DE CAIXEIROS A BARÕES: TRAJETÓRIAS DE VIDA E NOBILITAÇÃO NO CEARÁ OITOCENTISTA (1852 - 1887)

Publicado em 01/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0265-3

Título do Trabalho
DE CAIXEIROS A BARÕES: TRAJETÓRIAS DE VIDA E NOBILITAÇÃO NO CEARÁ OITOCENTISTA (1852 - 1887)
Autores
  • Alisson Freitas da Silva
Modalidade
Comunicação em Simpósio Temático
Área temática
História política: cultura política, sociabilidades e ideias (Prof. Dr. Alexandre Mansur Barata - UFJF)
Data de Publicação
01/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/743774-de-caixeiros-a-baroes--trajetorias-de-vida-e-nobilitacao-no-ceara-oitocentista-(1852---1887)
ISBN
978-65-272-0265-3
Palavras-Chave
Trajetória, Nobilitação, Sociabilidades, Ceará
Resumo
O presente trabalho busca, a partir do governo de D. Pedro II, conhecido como Segundo Reinado, investigar as formas vigentes de nobilitação no Brasil e quais referenciais eram levados em consideração para receber o status de nobre na sociedade oitocentista. Como ferramenta de investigação, utilizamos as trajetórias de vida dos comerciantes cearenses Joaquim da Cunha Freire e José Francisco da Silva Albano, respectivamente Barão de Ibiapaba e Barão de Aratanha, focando principalmente as décadas de 1850 a 1880. Como negociantes instalados na cidade de Fortaleza, viveram e participaram da consolidação da cidade como centro exportador do algodão cearense na segunda metade do século XIX, período no qual a cidade tornou-se ponto de grande acúmulo de riquezas e passou a possuir intenso fluxo comercial. É nessa cidade efervescente que, tanto Cunha Freire como Silva Albano deixam a profissão de caixeiro e abrem suas próprias firmas comerciais, passando a posição de destacados capitalistas da província. A escolha do recorte temporal obedece de início à abertura de suas lojas comerciais e finaliza com a concessão de seus títulos de barão. Cunha Freire recebeu em 1874 o título de Barão de Ibiapaba, enquanto que Silva Albano recebeu o título de Barão de Aratanha em 1887. O título de Barão de Ibiapaba foi referendado pelo conservador pernambucano João Alfredo Correia de Oliveira, enquanto que o título de Barão de Aratanha foi elencado pelos então bispo do Ceará e pelo presidente da província, respectivamente D. Joaquim José Vieira e o Dr. Enéas de Araújo Torreão. Para tornar-se nobre no Brasil, diferente da tradicional e secular “nobreza de sangue” europeia, era necessário o cumprimento de uma série de prerrogativas que eram levadas em consideração. Como afirma Schwarcz (2008), ser nobre no Brasil era condição que poderia ser adquirida. O referencial de riqueza era importante, mas não o único elemento para conseguir os títulos. Eram levados em conta desde profissão, apoio político em conflitos armados, atuação pública e auxílio financeiro aos cofres do Estado. Além disso, apesar da concessão do título constituir-se como decisão do monarca, deveria ser aprovada pelos ministros. Logo, afora caracterizar-se como um processo longo, a nobilitação poderia estar condicionada à formação de alianças políticas dentro e fora da província, como já explicitado. Em olhar mais aprofundado, percebeu-se a presença dos barões em círculos restritos às elites fortalezenses, fosse nas fileiras do partido conservador, conhecido como “Graúdo”, na atuação filantrópica junto a instituições religiosas, de saúde e educacionais, ou no estabelecimento de redes de comércio com o exterior e outras províncias. Deste feita, a nobilitação pode revelar um novo olhar para o cenário político brasileiro oitocentista, que extrapola espaços institucionais e se encontra intimamente ligado ao modo como os indivíduos se inseriam em espaços de poder e a partir desses expandiam sua redes de sociabilidade, em ocasiões como jantares oferecidos a figuras políticas de destaque, agradecimentos, doações e pronunciamentos em homenagem à nação e à família real, viagens e festividades diversas. Como personagens ativos no comércio e na política local, temos a frequente presença de Cunha Freire e Silva Albano nesses espaços. Diferente das biografias já escritas que focam em passagens factuais da vida desses sujeitos, o tipo de trajetória a ser debatida e trabalhada não se quer de natureza apologética, linear e sucessiva. A partir da abordagem biográfica inserida na micro-história, suas vidas nos auxiliam no entendimento da sociedade na qual viveram. Parafraseando Giovanni Levi (2006), tanto o indivíduo como a sociedade influenciam-se simultaneamente, por isso, a partir do estudo da vida de atores sociais, pode-se compreender o contexto histórico de uma época. Diferentemente de tratar esses indivíduos como predestinados e privilegiados a priori, buscamos colocá-los dentro de um contexto no qual aglutinavam características sociais preconizadas em dada realidade. As fontes utilizadas para composição do trabalho vão desde cartas, relatórios, pronunciamentos na imprensa local, anúncios a biografias já existentes. É importante destacar que as produções da imprensa local possuem grande peso e se mostram como grande ferramenta para (re)montar o mapa de atuação desses sujeitos, os espaços nos quais circulavam e as relações que estabeleciam, haja vista que discorrem sobre o cotidiano da província em diferentes aspectos, principalmente sobre a os cenários econômico e político. Em conclusão, a partir do estudo focado na vida de dois comerciantes cearenses que foram alçados ao status de titulares do império, podemos desvelar não somente suas próprias atuações na sociedade, assim como também, a forma como essa mesma sociedade estruturava-se a partir de sociabilidades e prestígio social. Ao focar na nobilitação desses sujeitos, percebemos que somente a pertença dos meios de produção não era suficiente para a obtenção de títulos, mas sim o cumprimento de uma ritualística ditada pelo estabelecimento de redes de poder. Em uma sociedade ainda com resquícios do Antigo Regime, marcada pela hierarquização e classificação social de seus indivíduos, o acúmulo de cargos, prestígio e títulos tornava-se o principal meio por onde “acumular mais nobreza”. Logo, investigar as trajetórias de Joaquim da Cunha Freire e José Francisco da Silva Albano pode contribuir para o estudo das elites comerciais e políticas do Ceará provincial, assim como também, nos revela os meandros e dinâmicas do processo de nobilitação e seu conjunto de referenciais sociais.
Título do Evento
V Encontro de Pós-Graduandos da SEO
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro de Pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO)
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, Alisson Freitas da. DE CAIXEIROS A BARÕES: TRAJETÓRIAS DE VIDA E NOBILITAÇÃO NO CEARÁ OITOCENTISTA (1852 - 1887).. In: Anais do V encontro de pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO). Anais...São Luís(MA) UFMA, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/743774-DE-CAIXEIROS-A-BAROES--TRAJETORIAS-DE-VIDA-E-NOBILITACAO-NO-CEARA-OITOCENTISTA-(1852---1887). Acesso em: 16/07/2025

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