POVOS INDÍGENAS, TRADICIONAIS E PERIFÉRICOS: LÍNGUAS INSURGENTES, DESOBEDIÊNCIA EPISTÊMICA E ALTERNATIVAS A OUTRAS DEMOCRACIAS

Publicado em 26/09/2021 - ISBN: 978-65-5941-340-9

Título do Trabalho
POVOS INDÍGENAS, TRADICIONAIS E PERIFÉRICOS: LÍNGUAS INSURGENTES, DESOBEDIÊNCIA EPISTÊMICA E ALTERNATIVAS A OUTRAS DEMOCRACIAS
Autores
  • JOAO PAULO MACEDO
  • Saulo Fernandes
  • Casé Angatu - Carlos José F. Santos (UESC)
Modalidade
Grupo de Trabalho
Área temática
Eixo 1 – Insurgências estético-políticas e mobilizações coletivas no contemporâneo
Data de Publicação
26/09/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/sbpp/366172-povos-indigenas-tradicionais-e-perifericos--linguas-insurgentes-desobediencia-epistemica-e-alternativas-a-outra
ISBN
978-65-5941-340-9
Palavras-Chave
COLONIALISMOS, DECOLONIALIDADE, POVOS INDÍVENAS, POVOS TRADICIONAIS, POPULAÇÕES PERIFÉRICAS
Resumo
A pandemia causada por COVID-19 exacerbou na contemporaneidade o projeto hegemônico moderno/colonial que tem na gestão da morte, da exploração e do extrativismo suas bases e alicerces. Sabemos, pelas críticas elaboradas em meio as lutas e pensamentos anticoloniais e decoloniais, alicerçadas ainda por pensamentos oriundos de matrizes africanas e indígenas ancestrais, o quanto a modernidade com o seu percurso filosófico e político-econômico tem investido no gerenciamento da realidade global. Com base nos pressupostos hegemônicos eurocentrados, atualizados pelo imperialismo estadunidense e pela sanha do capital financeiro internacional, tal projeto alimenta estruturas de dominação concêntricas e difusas, operadas por dispositivos diversos, que mantêm a ordem do mercado global a partir da exploração e domínio de grupos, populações e territórios. Assim, a racionalidade moderna/colonial institui hierarquias e classificações a partir da raça, invenção moderna, além do controle do conhecimento, impondo às populações periféricas e aos povos tradicionais um modo de governo da vida que explora sua força de trabalho, invisibiliza os seus modos de conhecer o mundo e busca desvalidar ou ceifar formas diversas de sentir e experienciar a vida. No Brasil, o projeto colonial em operação há cinco séculos tem nos feito, a todos nós, como aponta Achille Mbembe em “Crítica da Razão Negra”, carregar o fardo da raça e dos corpos matáveis, dos quais somos herdeiros e subjetivamos tal forma imposta pela modernidade e suas máquinas dominação e extermínio. São máquinas, que sem dúvida, operam pelo estampido ensurdecedor de balas de fuzil e pistolas que abatem corpos negros e indígenas, ou por máquinas, tratores e moto serras que invadem e destroem territórios e expulsam os povos indígenas, tradicionais e periféricos, ou ainda pelo inaudíveis silenciamentos e não ditos impostos pelo mito da democracia racial, que ainda se apresenta com todo vigor enquanto vetor de subjetivação das relações socioraciais no país. Destacamos ainda, que esse projeto tem ganhado relevo com a intersecção dos complexos industriais com espaços de exploração, expropriação, opressão, encarceramento, asilamento e manicomialização e mortificação da vida, a partir de uma necroeconomia da matabilidade e de uma necropolítica que elege corpos mais matáveis que outros, assim como temos visto em meio ao contexto pandêmico e de crise política e sanitária vivida no Brasil. A proposta, portanto, deste GT é acolher comunicações e experiências diversas que se insurgem diante da gramática da política genocida, epistemicida, etnocida e ecocida deflagrada contra os povos indígenas, tradicionais e periféricos no Brasil, na América Latina e no Sul Global. Entendemos que os povos indígenas, tradicionais e periféricos portam experiências ancestrais assentadas na coletividade dos seus territórios e de um mundo assolado por crises epidêmicas, pela destruição da natureza, exploração e violência. E ainda sim, diante disso, continuam a resistir e insistir com lutas e movimentos de re-existência ao narrarem junto a seus parentes e pares um outro mundo ainda possível. É como nos lembra Ailton Krenak ao tratar sobre os horizontes de assolação apresentados pela emergência da pandemia por COVID-19 nos territórios indígenas, o quanto que os acontecimentos presentes não são algo inaugural ou novo. Basta recuperar as inúmeras ofensivas e mazelas perpetradas aos povos indígenas, à população negra e periférica e aos demais povos tradicionais, em razão da corrida incessante por um tipo de progresso e utopia “civilizatória” que colocam em risco e devastam os territórios e a vida desses povos. Na verdade, há um projeto de morte e de domínio instalado desde o encontro violento com a colonização dos povos indígenas e com os deslocamentos afrodiaspóricos vividos pela população negra no processo de escravização, constituinte da formação social brasileira. Assim, para alguns povos os fins de mundo já aconteceram e estão a se repetir diariamente, como afirma Ailton Krenak. Esta racionalidade perversa tem por base a organização de uma hierarquia étnico-racial, interseccionalizada com relações de classe, gênero, sexualidade, origem geográfica, dentre outras, que almeja inferiorizar os povos violentamente colonizados e das periferias urbanas e rurais, na fundação da fantasia da branquitude como modelo do sujeito legítimo da modernidade e do mundo. Estas relações hierárquicas funcionam como dispositivos que atuam em níveis macro, na estruturação da economia política, bem como, em estratos micropolíticos com a regulação e administração dos circuitos dos desejos, das afetações e do imaginário que se inscrevem nos corpos marcados por intersecções diversas. Diante da experiência histórica e coletiva de “convivência” e luta contra as devastações produzidas pelo projeto moderno/colonial, como muito nos ensinam Ailton Krenak e demais lideranças e pensamentos ancestrais de matrizes indígenas e africanas, pretendemos com este GT fazer ecoar e amplificar vozes e experiências forjadas por insurgências estético-políticas, desobediências epistêmicas, mobilizações coletivas e atos de pesquisa e de escrita acadêmica ou de tradição e desempenho oral, orientados(as) para o desfazimento dos colonialismos e dos olhos imperiais que nos habitam no universo da pesquisa, da academia e dos próprios movimentos sociais. Trata-se de acompanhar a movimentação de línguas insurgentes, desobedientes e alternativas à outras democracias que têm (re)emergido e ganhado força na contemporaneidade, expressando modos de resistência e de habitar as tensões, as violências e os conflitos já instalados e vividos pelos povos indígenas, tradicionais e periféricos, diante de uma modernidade que desumaniza e continua a extrair de suas terras, de seus saberes e de suas existências novas formas de expansão da máquina capitalista e colonizadora. Assim, este GT tem por objetivo possibilitar trabalhos, pesquisas, estudos colaborativos, ensaios, relatos e partilha de narrativas, inclusive de forma livre (escrita, oral e por outras formas de expressão), acerca de experiências de lutas, propostos por acadêmicos(as) ou integrantes de coletivos, movimentos sociais, grupos e comunidades indígenas e tradicionais, que venham ao encontro das demandas dos povos indígenas, tradicionais e periféricos, investindo e afirmando possíveis alianças, solidariedades e contribuições com os modos de vida e luta destes povos. Além disso, sugerimos que as propostas possam dialogar com a crítica teórico-política dos colonislismos e suas formas de opressão interseccionais de raça, etnia, classe, gênero, sexualidade, origem geográfica, dentre outras, a partir da discussão sobre narrativas científicas, artísticas, memorialísticas/ancestrais e de lutas e experiências estético-políticas e de resistência, ancoradas nas matrizes indígenas e africanas, dos femininos negros e periféricos e dos debates anticoloniais, descoloniais e decoloniais. Em síntese, os trabalhos a serem compartilhados no GT buscam refletir sobre os colonialismos e seus dispositivos de violência e políticas de controle e de morte que pairam sobre os povos indígenas, tradicionais e periféricos; se colocam implicados com as multiplicidades teórico-metodológicas que subvertam e desobedeçam os colonialismos epistêmicos; que partam de preocupações e visões de mundo para conhecer, compreender e compartilhar as perspectivas, os conceitos, as agendas e os objetivos com que os povos indígenas, tradicionais e periféricos percebem, imaginam e habitam o mundo; que não recaiam em escritas que capturem ou tentem representar sujeitos e grupos sociais na condição de subalternizados, portanto, a partir do lugar do outro como coisificado, a ser colonizado, civilizado, humanizado; que desacomodem e inventem novas sensibilidades e linguagens contra as políticas de silenciamento, paternalistas e de gestão da morte; e que invistam em experiências metodológicas e ético-estético-políticas que assumam o desafio de desmistificar e descolonizar o conhecimento produzido, de modo a contribuir com os processos vividos de autorrepresentação e autonomeação dos povos e comunidades, para fortalecer os movimentos de expansão e restituição dos princípios indígenas, ancestrais e tradicionais, com a reestruturação das questões, dos problemas, das pautas e tomadas de decisão que lhes são próprios.
Título do Evento
XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política | Ofensivas anti-democráticas, colonialidade, experiências de subjetivação política e a crise da democracia no Brasil
Título dos Anais do Evento
Anais do XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MACEDO, JOAO PAULO; FERNANDES, Saulo; (UESC), Casé Angatu - Carlos José F. Santos. POVOS INDÍGENAS, TRADICIONAIS E PERIFÉRICOS: LÍNGUAS INSURGENTES, DESOBEDIÊNCIA EPISTÊMICA E ALTERNATIVAS A OUTRAS DEMOCRACIAS.. In: Anais do XI Simpósio Brasileiro de Psicologia Política. Anais...Belo Horizonte(MG) Online, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/sbpp/366172-POVOS-INDIGENAS-TRADICIONAIS-E-PERIFERICOS--LINGUAS-INSURGENTES-DESOBEDIENCIA-EPISTEMICA-E-ALTERNATIVAS-A-OUTRA. Acesso em: 27/05/2025

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