CONTRA A ESCRAVIDÃO: A GREVE DOS CATRAIEIROS PORTUGUESES EM MANAUS (1884)

Publicado em 01/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0265-3

Título do Trabalho
CONTRA A ESCRAVIDÃO: A GREVE DOS CATRAIEIROS PORTUGUESES EM MANAUS (1884)
Autores
  • Caio Giulliano de Souza Paião
Modalidade
Comunicação em Simpósio Temático
Área temática
Navegação e cidades portuárias no Brasil do século XIX: trabalho, conflitos e materialidade (Prof. Dr. Jaime Rodrigues - UNIFESP)
Data de Publicação
01/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/726905-contra-a-escravidao--a-greve-dos-catraieiros-portugueses-em-manaus-(1884)
ISBN
978-65-272-0265-3
Palavras-Chave
Trabalho marítimo; Abolicionismo; Escravidão; Amazônia
Resumo
O objeto central dessa apresentação é uma greve ocorrida no porto de Manaus, em 1884, organizada por catraieiros portugueses contra o desembarque de escravizados na cidade. A cultura de trabalho criada e vivida pelos catraieiros portugueses foi bastante afetada pela modernização do porto de Manaus naquele período. Tal como noutros portos brasileiros, modernização implicava adaptação à cabotagem internacional e, em outros termos, extirpar os vestígios do tráfico escravo. Comparada a outras capitais, especialmente as litorâneas, Manaus não foi palco de grandes desembarques de escravizados e, na segunda metade do oitocentos, a grande maioria da população negra era livre. Mas, como entreposto fluvial, a cidade era estratégica para o tráfico interno. Na década de 1880, perante o aumento do volume portuário, escravizadores chegaram a cogitar o emprego de cativos no porto e nos navios que atendiam a capital do Amazonas. Por sua vez, respondendo também a isso, os catraieiros entabularam a primeira greve de que se tem notícia em Manaus. O grupo era formado, basicamente, por imigrantes portugueses naturais de Póvoa de Varzim. Esses homens e rapazes haviam se mudado para Belém e Manaus após sofrerem com os abalos no setor pesqueiro de Portugal, ocasionados pelo monopólio britânico das companhias de navegação. Dotados de tradicional cultura marítima, esse contingente decidiu permanecer no norte do Império, formando uma notória comunidade nas "capitais da borracha" e, em pouco tempo, os poveiros dominaram o sistema de embarques e desembarques nesses portos fluviais. Eles conseguiram adaptar os saberes de seus ofícios para a realidade náutica da Amazônia e foram exitosos em se tornarem os senhores das orlas. Dessa forma, interpreto a greve que protagonizaram à luz das disputas por locais de trabalho, cenário ameaçado com a possibilidade de emprego de mão de obra cativa, aventada na iminência da expansão da zona portuária de Manaus. Portanto, a greve entabulada no dia 7 de maio de 1884, fechando o porto para o desembarque de escravizados, conectava a defesa de um lugar de trabalho com os movimentos abolicionistas do Pará, Amazonas e Ceará. A imprensa abolicionista, por exemplo, louvou a atitude dos poveiros como um exemplo sublime de solidariedade à causa, ainda que interesses próprios do grupo fossem elementos cruciais na deflagração e no conteúdo da greve. O evento ilumina também redes de sociabilidade entre abolicionistas do Amazonas, Pará e Ceará pelo trânsito de pessoas oriundas dessas regiões, presentes nos mundos do trabalho e das letras nesses locais. Apesar de ainda pouco estudada pela historiografia, a greve dos catraieiros de Manaus abriu caminhos para a (hoje considerada "precoce") abolição da escravidão do Amazonas, em 10 de julho de 1884, à exemplo do que foi feito pelos jangadeiros da província do Ceará. A partir dela, poderemos compreender outros meandros do trabalho marítimo, não circunscrito às águas salgadas, e suas conexões com anseios e experiências de liberdade, que fazem da vida portuária um local importante para apreendermos ideias e pessoas em movimento. Uma mobilidade que, mais do que física, encontra na mesma rota das mercadorias e dos passageiros os melhores rumos para encaminhar demandas, em tempos de tensão social e ameaças à modos de vida duramente conquistados.
Título do Evento
V Encontro de Pós-Graduandos da SEO
Título dos Anais do Evento
Anais do V Encontro de Pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO)
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PAIÃO, Caio Giulliano de Souza. CONTRA A ESCRAVIDÃO: A GREVE DOS CATRAIEIROS PORTUGUESES EM MANAUS (1884).. In: Anais do V encontro de pós-graduandos da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO). Anais...São Luís(MA) UFMA, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/v-encontro-de-pos-graduandos-da-seo/726905-CONTRA-A-ESCRAVIDAO--A-GREVE-DOS-CATRAIEIROS-PORTUGUESES-EM-MANAUS-(1884). Acesso em: 13/05/2025

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