OS IMPACTOS DAS ELEIÇÕES NORTE-AMERICANAS PARA A AMÉRICA LATINA DIANTE DA DISPUTA GLOBAL ENTRE EUA E CHINA

Publicado em 10/03/2025 - ISBN: 978-65-272-1241-6

Título do Trabalho
OS IMPACTOS DAS ELEIÇÕES NORTE-AMERICANAS PARA A AMÉRICA LATINA DIANTE DA DISPUTA GLOBAL ENTRE EUA E CHINA
Autores
  • Marcela Franzoni
  • Carolina Pedroso
  • Matheus de Oliveira Pereira
Modalidade
Minicurso
Área temática
Geopolítica mundial e a inserção da América Latina
Data de Publicação
10/03/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/pensar-e-repensar/881249-os-impactos-das-eleicoes-norte-americanas-para-a-america-latina-diante-da-disputa-global-entre-eua-e-china
ISBN
978-65-272-1241-6
Palavras-Chave
América Latina; Estados Unidos; política externa; relações interamericanas.
Resumo
A América Latina sofre historicamente com a influência e ingerência dos EUA em suas dinâmicas políticas, sociais, culturais e econômicas. De fato, a assimetria entre Estados Unidos e América Latinha é tamanha que as Relações Interamericanas podem ser caracterizadas pela noção de hegemonia a partir de diferentes tradições teórico-epistemológicas. Deste modo, mudanças políticas no seio da potência hemisférica são sempre observadas com bastante atenção porque podem implicar em consequências expressivas, e diretas, sobre a região. Isto se dá tanto em termos de política externa, isto é, das mudanças que o novo governo pode introduzir nas relações com a América Latina, como também pelos impactos em questões que extrapolam a tradicional dicotomia interno/externo, como migrações, direitos humanos, meio ambiente, entre outros. Neste sentido, o quadro que se desenha para as eleições presidenciais de 2024 é especialmente complexo. O atual presidente, Joe Biden, enfrenta uma difícil campanha pela reeleição em meio à intensa polarização política no país que impulsiona as possibilidades de retorno de seu adversário, o ex-presidente Donald Trump, à presidência. Entender os desafios estruturais da América Latina implica também em analisar as consequências de possíveis mudanças no comando da Casa Branca, considerando o contextual atual da região, profundamente marcado por aspectos da geopolítica contemporânea. Este contexto inclui o caráter crescentemente militarizado da presença norte-americana na região, sintetizado na atuação do Comando Sul (Quarta Frota), o aumento da presença de atores extrarregionais, sobretudo Rússia e China, o retorno de governos de esquerda ao poder, com destaque para Brasil, Colômbia e México, e fortalecimento da ultradireita globalmente, que tem na Argentina sua expressão local mais recente. Considerando este cenário, a proposta deste minicurso é apresentar as repercussões das eleições norte-americanas sobre a América Latina, tendo em vista a disputa geopolítica global entre os Estados Unidos e a China e o quadro de intensa polarização política na região. Para alcançar esses objetivos, o minicurso será desenvolvido através de aulas expositivo-dialogadas, combinadas com a leitura prévia da bibliografia indicada, promovendo um engajamento profundo dos participantes no debate das questões em pauta. As aulas utilizarão recursos tecnológicos como projetor e computador para facilitar a apresentação e discussão dos temas. No contexto mais geral, a América Latina tem sido alvo de considerável desinteresse dos Estados Unidos nos últimos anos. Apesar de termos verificado a presença de alguns temas chave para os países da região na campanha de 2020, como a questão migratória e o combate ao crime organizado, tais agendas mobilizam os países de forma desigual, estando mais circunscrita aos Estados com proximidade geográfica aos EUA. A ausência de uma política consistente para a região nos últimos anos abriu espaço para a consolidação da presença chinesa na América Latina, que passou a disputar com os Estados Unidos o acesso aos recursos naturais e ao mercado regional. A posição de Biden foi tentar reaver rusgas da administração Trump, como no caso da Venezuela e do México, mas nada que pudesse reverter o cenário deixado pelo antecessor. Assim como já manifestado nas eleições de 2020, a China permanece como um dos temas da campanha presidencial dos Estados Unidos, o que tende a continuar produzindo impactos no posicionamento estratégico da América Latina. Tal relevância pode ser atribuída pela crescente participação do país asiático na economia internacional, motivada pelo seu potencial produtivo e a internacionalização das empresas chinesas. Por um lado, a ascensão econômica da China ampliou as oportunidades comerciais dos países latino-americanos devido ao aumento da demanda por bens primários, levando ao que se conheceu na primeira década do século XXI como boom das commodities. Por outro lado, a intensificação do comércio exterior com a China representa um desafio para os países latino-americanos, sobretudo para os mais industrializados, como Brasil, México e Argentina. A chegada dos produtos chineses, associado às dificuldades já enfrentadas pela indústria nacional dos países, produziu um efeito de reprimarização da pauta produtiva do Brasil e da Argentina. No caso do México, o impacto na indústria mexicana foi menor devido ao alto grau de dependência econômica em relação aos Estados Unidos e a vigência do Acordo Estados Unidos-México-Canadá. O cenário de competição Estados Unidos-China abre um conjunto de novas oportunidades, mas também de novos desafios para os países da América Latina. Dessa forma, torna-se indispensável entender como os dois candidatos, Trump e Biden, planejam lidar com o país asiático, entendendo que a intensificação da disputa entre as duas superpotências produzirá resultados diretos e indiretos na região. Os países podem se beneficiar com a chegada de investimentos chineses em setores como de infraestrutura, energético e industrial, além do incremento do comércio exterior. No entanto, o aproveitamento destas oportunidades depende do manejo dos problemas estruturais que a região enfrenta, como a violência, a falta de competitividade e a desigualdade persistente. Além disso, os países enfrentam um agravamento da polarização política, muitas vezes faceado por violência e intolerância. Para além de evidenciar as divergências em torno da estratégia de desenvolvimento, a radicalização assume forma anti-democrática em alguns países, enfraquecendo as instituições políticas e dificultando o enfrentamento dos problemas estruturais que os países já enfrentavam. Do ponto de vista regional, o contexto atual de crise nas instituições, como da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, e a preferência da China por acordos bilaterais dificultam a convergência entre as lideranças nacionais, que muitas vezes preferem negociar bilateralmente com as superpotências. Deve-se ressaltar ainda que o interesse da China pela região está relacionado com as vantagens competitivas que cada país possui, como o setor manufatureiro mexicano, o petróleo na Venezuela e outros recursos naturais, como lítio, cobre etc. Os Estados Unidos, por sua vez, mesmo diante da intensificação da disputa com a China, têm se mantido pouco interessado na região. A agenda hemisférica também se encontra ausente no debate eleitoral estadunidense, o que pode ser um indicativo de poucas mudanças para o próximo ciclo presidencial. Por ser um tema de grande abrangência, vamos trabalhar com estudos de caso da relação dos Estados Unidos com três atores de grande relevância na região, a saber: México, Argentina e Venezuela. De maneira transversal, também abordaremos o caso do Brasil e quais os impactos que eleições dos EUA poderão ter na realidade brasileira. No caso do México, as relações com os Estados Unidos têm sido marcadas por forte proximidade econômica devido ao Acordo Estados Unidos-México-Canadá, mas também por uma tentativa permanente de conquistar certa autonomia através da via política, tais como a participação nas instituições multilaterais. A promessa de Trump de construir um muro na fronteira binacional e de acabar com o NAFTA empurrou as lideranças mexicanas para a agenda determinada pelos Estados Unidos, dificultando o avanço em temáticas mais favoráveis ao país latino-americano. Ainda assim, foi possível observar diversos pontos de convergência entre Andrés Manuel López Obrador, o primeiro presidente considerado de centro-esquerda no México, e Trump, ainda que Obrador tenha encontrado pouco espaço para avançar sua própria agenda. Dado que as relações possuem forte caráter estrutural, a mudança de governo na Casa Branca tende a ter menor impacto que em outros países da região. Além disso, apesar da forte assimetria que marca as relações bilaterais, o México é um ator estratégico para os Estados Unidos, atualmente o principal sócio comercial, seguido pela China. Algumas empresas norte-americanas têm se instalado no México aproveitando-se das vantagens comparativas do país, como a proximidade com o mercado consumidor e o baixo custo da mão de obra (nearshoring). Neste ano, as eleições estadunidenses coincidiram com eleições presidenciais no México, que elegeu a primeira mulher no mais alto cargo do país, Claudia Sheinbaum. Os discursos não nos permitem afirmar que haverá alguma mudança substantiva no padrão das relações bilaterais, mas sim que o México continuará tendo um papel estratégico para as empresas norte-americanas e na contenção dos fluxos migratórios que utilizam o país como território de trânsito. O caso argentino exprime com clareza as tensões que envolvem as eleições do EUA e o quadro geopolítico atual, devido aos vínculos da extrema-direita global, exemplificados por Donald Trump e Javier Milei, e seus impactos ampliados pela disputa entre China e EUA. Argentina e Estados Unidos têm um histórico de relações oscilantes, alternando entre momentos de maior autonomia nacional e períodos de adesão às agendas dos EUA. Nas últimas duas décadas, a Argentina aproximou-se significativamente da China, primeiro a partir de swaps cambiais realizados no início da década passada. Durante os anos seguintes, essas relações se expandiram para acordos políticos, culturais e estratégicos, como a construção da usina nuclear Atucha III. Esta aproximação é frequentemente destacada como evidência de uma perda de terreno dos EUA para a China, diagnóstico especialmente frequente junto aos oficiais das Forças Armadas norte-americanas que atuam na Quarta Frota. A eleição de Javier Milei em novembro de 2023, um político de extrema-direita abertamente sinofóbico, está sendo aproveitada pelos EUA para mitigar a aproximação com a China. A continuidade, e o êxito, destes esforços é um dos aspectos diretamente impactados pelo cenário eleitoral dos Estados Unidos, haja visto os importantes vínculos nutridos por Trump e Milei. Historicamente, as relações de EUA e Venezuela foram cordiais e de relativo alinhamento até 1999, quando ascendeu ao poder o projeto da Revolução Bolivariana, liderado por Hugo Chávez Frías. Embora do ponto de vista comercial tenha se mantido o pragmatismo que caracterizou os laços bilaterais, no âmbito político diplomático houve uma escalada de tensões que chegou ao rompimento da relação e acusações mútuas. De um lado, a Venezuela apontava a ingerência dos EUA em seu processo político, financiando grupos que participaram de um golpe de Estado contra Chávez em 2002 e que seguiram agindo no sentido de desestabilização do processo bolivariano. Do outro, os EUA se tornaram críticos das ações chavistas, destacando as violações aos direitos humanos e a transição autoritária vivida pelo país. Vale notar que até 2016, mesmo com as relações bastante esgarçadas no final do período de Obama, as animosidades não necessariamente resvalavam no cerne do comércio entre os países, que é o petróleo (lembrando que a Venezuela detém as maiores reservas mundiais desse recurso). Essa situação mudou a eleição de Donald Trump, que passou a sancionar a economia venezuelana – já abalada com a crise que assolava o país desde 2014 – atingindo o núcleo duro das receitas de petróleo e os ativos internacionais. Ainda que Biden não tenha colocado fim às restrições impostas ao regime de Nicolás Maduro, houve mais espaço para diálogo, sobretudo no contexto da persistência do conflito na Ucrânia e a necessidade de buscar outras fontes energéticas e de aumento da presença russa e chinesa na Venezuela e na América Latina. Assim, diante de um cenário de possível retorno do republicano Trump à Casa Branca, as implicações para a Venezuela de Maduro podem ser decisivas para a Revolução Bolivariana, que deve completar 25 anos no poder em 2024 e disputará eleições com uma oposição bastante alinhada aos interesses norte-americanos. Ao final do minicurso, espera-se que os participantes sejam capazes de: a) Identificar a relevância das dinâmicas políticas nos Estados Unidos sobre as relações com a América Latina; b) Situar o quadro atual das relações interamericanas no contexto da rivalidade sino-estadunidense e do fortalecimento da extrema-direita na região; c) Avaliar os impactos dos resultados eleitorais nos Estados Unidos para as relações com a América Latina. Dessa forma, o minicurso busca discutir, à luz das eleições presidenciais nos EUA, o impacto das questões estruturais e conjunturais que marcam as relações entre os Estados Unidos e a América Latina. A presença chinesa, inicialmente restrita ao comércio, torna-se cada vez maior e mais complexa, incluindo uma carteira de investimentos maciços em infraestrutura, acordos comerciais e empréstimos. Diversos países da região têm se beneficiado economicamente desses investimentos, reforçando laços com Pequim. Sem surpresas, este cenário gera cada vez mais preocupação em Washington, que tem intensificado seus esforços diplomáticos e comerciais para contrabalançar a influência chinesa, promovendo iniciativas como a Parceria para a Prosperidade Econômica das Américas. Com efeito, uma das críticas mais frequentes apresentadas por republicanos e democratas à política externa do governo Biden é justamente uma suposta falta de firmeza na resposta à presença chinesa na América Latina. Os casos da Venezuela, do México e da Argentina podem ser ilustrativos de vários destes aspectos, além de motivarem intensas reflexões sobre a própria realidade brasileira.
Título do Evento
IV Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina II Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina e do Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FRANZONI, Marcela; PEDROSO, Carolina; PEREIRA, Matheus de Oliveira. OS IMPACTOS DAS ELEIÇÕES NORTE-AMERICANAS PARA A AMÉRICA LATINA DIANTE DA DISPUTA GLOBAL ENTRE EUA E CHINA.. In: Anais do simpósio internacional pensar e repensar a América Latina e do congresso internacional pensamento e pesquisa sobre a América Latina. Anais...Sao Paulo(SP) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/pensar-e-repensar/881249-OS-IMPACTOS-DAS-ELEICOES-NORTE-AMERICANAS-PARA-A-AMERICA-LATINA-DIANTE-DA-DISPUTA-GLOBAL-ENTRE-EUA-E-CHINA. Acesso em: 07/08/2025

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