INTERSEÇÕES ENTRE HOSPITALIDADE, COMENSALIDADE E LUGAR EM ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA: O CASO DO CONTESTADO

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
INTERSEÇÕES ENTRE HOSPITALIDADE, COMENSALIDADE E LUGAR EM ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA: O CASO DO CONTESTADO
Autores
  • Ariane de Paula Fucilini
  • Vander Valduga
  • Beatriz Carvalho Tavares
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901596-intersecoes-entre-hospitalidade-comensalidade-e-lugar-em-assentamento-da-reforma-agraria--o-caso-do-contestado
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Assentamento. Produção Agroalimentar. Reforma Agrária. Movimento Sem Terra.
Resumo
A hospitalidade é uma parte integrante de todas as culturas. Camargo (2019), concordando com Mauss (2003), aponta sua manifestação por meio da doação, do recebimento e da retribuição. Esses atos refletem a identidade e a formação sociocultural de cada indivíduo. Dessa forma, cada comunidade possui suas próprias tradições e, integrando um lugar, expressando a hospitalidade como arranjo social baseado na reciprocidade. Como reflexo dela, a comensalidade se destaca por representar o momento de “dividir a mesa”, um simbolismo de espacialização da partilha do alimento e do compartilhamento da ocasião do comer (Gimenes-Minasse, 2017). Assim, as práticas de hospitalidade e comensalidade atuam como instrumento na receptividade, no acolhimento e na promoção de pertencimento ao lugar (Faltin & Gimenes-Minasse, 2019). Essa simbiose entre experiências de quem recebe e de quem é recebido pode ser percebida por meio do próprio conceito de lugar, referente ao espaço em que os sujeitos se inserem, se identificam e conhecem os simbolismos de conhecer o mundo (Tuan, 2018). Em vias de contextualização, a pesquisa está situada no trabalho realizado pela equipe de Supervisão Ocupacional do Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio de Termo de Execução Descentralizada (TED) com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), formando o TED-INCRA. Sua atuação visa atender, juntos aos agricultores familiares, demandas históricas referentes à regularização fundiária de terrenos da União Federal da Zona de Fronteira Estadual em diferentes estágios de implementação nos assentamentos da Reforma Agrária. Para garantir a função social da propriedade rural, atua no direito à moradia e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para tal, existem dois momentos de contato: as visitas in loco e o mutirão. No primeiro caso, as visitas são feitas diretamente nas residências dos assentados que já são beneficiários ou ocupantes não regularizados. Normalmente são visitados 200 lotes no período de uma semana, com apoio técnico de oito pessoas, sendo alunos(as) e servidores(as) da UFPR. Já o segundo caso se refere ao trabalho centralizado, geralmente em área urbana da localidade onde está localizado o assentamento, abrangendo quantidade expressiva de assentados, em média de 200 e 600 famílias de beneficiários e ocupantes, realizado por uma equipe de quatorze alunos(as) e servidores(as) da UFPR, bem como servidores(as) do INCRA. No contato com os assentados e suas moradias, existe uma íntima aproximação com seu cotidiano, sendo possível interagir com seus alimentos, compreender suas atividades produtivas e perceber sua relação com o lugar. A casa configura lugar de abrigo, convívio e intimidade, transformando-se “à medida que é ocupada, nas marcas materiais e simbólicas do cotidiano dos que ali residem e fazem dela seu lugar” (Ferreira, 2021, p. 74). Dessa forma, adentrar em suas casas permite imergir em uma experiência que entrelaça técnico de reforma agrária e o assentado. Dessa forma, a questão de pesquisa permeia o entendimento de como ocorrem as relações entre hospitalidade, comensalidade e lugar pelos assentados e técnicos agrários. Assim, o objetivo do estudo é identificar a existência das práticas de hospitalidade e comensalidade em um assentamento da Reforma Agrária. Sua realização tem como foco as visitas in loco realizadas pela equipe de Supervisão Ocupacional do LAGEAMB nos assentamentos da Reforma Agrária do INCRA, no estado do Paraná, mais especificamente no Assentamento Contestado, que está localizado na zona rural do município de Lapa no Paraná. Atualmente, vivem 108 famílias nesse assentamento que, por meio do processo de luta organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conquistaram a terra para vida e trabalho. Sua oficialização ocorreu perante a Política de Reforma Agrária ao final da década de 90. As famílias, envolvidas principalmente com a agricultura, produzem alimentos orgânicos e convencionais, comercializando-os para locais, como escolas públicas, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e cooperativas locais, muitas vezes ligadas ao Movimento dos Sem Terra. O estudo apresenta caráter qualitativo, descritivo e exploratório, usando como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica, documental, imersão em campo, observação assistemática e diários de campo, buscando explorar as nuances e complexidades das experiências. O período de realização da pesquisa ocorreu entre os dias 6 e 10 de maio de 2024, na comunidade do Assentamento Contestado, ligado ao MST, que está localizado na Zona Rural do município de Lapa (PR). Para a análise de dados, foi utilizada a Análise Textual Discursiva (ATD) conforme proposto por Roque Moraes e Maria do Carmo Galiazzi (2011), envolvendo três etapas: unitarização, categorização e comunicação. A reflexão da dádiva de Mauss (2003), explicita as experiências vividas, no contexto doméstico, em visitas das casas de famílias assentadas pelos técnicos de reforma agrária. Ao visitar o município de Lapa (PR), mesmo em momento laboral, foi possível perceber o intercâmbio de relações interpessoais no processo da dádiva do dar e receber. De acordo com Mauss (2003, p.191) é a “relação na qual o mercado é apenas um dos momentos, e a circulação de riquezas não são senão um dos termos de um contrato bem mais geral e bem mais permanente”. A prática extrapola o interesse monetário, aproximando os sujeitos no momento de visita e compartilhamento de saberes, vivências e afetividades.A relação dos assentados com a própria comunidade reflete seu sentimento de pertencimento com o lugar. Assim, a forma como acolhem os técnicos, os permite vivenciar, por meio da hospitalidade, o afeto pelo lugar compartilhado momentaneamente. Já a comensalidade usufrui da associação entre a gastronomia e produção agroalimentar, isso é, os produtos considerados como “da terra”. Assim, enriquece a relação entre o lugar e sua “mesa”, construindo a expectativa do patrimônio gastronômico (Hughes, 1995). Com a compreensão de Gimenes-Minasse (2013), percebe-se que a gastronomia típica não é apenas como uma manifestação cultural, mas também um simbólico atrativo cultural. A recepção hospitaleira é refletida na prática da comensalidade com café feito na hora e comidas produzidas para consumo familiar e comunitário. Assim, o trabalho dos técnicos se tornava mais leve, produtivo e motivado. Preliminarmente, foi possível compreender que a relação da dádiva do dar e receber encontrada nos assentamentos da reforma agrária são percebidas a partir dos presentes ofertados aos seus visitantes, relacionados aos produtos agroalimentares explorados na comunidade, como frutas, verduras, legumes, cafés, erva mate, doces, compotas e conservas. O sentimento de coletividade e empatia pelo próximo demonstra que a cultura está em formação contínua desde o instante em que se opta por deixar a condição de sem-terra e tornar-se um Sem Terra. Assim, como diz Santos (1994), para tentar compreender a cultura das pessoas e suas comunidades, exige-se que se contemple a diversidade de povos, nações, sociedades e grupos humanos que estão em interação nos determinados espaços. Como continuidade da pesquisa, existe a possibilidade de ampliação da pesquisa para a percepção da hospitalidade, comensalidade e lugar pela perspectiva da população Sem Terra, nos assentamentos do Paraná, ligados ao Movimento dos Sem Terra - MST. Deste modo, será possível contemplar o significado da produção agroalimentar e das nuances do comer para a comunidade, tendo em vista reivindicar a ampliação da produção agroecológica e orgânica. REFERÊNCIAS Camargo, L. O. L. (2019). Hospitalidade, turismo e lazer. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 13 (3), p. 1 - 15, set./dez. Faltin, A. O., & Gimenes-Minasse, M. H. (2019). Comensalidade, Hospitalidade e Convivialidade: Um Ensaio Teórico. Rosa dos Ventos, 11(3). Gimenes-Minasse, M. H. S. G. (2013). Comida como cultura? Notas sobre a patrimonialização alimentar e sua relação com o turismo gastronômico. Gestión Turística, 19, 41-56. Gimenes-Minasse, M. H. S. G. (2017). Novas configurações do comer junto–reflexões sobre a comensalidade contemporânea na cidade de São Paulo (Brasil). Estudos Sociedade e Agricultura, 25(2), 251-275 Mauss, M. (2003), Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. Moraes, R., & Galiazzi, M. C. (2011). Análise Textual Discursiva. 2 ed. rev.,Ijuí. Santos, J. L. d. (1994). O que é cultura. São Paulo, Editora Brasiliense. Ferreira, M. R. (2021). “Lar doce lar” – A cozinha como centro afetivo da casa. Geograficidade, 11(2), 73-86. Tuan, Y. F. (2018). Lugar: Uma perspectiva experiencial. Geograficidade, 8(1), 4-15.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FUCILINI, Ariane de Paula; VALDUGA, Vander; TAVARES, Beatriz Carvalho. INTERSEÇÕES ENTRE HOSPITALIDADE, COMENSALIDADE E LUGAR EM ASSENTAMENTO DA REFORMA AGRÁRIA: O CASO DO CONTESTADO.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901596-INTERSECOES-ENTRE-HOSPITALIDADE-COMENSALIDADE-E-LUGAR-EM-ASSENTAMENTO-DA-REFORMA-AGRARIA--O-CASO-DO-CONTESTADO. Acesso em: 02/08/2025

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