CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: ESTUDO LONGITUDINAL DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR ENTRE RESIDENTES DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CUITÉ/PB ENTRE OS ANOS DE 2011, 2014 E 2019

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: ESTUDO LONGITUDINAL DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR ENTRE RESIDENTES DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CUITÉ/PB ENTRE OS ANOS DE 2011, 2014 E 2019
Autores
  • Maria dos Aflitos Soares de Oliveira
  • Poliana de Araújo Palmeira
  • Rônisson Thomas de Oliveira Silva
Modalidade
Resumo expandido - Relato de Pesquisa
Área temática
Produção e processamento de alimentos para sistemas alimentares saudáveis
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/488752-consumo-de-alimentos-ultraprocessados--estudo-longitudinal-da-frequencia-alimentar-entre-residentes-da-zona-rural
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
Alimentos ultraprocessados; Consumo alimentar; Frequência alimentar.
Resumo
Introdução Alimentação saudável consiste no consumo de alimentos naturais e minimamente processados, livre de conservantes e produtos provenientes de industrialização. Para Previato (2014) o Índice de Alimentação Saudável (IAS) é caracterizado como uma medida sintética da qualidade da dieta e pode ser usada para avaliar e guiar a ingestão da dieta individual e populacional. O IAS é uma medida da qualidade da dieta usada para avaliar o quanto um conjunto de alimentos se alinha com as principais recomendações das Diretrizes Dietéticas para Americanos. Este instrumento tem sido utilizado no Brasil após passar pelo processo de adaptação para realidade brasileira, com a elaboração do Guia Alimentar para a População Brasileira. Sua primeira edição foi lançada em 2008 pelo Ministério da Saúde e sua edição mais recente foi atualizada em 2014. O Guia Alimentar para a População Brasileira tem sido instrumento de avanço da luta social para a segurança alimentar e nutricional, oferecendo orientação com base em alimentação saudável e segura como direito do povo, respeitando suas características e particularidades sociais, ambientais e regionais. Além de uma orientação esclarecida sobre alimentação saudável, é necessário que a frequência alimentar seja avaliada para que se obtenham resultados significativos de como a alimentação de uma dada população é identificada. No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) visa mensurar gastos, rendimentos e consumo alimentar das famílias. Assim, este trabalho parte da hipótese de que o consumo de alimentos ultraprocessados vem sendo cada vez mais comum e disseminado no contexto rural, e tem como objetivo analisar a frequência alimentar com base neste consumo por famílias rurais do município de Cuité nos anos de 2011, 2014 e 2019. Métodos Trata-se de um estudo longitudinal de coorte prospectivo em que os dados apresentados se originam da pesquisa intitulada “Segurança Alimentar e Nutricional em município de pequeno porte: uma análise longitudinal das políticas públicas e da situação de insegurança alimentar da população (SAN CUITÉ)”, que possui como objetivo analisar, em uma subamostra de participantes, o consumo alimentar de ultraprocessados nas três etapas do estudo (2011, 2014, 2019). O estudo foi realizado no município de Cuité, na Paraíba, localizado no agreste paraibano, na microrregião do Curimataú ocidental, distante 220 km da capital João Pessoa. O município possui, de acordo com o último censo do IBGE (2010), uma população de 19.978 habitantes, cujo salário médio mensal em 2019 era de 1.6 salários-mínimos. A taxa de escolarização da população de 6 a 14 anos de idade foi de 98,3 % em 2010. Para composição da amostra, utilizou-se da técnica de Amostragem Aleatória Estratificada, considerando dados populacionais do censo demográfico de 2010, os quais estimam 3.955 domicílios situados na zona urbana de Cuité e 1.914 na zona rural, totalizando 5.869 domicílios particulares permanentes no município. Foram consideradas as variáveis socioeconômicas, ambientais e demográficas, dados antropométricos e de SAN, esta última mensurada a partir da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). A EBIA é um instrumento de pesquisa para avaliação da experiência de indivíduos com situações de ISAN e fome. O estudo tomou como base a análise de variáveis sociodemográficas, a fim de caracterizar as condições dessa população através dos dados de área de moradia, ocupação, renda, escolaridade, sexo, idade e linha de pobreza. As variáveis de consumo de alimentar foram alinhadas ao recorte na formação de grupo alimentar, sendo os alimentos ultraprocessados do estudo, nos quais as variáveis foram reorganizadas e especificadas de acordo com as definições de alimentos ultraprocessados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira. Neste grupo foram inclusos 22 alimentos ultraprocessados, sendo que todas as variáveis foram analisadas pelos mesmos representantes durante os três períodos do estudo. Estes 22 alimentos foram subdivididos em dois grupos para facilitar a análise e a explanação dos resultados. O Grupo 1 possui 12 alimentos e é caracterizado por refeições prontas e massas (biscoito cream cracker, suco industrializado, biscoito doce, refrigerante, outro tipo de biscoito, salgadinhos, presunto/mortadela, sorvete/picolé, kitut, salsicha, miojo e maionese) enquanto o Grupo 2 possui 10 alimentos e é caracterizado por alimentos embutidos, sobremesas e bebidas (requeijão, lasanha, empanado de frango, ketchup, carne de hamburguer, pizza, achocolatado, sardinha, cachorro-quente e salgados). A caracterização da divisão de grupos partiu da análise de que no Grupo 1 foram considerados aqueles alimentos consumidos no baseline por 15% ou mais dos sujeitos, enquanto que o Grupo 2 foi caracterizado com os alimentos de menor consumo, considerando os alimentos que a categoria de nunca ou uma vez ao mês representava 85% ou mais. Os questionários foram digitalizados utilizando o programa Microsoft Access. Para a validação dos dados e limpeza do banco utilizou-se o programa Microsoft Excel. Após esta etapa, para a análise da estatística descritiva usou-se o Programa Stata versão 13.0. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides Carneiro, da Universidade Federal de Campina Grande / HUAC – UFCG, sob o número 30919314.6.0000.5182. Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), afirmando que concordaram em participar da pesquisa. Os questionários, juntamente com um canhoto do TCLE, foram arquivados nas dependências do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Nutrição e Saúde Coletiva (Núcleo PENSO) na Universidade Federal de Campina Grande. Resultados Observou-se que a população da zona rural do município permanece sendo representada por 57 chefes de famílias que, em sua maioria são do sexo feminino (85,96%), inclusos em uma faixa etária de 42 a 66 anos de idade. O tipo de moradia predominante na zona rural são as construções de alvenaria inacabadas (92,98%), possuindo apenas um domicílio revestido por taipa que permaneceu sendo habitado nos três períodos do estudo. Com relação à escolaridade da amostra, percebeu-se que a maioria possuía baixa escolaridade, sendo que, no baseline (2011), 28.07% não possuíam escolaridade e 59.65% apenas o ensino fundamental incompleto. Em 2019 esses valores mudaram para 15.79% (sem escolaridade) e 68.42% (ensino fundamental incompleto), demonstrando que não houve alterações significativas nos percentuais dos outros níveis de escolaridade. Entre os chefes de família, apenas um conseguiu concluir o ensino médio completo (1,79%) em 2019. Apesar da redução da taxa de emprego, um resultado importante encontrado no estudo se relaciona aos percentuais de famílias abaixo da linha de pobreza, havendo uma diminuição nos anos. De uma forma geral, essas linhas tomam por base os requerimentos calóricos mínimos para subsistência das pessoas (linhas de indigência ou extrema pobreza) e, a partir da multiplicação de um coeficiente, estima-se uma linha de pobreza que deveria ser suficiente para custear gastos em necessidades básicas como transporte e vestuário, além de alimentação (IBGE, 2020). A frequência de consumo foi analisada e disposta levando em consideração os dois grupos de alimentos ultraprocessados: o Grupo 1 contém os alimentos mais consumidos no baseline e o Grupo 2 contém os alimentos menos consumidos no baseline. Na análise da frequência de consumo do Grupo 1 em 2011 (baseline), podemos destacar o consumo de biscoito cream cracker, biscoito doce, refrigerante, suco industrializado, outro tipo de biscoito, salgadinhos, presunto/mortadela, sorvete/picolé, kitut, salsicha, miojo e maionese entre os alimentos mais consumidos, estando incluso em mais de 15% do consumo dessa amostra. Percebe-se que o biscoito cream cracker foi o alimento mais consumido não somente no baseline (2011) com 24,56%, mas em todos os três períodos do estudo que, em 2014, foi de 31,58% e em 2019, de 29,82%. A bebida mais consumida foi o suco industrializado, superior ao consumo do refrigerante. Em 2011, o consumo de suco industrializado foi de 17,86%; em 2014 de 21,05%, sendo que este último, no ano de 2019, sequer ficou entre os cinco alimentos mais consumidos do Grupo 1, com 10,53%. O presunto/mortadela não esteve no baseline entre os cinco alimentos mais consumidos; porém em 2014 figurou com 22,81%, e em 2019 com 3,75%, permanecendo como o terceiro alimento mais consumido desse grupo, percebendo-se como este tipo de alimento vem sendo incluído nas refeições dessa amostra. Na análise de consumo do Grupo 2 no baseline, os cinco alimentos menos utilizados da análise não foram consumidos por 85% ou mais da amostra da análise. Percebe-se um menor consumo dos alimentos como requeijão, lasanha, empanado de frango, ketchup e carne de hamburguer. O ketchup foi o único alimento entre os cinco alimentos menos consumidos que saiu dessa colocação, ganhando espaço no consumo do entrevistado na última etapa do estudo que, em 2011, constou de “não foi consumido” por 98,25% dessa amostra, enquanto que em 2014 e 2019, 92,98% da população também não o consumiam. O empanado de frango em 2014 não esteve entre os cinco alimentos menos consumidos, enquanto que em 2011 cerca de 98,25% não consumiam; em 2014 foi de cerca de 91,23% que não o consumiam, porém esteve entre os cinco menos consumidos em 2019, com 94,74%. Os demais citados entre os cinco permaneceram sendo os menos consumidos durante todos os anos. Discussão A análise sociodemográfica do estudo apresenta, em sua maioria, uma população de chefes de família adultos do sexo feminino. Ainda, a grande maioria desses chefes de família possuem um baixo nível escolar que pouco se alterou durante os anos pesquisados, e essa amostra segue possuindo apenas o ensino fundamental incompleto. Residentes da zona rural do município de Cuité/PB, os chefes de família possuem uma renda per capita média atual de R$ 422,90 (quatrocentos e vinte e dois reais e noventa centavos), de acordo com os dados de 2019, em que a maioria desses se encontram em situação acima da linha de pobreza pela primeira vez, após as duas etapas do estudo. Estudo realizado sobre a associação de fatores que desencadeiam o consumo de alimentos ultraprocessados mostra que “essa elevada contribuição dos alimentos ultraprocessados e a associação com fatores socioeconômicos e comportamentais observada entre as meninas alerta para à necessidade de se explorar mais, através de novos estudos e intervenções junto à população residente da zona rural” (FARIA, 2019). Ao se tratar da análise do consumo de alimentos ultraprocessados, o Grupo 1 é composto pelos alimentos mais consumidos pela amostra. Assim, observamos que os alimentos mais consumidos da análise foram os do grupo de massas, principalmente os biscoitos, que são os mais utilizados por esses chefes de família, podendo estar presentes quase que diariamente durante as refeições. O consumo permaneceu durante os três anos do estudo, e a frequência com que esse tipo de alimento é consumido tende a fazer parte da rotina alimentar daqueles moradores, assim como o aumento no consumo de produtos embutidos como o presunto/mortadela. De acordo com a POF (2017-2018), dentre os alimentos ultraprocessados, a margarina correspondeu a 2,8% das calorias totais, vindo a seguir o biscoito salgado e o salgadinho "de pacote" com 2,5%, os pães com 2,1%, os biscoitos doces com 1,7% e os frios e embutidos com 1,6%. Diversos fatores estão ligados às escolhas alimentares, tais como sabor, aparência, qualidade, higiene e outros. Entre os fatores envolvidos pode-se destacar o preço desse alimento como opção para o consumo, sendo ele de alto ou baixo valor. Em se tratando de baixo valor, uma parcela da população passa a optar por selecionar sua alimentação à base de alimentos ultraprocessados que, em comparação feita por Claro (2016), enquanto alimentos frescos como carnes, leite, frutas e hortaliças tendem a custar mais caro que alimentos ultraprocessados, grãos secos (como o arroz e o feijão) despontam como uma alternativa mais econômica para a adoção de práticas alimentares saudáveis. A renda, assim como é um determinante importante para o consumo alimentar, também se configura como um dos principais para a insegurança alimentar (IA). Segundo Panigassi et al (2008) muitas famílias que se encontram acima da linha da pobreza também podem apresentar IA, pois este desfecho depende de outras condições que influenciam o acesso aos alimentos. Diante disso, esta mesma reflexão pode ser levada em consideração para se compreender que, apesar de observar que algumas famílias deste estudo saíram da linha da pobreza, não se pode afirmar que isso melhorou substancialmente o consumo alimentar das mesmas, pois aspectos como o político e o cultural devem ser levados em consideração. Cabe ressaltar a importância das diversas políticas públicas em contribuir com a redução do quadro de vulnerabilidade social e com a segurança alimentar e nutricional do país, o que impacta diretamente no consumo de alimentos saudáveis e adequados. Por fim, torna-se necessário reforçar a defesa de uma agenda governamental voltada para a defesa do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, que possa ser potente para que a população reduza o consumo de alimentos ultraprocessados.
Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Maria dos Aflitos Soares de; PALMEIRA, Poliana de Araújo; SILVA, Rônisson Thomas de Oliveira. CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS: ESTUDO LONGITUDINAL DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR ENTRE RESIDENTES DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CUITÉ/PB ENTRE OS ANOS DE 2011, 2014 E 2019.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/488752-CONSUMO-DE-ALIMENTOS-ULTRAPROCESSADOS--ESTUDO-LONGITUDINAL-DA-FREQUENCIA-ALIMENTAR-ENTRE-RESIDENTES-DA-ZONA-RURAL. Acesso em: 06/05/2025

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