A REVOLTA DOS SOLDADOS ALEMÃES E IRLANDESES AQUARTELADOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DO JORNAL AURORA FLUMINENSE (1827-1831)

Publicado em 01/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0265-3

Título do Trabalho
A REVOLTA DOS SOLDADOS ALEMÃES E IRLANDESES AQUARTELADOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DO JORNAL AURORA FLUMINENSE (1827-1831)
Autores
  • Fernanda Kelly do Espirito Santo Silva
Modalidade
Comunicação em Simpósio Temático
Área temática
Trajetórias, imprensa e ideias liberais na construção do Estado nacional do Brasil (Profa. Dra. Paula Botafogo - SEO)
Data de Publicação
01/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/734051-a-revolta-dos-soldados-alemaes-e-irlandeses-aquartelados-na-cidade-do-rio-de-janeiro-a-partir-do-jornal-aurora-fl
ISBN
978-65-272-0265-3
Palavras-Chave
Estrangeiros, Revolta, Imprensa.
Resumo
Fernanda Kelly do Espirito Santo Silva E-mail: fk.fernandakelly@gmail.com O presente trabalho tem por temática a presença estrangeira no interior do Exército Brasileiro e a revolta dos soldados alemães e irlandeses ocorrida no ano de 1828, na cidade do Rio de Janeiro, a partir dos debates na imprensa da primeira metade do século XIX, impulsionados, sobretudo, pelo jornal Aurora Fluminense (1827-1831). Tendo isso em vista, propõe-se uma abordagem teórico-metodológica baseada na análise qualitativa dos discursos desse periódico, a partir dos conceitos de apropriação e representação, de Roger Chartier, e das noções de opinião pública, de Marco Morel. Alocados ao exército brasileiro, os alemães foram incorporados à defesa do país desde o ano de 1824, quando esses começaram a desembarcar no Brasil, para servirem no Regimento de Estrangeiros, criado via decreto imperial, ainda em 1823. O propósito por trás da iniciativa de atrair imigrantes para comporem as forças militares figurava os esforços para a asseguração da Independência, assim como o auxílio armado na dissolução de conflitos deflagrados durante esse período de conturbação política. Entre os principais conflitos que podem ser destacados como motivação para a arregimentação e organização do poderio militar do período entre os anos de 1820 e 1830, estiveram os embates na Bahia, Maranhão, Pará e Piauí para a adesão a Independência do Brasil, bem como a Confederação do Equador (1824), e posteriormente, a Guerra da Cisplatina (1825-1829). Assim, não só os alemães foram atraídos, como também outros estrangeiros de diferentes origens foram assimilados ao exército Brasileiro ao longo dos anos, destacando-se aqui, os irlandeses, que passaram a ser convocados em 1826 e começaram a aportar em 1827, no Rio de Janeiro. Apesar de a finalidade principal ser o serviço militar, os irlandeses foram captados pela promessa de que estabeleceriam colônias voltadas à agricultura, só tomando consciência da real condição a que seriam destinados, já no Brasil. Vendo-se diante da necessidade de se associarem ao exército para garantirem seu sustento, conseguiram negociar um contrato para o estabelecimento de seus serviços com o auxílio de Sir Robert Gordon, embaixador inglês no Brasil, de modo que se distinguiram dos demais soldados estrangeiros, que não tinham a prestação de serviços regulamentada, como foi o caso dos alemães. Diante dessa situação, o clima de insatisfação se instaurou. De um lado, estavam os irlandeses, enganados, tendo que cumprir um prazo de serviço militar não previsto no momento de sua convocação, do outro, estavam os alemães, que prestavam serviços ao Brasil há mais tempo, e não viam a possibilidade de se equipararem aos primeiros. Assim, em junho 1828, diante do desgaste das relações, instaurou-se uma revolta, que uniu ambos os grupos de soldados estrangeiros, alemães e irlandeses. A revolta em questão teve como estopim a aplicação de castigos corporais a um soldado alemão, de identidade desconhecida, pertencente ao 2° Batalhão de Granadeiros, localizado em São Cristóvão, composto majoritariamente por alemães. O soldado foi punido por estar fora do quartel após o toque de recolher das tropas, sendo condenado a receber 25 chibatadas por tal delito. Em meio à recusa em receber a pena, o alemão teve o número de golpes quintuplicado e aplicado diante dos demais soldados estrangeiros, que em meio à situação, levantaram-se contra seus superiores instaurando um motim, a ponto de tomarem conta do quartel em que estavam alocados. Com a repercussão da notícia sobre o ocorrido em São Cristóvão, os demais estrangeiros aquartelados no 3° Batalhão de Granadeiros, situado no Campo de Aclamação - conhecido como Campo do Santana-, composto por irlandeses e alemães, e, no 27° Batalhão de Caçadores, lotado na Praia Vermelha, composto por alemães, reagiram de diferentes maneiras. Ao integrarem-se à insurreição, a estenderam por 3 dias, levando o estabelecimento de um cenário de violência no interior dos quartéis, e para além deles, chegando às ruas do Rio de Janeiro. Diante da realização de saques, assassinatos e incêndios, a revolta dos soldados alemães e irlandeses deflagrou a posição de vulnerabilidade militar em que se encontrava a cidade imperial, tendo em conta, a não existência de forças organizadas para a contenção dos revoltosos. Sem muitas alternativas para a mobilização de contingentes para a supressão do levante empreendido pelos soldados alemães e irlandeses, a administração imperial na sua esfera Executiva, representada por D. Pedro I e pelos ministros do império, se viu numa posição difícil de organização de defesa, sem que ainda, fossem notificados os representantes da nação, em sua esfera Legislativa, abrindo espaço para a participação popular, que precisou acionar seus próprios recursos em nome de sua salvaguarda. Desse modo, a revolta dos estrangeiros começou a ser contida por escravizados, que foram armados por populares e comerciantes, fato que desencadeou uma sequência de enfretamentos nas ruas da Corte, em especial, aos arredores do Campo de Santana. Essa ação levou a lutas que se estenderam até o momento em que os soldados foram forçados a recuarem de volta ao interior do quartel. Com o recolhimento dos revoltosos, a rendição dos participantes do motim foi realizada com base no esgotamento dos recursos para o conflito por parte dos alemães e irlandeses, que tiveram que ceder às pressões frente à impossibilidade de revide, principalmente após a união de tropas inglesas e francesas - que estavam surtas no porto-, às iniciativas dos grupos já envolvidos na supressão do levante, contando com a presença de cerca de 500 franceses e 200 ingleses. O motivo por trás da incorporação de ingleses e franceses na dissolução da revolta era atender a rogativa para a contenção da rebelião, impulsionada pelo temor que cresceu a partir de rumores sobre a reorganização do levante, no quartel da Praia Vermelha. O pedido de intervenção partiu de autoridades como Chalaça, - a pedido do Marquês de Barbacena e do Imperador, sendo enviado aos próprios comandantes dos navios-, e, do Marquês de Aracaty, - o Ministro das Relações Exteriores, que se utilizou dos canais diplomáticos em seu refúgio no Arsenal da Marinha-, onde havia se abrigado da revolta. Ao ser reinstaurado o equilíbrio sobre a situação de conflito, a atenção voltou-se não só para as medidas a serem estabelecidas para a culpabilização dos envolvidos na iniciativa do motim, mas também sobre aspectos voltados às esferas de poder, levando em consideração, a responsabilidade daqueles que garantiram a inserção e permanência de estrangeiros no exército, e no interior do território brasileiro de maneira geral. O debate sobre a sedição dos soldados alemães e irlandeses mobilizou assim, questionamentos que se alastraram até a imprensa, que não só noticiou o desdobramento da revolta, mas também proferiu discursos sobre a presença estrangeira no Brasil, a partir dela. Nesse caso, destaca-se o jornal Aurora Fluminense, que tomou o levante dos estrangeiros como exemplo a ser refletido sobre a inserção de imigrantes no interior do império, disseminando opiniões e posicionamentos, tendo em vista, as suas concepções sobre as possibilidades de incorporação de estrangeiros, aos seus projetos de nação. A Aurora Fluminense: jornal politico e litterario, foi um jornal publicado entre 21 de dezembro de 1827 e 21 de dezembro de 1835, em sua primeira fase, e de 02 de maio de 1838 a 30 de julho de 1839, em sua segunda fase. Foi fundado por José Apolinário Pereira de Moraes, tendo como redatores José Francisco Xavier Sigaud, Francisco Chrispiniano Valdetaro e Evaristo da Veiga, tendo o último assumido a redação do jornal, do ano de 1829 em diante. Teve periodicidade irregular durante seus anos de publicação, no entanto, manteve-se disponibilizando 3 números por semana, durante o período em que Evaristo da Veiga foi seu redator principal (1829-1835), sendo publicado às segundas, quartas e sextas-feiras. Firmando o compromisso com a “verdade constitucional”, a Aurora disseminava a ideia de comprometimento com a liberdade e com a independência, se assumindo como espaço de reflexão da prática política, em defesa das ideias liberais, principalmente no que tange ao cumprimento e respeito dos princípios estabelecidos pela Constituição quanto às esferas de atuação do Legislativo e Executivo. Diante da insurreição promovida por esses estrangeiros, o jornal Aurora Fluminense não só noticiou o motim, mas estabeleceu um diálogo com diferentes jornais. Ao iniciar suas publicações em 1827 e 1828, a Aurora Fluminense passa a redigir sobre a chegada de imigrantes irlandeses ao Brasil, porque esses começaram a desembarcar nos portos. Mediante a esse acontecimento, além de procurar traçar as linhas que pretendia reger suas publicações, a Aurora Fluminense passa a noticiar episódios relacionados aos recém-chegados, dividindo espaço entre os princípios liberais que pretendia difundir, com suas impressões e posicionamentos a respeito da presença desses imigrantes na Corte. Frente a esse panorama, o jornal em questão aborda o “antes” e o “durante” da revolta dos soldados alemães e irlandeses, prendendo-se ainda na repercussão do “após” dela, onde vinculados às pautas de defesa estabelecidas e associadas à moderação, à constitucionalidade e à monarquia constitucional representativa, coloca-se a discorrer sobre a participação do poder Legislativo nas decisões sobre as iniciativas de defesa do Império do Brasil, bem como suas atribuições frente à permissão de entrada de estrangeiros no interior do território brasileiro, que necessariamente passam a ser discutidas mediante a revolta dos estrangeiros. Em meio a isso, questões referentes à revolta dos soldados alemães e irlandeses permaneceram sendo reinseridas ao debate na imprensa empreendido pela Aurora Fluminense, mesmo após 1828, de forma que passam a ser contestados os orçamentos para a guerra, os custos para o estabelecimento de colônias estrangeiras, as prerrogativas para o recrutamento militar, a responsabilidade dos ministros frente à presença dos estrangeiros no exército, e, a permissão do desembarque dos militares ingleses e franceses no Rio de Janeiro, ainda que esse tenha colaborado para o fim da sedição. Esses pontos são considerados dignos de atenção por esse jornal, pois estavam conectados às atribuições do Poder Legislativo e ao respeito da Constituição de 1824, tão caros à Aurora, e, com a não participação legislativa no processo de deliberação sobre eles, procurava-se demonstrar a tentativa de abuso por parte do Poder Executivo, que até então, recaía apenas sobre os ministros de D. Pedro I. Desse modo, pode-se conjecturar que a inserção de estrangeiros no Brasil, seja no exército ou em outros espaços, resvalava nas demais proposições e pautas de defesa do jornal Aurora Fluminense, que a partir da revolta empreendida pelos soldados alemães e irlandeses, estende e aprofunda os debates que propõe sobre a revolta e para além dela, disseminando discursos baseados nos ideais liberais apropriados, que pretendia difundir em meio à opinião pública.
Título do Evento
V Encontro de Pós-Graduandos da SEO
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro de Pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO)
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, Fernanda Kelly do Espirito Santo. A REVOLTA DOS SOLDADOS ALEMÃES E IRLANDESES AQUARTELADOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A PARTIR DO JORNAL AURORA FLUMINENSE (1827-1831).. In: Anais do V encontro de pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO). Anais...São Luís(MA) UFMA, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/734051-A-REVOLTA-DOS-SOLDADOS-ALEMAES-E-IRLANDESES-AQUARTELADOS-NA-CIDADE-DO-RIO-DE-JANEIRO-A-PARTIR-DO-JORNAL-AURORA-FL. Acesso em: 14/05/2025

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