GEOGRAFICIDADES DE UMA CASA TEMPORÁRIA: CRÔNICAS DE UMA CURITIBA LIDA, VIVIDA E ESCRITA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
GEOGRAFICIDADES DE UMA CASA TEMPORÁRIA: CRÔNICAS DE UMA CURITIBA LIDA, VIVIDA E ESCRITA
Autores
  • Anthony Almeida
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações do espaço
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901777-geograficidades-de-uma-casa-temporaria--cronicas-de-uma-curitiba-lida-vivida-e-escrita
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
geograficidade, mundo vivido, crônica, Curitiba
Resumo
Introdução Decidi sair do Recife/PE para passar três meses em Curitiba/PR. 2023: maio, junho e julho. Dei de cara com o inverno do sul. Cronista quando viaja não se contém apenas na viagem, escrevi, portanto. Durante a minha estadia na capital paranaense, digitei alguns textos e compartilhei cada um deles no Medium, depois os recompartilhei no Instagram e WhatsApp. Um deles também saiu na Cena Revista. Emigrei e, enquanto imigrante, li e escrevi as imagens poéticas que vivi. Reuni as 60 crônicas da minha Curitiba lida, vivida e escrita num projeto de livro literário chamado "Uma casa temporária". O caminho dos textos resulta da minha perambulação e cria um mosaico das minhas experiências e dos meus lugares curitibanos. Com algumas poucas adaptações feitas para este trabalho, o parágrafo acima é parte da nota introdutória do livro produzido e mencionado. Aqui, o objetivo é discutir, para além do fazer cronístico, o fazer geográfico a partir de uma linguagem literária. A crônica e o registro da geograficidade Escrevo crônicas desde 2015. Trata-se de trabalho literário feito, inicialmente, de forma amadora, com divulgação dos textos na internet, e, posteriormente, de maneira profissional, com publicação semanal em jornal e revista. Hoje, sou cronista da Revista Mirada e editor-adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Parte do meu ofício de cronista está reunido em Almeida (2024). No campo das reflexões científicas, apresentei algumas contribuições didáticas, sobre o uso da crônica em sala de aula, em Almeida (2022), e heurístico-metodológicas, sobre a crônica na Geografia, em Almeida (2023a). Sobre o uso da crônica para o registro da geograficidade, discorro melhor em três outros trabalhos, uma palestra, registrada em vídeo (Almeida, 2023b), e em mais dois textos (Almeida 2024a; 2024b). Para Eric Dardel (2015), a geograficidade é uma relação concreta que liga o ser humano à Terra e que integra a sua existência e o seu destino. Tal relação pode se dar por meio do amor ao solo natal e pela busca de novos ambientes. Dentro de uma experiência de viagem, busquei explorar e observar o espaço visitado, e vivido episodicamente, com atenção a esta geograficidade. Registrei-as em minhas experiências e em textos autobiográficos. Seu conteúdo carrega a verossimilhança e o retrabalho da realidade com base no uso de recursos estilísticos literários. Em “O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica”, Eric Dardel (2015) vai nos apresentando e discutindo o espaço geográfico de acordo com a geograficidade de vários autores que cita. Seus exemplos e argumentações são sustentados por experiências de outros homens. Ao ler um relato do geógrafo Vidal de La Blache, sobre a floresta do Vosges, ele valorizou a construção do conhecimento geográfico por meio do uso de uma linguagem que ajuda a iluminar o objeto de estudo. Para Dardel, “o rigor da ciência não perde nada ao confiar sua mensagem a um observador que sabe admirar, selecionar a imagem justa, luminosa, cambiante. Ele somente dá ao termo concreto seu amparo e sua medida” (Dardel, 2015, p. 3). O estilo da prosa Lablachiana encanta Dardel: "(...) pela graça do estilo, o leitor compreende mais claramente esse texto sobre o litoral. Dessa interpretação feita por um geógrafo, temos acesso quase sem transição para o mundo do romancista” (Dardel, 2015, p. 3). “E mais: (...) a linguagem do geógrafo sem esforço transforma-se na do poeta. Linguagem direta, transparente, que ‘fala’ sem dificuldade à imaginação, bem melhor, sem dúvida, que o discurso ‘objetivo’ do erudito, porque ele transcreve fielmente o ‘texto’ traçado sobre o solo (Dardel, 2015, p. 3)”. Ainda em diálogo com Eric Dardel (2015, p. 6), considero uma de suas reflexões sobre a experiência geográfica: seja tal experiência simples ou profunda, ela “(...) convida o homem a dar à realidade geográfica um tipo de animação e fisionomia em que ele revê sua experiência humana, interior ou social”. Logo, para além da subjetividade e da minha pessoalidade enquanto cronista que escreve em primeira pessoa do singular, ou seja, que é narrador-personagem e protagonista dos textos, o que me interessa é registrar, ou melhor, transcrever as geograficidades dos episódios da viagem, dos lugares e das paisagens vivenciadas durante a jornada. Curitiba lida/vivida Como epígrafe da série de crônicas, disponível na integra em Almeida (2024c), recorri ao poeta Manuel Bandeira. “Vi terras da minha terra / Por outras terras andei / Mas o que ficou marcado / no meu olhar fatigado / foram as terras que inventei” (Bandeira, 0000, p. 00). Com ela, sintetizo o espírito do livro do meu exercício de cronicar as minhas geograficidades durante os três meses vividos em Curitiba. Na crônica “Seis olhos para Curitiba”, escrita ainda no Recife, inicio as minhas reflexões. “Sairei da minha casa provisória, num pensionato ou quarto no apartamento de um conhecido, num leito de hotel, num sofá de um amigo ou, talvez, de todos eles um pouco, com seis olhos — dois para a Curitiba real, dois para a Curitiba que li e imaginei, dois para a Curitiba que criarei. Precisarei de mais olhos que o poeta. Ele, com quatro, olhou a São Paulo que visitava e que visitara. Eu, com seis, morarei, encararei a imaginada, criarei a que viverei. Sairei do Recife com três Curitibas na bagagem”. Com esta metáfora dos seis olhos, consegui expressar parte das minhas expectativas ao me mudar para a capital paranaense. Parte dessa motivação se deu por causa da obra cronística de Luís Henrique Pellanda (0000, 0000, 0000, 0000). Este cronista, que me fez enxergar a Geografia na Literatura, me inspirou e seu estilo se tornou uma referência para mim. Um dos volumes, "Detetive à Deriva" (Pellanda, 0000), contém 69 crônicas, das quais 38 mencionam Curitiba. Ignácio de Loyola Brandão, na quarta capa do livro, diz: "Há uma Curitiba real e uma Curitiba imaginária. Pellanda cultua fantasmas ainda não arquivados, retratando-os em suas crônicas. Crônicas imperdíveis, para serem lidas lentamente, como um livro de horas" (Brandão, 0000). Já vivendo na cidade paranaense, além de lida, Curitiba se tornou, para mim, vivida e escrita. Curitiba vivida/escrita A partir de maio de 2023, passei também a escrever a minha própria Curitiba. Em “O vulto sem a menina no colo”, registro as primeiras impressões da experiência. “Caminho pela Curitiba real. Caminho e, sob o generoso sol da manhã, venho ganhando, pegada por pegada, as entranhas da cidade, ainda resfriada pela noite de outono. Do bairro, me aprofundo pelas ruas do Centro e, pedestre, escrevo o meu destino com os pés. Só que não venho sozinho. Atento a tudo, meus muitos olhos vislumbram mais, muito mais, do que a realidade das ruas. Espectros, aparições, visagens. Vultos da Curitiba que li e imaginei se concretizam pelo percurso que testo. Não, não é somente um teste. São caminhos que esquadrinho e transfiguro. O labirinto de ruas literárias, antes apenas lidas e concebidas por meio das crônicas de Luís Henrique Pellanda, transforma-se. Passo a passo, reconheço as vias, alguns edifícios e mesmo os pombos que zanzam pelos ares e praças me parecem familiares. Espio ainda os urubus que, do alto de seus prédios, me espreitam. Sei dos seus métodos e não só me sinto, estou, de fato, bem vivo. Não tenho medo deles. Leio as placas nas esquinas e, quase que íntimo, identifico os seus nomes. São os meus primeiros passos por estas ruas, mas não é a primeira vez que me movimento por elas, ainda que seja mesmo a primeira vez”. Daí em diante, muitas experiências foram registradas em crônicas. Destaco desde a construção de uma casa/lugar, em “Casa temporária”. "Curitiba, seja o meu abrigo, me permita te explorar e me emaranhar pelo teu chão, teu céu e teu concreto enquanto me detenho em ti. Será um gosto te conhecer melhor. Sim, será! (...) De um canto assim tão íntimo, espero não menos que ele seja, de fato, uma casa". Até os laços afetivos, construídos durante a estadia, e a própria despedida da cidade, em “ Verão no inverno”: "Ao inverno invicto, venero os verões — verões de vivências". Considerações finais Neste texto, compartilho minhas experiências como cronista durante uma estadia de três meses em Curitiba, destacando a intersecção entre geografia e literatura. A partir das minhas observações, exploro a ideia de geograficidade. Utilizo as crônicas como ferramenta para registrar e refletir sobre as geograficidades que vivenciei em Curitiba, abordando a cidade não apenas como um espaço físico, mas como uma experiência sensorial e emocional. Inspirado por autores como Eric Dardel e Luís Henrique Pellanda, argumento que a escrita literária pode capturar nuances da realidade geográfica que o discurso científico tradicional pode não alcançar. Essa abordagem literária me permite expressar a dualidade entre a Curitiba real e a imaginada, criando um mosaico de experiências pessoais e culturais. Durante minha estadia, escrevi crônicas que abordam desde as paisagens urbanas e a arquitetura até as interações sociais e as reflexões pessoais que emergem desses encontros. Em meus textos, exploro o cotidiano de Curitiba com um olhar atento, utilizando metáforas e descrições vívidas para transmitir as múltiplas camadas de significados que a cidade pode oferecer a um observador sensível. Isto posto, reforço a importância de reconhecer e valorizar as geograficidades presentes nas experiências urbanas. Concluo que, através da escrita e da observação cuidadosa, é possível criar uma conexão mais profunda com os espaços que habitamos, transformando uma "casa temporária" em um lugar de significados duradouros. Assim, não apenas documento minha jornada, mas também convido os leitores a refletirem sobre suas próprias relações com os lugares que ocupam e visitam.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ALMEIDA, Anthony. GEOGRAFICIDADES DE UMA CASA TEMPORÁRIA: CRÔNICAS DE UMA CURITIBA LIDA, VIVIDA E ESCRITA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901777-GEOGRAFICIDADES-DE-UMA-CASA-TEMPORARIA--CRONICAS-DE-UMA-CURITIBA-LIDA-VIVIDA-E-ESCRITA. Acesso em: 05/07/2025

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