Título do Trabalho
EFEITO BALÃO NO CULTIVO ILÍCITO DE MACONHA NO VALE DO SÃO FRANCISCO.
Autores
  • Kauan Henrique Passos Cordeiro
  • Marcílio Brandão
Modalidade
Resumo Expandido para Publicação em Anais
Área temática
GT 1: Antropologia e Sociologia – fronteiras e porosidades
Data de Publicação
13/07/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/sinjuve-semanaciso-univasf-554279/1158633-efeito-balao-no-cultivo-ilicito-de-maconha-no-vale-do-sao-francisco
ISBN
978-65-272-1588-2
Palavras-Chave
Maconha, Efeito Balão, Plantio
Resumo
RESUMO Este trabalho objetiva analisar a resistência de produtores ilegais de cannabis sativa no Submédio São Francisco, sob o panorama do efeito balão. Esta análise deriva de um projeto maior dos autores no mesmo tema, devidamente submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição a que se vinculam. Nesta comunicação, resgatamos dados provenientes de entrevistas a um agricultor que relatou envolvimento com plantios e comercialização de maconha. O objetivo deste texto é investigar os desdobramentos que a intensificação da perseguição policial em uma determinada área pode gerar. Neste quesito, enfocamos uma das perspectivas que o efeito balão produz, apontando persistência do cultivo em áreas pressionadas, após o momento em que a repressão se desvia para outro local. INTRODUÇÃO  A região popular e pejorativamente conhecida como “polígono da maconha” é marcada desde o final dos anos 1980 por intensas perseguições policiais (FRAGA, 2007; ROSA, 2019). O incremento dessa repressão trata “pequenos agricultores” como “sujeitos perigosos”. Menos preparados que as polícias para enfrentar situações de perigo e violência, tais agricultores enfrentam os riscos de se envolver com estas situações principalmente devido a necessidades econômicas. Os lavradores que se envolvem no cultivo ilegal fazem isso pela expectativa de retorno financeiro superior aos rendimentos oriundos de outras culturas agrícolas. As chamadas “operações de erradicação” se multiplicaram na região na década de 1980 e vêm se mostrando contraproducentes quanto aos seus objetivos de suprimir a maconha da região. Quem se envolve neste plantio ilegal, quer melhorar suas condições de vida e, para isso, enfrenta a repressão escapando com seus cultivos para áreas de menos risco. Dito isso, situamos esse trabalho em um marco teórico que reconhece diferentes ciclos de atenção à maconha (BRANDÃO, 2014), incluindo um ciclo econômico que vem sendo estudado por economistas, como Lilian da Rosa, cuja tese (ROSA, 2019) aponta a expansão do cultivo nessa região como continuidade de um padrão histórico de marginalização. O tema já é objeto de investigações pregressas, como o trabalho de Paulo Fraga (2007) que relaciona os efeitos do cultivo de cannabis na vida dos atores sociais envolvidos com este cultivo. O presente trabalho enfoca dados obtidos em entrevistas qualitativas, em profundidade (LIMA, 2016), realizadas junto a um agricultor que desempenhou papel importante na cadeia produtiva da maconha na região, especificamente no plantio e comércio. O interlocutor se dispôs a falar longamente sobre o tema, em mais de uma ocasião de entrevista, demonstrando credibilidade no trabalho e confiança nos pesquisadores que o empreendem. Considerando a estigmatização do tema pela sociedade e sua ilicitude na legislação brasileira, é importante que o acesso a esse e outros interlocutores seja construído por meio de contatos de confiança; neste caso, favorecidos pelo apoio de um filho do entrevistado durante o processo de pesquisa. Ademais, em consonância com o protocolo ético submetido e devidamente aprovado pelo CEP HU-Univasf e em reconhecimento à confiança depositada nos pesquisadores, evitamos apresentar qualquer elemento que identifique o interlocutor. ANÁLISE E COMENTÁRIO DO CONTEÚDO Quando qualquer ponto de um balão preenchido com ar é pressionado, o ar contido no balão se desloca para áreas menos pressionadas. O resultado deste deslocamento é conhecido como “efeito balão”, sendo observado nas dinâmicas de expansão do cultivo de cannabis no polígono da maconha (ROSA, 2019). O incremento da ação policial contra plantações próximas ao Rio São Francisco dispersou o cultivo para áreas de menor pressão. A necessidade fez com que os plantadores fugissem para outras áreas e deslocassem seus cultivos para outros territórios próximos a fontes de água, como açudes.  Nas entrevistas que enfocamos nesta comunicação, destacamos um diálogo que aponta a resistência de plantadores em relação ao deslocamento. A ação das polícias, em relação ao tema, objetiva suprimir a maconha nas áreas em que seu plantio se alastra. Porém, as forças policiais jamais conseguiram agir simultaneamente em toda a extensão territorial enfocada nesta pesquisa; não consolidando o alastramento do “Estado policialesco” (WACQUANT, 2001). Assim, constatamos que quando as polícias mudam seu foco para pressionar uma determinada área da região pesquisada, o plantio ilícito retorna para o lugar que deixou de receber grande pressão da ação policial.  E: Sujou, meu camarada, aquela roça, os caras já plantavam do outro canto, davam um tempo e voltavam pra plantar no mesmo canto. K: Na mesma terra? E: Na mesma terra, já sujou mais de cinco vezes os caras plantavam e tiravam. Tiravam, sujavam, acabavam ali, deixavam, davam um tempo, descansavam, plantava de novo e tirava.  [...] E: [...] até nos anos 90, nos anos 90, até 95, era desse jeito. Sujava e plantavam de novo no mesmo canto e aí tiravam.  K: Despistavam, né? Atenção, tiravam a atenção deles. E: Eles achavam que eles não iam plantar mais lá naquele local. [...]  CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da analogia feita com o “efeito balão” fica evidente que as políticas de erradicação do cultivo ilícito de maconha no Vale do São Francisco são ineficazes. Em realidade, não concretizando o que Wacquant (2001) denominou de “Estado policialesco”, o ataque a zonas de maior cultivo ilícito tem gerado o efeito – não explicitamente esperado – de deslocar o plantio e expandir as áreas de cultivo ilícito para zonas territoriais menos perseguidas pela ação policial. Enquanto as polícias pressionam em um ponto, o plantio se desloca para onde há menos pressão, retornando para o local de origem quando a pressão arrefece.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, Marcílio. O problema público da maconha no Brasil: anotações sobre quatro ciclos de atores, interesses e controvérsias. Dilemas, 7, 4:703-740, 2014. FRAGA, Paulo. O plantio de maconha e a repressão ao pequeno agricultor no Submédio São Francisco, Brasil. XXVI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. Guadalajara: Asociación Latinoamericana de Sociología, 2007. LIMA, Márcia. O uso da entrevista na pesquisa empírica. In: ALONSO, A et al. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais: bloco qualitativo. São Paulo: Sesc/Cebrap, 2016, p. 24-41.  ROSA, Lilian da. Terra e ilegalidade: agricultura de maconha em Alagoas e Pernambuco (1938-1981). Tese [Desenvolvimento Econômico]. Campinas: Unicamp, 2019.  WACQUANT, Loïc. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Título do Evento
II SIMPÓSIO INTERNACIONAL JUVENTUDES E EDUCAÇÃO - SINJUVE & XI SEMANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - UNIVASF
Cidade do Evento
Juazeiro
Título dos Anais do Evento
Dossiê Conjunto de Produções Acadêmicas da 2ª Edição do Simpósio Internacional sobre Juventudes e Educação e 11ª Edição da sSemana de Ciências Sociais/UNIVASF
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CORDEIRO, Kauan Henrique Passos; BRANDÃO, Marcílio. EFEITO BALÃO NO CULTIVO ILÍCITO DE MACONHA NO VALE DO SÃO FRANCISCO... In: Dossiê Conjunto de Produções Acadêmicas da 2ª Edição do Simpósio Internacional sobre Juventudes e Educação e 11ª Edição da sSemana de Ciências Sociais/UNIVASF. Anais...Juazeiro(BA) Complexo Multieventos/UNIVASF, 2025. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/sinjuve-semanaciso-univasf-554279/1158633-EFEITO-BALAO-NO-CULTIVO-ILICITO-DE-MACONHA-NO-VALE-DO-SAO-FRANCISCO. Acesso em: 02/08/2025

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