UMA ANÁLISE DECOLONIAL DA CRÔNICA “O RIO DA VIDA”, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

Publicado em 23/09/2022 - ISSN: 1984-7610

Título do Trabalho
UMA ANÁLISE DECOLONIAL DA CRÔNICA “O RIO DA VIDA”, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
Autores
  • Raysa Barbosa Corrêa Lima Pacheco
Modalidade
Resumo
Área temática
GT 04 – Abordagens decoloniais nas literaturas das Américas e da África
Data de Publicação
23/09/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/selluftm/487918-uma-analise-decolonial-da-cronica-o-rio-da-vida-de-gabriel-garcia-marquez
ISSN
1984-7610
Palavras-Chave
Gabriel García Márquez; jornalismo literário; estudos decoloniais; animalidade.
Resumo
O escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) é reconhecido mundialmente por seus romances de maior repercussão, como Cem anos de solidão (1967) e O amor nos tempos do cólera (1985), e seu nome é muitas vezes automaticamente associado ao movimento do realismo mágico, o que faz com que grande parte dos estudos a respeito de sua obra gire em torno desse aspecto. Entretanto, assim como outros escritores do boom da literatura latino-americana na segunda metade do século XX, como Mario Vargas Llosa e Julio Cortázar, Márquez começou sua carreira profissional como jornalista, sobretudo compondo crônicas que mesclam descrições sobrenaturais da realidade aos aspectos históricos. Em seus escritos jornalísticos, o colombiano sente-se livre para contar as emoções humanas e o impacto de forças impessoais, como a tecnologia e a crise econômica, na vida das pessoas. Nesse sentido, este trabalho visa analisar a crônica “O rio da vida” sob a perspectiva decolonial a fim de verificar como os animais nela presentes contribuem para a construção de reflexões de ordem cultural, política e ambiental no contexto latino-americano. Inicialmente publicada em março de 1981 no jornal El País, de Madri, apresenta uma volta de Márquez aos recônditos de sua memória quando, aos 54 anos, recorda sua juventude e suas viagens pelo rio Magdalena, na Colômbia, até Puerto Salgar, onde tomava um trem rumo a Bogotá, cidade na qual ia estudar. Entre suas recordações, repletas de saudosismo e afetividade, destacam-se as menções à natureza e aos animais, como os jacarés, garças, patos, peixes, micos e periquitos, presentes durante a viagem pelo rio. Entretanto, em discrepância com suas memórias de infância, povoadas pela biodiversidade e pela harmonia em que viviam as espécies que habitavam o Magdalena e seu entorno, as percepções que Márquez teve durante uma viagem em 1948 já apontavam uma mudança nesse cenário: a popularização da caça e a matança desenfreada dos animais do rio passavam a romper o equilíbrio natural da região. Diante desse fato, é possível analisar a destruição da fauna e da flora dos entornos do Magdalena a partir de uma análise decolonial que considera as contribuições teóricas de Tink Tinker (2013), Walter Mignolo (2021), Florencia Garramuño (2011), Enrique Dussel (2016), Achille Mbembe (2016) e Ramón Grosfoguel (2008). Nesse sentido, as práticas predatórias no território colombiano relacionam-se a uma visão de mundo antropocêntrica e euro-cristã que, segundo Tinker (2013), naturaliza a hierarquia humana sobre as demais espécies. Ademais, a poluição de vários rios da América Latina está ligada à falta de planejamento urbano, consequência de uma desorganização estrutural que acompanha as nações latinas desde os tempos da colonização. Desse modo, a despreocupação em cuidar dos recursos naturais, também responsáveis pelo próprio desenvolvimento econômico dessas áreas, é paradoxal e pode ser apontada como uma prática de necropolítica, no esteio das reflexões de Mbembe (2016). Em suma, pode-se perceber que a obra jornalística de Márquez, entremeada por suas histórias e vivências pessoais na Colômbia, tem o potencial de abordar muitas das problemáticas da América Latina, região que guarda até hoje as consequências de um passado colonial. Assim, a crônica “O rio da vida”, embora esteja voltada especificamente para o contexto do rio colombiano Magdalena, é o retrato da situação de descaso ambiental com muitos outros cursos de água de todo o planeta, inclusive de países latino-americanos. Por fim, o estudo da literatura sob uma perspectiva decolonial possibilita que se dê aos animais uma possibilidade de resistência, permitindo a eles, enquanto subalternos, defender sua sobrevivência numa perspectiva não especista, ou seja, sem preconceito aos seres de espécies não humanas.
Título do Evento
VIII SELL - Simpósio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
Título dos Anais do Evento
Programação e Resumos do Simpósio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PACHECO, Raysa Barbosa Corrêa Lima. UMA ANÁLISE DECOLONIAL DA CRÔNICA “O RIO DA VIDA”, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ.. In: Programação e Resumos do Simpósio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários. Anais...Uberaba(MG) UFTM, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/selluftm/487918-UMA-ANALISE-DECOLONIAL-DA-CRONICA-O-RIO-DA-VIDA-DE-GABRIEL-GARCIA-MARQUEZ. Acesso em: 12/05/2025

Trabalho

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