REDESENHANDO ENCONTROS, REPENSANDO O POLÍTICO: PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Publicado em 25/11/2022 - ISBN: 978-65-5941-910-4

DOI
10.29327/1131788.6-6  
Título do Trabalho
REDESENHANDO ENCONTROS, REPENSANDO O POLÍTICO: PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Autores
  • Brunno Victor Freitas Cunha
Modalidade
Trabalho avulso
Área temática
Teoria das Relações Internacionais
Data de Publicação
25/11/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/spabri2022/505568-redesenhando-encontros-repensando-o-politico--perspectivismo-amerindio-nas-relacoes-internacionais
ISBN
978-65-5941-910-4
Palavras-Chave
Perspectivismo Ameríndio, Povos Indígenas, Teoria de Relações Internacionais.
Resumo
O objetivo geral desta pesquisa é realizar um estudo inicial de como o perspectivismo ameríndio pode auxiliar na compreensão das relações internacionais, como teoria e prática. Já os objetivos específicos são: compreender como os discursos e práticas das relações internacionais se fundamentam a partir da extração de conhecimentos e exclusão dos povos indígenas; analisar como os modos de organização sociopolítica dos povos ameríndios problematizam a soberania Estatal como fundamento ontológico da ordem; e, por fim, compreender como o perspectivismo ameríndio de Eduardo Viveiros de Castro fornece novas formas de se compreender o político a partir do conceito de multinaturalismo. A pesquisa é relevante, pois os povos indígenas são desconsiderados do que se define como objeto de estudo e, principalmente, fonte de conhecimento para as Relações Internacionais, apesar de terem sofrido processo de extração contínua de seus conhecimentos. Ou seja, ocupam um espaço em que a produção de conhecimento se dá sobre e a partir deles, nunca com eles e tendo sempre o Eu como ponto referência (SHAW, 2002; SMITH, 2021). Tendo isso em vista, busco, como propôs Santos Filho (2019, p. 514) “[...] não olhar o mundo a partir das caravelas espanholas e portuguesas que por aqui aportaram, mas de entendê-lo do ponto de vista daqueles que aqui estavam quando os europeus aqui chegaram”. O primeiro passo metodológico consiste em compreender como os povos indígenas e seus conhecimentos foram alvo de processos violentos de invisibilização e como tais processos delinearam as formas de construção e organização do que chamamos de internacional. Foi possível compreender, com base em Jahn (1999), Santos Filho (2019), Beier (2002), Inayatullah e Blaney (2014) e Sampson (2002), que os conceitos modernos de estado de natureza e anarquia se desenvolveram a partir do contato entre colonizadores espanhóis e povos indígenas da América, de modo que não descreve uma condição universal pré-existente. A partir disso, foram instituídas: uma narrativa linear que configura noções de atraso/progresso, civilização/barbárie, internacional/doméstico a partir da oposição a essas sociedades sem Estado; e hierarquias civilizacionais que constituem um ordenamento político-territorial específico que fundamenta as relações internacionais modernas e define a autoimagem do campo de estudos. O segundo passo metodológico consiste em questionar o pressuposto das Relações Internacionais do Estado-soberano como única expressão de ordem política, visão que sustenta e reproduz as noções modernas de Sistema/Sociedade Internacional (SHAW, 2002; LAGE; CHAMON, 2016). Pretendo, assim, questionar a suposta ausência de ordem política nas sociedades ameríndias a partir da proposta por Pierre Clastres (2003), que argumenta que sua organização sociopolítica era contra-Estatal (TIBLE, 2019). Foi possível compreender, nesse sentido, que tal pressuposto do Estado-soberano como único lócus da ordem política é resultado das visões etnocêntricas do contato com o Outro, o que por sua vez delimita nossos horizontes disciplinares (BEIER, 2002), e que, com proposta de Clastres (2003), seria possível questionar tais pressupostos. Por fim, o último passo seria ir além da gramática da modernidade, que tem, por exemplo, o Estado e a soberania como horizontes de pensamento, pois como nos diz Jean Tible “[a] América Indígena se situa aquém da América Latina – por ser uma parte desta – e além, pois a antecede no tempo e a extrapola no espaço” (TIBLE, 2019, p. 15). Pretendo, assim, partir do perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro (2018; 2020), que tem como “objetivo, em poucas palavras, [realizar] uma reconstituição da imaginação conceitual indígena nos termos de nossa própria imaginação” (VIVEIROS DE CASTRO, 2020, p. 15). Em primeiro momento busco compreender o que seria o perspectivismo, enquanto conceito etnográfico e como concepção indígena, para em segundo momento compreender um de seus principais conceitos, o multinaturalismo. Argumento, enfim, que o perspectivismo como conceito etnográfico nos possibilita realizar um processo de tradução e diálogo que não é autocentrado, mas relacional, ao problematizar a posicionalidade sujeito-objeto e aos nos possibilitar tensionar as nossas concepções de mundo(s). Em relação ao multinaturalismo, argumento que ele possibilita compreender outras formas de concepção da alteridade ao se basear na compreensão da existência de “uma unidade do espírito e uma diversidade dos corpos” (VIVEIROS DE CASTRO, 2020, p. 303). Como diz Davi Kopenawa Yanomami, xamã do povo Yanomami, (2015, p. 390), “[p]ara nós, a política é outra coisa” e, desse modo, acredito que tal pesquisa inicial nos possibilita não tornar essa outra política nossa, mas tensionar os nossos entendimentos políticos para que essa(s) e outras muitas políticas sejam possíveis. REFERÊNCIAS BEIER, J. Marshall. Beyond Hegemonic State(ment) of Nature: Indigenous Knowledge and non-state possibilities in International Relations. In: CHOWDRY, Geeta; NAIR, Sheila. (eds.). Power, Postcolonialism and International Relations: Reading race, gender and class. Londres: Routledge, 2002. cap. 4, p. 82-115. CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. 280 p. INAYATULLAH, Naeem; BLANEY, David L. International Relations and the Problem of Difference. Londres: Routledge, 2014. 246 p. JAHN, Beate. IR and the State of Nature: The Cultural Origins of a Ruling Ideology. Review of International Studies, v. 25, n. 3, p. 411–434, 1999. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 729 p. LAGE, Victor Coutinho; CHAMON, Paulo Henrique. Resisting the denial of coevalness in International Relations: provincializing, perspectivism, border thinking. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 59, n. 2, p. 1-17, 2016. SAMPSON, Aaron B. Tropical Anarchy: Waltz, Wendt, and the Way We Imagine International Politics. Alternatives: Global, Local, Political, v. 27, n. 4, p. 429–457, 2002. SANTOS FILHO, Onofre dos. Ultra Aequinoxialem Non Peccari: anarquia, estado de natureza e a construção da ordem político-espacial. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, v. 8, n. 15, p. 486-518, 2019. SHAW, Karena. Indigeneity and the International. Millennium: Journal of International Studies, v. 31, n. 1, p. 55-81, 2002. SMITH, Linda Tuhiwai. Decolonizing Methodologies: Research and Indigenous Peoples. 3 ed. Londres: Zed Books, 2021. 345 p. TIBLE, Jean. Marx Selvagem. São Paulo: Autonomia Literária, 2019. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições, 2018. 288 p. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios da antropologia. São Paulo: Ubu Editora, 2020. 480p.
Título do Evento
Seminário de Pós-Graduação da Associação Brasileira de Relações Internacionais
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário de Graduação e Pós-graduação em Relações Internacionais
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

CUNHA, Brunno Victor Freitas. REDESENHANDO ENCONTROS, REPENSANDO O POLÍTICO: PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.. In: Anais do Seminário de Graduação e Pós-graduação em Relações Internacionais. Anais...São Paulo(SP) IRI-USP, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/spabri2022/505568-REDESENHANDO-ENCONTROS-REPENSANDO-O-POLITICO--PERSPECTIVISMO-AMERINDIO-NAS-RELACOES-INTERNACIONAIS. Acesso em: 02/08/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes