A EXPERIÊNCIA SENSORIAL NA PESQUISA SOBRE RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E INDÍGENA.

Publicado em 13/07/2025 - ISBN: 978-65-272-1588-2

Título do Trabalho
A EXPERIÊNCIA SENSORIAL NA PESQUISA SOBRE RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E INDÍGENA.
Autores
  • Vanderlea Andrade Pereira
Modalidade
Resumo Expandido para Publicação em Anais
Área temática
GT 09 - Religiões e Religiosidades no Semiárido
Data de Publicação
13/07/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/sinjuve-semanaciso-univasf-554279/1172380-a-experiencia-sensorial-na-pesquisa-sobre-religiao-de-matriz-africana-e-indigena
ISBN
978-65-272-1588-2
Palavras-Chave
Etnografia. Experiência sensorial. Religiões de matriz Africa e indígena.
Resumo
O presente texto é parte do percurso metodológico da pesquisa de doutoramento: O SAGRADO NO SERTÃO: COMPOSIÇÕES DA MALHA DO AXÉ EM IGARA-BAHIA, orientada pela Professora Dra. Luciana Duccini e co-orientada pela Professora Dra. Maria Rosário de Carvalho. A pesquisa etnográfica tem como campo empírico o distrito de Igara no Norte da Bahia e tem por objetivo compreender, a partir das religiões de descendência africana e indígena, a composição da Malha do Axé na localidade. Trazer a perspectiva da etnografia sensorial como elemento metodológico, permite o acesso a outras sensibilidades, que extrapola o observar e alcança os cheiros, as texturas e os gostos das coisas sagradas. Inspirada em Stoller (2022), fui compreendendo, no percurso da etnografia que a experiência sensorial (sensual) do mundo condiciona e compenetra o conhecimento que produzimos. 1. Uma Etnografia sensorial A única forma de perceber o que não se expressava imediatamente por palavras ou a olho nu é entregar-se ao sentir, como captador de todos os estimulos sensoriais experienciados nas atividades da pesquisa, no meu caso, nos terreiros e no contato com os interlocutores humanos e mais que humanos. Essa entrega é também um desafio, tanto no percurso do campo que, ao tempo que a colheita dos dados é feita, os sentidos redirecionam a abordagem, quanto no processo da escrita que, ao tempo que a tese vai se desenhando, a sensorialidade comunicada pelos interlocutores, pesquisadora e o meio, vai reivindicando a sua presença. A dimensão emocional e sensorial da existência desafia-nos a repensar as nossas ferramentas de recolha etnográfica e também a forma como vamos representar o campo (Stoller, 2022) e, esse desafio conduz a incorporar às minhas compreensões teóricas e metodológicas, o valor das sensibilidades. Assim, descobri que só sei ver, por um ângulo incorporado de sensações e emoções. A etnografia sensorial aciona a presença do corpo inteiro de quem está pesquisando em uma presença multissensorial e ativa. Há uma transgressão da visão, que sempre se convencionou ser o principal elemento das observações, para as profundidades do tato, olfato, paladar e também a visão mais sensível, que no meu caso, como muitas das vivências em campo, foram também de ordem imaterial, para captá-las, foi preciso ver além. A defesa de Soller, na qual me respaldo, é justamente escrever etnografias que tragam os aspectos sensoriais do campo, com o argumento de que “Tal direção nos tornará mais criticamente conscientes de nossas predisposições sensoriais e nos forçará a escrever etnografias que combinam os pontos fortes da ciência com as recompensas das humanidades”. (Stoller, 2022, p. 39). 2. O campo e suas sensorialidades A cada atividade que vivenciei nos terreiros em Igara, a cada conversa que tive com os interlocutores, havia um povoamento de muitas sensorialidades. O gosto dos alimentos servidos nas festas, o gosto da jurema que tomava conta das papilas gustativas e ia arrebatando o corpo. Os cheiros, físicos e espirituais, dos momentos, das pessoas e das coisas, sempre se apresentaram nos primeiros encontros com Igara e por todo o percurso da etnografia. Os cheiros sempre me apresentaram o mundo, o físico nos aromas das comidas, da terra molhada, das flores, das ervas, da pele, do perigo, dos lugares e o espiritual nos aromas que chegam sem a presença materializada da coisa em si. A etonografia com gosto, carece de um trabalho de campo com gosto e uma escrita com gosto, como sugere Stoller (2022) quando fala da vivacidade que habita as etnografias saborosas de Agee (1941), Chernoff (1979) e Lévi-Strauss. (2001). . Ao trazer a forma como esses autores escrevem, Stoller nos provoca sentir o que seriam etnografias saborosas. Unindo a forma sensível como o autor situa os exemplos de descrições com a própria descrição de Agee, Chernoff e Lévi-Straus, mergulho na cena, como se também estivesse a vivenciá-la. As considerações feitas por Stoller, oferecem referências importantes à compreensão da representação sensorial e mais vívida da realidade, capaz de fornecer os elementos teóricos e ao mesmo tempo ser acessível para os não acadêmicos. O sabor da etnografia foi se construindo nas vivências dos rituais, festas e outros acontecimentos e atividades que envolviam a presença de entidades. Como a colheita dos dados se fortalecia também nas invisibilidades, as vivências oníricas dos interlocutores tiveram força e importância nas observações e escuta, forjando escritas de campo, também, como experiências espirituais, do que não estava visível, mas se manifestava aos meus olhos. Igara e seus terreiros, pela expressão dos seus cheiros, sons, texturas e gostos, foi incorpando e corporalizando a experiência, tornando tangível a pesquisa, para além do seu traçado inicial. Tudo foi sendo “inicio, meio e inicio, como nos fala Nego Bispo. 3.Considerações sensíveis Fazer uma etnografia saborosa foi a minha intenção como forma de apreciar o mundo que Igara me apresentava, pela sua religiosidade de descendência africana e indígena. A sensibilidade etnográfica possibilitou comunicar os sons, os cheiros, os gostos e as texturas, visíveis e não visíveis, que me foram permitidas acessar. Conforme a experiência foi acontecendo, fui dando conta de que, realmente, sem a etnografia sensorial, muitas coisas escapariam em um campo tão vasto, como Igara se revelou. Sem a sensibilidade de estar e viver Igara, os caminhos não estariam abertos, seus cheiros, gostos, sons e texturas não teriam sido acessados e nem provocado um afetamento epistemológico. Referências STOLLER, Paul. O gosto das coisas enográficas:os sentidos na Antropologia/Paul Stoller; tradução Marcelo Mello- Rio de Janeiro: Papéis Selvagens Edições, 2022.
Título do Evento
II SIMPÓSIO INTERNACIONAL JUVENTUDES E EDUCAÇÃO - SINJUVE & XI SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - UNIVASF
Cidade do Evento
Juazeiro
Título dos Anais do Evento
Dossiê Conjunto de Produções Acadêmicas da 2ª Edição do Simpósio Internacional sobre Juventudes e Educação e 11ª Edição da sSemana de Ciências Sociais/UNIVASF
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PEREIRA, Vanderlea Andrade. A EXPERIÊNCIA SENSORIAL NA PESQUISA SOBRE RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E INDÍGENA... In: Dossiê Conjunto de Produções Acadêmicas da 2ª Edição do Simpósio Internacional sobre Juventudes e Educação e 11ª Edição da sSemana de Ciências Sociais/UNIVASF. Anais...Juazeiro(BA) Complexo Multieventos/UNIVASF, 2025. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/sinjuve-semanaciso-univasf-554279/1172380-A-EXPERIENCIA-SENSORIAL-NA-PESQUISA-SOBRE-RELIGIAO-DE-MATRIZ-AFRICANA-E-INDIGENA. Acesso em: 30/08/2025

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