HORTAS URBANAS E A TRÍADE LEFEBVRIANA: CONCEPÇÃO, VIVÊNCIA E PERCEPÇÃO NA DISPUTA POR TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS NO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
HORTAS URBANAS E A TRÍADE LEFEBVRIANA: CONCEPÇÃO, VIVÊNCIA E PERCEPÇÃO NA DISPUTA POR TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS NO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS
Autores
  • Maria Fernanda Ghisi
  • Theo Soares de Lima
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901674-hortas-urbanas-e-a-triade-lefebvriana--concepcao-vivencia-e-percepcao-na-disputa-por-territorios-sustentaveis-no
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Hortas Urbanas, Sustentabilidade Urbana, Espaço Concebido, Espaço Vivido, Espaço Percebido.
Resumo
Diante da crise climática e ambiental que assola o globo, há décadas a discussão sobre sustentabilidade e meio ambiente vem conquistando espaço. Esta é a problemática assumida pelo projeto Hortas Urbanas, que, partindo de olhar crítico sobre a racionalidade econômica e o desenvolvimento das cidades, verticalizadas em suas diferentes facetas, dispôs-se a construir horizontal e coletivamente práticas de resistência em favor de territórios sustentáveis no meio urbano. Neste sentido, o autor Enrique Leff (2009) apresenta-se como pilar fundamental para pensar a atuação da presente pesquisa, ao propor uma racionalidade ambiental, que repensa os usos exploratórios da natureza que são perpetuados pelo homo economicus. Além disso, é de grande apoio a dimensão do diálogo de saberes que o autor defende, donde não há prevalência de conhecimento acadêmico sobre aquele que é produzido localmente. O projeto consolidou-se em 2017, vinculado ao Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de Pelotas (LEUR) e agregando outras áreas de conhecimento no fomento e apoio a iniciativas de horticultura orgânica de comunidades e instituições sociais no município de Pelotas. A experiência acumulada revela a polissemia de repercussões e potências movidas em torno dos canteiros, que extrapolam o aspecto ambiental e aventuram-se por um reencantamento do mundo. Seja pelo trabalho coletivo, cooperado e ecológico, seja pela reapropriação das práticas alimentares e curativas, ou por quaisquer finalidades que as comunidades venham estabelecer para sua prática, as hortas urbanas representam um potencial de transformação local, valorizando a autonomia comunitária na resolução de seus problemas e na construção de formas outras de viver e habitar a cidade. No presente trabalho, buscamos analisar a atuação do projeto sob os conceitos de espaço concebido, espaço vivido e espaço percebido, teorizados por Henry Lefebvre (2013), a fim de contribuir para as discussões sobre apropriação do espaço e a construção de práticas espaciais e espaços de vivência com vistas para uma sustentabilidade urbana. Pautado na pesquisa-ação como mecanismo de intervenção, o HU vem tecendo diálogos sobre sustentabilidade, segurança alimentar e nutricional, saúde e coletivismo. Thiollent define a pesquisa-ação enquanto “linha de pesquisa associada a diversas formas de ação coletiva que é orientada em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação” (Thiollent, 1986, p. 7), afastando-se, portanto, do viés positivista de observação, donde a quantificação de resultados empíricos toma frente. A ação, e sobretudo a ação coletiva, é o carro-chefe do projeto, que assume como pressuposto, também, a integração entre conhecimento formal e informal em sua práxis. Assim, os rumos, sentidos e ações que envolvem as hortas são definidas coletivamente, visando unir as necessidades e desejos das pessoas envolvidas nos canteiros com a sustentabilidade urbana pretendida. Atualmente, o projeto está envolvido em um total de doze iniciativas em hortas. Destas, quatro se localizam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e têm como foco o cultivo e manejo de plantas medicinais; três em escolas, assumindo o propósito da educação ambiental e alimentar; outras três são organizadas por moradores e/ou associações de moradores em diferentes bairros do município e cumprem com a produção de alimentos e temperos para proveito da comunidade; uma é gerida por Organização Não Governamental, que produz, prepara e distribui refeições à população em situação de rua; e, por fim, uma localiza-se em uma casa de acolhimento a crianças e adolescentes gestada pela prefeitura municipal que, por não dispor de legumes, verduras e temperos para as refeições servidas no local, resultou na iniciativa de uma horta por parte das funcionárias, sobretudo, da cozinheira. Além da construção das hortas propriamente ditas, vale dizer, são desenvolvidas, pelo projeto, oficinas teórico-práticas sobre variados temas circundantes à horticultura, com vistas à resolução dos problemas e necessidades identificadas pelos grupos participantes. Os temas abordados compreendem desde as etapas preparatórias, como a reutilização de materiais recicláveis na construção de canteiros, o recicle de resíduos orgânicos para compostagem e a produção de mudas, infraestrutura e solos para hortas, até o beneficiamento dos produtos colhidos, seja na confecção de xaropes e unguentos a partir de plantas medicinais, seja no preparo de receitas culinárias - abrangendo o aproveitamento integral dos alimentos, suas propriedades nutricionais e a utilização de Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs). Dessa forma, a pesquisa-ação permite a integração entre teoria e prática, fomentando a participação dos grupos envolvidos na transformação da paisagem e na construção de territórios sustentáveis no espaço urbano. Destarte, o projeto Hortas Urbanas visa integrar os diferentes espaços conceituados por Henry Lefebvre (2013), ou aquilo que ficou conhecido como a tríade lefebvriana, na produção de territórios sustentáveis na zona urbana de Pelotas/RS. Tendo-se conhecimento de tal conteúdo não é difícil enxergá-lo no projeto. Estão presentes o espaço concebido, o vivido e o percebido. O concebido, ou as representações do espaço, revela o que é projeto, instituição, norma. Parte da universidade, do poder público, dos agentes sociais. É aquilo que é tomado como partida, pensado previamente e sujeito às interferências do cotidiano. Este nos dará aquilo que o autor chama de vivido, ou os espaços de representação (percebe-se a inversão do sentido anterior). Aquilo que é vivido emana, por óbvio, do dia-a-dia, é o espaço que se confronta e subverte a norma (desde a mais diminuta dimensão, como um caminho na grama da praça por fora do pavimento desenhado pelo arquiteto, até as maiores, como ocupar um prédio público originalmente de serviços para servir de moradia). Por fim, o espaço percebido serve de espécie de mediação e surge como termo médio entre os dois anteriores, é o produzido através dessas duas interações, aquilo que a norma impõe e que a subversão dispõe. Não se vive somente na base do que foi projetado, mas tampouco se pode viver completamente alheio ao que ela condiciona. Muitas vezes é o que resulta efetivo dentre as virtualidades possíveis. É nessa constante tensão entre os diferentes espaços, que sempre se apresentam indissociáveis, que o projeto Hortas Urbanas se aloca, move-se e produz novas realidades, pequenas fendas de um mundo possível que integre alimento, saúde e educação a partir do manuseio da terra em solo citadino. Por tudo isso, o projeto Hortas Urbanas exprime grande potencial de transformação local com vistas para a sustentabilidade e autonomia comunitária, seja pelas práticas espaciais e seus produtos diretos, seja pelas discussões e sociabilidades tecidas junto às comunidades. Através da pesquisa-ação, propõe não apenas a valorização dos grupos participantes na resolução dos problemas que identificam, mas a construção de novas formas de relacionar-se com o espaço local e com as pessoas que nele habitam. Ao prezar pela auto-gestão comunitária na produção de novas realidades, mais sustentáveis e socialmente justas, frente à urbanidade que se instaura na contemporaneidade, o projeto espelha a integração entre os espaços concebido, vivido e percebido. REFERÊNCIAS LEFEBVRE, Henry. La producción del espacio. Espanha: Gracel Asociados, 2013. LEFF, Enrique. Complexidade, Racionalidade Ambiental e Diálogo de Saberes. In. Educação & Realidade, vol. 34, núm. 3, septiembre-diciembre, 2009, pp. 17-24. OLIVEIRA, Giovana Mendes de (org.). Hortas Urbanas: quando a sustentabilidade encontra a cidade. Pelotas: Ed. UFPel, 2021. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1986.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GHISI, Maria Fernanda; LIMA, Theo Soares de. HORTAS URBANAS E A TRÍADE LEFEBVRIANA: CONCEPÇÃO, VIVÊNCIA E PERCEPÇÃO NA DISPUTA POR TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS NO MUNICÍPIO DE PELOTAS/RS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901674-HORTAS-URBANAS-E-A-TRIADE-LEFEBVRIANA--CONCEPCAO-VIVENCIA-E-PERCEPCAO-NA-DISPUTA-POR-TERRITORIOS-SUSTENTAVEIS-NO. Acesso em: 10/07/2025

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