PARAGUAI EM MÚLTIPLAS MIRADAS E EM DIÁLOGO COM A AMÉRICA LATINA

Publicado em 10/03/2025 - ISBN: 978-65-272-1241-6

Título do Trabalho
PARAGUAI EM MÚLTIPLAS MIRADAS E EM DIÁLOGO COM A AMÉRICA LATINA
Autores
  • Ana Paula Squinelo
  • Barbara Natalia Gomez
  • Leonam Lauro Nunes Silva
Modalidade
Seminário de Pesquisa
Área temática
Dimensões históricas da América Latina
Data de Publicação
10/03/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/pensar-e-repensar/818660-paraguai-em-multiplas-miradas-e-em-dialogo-com-a-america-latina
ISBN
978-65-272-1241-6
Palavras-Chave
Paraguai; América Latina; Histórias Conectadas; Ensino de História; Relações Internacionais/Inter-regionais; Redes de sociabilidade; Guerra do Paraguai/Guasu.
Resumo
A história latino-americana foi escrita pelos vencedores, via de regra europeus que invadiram, saquearam e brutalmente “colonizaram” e “domesticaram” os povos originários e a partir de suas perspectivas de civilização gestaram uma narrativa e uma memória que visibilizou a grande empresa europeia, branca e patriarcal, negando, silenciando, ocultando e invisibilizando outras possibilidades de existência como as dos povos originários e afroamericanos. Tal fato marcou a história do Paraguai na medida que esta foi perpassada pelo olhar do colonizador espanhol que negou por exemplo a existência dos povos originários. Ressaltamos que o Paraguai de acordo com Squinelo, Campos e Quinteros (2022, p. 183): [...] é um país que atravessou duas guerras internacionais (a guerra contra a Tríplice Aliança e a do Chaco), por inúmeros confrontos internos (principalmente na primeira metade do século XX) e pela ditadura mais longa da história latino-americana (o stronismo). Aproximando a lente, a história desta nação se mostra bem mais complexa do que uma insípida frase que enumera uns poucos dados políticos. Mas, não há dúvida de que alguns desses fatos enumerados, especialmente a Guerra Guasu, tem se convertido na coluna vertebral tanto para relatar a história nacional quanto para construir uma identidade nacional. As autoras e o autor ressaltam ainda que: Após o Paraguai ser derrotado pela Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai), o cenário era desolador pela devastação provocada pelos longos cinco anos traduzidos em perdas territoriais, materiais e humanas. Os anos seguintes foram de inúmeras tentativas de reconstruir um país arrasado. As elites tiveram que conciliar a necessidade de reestruturar a economia com uma população dizimada e organizar um Estado que surgia segundo a Constituição de 1870, fiel ao modelo liberal argentino. A passagem do exército brasileiro de ocupação, a crescente presença de empresários argentinos e a narrativa dos vencedores aumentaram a percepção de que a derrota devia ser repensada em termos de identidade e de memória, de modo de reconstruir também uma simbologia que dera fundamentos para uma autoestima positiva. (SQUINELO; CAMPOS; QUINTEROS, 2022, pp. 183-184) A ‘Guerra Guasu’, hoje, segue sendo pauta para uma série de trabalhos acadêmicos, que se dedicam a investigar dimensões do conflito, gerando questionamentos, cujas respostas requerem estudos aprofundados e interseccionais; afinal o maior evento bélico ocorrido no continente além de impactar de forma brutal o Paraguai, também ecoou pelos países vizinhos. Esse simples direcionamento da mirada abre um portal de possibilidades, que conduzem a pensar sobre as relações diplomáticas do Paraguai com outros atores internacionais e o grau de envolvimento dessas nações com o desenrolar do evento bélico. Um exemplo disso é a Bolívia. Pesquisa publicada em 2021 revela a participação boliviana no curso do conflito, que resultou, inclusive, na celebração de tratados internacionais em meio à guerra, bem como alimentou o trânsito de pessoas e o comércio nas regiões fronteiriças (Paraguai, Brasil e Bolívia), alvo de litígios históricos (SILVA, 2021). Entende-se, portanto, que as fontes produzidas no decurso do confronto militar apontam para o antes, o durante e o depois, num diálogo entre as temporalidades, necessário para uma compreensão mais apurada sobre tudo que permeou aquela atmosfera marcada por estampidos de tiros e pelo cheiro de pólvora exalado. As consequências herdadas da Guerra do Paraguai/Guasu causaram uma crise econômica tão profunda que levou o governo nacional a vender mais da metade das terras públicas e produtoras de erva-mate do país. As vendas ocorridas na década de 1880 alteraram a configuração socioeconômica do país até os dias de hoje, deixando uma massa significativa de camponeses sem terra e sem trabalho. Os novos proprietários, na sua maioria estrangeiros, fortaleceram ainda mais a indústria extrativa, que não favoreceu o desenvolvimento socioeconómico, sempre com a anuência dos governos. Foi também durante o período pós-guerra que os partidos políticos que sustentaram a mais longa ditadura da Latinoamérica no século XX – a de Alfredo Stroessner – foram formados e continuam a governar o Paraguai mesmo no século XXI. Neste difícil contexto do pós-guerra e da virada do século, surgiu uma pequena elite intelectual que se articulou com as elites regionais das capitais vizinhas: Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires e Santiago, mas também da Europa, especialmente da Espanha, que tentou construir políticas educacionais e sociais críticas para as necessidades do contexto. Formaram espaços de intercâmbio cultural como o Instituto Paraguaio, entre outros. As três primeiras décadas do século XX e a subsequente Guerra com a Bolívia pelos territórios do Chaco (1932-1936) levaram à consolidação de governos militares que limitaram e reduziram a atividades educacional e intelectual que havia sido construída e consolidaram um modelo educacional onde os Heróis eram apenas militares. Os aspetos ditos contribuíram para que de certa forma a profissionalização na área de humanas se retardasse, se comparada por exemplo, a outros países latino-americanos. Fato que foi intensificado com a ascensão ao poder de Alfredo Stroessner (1954-1989) cujo período foi marcado por perseguições, torturas, assassinatos e o controle do conhecimento e da informação. A produção histórica oficial do regime se concentrou em fortalecer e consolidar as figuras militares das guerras. Os historiadores que escreviam na “margem do regime” pesquisavam sobre o período colonial. As renovações historiográficas ocorridas no século XX com a Escola de Annales que foi tão marcada nos países vizinhos no Paraguai não ocorreu. Nessa perspectiva destacamos que no país guarani, a queda do regime de Alfredo Stroessner, ocorrida no ano de 1989, e a consequente descoberta do “Arquivo do Terror” no ano de 1992 por Martin Almada, trouxeram à baila um conjunto de documentos até então inacessíveis ao/a investigador/a. Tal fato, aliado a profissionalização, em especial, do ofício do/a historiador/a vivenciado no Paraguai nas últimas décadas levou pesquisadores/as de distintas áreas, como a Sociologia, Antropologia e História, por exemplo, a se debruçarem sobre o passado recente latino-americano, trazendo à tona novas perspectivas de análise a temas tidos como consolidados, assim como novas abordagens, novas fontes e novos objetos passaram a ser explorados, permitindo que o Paraguai abrisse também o diálogo com outros interlocutores. Ressalta-se também que a formação do Mercosul em 1991 favoreceu a circulação de bens, recursos e serviços entre os países membros e nessa conjuntura destaca-se o quanto ajudou o Paraguai a articular-se e conectar-se nos aspectos educacionais e culturais com os países que antigamente formaram a Tríplice Aliança. Levando em consideração esse cenário atual que consideramos profícuo o presente Seminário de Pesquisa tem como objetivo reunir pesquisadores e pesquisadoras de distintas áreas do saber, como por exemplo: história, geografia, jornalismo, sociologia, antropologia, artes visuais, economia, entre outras, com o intuito de acolher, apresentar e debater pesquisas em andamento ou concluídas e que dialoguem diretamente com o Paraguai em suas múltiplas miradas: históricas, econômicas, geográficas, sociológicas, antropológicas, educacionais, culturais, sociais, políticas, diplomáticas etc. Ressalta-se que nos interessam pesquisas que tenham trabalhado com distintas fontes de análise, como as vinculadas: à imprensa, ao cinema, ao teatro, aos jornais, aos arquivos oficiais, a literatura, as narrativas didáticas, aos discursos, aos intelectuais, as biografias, as redes sociais etc. A proposta do Seminário de Pesquisa converge com o tema proposto pelo encontro na medida em que propõe discutir o Paraguai em um contexto amplo, sem, contudo, negligenciar sua inserção na América Latina. Nesse sentido, a dimensão transnacional também tem muito a oferecer, pois ao longo do processo histórico a sociedade paraguaia recepcionou, em diferentes contextos políticos e sociais, cidadãos estrangeiros, que, ao estabelecerem relações com a cultura local, ajudaram a tecer os fios que moldam distintos projetos de identidade nacional, com suas intencionalidades, usos e abusos, que ecoaram e continuam ecoando por todo o continente. Assumir a transnacionalidade como elemento das migrações significa observar com mais atenção uma das suas faces há tempos escondida e anulada, uma vez que elas não são compostas somente por uma viagem de ida a um país diferente. Isto é somente um detalhe frente a todas as relações, intercâmbios, influências e redes que englobam as migrações transnacionais, atravessando fronteiras, interagindo com os locais de origem e incorporando no cotidiano aspectos de bifocalidade e de estilos de vida transnacionais. Essa mirada carrega em si a interculturalidade, ferramenta necessária para romper paradigmas de natureza etnocêntrica, especialmente com relação às abordagens realizadas, muitas vezes circunscritas dentro da esfera ‘Estado-Nação’. Pensar e repensar o país guarani em suas distintas facetas propicia o entendimento não apenas das diversas dimensões históricas da América Latina, mas também de suas dimensões culturais, sociais e econômicas. A compreensão do Paraguai como um país com especificidades no continente latino-americano, permite-nos ainda compreender a formação de processos históricos calcados em distintos momentos da história latino-americana: a dos povos originários, a “colonial”, a dos movimentos de independências, conflitos bélicos, as rupturas e a formação das ditaduras militares no cone-Sul, configuram-se como alguns exemplos. Com isso, evidencia-se o potencial do Paraguai enquanto tema fomentador de discussões complexas, que avançam para as relações fronteiriças, desenvolvidas historicamente em lugares de intensos deslocamentos, marcados por fluxos migratórios que percorreram as “veias abertas latino-americanas”, como bem cunhou o pensador e escritor uruguaio, Eduardo Galeano. São nessas fronteiras, ambiente de disputas, litígios e enfrentamento bélicos e, por isso, normalmente encaradas como lugares de ‘corte’, separação, onde encontros acontecem, revelando as ‘costuras’. Tais movimentos fazem das fronteiras lugares orgânicos, vivos, mutáveis, características que incitam intercâmbios culturais e o desenvolvimento de projetos que abarcam as realidades experimentadas pelas comunidades que vivem em regiões limítrofes, separadas por barreiras imaginárias erigidas ao longo dos séculos. As divisões político-administrativas traçadas por meio de linhas imaginárias foram e são formas de afirmação do poder colonial e, posteriormente, dos Estados Nacionais. Em sintonia com o campo das histórias conectadas e das Relações Inter-regionais, a América Latina se descortina por meio de abordagens que valorizam o humano, entendendo que as práticas vivenciadas nas regiões fronteiriças causam impacto nas políticas dos Estados, obrigando-os a intervirem diante de ações que não contemplam seus interesses e/ou colocam em xeque seu poder. Comerciantes, intelectuais, escravizados/as, povos originários, fazendeiros/as, lavradores/as do campo, trabalhadores/as das cidades, políticos/as, jornalistas são alguns dos/as ‘fiadores’ dessas novas redes de sociabilidade, que atuam alterando as paisagens naturais e humanas na América Latina. Interessados em compreender essas dinâmicas, países têm formulado políticas públicas baseadas em estudos cujo mediador, cada vez mais, é o elemento cultural; assim, é possível ir ao âmago de relacionamentos que se desenvolvem fugindo daquela concepção mais inclinada ao pragmatismo, adotada pelos poderes centrais. O processo de engendramento desta proposta é marcado, sobretudo, pelo desejo em exercitar a comunicação intercultural com vários agentes que se incumbiram da missão de pensar o continente, produzindo narrativas que escapam de um viés, eminentemente, nacionalista, derramando-se por entre as fronteiras. Isso está, contundentemente, refletido no crescente diálogo e intercâmbio entre pesquisadoras e pesquisadores paraguaias/os e de outros países latino-americanos; as e os “paraguaystas” contribuíram para que, sobretudo, nas últimas décadas viesse à tona uma série de ações conjuntas, como a publicação de Dossiês Temáticos, Artigos Científicos, Livros, Coletâneas, organização de eventos acadêmicos e criação de organizações, redes, comitês, grupos de pesquisa e associações acadêmicas que tem ano a ano fortalecido as parcerias acadêmicas e intelectuais e complexificando o Paraguai como objeto de estudo. Cabe ressaltar a criação no Paraguai, no ano de 2015, o Comitê Paraguaio de Ciências Históricas (CPCH) e, no Brasil, no ano de 2017, foi fundada a Ñande – Rede de Pesquisadoras e Pesquisadores sobre o Paraguay, que reúne investigadores/as do Prata, tecendo assim uma significativa rede de diálogo e fomento à pesquisa e publicações. Nesse sentido, esse Seminário de Pesquisa destina-se a professores e professoras da rede pública e privada das esferas municipal e estadual de ensino, assim como os/as do/as nível superior, estudantes de graduação e pós-graduação e visa promover as discussões abaixo relacionadas: • Redes de sociabilidade: intelectuais, políticas, culturais e econômicas do Paraguai e entre o Paraguai e América Latina. • Atores políticos, culturais e intelectuais de ação transnacional. • Historiografia do e sobre o Paraguai da independência até atualidade. • Imagens, sujeitos e sujeitas no contexto da Guerra do Paraguai/Guasu. • Ensino, metodologias e linguagens sobre a Guerra do Paraguai/Guasu. • Narrativas escolares, didáticas e currículo sobre a Guerra do Paraguai/Guasu. • Cotidiano, religiosidade, doenças e práticas de cura no contexto da Guerra do Paraguai/Guasu. • Escritas de Si na região platina (Cartas, Diários, Memórias). REFERÊNCIAS: GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2010. SQUINELO, Ana Paula; CAMPOS, Herib Caballero; QUINTEROS, Marcela Cristina. A história do Paraguai a partir da perspectiva dos Estudos Culturais: narrativas, limites e possibilidades. In: SOUSA, Fábio da Silva; BUENO, Helen Paola Vieira (orgs.). Sujeitos e linguagens: novos olhares dos estudos culturais Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2022, pp. 181-205. SILVA, Leonam Lauro Nunes da. A Bolívia e seu protagonismo na Guerra Grande (1865-1868). Curitiba: Appris, 2021.
Título do Evento
IV Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina II Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina
Cidade do Evento
São Paulo
Título dos Anais do Evento
Anais do Simpósio Internacional Pensar e Repensar a América Latina e do Congresso Internacional Pensamento e Pesquisa sobre a América Latina
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SQUINELO, Ana Paula; GOMEZ, Barbara Natalia; SILVA, Leonam Lauro Nunes. PARAGUAI EM MÚLTIPLAS MIRADAS E EM DIÁLOGO COM A AMÉRICA LATINA.. In: Anais do simpósio internacional pensar e repensar a América Latina e do congresso internacional pensamento e pesquisa sobre a América Latina. Anais...Sao Paulo(SP) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/pensar-e-repensar/818660-PARAGUAI-EM-MULTIPLAS-MIRADAS-E-EM-DIALOGO-COM-A-AMERICA-LATINA. Acesso em: 06/07/2025

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