INSEGURANÇA ALIMENTAR NA COMUNIDADE ESCOLAR DE UM MUNICÍPIO DOS CAMPOS GERAIS/PR: AVALIAÇÃO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

Publicado em 22/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-682-1

Título do Trabalho
INSEGURANÇA ALIMENTAR NA COMUNIDADE ESCOLAR DE UM MUNICÍPIO DOS CAMPOS GERAIS/PR: AVALIAÇÃO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Autores
  • Alexandre Rodrigues Lobo
  • Carina Dalcol Leite
  • Eduardo De Carli
Modalidade
Resumo expandido - Relato de experiência ou extensão
Área temática
Determinantes e efeitos da Insegurança Alimentar e Nutricional
Data de Publicação
22/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/venpssan2022/488642-inseguranca-alimentar-na-comunidade-escolar-de-um-municipio-dos-campos-geraispr--avaliacao-durante-a-pandemia-da
ISBN
978-85-5722-682-1
Palavras-Chave
alimentação, (in)segurança alimentar, sistema alimentar
Resumo
Modalidade: Relato de experiência ou extensão Área temática: Determinantes e efeitos da insegurança alimentar e nutricional Título: Insegurança alimentar na comunidade escolar de um município dos Campos Gerais/PR: avaliação durante a pandemia da COVID-19 Apresentação/objetivos: As repercussões da pandemia em decorrência do espraiamento do vírus SARS-CoV-2 agravaram reconhecidos problemas sociais no Brasil, com forte impacto sobre a segurança alimentar e nutricional, especialmente da parcela mais vulnerável e frequentemente invisibilizada da população (Ribeiro-Silva et al., 2020). Portanto, é cada vez mais importante o entendimento de pontos críticos para a promoção de um sistema alimentar que assegure o direito humano à alimentação adequada; em outras palavras, um sistema que permita o acesso ao alimento com qualidade, em quantidades suficientes e de modo sustentável. A pandemia reconfigurou a alimentação escolar, uma vez que as aulas presenciais foram paralisadas e os alunos permaneceram em suas residências. A partir desta perspectiva, o objetivo do trabalho foi o de investigar a situação alimentar das famílias da comunidade escolar, nas áreas urbana e rural, de um município situado na região dos Campos Gerais/PR. Descrição da experiência: Este trabalho foi planejado para ocorrer em duas etapas: diagnóstico e intervenção. O diagnóstico das famílias em insegurança alimentar ocorreu entre fevereiro e maio de 2021, e foi realizado a partir do preenchimento de um questionário estruturado, no formato eletrônico (Google Forms) ou impresso (quando não havia acesso à internet). Foram utilizados indicadores diretos – a versão compactada da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) (Santos et al., 2014) – e indiretos – dados sociodemográficos (renda/escolaridade), como medidas de vulnerabilidade extrínseca (Rogers & Ballantyne, 2008) – da situação alimentar nos últimos três meses. O convite às famílias para o preenchimento deste questionário foi intermediado pela coordenação pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, com o auxílio de um aplicativo de mensagens instantâneas de texto para smartphones (WhatsApp), por meio de grupos de pais/responsáveis organizados pela direção de cada escola. Fatores sociodemográficos, independentemente associados com a insegurança alimentar, foram avaliados com um modelo de regressão logística múltipla, ajustado por sexo e idade. Todos os respondentes concordaram com o termo de consentimento livre e esclarecido do estudo. A segunda etapa do trabalho (intervenção), que previa a distribuição de alimentos para estas famílias, foi (surpreendentemente) interrompida por decisão unilateral e monocrática do Poder Executivo municipal. Resultados: Participaram 1.030 famílias (19,2% residentes na área rural), tendo em sua maioria mulheres (92,6%) como responsáveis, com idades entre 30 e 39 anos (42,7%), com ensino médio incompleto (51,4%) e renda média menor do que 1 salário-mínimo (54,0%). A prevalência de insegurança alimentar foi de 61,6% (IC 95%; 58,5-64,5). Os domicílios mais atingidos foram aqueles cuja renda mensal média era menor do que 1 salário-mínimo (OR = 9,67; IC 95%: 7,00-13,38), situados na área urbana (OR = 2,78; IC 95%: 1,88-4,14) e cujo responsável pela família não havia completado o ensino médio (OR: 1,82; IC 95%: 1,31-2,54). Dentre as famílias em insegurança alimentar, o item da EBIA com maior frequência de respostas positivas foi relativo à preocupação de que o alimento acabasse antes que tivessem condições de comprar, receber ou produzir mais alimentos (89,8%), seguido daquele relativo a ficar sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada (78,1%). Discussão: Há tempos, a alimentação vem sendo tema recorrente no debate sobre políticas públicas e direitos humanos no Brasil. Nos anos mais recentes, o país, que foi considerado referência mundial no combate à fome de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) (FAO, 2019), lida com seu retorno ao Mapa da Fome como resultado direto de políticas de ajuste fiscal e de desmonte de proteção social (Malta et al., 2018; Brasil Debate/Fundação Friedrich Ebert, 2018). Neste ponto, a pandemia mostrou, de forma inequívoca, que a insegurança alimentar, presente em parcela cada vez maior da população (e que foi assustadoramente intensificada pela pandemia; Ventura & Reis, 2021), é parte de um problema multidimensional e consequência de um sistema gerador de desigualdades – sobretudo, econômicas e sociais –, que ignora o direito humano à alimentação adequada em termos quantitativos e qualitativos (Proença et al., 2021). Em nosso trabalho, observamos que as famílias com renda inferior a 1 salário-mínimo apresentam cerca de 10 vezes mais probabilidade de estarem em insegurança alimentar; aquelas cujos domicílios estão situados na área urbana, quase 3 vezes mais; e aquelas cujos responsáveis não tenham completado o ensino médio, quase 2 vezes mais. Sendo assim, a interrupção da distribuição de alimentos para parcela considerável da comunidade escolar, principalmente aos mais pobres e com menor escolaridade, parece-nos sintomático do projeto neoliberal que vem sendo implementado no país, promovido pela gestão municipal, que se manifesta por medidas autoritárias (porque não permitiram argumentação) e populistas (meramente discursivas para manutenção de uma imagem política supostamente democrática), e que interferem no direito social à alimentação destas famílias. Apesar da mobilização na forma de campanhas e de ações contra a fome, promovidas por inúmeros movimentos sociais no período da pandemia (Stropasolas, 2020), fundamentais na assistência alimentar aguda de parcela mais vulnerável da população, ainda há um aspecto estrutural que envolve o entendimento das dinâmicas do sistema alimentar no país, intensamente debatido por pesquisadores, mas timidamente discutido e entendido, em toda a sua magnitude, pelos demais setores da sociedade, a ponto de motivar um movimento político e sistemático de mudança do status quo. Seria um passo importante o esclarecimento do grande público sobre o funcionamento desse sistema, transformador do alimento em mercadoria, que se baseia em um modelo de produção e distribuição voltado para atender as demandas do mercado financeiro e de grandes empresas transnacionais do setor agroalimentar (Paula, 2017; Guerra et al., 2020), e que ignora as consequências sobre o meio ambiente e a qualidade de vida da população. Governos, indústria alimentar e grandes veículos de comunicação, movidos pela lógica do capital, vêm atuando em conjunto para estimular um modelo poderoso de destruição do meio ambiente, de produção de doenças e de morte (Paula, 2017). E, de forma orquestrada, produzem subjetividades, na medida em que influenciam a opinião e o comportamento da população, com o objetivo de manter as diretrizes de um modelo hegemônico que manipula a percepção sobre o que de fato acontece. Considerações finais: Neste trabalho, a insegurança alimentar foi identificada em quase dois terços dos domicílios ligados à comunidade escolar investigada. Em uma sociedade contemplada por relações de assimetria social e de diferentes tipos de violência (física/simbólica) (Carmo, 2016), e sob um sistema gerador de permanentes crises políticas, econômicas e sociais, é fundamental que a situação alimentar e das condições de vida dessas famílias sejam continuamente monitoradas, para subsidiar políticas públicas de segurança alimentar e reforçar, cada vez mais, a importância do atendimento de seus direitos. Além disso, a construção coletiva de uma educação alimentar e ambiental, baseada em uma pedagogia politizada e pautada no diálogo multidisciplinar, pode ser uma estratégia de resistência contra-hegemônica ao modelo econômico e ideológico vigente, de modo a permitir a ampliação de um debate fundamentado pelo pensamento construtivista, crítico e reflexivo sobre os sistemas agroalimentares (produção agroecológica, controle da distribuição de alimentos, articulação política de redes e coletividades que priorizem a agricultura familiar, dentre outros). Referências bibliográficas: 1) Brasil Debate/Fundação Friedrich Ebert. Austeridade e retrocesso: impactos sociais da política fiscal no Brasil. 1ª. ed., vol.1, São Paulo, 2018, 69p. 2) Carmo CM. Grupos minoritários, grupos vulneráveis e o problema da (in)tolerância: uma relação linguístico-discursiva e ideológica entre o desrespeito e a manifestação do ódio no contexto brasileiro. Rev Inst Estud Bras, 64: 201-223, 2016. 3) FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The state of food security and nutrition in the world. Food and Agriculture Organization. Rome, 2019. Disponível em: http://www.fao.org/3/ca5162en/ca5162en.pdf 4) Guerra ADS, Bezerra ACD, Bezerra ACD et al. Da fome à palatabilidade estéril: ‘espessando’ o Direito Humano à Alimentação Adequada no Brasil? Saúde Debate, 44(127): 1231-1245, 2020. 5) Malta DC, Duncan BB, Barros MBA et al. Medidas de austeridade fiscal comprometem metas de controle de doenças não transmissíveis no Brasil. Cien Saúde Colet, 23(10): 3115-3122, 2018. 6) Paula N. A insegurança alimentar e a ordem neoliberal: desafios para uma agenda contra-hegemônica. RPD, 38(133): 23-37, 2017. 7) Proença RPC, Kraemer MVS, Rodrigues VM et al. Cenário e perspectivas do sistema alimentar brasileiro frente a pandemia de Covid-19. Demetra, 16: e55953, 2021. 8) Ribeiro-Silva RC, Pereira M, Campello T et al. Implicações da pandemia COVID-19 para a segurança alimentar e nutricional no Brasil. Cien Saúde Colet, 25(9): 3421-3430, 2020. 9) Rogers W, Ballantyne A. Populações especiais: vulnerabilidade e proteção. RECIIS, 2(3): 31-41, 2008. 10) Santos LP, Lindemann IL, Motta JVS et al. Proposta de versão curta da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Rev Saúde Pública, 48(5): 783-389, 2014. 11) Stropasolas P. Com a volta da fome no país, ONGs e movimentos populares alimentam o povo no Natal. Brasil de Fato, 2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/12/21/com-a-volta-da-fome-no-pais-ongs-e-movimentos-populares-alimentam-o-povo-no-natal 12) Ventura D & Reis R. A linha do tempo da estratégia federal da disseminação da COVID-19: um ataque sem precedentes aos direitos humanos no Brasil. Boletim Direitos na Pandemia, 10: 6-31, 2021. Disponível em: https://cepedisa.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Boletim_Direitos-naPandemia_ed_10.pdf Palavras-chave: alimentação, (in)segurança alimentar, sistema alimentar Autores: Alexandre Rodrigues Lobo. E-mail: alexandrerlobo@gmail.com Carina Dalcol Leite. E-mail: as.carinae@gmail.com Eduardo de Carli. E-mail: dadocri@gmail.com Fonte(s) de financiamento: Trabalho sem financiamento Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse a declarar
Título do Evento
V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LOBO, Alexandre Rodrigues; LEITE, Carina Dalcol; CARLI, Eduardo De. INSEGURANÇA ALIMENTAR NA COMUNIDADE ESCOLAR DE UM MUNICÍPIO DOS CAMPOS GERAIS/PR: AVALIAÇÃO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19.. In: Anais do V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Anais...Salvador(BA) UFBA, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VEnpssan2022/488642-INSEGURANCA-ALIMENTAR-NA-COMUNIDADE-ESCOLAR-DE-UM-MUNICIPIO-DOS-CAMPOS-GERAISPR--AVALIACAO-DURANTE-A-PANDEMIA-DA. Acesso em: 25/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes