RAPOSA MAGAZINE: MODERNIZAÇÃO E IMAGINÁRIO URBANO NA CURITIBA DOS ANOS 1980 EM REVISTA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
RAPOSA MAGAZINE: MODERNIZAÇÃO E IMAGINÁRIO URBANO NA CURITIBA DOS ANOS 1980 EM REVISTA
Autores
  • Francisco Camolezi
  • Myrian Regina Del Vecchio de Lima
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações da cidade e do urbano
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901742-raposa-magazine--modernizacao-e-imaginario-urbano-na-curitiba-dos-anos-1980-em-revista
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Revista, cidades, modernização
Resumo
Apresento, aqui, um primeiro esboço de uma pesquisa em andamento, com previsão de conclusão para dezembro de 2024. Realizada no contexto do meu Trabalho de Conclusão de Curso na graduação de Jornalismo na Universidade Federal do Paraná, a pesquisa tem como objetivo relacionar a Raposa Magazine, publicada na década de 1980, pela Fundação Cultural de Curitiba, órgão da Prefeitura Municipal, com o projeto político urbanístico da cidade na época. A premissa é que, passada a institucionalização do planejamento urbano em Curitiba na década de 1940 com o Plano Agache (OLIVEIRA, 2000; MENEZES, 1996), a gestão da cidade percebe que, para tornar Curitiba uma cidade moderna e livre das ameaças que o norte cafeeiro paranaense representava para o protagonismo da capital (CESTARO, 2022), não basta dividi-la em regiões funcionais de habitação, moradia, circulação, recreação, trabalho, saneamento, etc., ou construir prédios em concreto armado, linhas ora retas, ora curvas, aço e vidro — como previa o pensamento da arquitetura e urbanismo moderno, à la Palácio do Iguaçu, Biblioteca Pública do Paraná e Teatro Guaíra —, era preciso trabalhar o imaginário da população, fazendo com que os curitibanos se orgulhassem da cidade e encontrassem, por meio da cultura, arte e literatura, uma identidade atrelada à modernidade, questões identificadas nos discursos do Estado em torno do Plano Preliminar de Urbanismo (PPU) de 1965. No artigo "Gênese do discurso do planejamento urbano em Curitiba: bases políticas, filosóficas e técnicas" (2014), Sylvia Ramos Leitão identifica alguns indícios que apontam para o pensamento entorno do PPU, entre eles: 1) a ideia comum às três esferas de poder, municipal, estadual e federal da época, de que o desenvolvimento do país poderia ser alavancado pela industrialização nas décadas de 1950 e 1960, em substituição às importações, com a criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), 2) a reconstrução das imagens do Brasil, Paraná e Curitiba em um sentido moderno e urbanizado a partir do desenvolvimentismo, representado pelo Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, o Plano de Desenvolvimento do Paraná e o Plano Diretor de Curitiba, ansiando por "uma nova imagem vinculada à modernidade, ancorada na infraestrutura urbana, no crescimento e no desenvolvimento em um estilo de vida mais condizente com a sua condição de "capital" e, por fim, 3) a criação de órgãos para a institucionalização do processo de planejamento urbano como o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). No contexto histórico, Leitão acrescenta o surgimento do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, que formou, entre outros arquitetos que ocuparam o IPPUC, Jaime Lerner, prefeito símbolo do urbanismo curitibano — a Raposa, inclusive, viria a ser publicada durante sua segunda gestão na prefeitura. O surgimento do curso remete a valorização e profissionalização da figura do urbanista em Curitiba, contribuindo para uma abordagem técnica e racional das questões da cidade. As bases teóricas que fundamentaram se encontram em uma figura peculiar, o padre Louis-Joseph Lebret, da escola de pensamento Economia e Humanismo, que também baseia a defesa de Antonio Candido do direito à Literatura (1995). Ney Braga e Ivo Arzua Pereira, ambos da Democracia Cristã, eram, respectivamente, governador do Paraná e prefeito de Curitiba durante os anos de idealização do PPU. Aqui, acrescento à soma as reconfigurações na população curitibana. Com os investimentos em novas técnicas e tecnologias visando a dinamização da agricultura, o Estado acaba, na verdade, promovendo a concentração fundiária no interior do Paraná e intensificando o êxodo rural (MENEZES, 1996). Na região norte do Paraná — que já se configura, desde sua gênese, como uma consequência da expansão da produção cafeeira paulista —, o desgaste ambiental deu início ao declínio do ciclo do café a partir dos anos 1960. Nas regiões oeste e sudeste do estado, a construção da Usina de Itaipu gerou a expropriação em massa de pequenos agricultores. Essas famílias encontraram duas opções: tornarem-se boias-frias, ou seja, trabalhadores rurais sem vínculo empregatício, ou migrar para os grandes centros urbanos, no caso, Curitiba. O resultado é o seguinte: a população curitibana aumentou de 361.309 em 1960 para 1.024.975 em 1980, um aumento em cerca de 283,6%. Esses migrantes ocuparam bairros periféricos, não privilegiados pelo PPU, de baixa infraestrutura e consequentemente pouco afetados pela especulação imobiliária, gerando preços arcáveis para os migrantes rurais, como o Boqueirão, Alto-boqueirão, Xaxim, Capão Raso, Pinheirinho, Sítio Cercado, etc.. Esse contexto se reflete no depoimento do fotógrafo João Urban, que fotografou trabalhadores boias-frias no norte e sudoeste do Paraná entre 1976 e 1981: "Nos anos que antecederam esse período, foi registrado um grande êxodo rural, cerca de três milhões de pessoas deixaram o campo. Eram trabalhadores rurais e pequenos proprietários com suas famílias, que perderam suas terras e seus empregos na fazenda. Era o avanço da monocultura, da soja, da pecuária, do "agronegócio". Muitos foram morar em favelas nas periferias das cidades próximas das lavouras. Outras, partiram para grandes cidades. Nessa época, Curitiba quase dobrou de população" (URBAN, 2024). Os migrantes que chegavam à cidade entre os anos 1950 e 1960 encontravam uma cidade pálida, com poucas áreas verdes — menos de 1m2 por habitante —, sem opções de lazer público, saúde ou educação (MENEZES, 1996). O imaginário da época era de Curitiba como uma cidade despersonalizada. E são essas questões que o PPU de 1965 pretende dar conta. Com suas bases na escola de pensamento do padre Lebret, já citado, o projeto era de humanizar a cidade, fazê-la um espaço comum voltado para o cidadão que se identificava e se orgulhava com Curitiba. Curitiba, que viria a criar a primeira rua exclusiva para pedestres no Brasil, a rua XV de novembro, no centro, seria uma espécie de antítese de Brasília, cidade sem calçadas. Era a cidade do transporte coletivo, no lugar das longas e largas avenidas projetadas para automóveis. Logicamente, essa proposta seguia à risca a ideia de uma cidade moderna. No entanto, apesar de elaborado e apresentado na primeira metade dos anos 1960, a gestão seguinte a Ivo Arzua Pereira, do engenheiro Omar Sabag, entre 1967 e 1970, assumiu uma postura conservadora em relação ao PPU, e o projeto só foi aplicado de fato a partir dos anos 1970, com a primeira gestão Lerner, indicado para a prefeitura de Curitiba em 1971, visto como uma figura apolítica, racional e técnica. É claro que, passada a experiência do Plano Agache, parecia óbvio para o poder público que alterar a superfície física da planta urbana não era o suficiente, logo, para moldar a representação da cidade no imaginário curitibano, investiu-se em cultura. A primeira gestão Lerner fundou a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), primeira fundação cultural municipal do Brasil, que ficava responsável pelo projeto de ocupação de todos os prédios e parques projetados pela prefeitura, investiu na revitalização do centro histórico e, num ato simbólico, transformou um paiol de pólvoras no que hoje conhecemos como Teatro Paiol, um dos mais charmosos da cidade (MENEZES, 1996). Na segunda gestão Lerner, de 1979 a 1983, o pensamento é o mesmo. É aqui, num contexto de efervescência política e desgaste da Ditadura Militar, que surge a Raposa Magazine, em meio a um projeto de institucionalização de uma elite intelectual em Curitiba (PERBICHE, 2021). É sabido que a imprensa cultural como conhecemos toma forma no Brasil durante a década de 1950 enquanto parte de um projeto de civilização do país por meio da arte e cultura (FERREIRA, 1996). O Quarto Caderno, do Correio da Manhã; o Caderno B, no Jornal do Brasil, após a reforma de 1956; a Ilustrada, na Folha de S. Paulo, em 1956, o Arte e Letra, no Diário do Paraná e, mais tarde, nos anos 1960, o Suplemento Literário d’O Estado de S. Paulo. E é justamente no formato de suplemento cultural que a Raposa dá as caras pela primeira vez, no Diário do Paraná, em 1978. Na FCC, desde a primeira edição da Raposa, a revista brinca com a Cidade. Debocha da caricaturice paranista, dos medalhões da literatura local — Emiliano Perneta e Dario Vellozo —, e convida um paulista para escrever sobre a capital paranaense. Ainda, para ser publicada, a Raposa Magazine sepulta a revista Fundação, que revolta seus leitores: "Insulto é a Fundação Cultural desconsiderar o trabalho que vinha sendo feito por Wilson Cordeiro na editoria da revista Fundação. Tudo isso em nome de uma modernidade bastante discutível, de quem encontrou no propagandismo do supérfluo uma maneira de fazer um jornal bonitinho", disse César Bond na sessão Prós&Contras da primeira edição da Raposa, em que a revista publicava as cartas do leitor. Do lado dos Prós, encontramos declarações que reforçam a ideia de que a Raposa tocava pra escanteio a Curitiba arcaica e provinciana para abrir alas pra cidade moderna e metropolitana. O cenário está indicado: publicada pela própria prefeitura, a Raposa Magazine, uma revista, é parte do projeto de modernização urbana de Curitiba. Nesse sentido, afim de compreender as noções de representação, imaginário e modernidade mediadas por aparelhos culturais, a pesquisa deve se basear nos escritos sobre modernidade periférica de Beatriz Sarlo (2010), semiologia e urbanismo (BARTHES, 1971), imaginação simbólica (DURAND, 1988), história das revistas modernistas de arte e cultura no Brasil (COHN, 2011) nas relações entre jornalismo e imaginário urbano (MUSSE, 2008). O foco da pesquisa, no entanto, está nas entrevistas em profundidade (DUARTE, 2005) a serem desenvolvidas com leitores, trabalhadores e demais personalidades envolvidas na revista entre os anos de 1980 e 1983 a fim de recriar o imaginário e o cenário que levaram à publicação da revista. Referências BARTHES, Roland. Sémiologie et urbanisme. L'architecture d'aujourd'hui. n. 153, 1971. CANDIDO, Antonio et al. O direito à literatura. Vários escritos, v. 3, p. 235-263, 1995. CESTARO, Lucas Ricardo. O centenário paranaense e a indução do processo de metropolização em Curitiba. 2022. COHN, Sergio. Revistas de invenção: 100 revistas de cultura do modernismo ao século XXI. Beco do Azougue, Rio de Janeiro. 2011. DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, v. 1, p. 62-83, 2005. DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. São Paulo: Cultrix, 1988. FERREIRA, Marieta de Moraes. A reforma do Jornal do Brasil. A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50, v. 50, p. 141-155, 1996. MENEZES, Claudino Luiz. Desenvolvimento urbano e meio ambiente: a experiência de Curitiba. 1996. p. 198-198. MUSSE, Christina Ferraz. Imprensa, cultura e imaginário urbano: exercício de memória sobre os anos 60/70 em Juiz de Fora. Nankin Editorial, 2008. OLIVEIRA, Dennison. Curitiba e o mito da cidade modelo. Editora UFPR, 2000. PERBICHE, Matheus. A Raposa e a astúcia: redes intelectuais na imprensa alternativa curitibana (1978-1983). 2021. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Paraná. SARLO, Beatriz. Modernidade periférica: Buenos Aires 1920 e 1930. 2010. URBAN, João. Entrevista à equipe de pesquisa. Curitiba, 2024.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CAMOLEZI, Francisco; LIMA, Myrian Regina Del Vecchio de. RAPOSA MAGAZINE: MODERNIZAÇÃO E IMAGINÁRIO URBANO NA CURITIBA DOS ANOS 1980 EM REVISTA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901742-RAPOSA-MAGAZINE--MODERNIZACAO-E-IMAGINARIO-URBANO-NA-CURITIBA-DOS-ANOS-1980-EM-REVISTA. Acesso em: 16/07/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes