar as principais implicações da pandemia da Covid-19 na alimentação, bem como no perfil de consumo alimentar dos brasileiros residentes no Brasil e debater sobre a necessidade de políticas públicas em prol do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Metodologia Trata-se de um estudo observacional e transversal de caráter exploratório-descritivo, de natureza quali-quantitativa. Utilizou-se amostra de conveniência, que consiste na seleção de unidade amostral feita arbitrariamente, de acordo com a conveniência da pesquisa (CALLEGARI-JACQUES, 2003). A pesquisa foi realizada virtualmente, através da plataforma Google Forms, entre 26 e 30 de abril de 2021, após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), nº 30994920.6.0000.5285, e a permissão dos participantes através de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) eletrônico, respeitando os aspectos éticos da pesquisa. Participaram do levantamento 395 indivíduos. O questionário foi elaborado com perguntas sobre os dados socioeconômicos, aspectos referentes ao isolamento e suas implicações na alimentação e perfil de compras ocasionadas pela pandemia da Covid-19. Resultados e Discussão A partir dos dados coletados, observou-se a prevalência do gênero feminino (79,75%), de jovens de 18 a 29 anos (48,35%), e de residentes da região sudeste do Brasil (88,35%). Dos entrevistados, a maioria possuía renda familiar mensal entre R$1.000,00 a R$3.000,00 (22,70%), tomava os devidos cuidados para evitar a contaminação por Covid-19, mas ainda saía de casa durante a pandemia (48,10%), trabalhava (65,06%) e estudava (79,75%) no momento em que se realizou a pesquisa. Quanto ao tipo de alimentação dos indivíduos, 65,82% se declararam onívoros, como já era previsto a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE (2020). A maioria dos indivíduos identificou alguma mudança na alimentação (80,25%) e 89,62% perceberam aumento de gastos com alimentação durante a pandemia, sendo que 51,14% sentiram dificuldade em comprar alimentos devido ao aumento do preço. Dos entrevistados, 73,16% possuíam responsabilidade total ou parcial pelas compras da residência, e 78,23% sentiram mais vontade de cozinhar durante a pandemia, sendo que 69,87% utilizavam a internet como fonte de receitas. Quanto ao consumo de alimentos e/ou refeições por delivery, 51,14% consumiam, mas já tinham o hábito antes da pandemia. E quanto ao consumo de refeições em restaurantes, 57,22% relataram que não estavam consumindo, mas tinham o hábito antes da pandemia. Estes dados podem ser interpretados como uma medida protetiva dos indivíduos durante o período de pandemia, visto que a compra de alimentos e/ou refeições por delivery são populares entre os mesmos indivíduos. Portanto, a pandemia de Covid-19 e o isolamento social promoveram a diminuição de visitas a restaurantes, aumento do consumo de alimentos e/ou refeições por delivery e aumento das preparações das refeições na própria residência. Houve, ainda, um notável aumento do consumo de Comfort Foods, também conhecidos como “alimentos que confortam”, durante a pandemia da Covid-19 (22,53%). Entre os Comfort Foods mais populares estão, principalmente, os alimentos ricos em açúcares refinados e os ultraprocessados, como os chocolates e produtos de panificação. A preocupação com o crescimento da compra de alimentos em ambiente digital está no aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados e a diminuição do consumo de alimentos in natura. Serve de alerta à saúde pública que 16,96% dos respondentes deste estudo relataram estar consumindo mais alimentos ultraprocessados durante a pandemia de Covid-19. Estudos epidemiológicos e experimentais indicam que alimentos ultraprocessados aumentam os riscos de obesidade e de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis - DCNT. Análises mostram que em países onde existe alto índice de consumo de alimentos processados e ultraprocessados os níveis de obesidade são maiores (MONTEIRO et al., 2021). Estes dados são preocupantes, já que no Brasil sabe-se que houve aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, inclusive entre os indivíduos envolvidos neste estudo. De acordo com Silva (2020), há associação do elevado número de pessoas acometidas pela pandemia da Covid-19 com a má nutrição, que vai desde a fome até, muitas vezes, o sobrepeso e a obesidade, bem como o maior alcance aos mais pobres, que vivem em condições de maior vulnerabilidade. Ainda, Maluf (2020) destaca a necessidade do trabalho participativo, intersetorial, sistêmico, o exercício da ciência cidadã e o pensamento crítico para alcançar a reconstrução do Estado brasileiro em bases democráticas, com respeito a direitos e participação social na formulação e implementação e monitoramentos das políticas públicas, inclusive de segurança alimentar, em especial durante a pandemia da Covid-19. Considerações A maioria dos indivíduos identificou mudanças na alimentação, principalmente um maior consumo de alimentos, o que nem sempre consiste em escolhas saudáveis. Essas mudanças foram ditadas sobretudo pelo isolamento social e o aumento do preço dos alimentos, ambos consequências diretas ou indiretas da pandemia da Covid-19. Por um lado, a população aumentou o consumo de alimentos por delivery e Comfort Foods e, por outro, percebeu dificuldades na aquisição de alimentos e um aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, que também está relacionado às comidas que confortam e à compra de alimentos fora de casa. Dessa forma, é possível concluir que a população brasileira está sofrendo as consequências socioeconômicas da crise agravada pela pandemia, o que impacta diretamente na alimentação e nos hábitos alimentares. Assim, os brasileiros acabam por consumir mais alimentos considerados não-saudáveis, o que acarreta o possível aumento nos índices de Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT e outros agravos à saúde. Espera-se que esses dados sirvam de referencial e que novas pesquisas possam ser reproduzidas, inclusive em outras localidades, para alcançar dados mais abrangentes, atualizados e colaborar na formulação de políticas públicas de alimentação e nutrição em prol de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis e da segurança alimentar e nutricional para a população brasileira. Fonte de financiamento O trabalho recebeu apoio de discentes bolsistas de Iniciação Científica pelo PIBIC/CNPq, IC/UNIRIO e FAPERJ. Conflitos de interesse Não há conflito de interesse a declarar. Referências Bibliográficas ALPINO, T. DE M. A.; SANTOS, C.R.B; BARROS, D.C.; FREITAS, C.M. COVID-19 e (in)segurança alimentar e nutricional: ações do Governo Federal brasileiro na pandemia frente aos desmontes orçamentários e institucionais. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, n. 8, 2020. BRASIL. Guia Alimentar para a População Brasileira. 2ª edição. 1ª reimpressão. Brasília, 2014. 158 p. CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística. Princípios e aplicações. Porto Alegre: Artmed, 255 p., 2003. FAO. Seguridad Alimentaria bajo la Pandemia de COVID-19. Disponível em: https:// www.fao.org/3/ca8873es/CA8873ES.pdf Acesso em: 27 de abr. 2021. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018: avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro: IBGE, 2020. MALUF, R. S. J. Tempos sombrios de pandemia e fome: responsabilidades da pesquisa em soberania e segurança alimentar e nutricional. Segurança Alimentar e Nutricional. Campinas, v.27, p. 1-5, 2020. MONTEIRO, C. A.; LAWRENCE, M.; MILLETT, C.; NESTLE, M.; POPKIN, B. M.; SCRINIS, G.; SWINBURN, B. The need to reshape global food processing: a call to the United Nations Food Systems Summit. BMJ Global Health, p. 1-3, 2021. REDE PENSSAN. VIGISAN Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. 2021. 66 p. SILVA, J. G. da. Agora, defender-se do vírus...E depois? Segurança Alimentar e Nutricional. Campinas, v. 27, p. 1-4, 2020. SILVA, J. T., GARZILLO, J. F., RAUBER, F., KLUCZKOVSKI, A., RIVERA, X. S., CRUZ, G. L., FRANKOWSKA, A., MARTINS, C. A., LOUZADA, M. L., MONTEIRO, C. A., REYNOLDS, C., BRIDLE, S., LEVY, R. B. Greenhouse gas emissions, water footprint, and ecological footprint of food purchases according to their degree of processing in Brazilian metropolitan areas: a time-series study from 1987 to 2018. Lancet Planet Health, p. 1-11, 2021.
Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LACAZ, Letícia Matias et al.. CONSUMO ALIMENTAR NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/489170-CONSUMO-ALIMENTAR-NO-BRASIL-DURANTE-A-PANDEMIA-DA-COVID-19. Acesso em: 17/06/2025

Trabalho

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