AS CONTRADIÇÕES DE GAMA E AS INTERMITÊNCIAS DO DISCURSO PORTUGUÊS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO XIX

Publicado em 01/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0265-3

Título do Trabalho
AS CONTRADIÇÕES DE GAMA E AS INTERMITÊNCIAS DO DISCURSO PORTUGUÊS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO XIX
Autores
  • Leonardo Oliveira Amaral
Modalidade
Comunicação em Simpósio Temático
Área temática
Escravidão: Histórias Conectadas e Historiografia no Mundo Atlântico (Prof. Dr. Josenildo de Jesus Pereira - UFMA)
Data de Publicação
01/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/778109-as-contradicoes-de-gama-e-as-intermitencias-do-discurso-portugues-nas-primeiras-decadas-do-xix
ISBN
978-65-272-0265-3
Palavras-Chave
século XIX, administração portuguesa, África Centro-Ocidental
Resumo
Ao fim do século XVIII e início do XIX, a administração portuguesa como um todo passava por diferentes mudanças, assim como por muitas permanências. O período pós pombalino na África Centro-Ocidental contou com uma dita retomada dos preceitos vistos pré década de 1750, mas o Atlântico já estava em processo de transformações e o Antigo Regime estava em crise. Aliados à Inglaterra no início do século XIX, estadistas portugueses muitas vezes incorporavam tendências inglesas em seu vocabulário e escritos políticos. Não foi diferente no caso do ex-governador de Angola Antônio de Saldanha da Gama (1807-1810), que na década de 1810 possuía um discurso que se aproximava do inglês do momento, mas frente às pressões da Inglaterra para o fim do comércio de escravizados do atlântico, se tornou um ferrenho crítico do abolicionismo – assim como dos povos africanos – nas décadas seguintes de 1820 e 1830, contradizendo veementemente o que havia afirmado em seus primeiros escritos. Acabando seu mandato em Angola, Gama fez parte do Conselho da Fazenda em 1810, de 1825 a 1826 foi Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, em 1826 participou da Câmara dos Pares do Reino, mas após ser demitido da posição, afastou-se da vida política, voltando apenas em 1833 depois que os liberais tomaram a capital, sendo escolhido como presidente da Comissão Municipal de Lisboa. Em sua Memória sobre as colônias de Portugal, situadas na costa occidental d’Africa escrita em 1814, o ex-governador argumenta a favor de inúmeras atividades produtivas locais que poderiam ser ampliadas se não fosse o tráfico de escravizados. Considerado pelo estadista como empecilho, o comércio de pessoas pelo atlântico foi responsável por impedir o fomento de outras ocupações, tanto de comerciantes que atuavam na África Centro-Ocidental, quanto de grupos locais que, imersos nos ganhos atribuídos à captação e venda de escravizados, não tinham interesse em estimular produções agrícolas ou coleta de recursos naturais úteis para o comércio atlântico – além da agricultura familiar e de subsistência. Ainda segundo o ex-governador em 1814, estas atividades não precisariam de quase nenhum custo à Coroa portuguesa, visto que já eram práticas realizadas com maestria pelos povos locais, necessitando apenas do incentivo e da introdução de novas tecnologias europeias em seu emprego. Entre as atividades listadas por Antonio da Gama estavam a pesca, a extração de cera e óleo, assim como a caça de elefantes para o extrato de marfim; todas desempenhadas pelas populações locais anteriormente ao contato com os europeus segundo Antonio da Gama. Em sua publicação em 1839, as Memórias sobre as colônias de Portugal, situadas na costa occidental d’África são acompanhadas pelo Discurso Preliminar e pelas Notas do autor. Diferentemente do texto de 1814, estas duas obras posteriores defendem o tráfico de escravizados. Escritos provavelmente na década de 1830 – momento em que Antonio Saldanha da Gama volta às suas atividades políticas – a documentação demonstra um viés anti-britânico e anti-abolicionista: Se por um lado, Gama criticava as condições desumanas em que os escravizados eram prostrados na década de 1810 por embarcações e portos portugueses, nos seus últimos escritos afirmava que o escravizado era melhor tratado quando nas mãos portuguesas que nas de qualquer outra nação europeia ou africana. Se em 1814 afirmava que sem o tráfico de escravos a África portuguesa iria se desenvolver e prosperar, até mesmo pelas “atividades naturais dos africanos”, posteriormente afirma, carregado de racismo, que o continente africano estaria condenado à barbaridade, que esta faz parte da natureza dos negros. Na década de 1810 notamos em seu discurso que Gama, uma vez estabelecido no Brasil junto à Coroa portuguesa, talvez tenha buscado se adequar ao “britanismo” da corte da época – personificado na figura do ministro Dom Rodrigo de Souza Coutinho –, atacando o tráfico de escravizados, inclusive usando-o como exemplo do que não fazer nas pretensas colônias africanas, adotando um discurso quase que progressista, incentivando a industrialização de Angola frente à inevitável abolição da escravatura. Talvez seja possível inferir que as conclusões a favor da abolição do comércio atlântico de escravizados de estadistas portugueses nas duas primeiras décadas do século XIX venham de sua posição “segura”, onde aliados à Inglaterra, acreditaram que apesar de em declínio, este comércio ainda demoraria anos para acabar (apesar de realmente ter demorado ainda algumas décadas) mas que, com a independência brasileira e com as pressões crescentes da Inglaterra pelo seu fim, a partir de 1820, as elites políticas portuguesas assumiram uma posição defensiva acerca da abolição e das investidas internacionais na influência global que a então super potência desempenhava. O autor, que em 1814 expunha os prejuízos econômicos que o comércio de escravizados causava em Angola, nas décadas posteriores foi a favor de tal tráfico, criticando ferrenhamente a influência inglesa. Por mais que críticos à Inglaterra, a argumentação usada pelo estadista português contra a abolição era munida de preconceitos, baseada, pois, em tempos passados de uma pretensa glória do império português. Uma saudade por um período idealizado, carregando uma nostalgia do Antigo Regime.
Título do Evento
V Encontro de Pós-Graduandos da SEO
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro de Pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO)
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

AMARAL, Leonardo Oliveira. AS CONTRADIÇÕES DE GAMA E AS INTERMITÊNCIAS DO DISCURSO PORTUGUÊS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO XIX.. In: Anais do V encontro de pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO). Anais...São Luís(MA) UFMA, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/778109-AS-CONTRADICOES-DE-GAMA-E-AS-INTERMITENCIAS-DO-DISCURSO-PORTUGUES-NAS-PRIMEIRAS-DECADAS-DO-XIX. Acesso em: 01/05/2025

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