A INTERSECCIONALIDADE NO MERCADO DE TRABALHO

Publicado em 31/01/2022 - ISBN: 978-65-5941-559-5

Título do Trabalho
A INTERSECCIONALIDADE NO MERCADO DE TRABALHO
Autores
  • Milena Soares Rodrigues
  • Ives da Silva Duque Pereira
  • Edimilson Antônio Mota
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
GT2 - Estudos sobre gênero e sexualidades
Data de Publicação
31/01/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/sociedadecritica/396833-a-interseccionalidade-no-mercado-de-trabalho
ISBN
978-65-5941-559-5
Palavras-Chave
Mulher Negra; Trabalho; Racismo; Sexismo
Resumo
A invisibilidade que a mulher negra sofre é altamente perceptível, entre tantos exemplos que podemos citar, a autora da obra “Quarto de Despejo” Carolina Maria de Jesus foi um grande nome que sofreu com as facetas do racismo. Carolina foi contemporânea a outros grandes escritores da Literatura, como Clarice Lispector e Jorge Amado. Entretanto, o que percebemos é que mesmo no auge, sua literatura não foi perpetuada nas escolas como os autores da mesma época. Sua leitura só se tornou obrigatória para vestibulares, como o da Unicamp, apenas em 2017. Os estereótipos, ainda na década de 60, é estampado por uma das maiores autoras brasileiras. Este breve ensaio está sendo produzido dentro do Programa de Residência Pedagógica inserido no Núcleo de Ensino e Pesquisa sobre Espaço e Currículo de Geografia e Imagem e Multiculturalismo (NEPCGIM) da UFF Campos, onde semanalmente contamos com debates que enriquecem a pesquisa. Através das questões levantadas no grupo, refleti como diante de uma história tão cruel de escravidão, as mulheres negras ganham espaço no mercado de trabalho? Como isso impacta no hoje? O que eu, enquanto futura professora, posso contribuir para as minhas alunas serem convictas de que elas podem ser o que quiserem depois da escola? Questionamentos como estes me motivaram a pesquisar mais a fundo. Primeiramente, é necessário instigar o senso crítico dos alunos para serem cientes que vivemos em uma estrutura racista, e que é por este motivo que hoje existem leis no Estatuto da Igualdade Racial que influenciam as empresas a possuírem uma certa porcentagem de pessoas negras atuando profissionalmente, pois ao contrário a desigualdade profissional seria ainda maior. Deste modo, o objetivo deste trabalho é discutir as consequências que o período escravocrata causou na inserção das mulheres negras no mercado de trabalho em que antes não eram consideradas trabalhadoras, mas escravas. Buscamos destacar como o fim da escravatura e a falta de preparo para a inserção da população negra na sociedade naturalizou a dificuldade da mulher negra em ocupar cargos comuns para a população branca. A metodologia empregada para elaborar este trabalho foi a partir de pesquisas bibliográficas de três autoras principais, sendo elas: bell hooks, Djamila Ribeiro e Carla Akotirene. Ademais, utilizou-se de pesquisas de sites que sustentam os argumentos. A Interseccionalidade, neste caso, deve ser apresentada nas escolas como meio de resistência aos sistemas de opressão que o capitalismo aponta para grupos subalternos, principalmente as mulheres negras. O conceito é usualmente utilizado em cursos de ensino superior, mas a propagação de seu conteúdo deve ser acessível ainda nas fases iniciais. O processo de exclusão se caracteriza por deixar a situação social em desvantagem para uma determinada pessoa ou grupo. Contudo, o processo histórico que a mulher negra carrega, é um amontoado de imposições, preconceitos e desvalorização refletidas até os dias atuais, sua raiz vem das mulheres escravizadas que trabalhavam nas casas dos “donos” e sofriam crueldades como torturas físicas e psicológicas no período escravocrata. Akotirene (2019), pesquisadora sobre o feminismo negro, explica como o Atlântico foi “um locus de opressões cruzadas” e decisivo para a vida das mulheres negras traficadas como mercadorias com culturas afogadas. Para bell hooks (1981), desde os navios negreiros, estas mulheres sofreram crueldades para serem "domesticadas" e vendidas como escravas "dóceis" nas colônias. Reforçando a narrativa da exclusão, Ribeiro (2019) resgata o conceito de “outsider within” de Collins, e nos dá alguns exemplos de como a mulher negra pode estar dentro e ao mesmo tempo ser uma de fora, como no caso das empregadas domésticas que são “quase da família”. É interessante ressaltar que, ainda hoje, podemos perceber na mídia uma perpetuação da imagem da mulher negra empregada na posição de família branca, que não usufrui dos privilégios daquele espaço, como nos mostra o filme vencedor do Oscar 2012 “Histórias Cruzadas”, em que a renomada atriz Viola Davis diz se arrepender, em entrevista ao New York Times, de ter interpretado o papel de empregada doméstica que reforça essa narrativa. O termo “mamã”, como salienta bell hooks (1981), é a imagem estereotipada das domésticas negras que as mulheres brancas procuravam a fim de evitar “problemas” com os maridos: mulheres negras mais velhas, gordas, que não possuíam consciência da sua colocação nesses lares por “amar” seus patrões brancos. Segundo a pesquisa do IPEA, em 2019, que traça o perfil do trabalho doméstico no Brasil, as mulheres negras ainda são a maioria a desempenhar essa função. Se faz pertinente ressaltar o quanto as domésticas tiveram que lutar para terem seus direitos minimamente garantidos e seus patrões assinarem a carteira de trabalho que virou obrigatoriedade através da Lei Complementar Nº 150, apenas em 2015. Quando a mulher negra ocupa representatividade por outras estruturas na experiência racializada, como nos implica a interseccionalidade, o espaço no mercado de trabalho é ainda mais restrito. A interseccionalidade denuncia as múltiplas condições que resultam nas desigualdades e hierarquias que localizam grupos subalternizados. Portanto, devemos refletir sobre as produções de grupos que são igualmente deixados à margem tendo pouca visibilidade, por exemplo, por uma ferramenta que utilizamos no cotidiano: redes sociais. Segundo a blogueira Morais (2020), o trabalho de “digitais influencers” negras ainda são minorias nas redes virtuais, conforme denúncia em seu site “Negrê” a seletividade dos algoritmos das redes. As fotos em currículos é outro ponto que nos leva a acreditar que analisam a aparência e não a competência descrita, o que reforça a exclusão por empresas racistas. Akotirene (2019) também frisa como o “racismo estruturado pelo colonialismo moderno insiste em dar cargas pesadas a mulheres negras”. O ponto de partida que a mulher negra se levanta para se inserir no mercado de trabalho encara o racismo, machismo, sexismo, violência, meritocracia e muitas vezes a aceitação de um trabalho precarizado e precoce. Fica evidente a relevância de olharmos para o patriarcado e o racismo estrutural como fortes pilares que dificultam o processo de descolonização e, consequentemente, as oportunidades para mulheres negras diante do trabalho.
Título do Evento
II Fórum Sociedade Crítica: vida insubmissa, pensamento transgressor
Título dos Anais do Evento
Anais do II Fórum Sociedade Crítica: vida insubmissa, pensamento trangressor
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RODRIGUES, Milena Soares; PEREIRA, Ives da Silva Duque; MOTA, Edimilson Antônio. A INTERSECCIONALIDADE NO MERCADO DE TRABALHO.. In: Anais do II Fórum Sociedade Crítica: vida insubmissa, pensamento trangressor. Anais...Barreiras(BA) UFOB, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/sociedadecritica/396833-A-INTERSECCIONALIDADE-NO-MERCADO-DE-TRABALHO. Acesso em: 19/06/2025

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