NOTAS GEOPOÉTICAS SOBRE A PAISAGEM URBANA DO CAFÉ BRASILEIRO

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
NOTAS GEOPOÉTICAS SOBRE A PAISAGEM URBANA DO CAFÉ BRASILEIRO
Autores
  • Beatriz Carvalho Tavares
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Paisagem, turismo e patrimônio
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901702-notas-geopoeticas-sobre-a-paisagem-urbana-do-cafe-brasileiro
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Coffeescape, Geografia dos Sabores, Consumo, Cafeicultura, Cafeterias
Resumo
Fruto, semente, especiaria, bebida e serviço. O café apresenta inúmeras interpretações como produto agroalimentar e gastronômico, refletindo a complexidade de seu sistema produto-produção-consumo e a valorização de seus aspectos culturais em diversos países. No Brasil, sua importância econômica, social e cultural permeia as relações de sociabilidade e demarca tradições de acordo com a região do país (Cascudo, 2015). A escolha da paisagem como categorial teórico priorizado se dá pela sua compreensão como realidade complexa e dinâmica, resultante da interação entre elementos naturais, culturais, humanos e simbólicos do espaço geográfico (Besse, 2014). Brandão (2021) complementa, tratando a paisagem como uma representação da experiência, desvinculada da materialidade, mas imersa na concretude do afeto. Com base em sabores e aromas, essa vivência geopoética das paisagens desperta emoções, memórias, tradições, reflexões e sensações físicas de apreciação (Bachelard, 1978). Em complemento, ao averiguar a aplicação do conceito de paisagem na realidade de uma produção agroalimentar densa e diversa como a cafeicultura, é possível pensar o conceito de coffeescape. Tavares e Valduga (2023) elaboraram o termo a partir do reconhecimento e valorização da paisagem agroalimentar como um patrimônio imaterial, compondo a paisagem cultural do café em países de referência na produção do fruto e consumo da bebida. Essa paisagem se manifesta a partir de duas principais vertentes, a rural e a urbana (Espírito Santo, 2021). A primeira se apropria de elementos naturais e características tradicionais do plantio cafeeiro: o cafezal, a fazenda, os corredores de árvores de baixo porte, as ruas de terra batida, os equipamentos de colheita e beneficiamento, a cobertura florestal integrada com a agricultura e as marcações da safra (flores e frutos) (Brandão, 2021; Tavares, Machado & Valduga, 2023). Já a segunda se apropria prioritariamente da cultura de consumo do café e elementos construídos na cidade: as cafeterias, as torrefações, os espaços de memória ou museus, as lojas especializadas e ambientes de treinamento e educação. Ainda que o imaginário construído sobre a paisagem cafeeira remeta imediatamente à origem do fruto na lavoura, é importante frisar que a paisagem urbana do café auxilia no fortalecimento e fixação do produto como referência na alimentação brasileira. Dessa forma, a questão de pesquisa permeia a compreensão de como a cultura do café impacta a formação da paisagem urbana do café no Brasil. O objetivo do estudo é discutir a estruturação de uma paisagem urbana do café no Brasil a partir dos sujeitos inseridos na cultura do café. O estudo apresenta caráter qualitativo, exploratório e explicativo, usando como procedimentos metodológicos a imersão em campo, observação assistemática e diários de campo, possibilitando captar percepções pessoais sobre o sistema produto-produção-consumo do café, seus sujeitos e espacialidades que conformam a paisagem urbana do café no contexto brasileiro. O período de realização das observações e notas de pesquisa considerado para esse trabalho contempla os anos de 2023 e 2024, incluindo experiências de moradia, visitação e viagem em cidades de três macrorregiões do país: sul, sudeste e nordeste. As cidades incluídas no escopo da pesquisa foram as seguintes capitais: Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Vitória (ES), Salvador (BA) e Aracaju (SE). Mergulhar em vivências da paisagem permeadas pela cultura do café possibilita compreender aspectos subjetivos e simbólicos, em conexão com a fenomenologia da paisagem na Geografia Cultural (Serpa, 2017). Para isso, será importante a figura da pesquisadora como ouvinte-narradora e, consequentemente, mais um sujeito atuante na pesquisa (Jovchelovitch & Bauer, 2011; Ferreira, 2020). Assim, dotada de escuta sensível para a familiaridade com a história contada pela paisagem e seus sujeitos, será possível compreender mais intensamente seus aspectos culturais, afetivos e simbólicos (Serpa, 2017). Esse resumo configura recorte de pesquisa de doutorado em andamento sobre a conformação da paisagem cultural do café no Brasil e sua repercussão por meio de processos de patrimonialização. Nos diferentes centros urbanos visitados, seja como turista ou como moradora, foram obtidas impressões ímpares sobre a relação entre os sujeitos e a cultura do café. Empresários, baristas e consumidores esbarram nesse trajeto com maior ou menor percepção dos acontecimentos geopoéticos presentes nos momentos de apreciação, trocas afetivas e validação político-social do consumo. A maior complexidade da oferta de serviços relacionados ao café, representados nesse momento pelas cafeterias, torrefações e espaços de convivência e socialização acompanhou a densidade do continuum rural-urbano. Assim, estados de produção cafeeira tradicional como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná apresentaram capitais com paisagem urbana do café bem estruturada e disseminada como um aspecto cultural local. Já os estados de produção mais recente - Espírito Santo e Bahia - ou sem relevância produtiva no cenário nacional - Sergipe - apresentaram menor densidade de espaços que emanassem a cultura do café. Nessas localidades, ainda que o costume de consumir café no ambiente doméstico exista, a especialização dos estabelecimentos ainda é um caminho a ser percorrido. A construção cíclica dos cenários de cafeterias nos centro urbanos é, muitas vezes, impulsionada por uma experiência de contato e imersão com os cafés especiais em outra localidade, dentro ou fora do país. Independente de parâmetros quantitativos, os estabelecimentos exploram a complexidade do contexto de consumo, se apropriando de métodos de extração, bebidas, receitas, equipamentos, tecnologias, bem como para os grãos de café, com diferentes origens, formas de beneficiamento, sistemas agroprodutivos e produtores premiados. Nesses locais, percebe-se a presença de uma tríade de espacialidades em um mesmo ambiente do estabelecimento gastronômico: o balcão, o salão e o espaço de torra. Cada um destes espaços, ainda que não apresentem separações físicas demarcadas, explicitam a hierarquia de acesso ao principal saber explorado: o café e suas características culturais. Escolher o posicionamento em um desses ambientes no espaço da cafeteria pode significar um contato superficial ou imersivo com a experiência proporcionada pelo café. O salão denota reclusão, afastamento e baixa interatividade. O balcão aproxima os sujeitos consumidor e barista, promovendo a troca de experiências, aprendizados e conhecimentos, mediados, muitas vezes, pelo compartilhamento da bebida. Já o espaço de torra, quando não utilizado como recurso de atratividade do estabelecimento, configura uma regalia aos que são permitidos a proximidade, seja por conhecimento, afinidade ou afetividade. Ser ouvinte-narradora, nesse contexto, significa enquadra-se no papel de distintos sujeitos, ora barista ora consumidora. Consequentemente, significa conhecer os símbolos de cada grupo e conquistar o acesso aos diferentes espaços percebidos pela maior integração com os demais sujeitos. Como implicações, espera-se que esse estudo inicie os debates sobre a estruturação da paisagem cultural do café no Brasil e as possibilidades de reconhecimento por processos de patrimonialização, valorizando também a importância do ambiente urbano nessa representação. Bachelard, G. (1978). A poética do espaço. Tradução de Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal. (Coleção Os Pensadores). São Paulo: Abril Cultural. Besse, J-M. (2014). O gosto do mundo: exercícios de paisagem. Editora UERJ: Rio de Janeiro. Brandão, G. G. (2021). Ser Terra - casa e paisagens do café da Mantiqueira das Minas Gerais. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Federal Fluminense, Niterói. Cascudo, L. C. (2015). Antologia da alimentação no Brasil. Global Editora e Distribuidora Ltda. Espírito Santo, S. M. (2021). Análise da paisagem cafeeira representada: visões interdisciplinares. Em Questão, 27(1), 91-110. Ferreira, M. R. (2020). Degustando lembranças: os sabores e a conformação de vínculo com o luga. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2011). Entrevista Narrativa. In: Bauer, M. W.; Gaskell, G. (Ed.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes. Serpa, A. (2017). Ser lugar e ser território como experiências do ser-no-mundo: um exercício de existencialismo geográfico. Geousp – Espaço e Tempo (Online), 21(2), 586-600. Tavares, B. C., Machado, M. D. B. T., & Valduga, V. (2023). Territorialização do café no Caparaó Capixaba. Mercator (Fortaleza), 22. Tavares, B. C., & Valduga, V. (2023). Coffeescape: Análise da produção bibliográfica internacional sobre paisagens culturais do café. Revista do Departamento de Geografia, 43.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

TAVARES, Beatriz Carvalho. NOTAS GEOPOÉTICAS SOBRE A PAISAGEM URBANA DO CAFÉ BRASILEIRO.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901702-NOTAS-GEOPOETICAS-SOBRE-A-PAISAGEM-URBANA-DO-CAFE-BRASILEIRO. Acesso em: 30/06/2025

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