O DESCONTROLE DOS MEDICAMENTOS CONTROLADOS

Publicado em 18/12/2020 - ISSN: 2675-8563

Título do Trabalho
O DESCONTROLE DOS MEDICAMENTOS CONTROLADOS
Autores
  • Fabíola Cristina Rubio
Modalidade
Práticas Educativas Inovadoras
Área temática
Exemplo de Área Temática
Data de Publicação
18/12/2020
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/scunifasefmp/281423-o-descontrole-dos-medicamentos-controlados
ISSN
2675-8563
Palavras-Chave
medicalização, atenção básica, psicofármacos, saúde
Resumo
Introdução Como residente de psicologia no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica iniciei, junto com a preceptoria de campo, um levantamento do número de usuários que fazem uso de medicamento controlado, com ou sem acompanhamento médico específico, na unidade Programa Saúde da Família da Fazenda Inglesa, no município de Petrópolis-RJ. Devido ao alto número de usuários que fazem uso desse tipo de medicamento há anos e sem nenhum controle médico especializado, optamos por uma proposta mais ampla de introduzir o tema da medicalização no âmbito da educação popular em saúde, que é parte fundamental do trabalho de promoção, proteção e recuperação da saúde dos usuários operado pelo SUS no Brasil. A metodologia da Educação Popular em Saúde é uma prática voltada para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, a produção de conhecimentos, a inserção destes no SUS e o processo de apropriação de um saber específico por cada um, que irá nortear os usos dos psicofármacos pelos usuários. Sujeitos envolvidos e objetivos Participam do processo todos os membros da eSF da unidade Fazenda Inglesa e a ideia é realizar, logo que for possível, rodas de conversas com os usuários sobre o tema. Entendendo a forte tendência que existe hoje em todo o mundo de conceber o sofrimento humano como um fenômeno médico, esvaziando os aspectos sociais, culturais e econômicos que ali estão presentes e que a medicalização da vida traz consequências nocivas para a saúde, o objetivo dessa atividade é contribuir para usos mais conscientes dos psicofármacos. Descrição da atividade realizada Em abril deste ano iniciei o trabalho colhendo o histórico de cada paciente, aspectos de seu modo de vida, motivos que o levaram a iniciar o uso de medicação controlada e seu tempo de uso. Em uma planilha, apresentei as informações colhidas com o propósito de clarificar os dados encontrados. Logo após, iniciei um estudo em Educação Permanente em Saúde com as Agentes comunitárias de saúde (ACS) da unidade para conhecer que tipo de informações e opiniões elas tinham sobre o uso dos psicofármacos. Na falta de espaços de educação em saúde voltados para essa temática, elas terminavam incentivando os usuários a buscarem receitas com o médico da unidade para qualquer tipo de sofrimento, indiscriminadamente e, assim, alguns casos abusivos do uso de medicação controlada ocorreram. O estudo com as ACS aconteceu em uma de roda de conversa. Discutimos aspectos do sofrimento psíquico, o uso no senso comum dos conceitos em torno dos transtornos mentais e os sintomas que compõem as principais síndromes psicopatológicas, como a depressiva e a ansiosa, por exemplo. Após a pandemia pelo novo coronavírus iremos estender as rodas de conversas aos usuários, logo que for possível. Análise do processo ensino-aprendizagem Estudando o livro de Paulo Amarante intitulado Medicalização em Psiquiatria, refletimos o “completo bem estar físico, mental e social”, proposto pela OMS, que o indivíduo busca e que não condiz com as condições de trabalho, moradia, educação e ambiente que provocariam tal estado de equilíbrio. Refletimos ainda que buscamos em nosso dia a dia nos encaixar em normas ditadas socialmente, mesmo sem ter condições de possibilidades para tal e, quando não nos afinamos com tais normas, sentimo-nos doentes, “anormais”. Sendo assim, os problemas da precariedade da vida passam a ser definidos e tratados como problemas médicos e sentimentos naturais como o processo de luto, por exemplo, deixam de ser uma vivência natural e necessária e passam a ser compreendidos como doença, algo a ser combatido. Tendo esse livro como referência para a Educação Permanente com as ACS, concluímos que a patologização indiscriminada se alastrou e se tornou produto do senso comum, onde as pessoas se autodiagnosticam, se encaixando em algum transtorno e buscando um alívio para seu sofrimento de forma imediata sem saberem que os psicofármacos não tratam, apenas aliviam os sintomas, os efeitos difíceis de serem extinguidos com o tempo. É cobrado do indivíduo que ele tenha projetos, motivação e vida social satisfatória para angariar uma vida de sucesso. A consequência de tais exigências para a população que não teve as mesmas oportunidades, mas é submetida a mesma métrica, inclui os sentimentos de insuficiência, impotência, inibição, apatia, que são os grandes critérios indicativos para o diagnóstico do transtorno depressivo. Na Fazenda Inglesa temos uma população que reside a maior parte numa área rural do município de Petrópolis, em uma condição socioeconômica de grande desigualdade econômica, pois uma parte da renda da população depende do trabalho em sítios de veraneio de moradores da cidade do Rio de Janeiro, dependendo de ações de políticas públicas mais expressivas para o combate de tais desigualdades. Conclusão Compreendemos que a vulnerabilidade social e econômica identificada na região do bairro Fazenda Inglesa produz um maior sentimento de não pertencimento à uma sociedade pautada em um bem-estar e êxito que devem ser plenos em sua vida, gerando, assim, frustrações remetidas à necessidade de subterfúgios, como a medicação para amenizar este desapontamento. O distanciamento de uma zona central da cidade, levando a um afastamento de vida social mais dinâmica, contribui para o surgimento de maior tristeza e aparentes sintomas depressivos, fazendo os indivíduos buscarem auxílio na prática médica e, sobretudo, nos psicofármacos. Políticas públicas mais expressivas, voltadas para a interação social mais próximas da comunidade, contribuiriam para uma saúde física e mental de qualidade, gerando um retorno positivo de bem estar social para os usuários do bairro Fazenda Inglesa, gerando um sentimento de pertencimento e diminuindo o uso indiscriminado de psicofármacos, assim como a conscientização do uso indiscriminado dos mesmos.
Título do Evento
XXVI Semana Científica UNIFASE/FMP
Título dos Anais do Evento
Anais da Semana Científica
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RUBIO, Fabíola Cristina. O DESCONTROLE DOS MEDICAMENTOS CONTROLADOS.. In: Anais da Semana Científica. Anais...Petrópolis(RJ) Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto, 2020. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/SCUNIFASEFMP/281423-O-DESCONTROLE-DOS-MEDICAMENTOS-CONTROLADOS. Acesso em: 25/07/2025

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