RESISTÊNCIA CAMPONESA NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA: AFETIVIDADE, IDENTIDADE E COLETIVIDADE NO COTIDIANO DO SÍTIO ÁGATHA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
RESISTÊNCIA CAMPONESA NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA: AFETIVIDADE, IDENTIDADE E COLETIVIDADE NO COTIDIANO DO SÍTIO ÁGATHA
Autores
  • ANA REGINA MARINHO DANTAS BARBOZA DA ROCHA SERAFIM
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Identidades territoriais
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901180-resistencia-camponesa-na-zona-da-mata-pernambucana--afetividade-identidade-e-coletividade-no-cotidiano-do-sitio-
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Existências; Movimentos Sociais; Soberania Alimentar; Agroecologia; Conflito.
Resumo
INTRODUÇÃO A questão agrária brasileira vem trazendo novas questões a serem debatidas a partir da presença de um governo neoliberal que visa o aumento do capital através da ampliação do agronegócio. Dessa forma, torna-se importante retratar que, apesar dos conflitos que ocorrem no campo, existem camponeses que resistem e (re)existem e que, por meio, da luta permanecem no campo. Os usos dos espaços no assentamento são coletivos, onde aparecem às relações do cotidiano, a sociabilidade, os interesses, sendo preciso cuidado e diálogo para resolver qualquer situação de conflito existente. Foi traçado um panorama do Sítio Ágatha, localizado dentro do Complexo de Assentamento do Prado, no assentamento de reforma agrária Chico Mendes I, antigo Engenho Prado, localizado no município de Tracunhaém, Estado de Pernambuco, Mesorregião da Mata Pernambucana, Microrregião Mata Setentrional Pernambucana, retratando, suas lutas, a agroecologia, os projetos e principalmente, como as pessoas assentadas identificam-se com o lugar. A posse do Engenho Prado foi adquirida em 2005, após a sua desapropriação, para 158 famílias, após 08 anos de ocupação e luta por mais de 300 famílias camponesas (SERAFIM, 2021). O Sítio Ágatha, criado em 2006, como uma associação de arte, cultura e agroecologia, contribui com ações educativas, sustentáveis, visando o resgate da autonomia feminina camponesa e a ancestralidade. É reconhecido “como um centro agroecológico, feminista e de resistência negra na Mata Norte de Pernambuco”, de acordo com o Sítio Ágatha (2023), um local de referência dos camponeses “na defesa da igualdade política e na obstrução da reconcentração fundiária no Prado”. Dessa forma, esse artigo analisou o processo de resistência dos assentados do Sítio Ágatha. Compreendendo como a agroecologia e a luta pela terra contribuem para a soberania alimentar. É através desses assentamentos que se pode construir uma sociedade mais justa e igualitária, porém é necessário que tenham condições básicas para uma boa qualidade de vida e que os assentados se identifiquem com o lugar, e não apenas morem no lugar, vivam o seu cotidiano e para isso é necessário compreender o papel da agroecologia e da busca pela soberania alimentar. METODOLOGIA Como método científico, foi utilizado o materialismo histórico-dialético difundido por Marx para entender a realidade, o princípio do conflito e as contradições que norteiam a temática analisada. A partir deste método observa-se que as relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. O sujeito modifica seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida e todas as relações sociais com as novas forças produtivas, assim como pode ser observado a partir das novas ruralidades e das dinâmicas de ligação com o espaço urbano. Também foi realizada a pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos e sites de instituições. Durante a pesquisa foram realizadas visitas ao assentamento Chico Mendes com foco no Sítio Ágatha. Nas visitas in loco foram retiradas fotografias que serão apresentadas no artigo final e realizadas entrevistas com os assentados do Chico Mendes I e com a diretoria do Sítio Ágatha do mandato 2019-2023, na figura da presidente Luiza Cavalcante Santos Dias. RESULTADOS E DISCUSSÃO No rural, o assentamento é uma representação da espacialidade de sua população na vivência cotidiana. É no lugar, no espaço do vivido que o cotidiano se efetiva. E um desses lugares na dimensão do campo são os assentamentos, no nível das relações imediatas, interpessoais, cotidianas do usuário. Essa cotidianidade dos assentamentos ocorre a partir das suas casas, pessoas, caminhos de circulação, infraestrutura. Cada um deles apresentará diferentes imagens em diversos momentos históricos, fazendo parte do seu processo de transformação. Estudando o espaço dos assentamentos, é possível entender sua história, sua ocupação e o espaço vivido pelas práticas do cotidiano. A apropriação territorial do assentamento será repleta de significados para os sujeitos que a vivem e a sentem. Conseguir a posse da terra deve ser considerado um diferencial na vida diária dos assentados e pela afetividade, identidade, como ponto de encontro da vida cotidiana dos camponeses. O processo de resistência e o fortalecimento dos movimentos sociais também se tornam essenciais. Nos últimos anos, os movimentos sociais estão cada vez mais complexos e ativos. No estado de Pernambuco, isso não é diferente, há lutas e movimentos organizados para debater e discutir as questões agrárias. A resistência está presente desde as primeiras lutas por terra e o debate sobre a distribuição das terras vem fazendo parte do discurso da população, possibilitando a discussão acerca da necessidade de um espaço agrário melhor e mais humano. Todo lugar tem suas formas de resistência. As pessoas, os governos, são os contramovimentos, as contrarracionalidades no cotidiano, segundo Lefebvre (1979, 2006), e as resistências às forças hegemônicas, de acordo com Milton Santos (1985, 1999). A população enquanto sociedade civil, participante dos movimentos sociais, não discute apenas as questões técnicas de um programa e projeto, mas também o seu caráter ideológico em que prevalecem discussões superficiais, sem aprofundamento. Os vários segmentos sociais e econômicos, com interesses diferenciados, interagem na zona da mata pernambucana. Apesar da existência de conflitos, há uma relação que contribui para a reprodução desse espaço. O processo de transformação do campo repercute na forma de reprodução da propriedade privada da terra, com o espaço revelando cada vez mais a contradição entre valor de troca e valor de uso, gerando conflitos entre os diversos segmentos sociais e econômicos envolvidos nessa dinâmica. É a partir da ampliação da valorização da agroecologia que se pode construir uma sociedade mais justa e igualitária, porém é necessário que se tenha condições básicas para uma boa qualidade de vida. É importante que os assentados se identifiquem com o lugar, vivam o seu cotidiano e não apenas morem no lugar. A sensibilização agroecológica existe entre a maioria dos assentados, porém as dificuldades encontradas em manter esse tipo de cultura faz com que ainda exista resistência, uma dificuldade em que todos mantenham a produção agroecológica. Após a análise da cotidianidade do assentamento, principalmente do Chico Mendes, do qual o Sítio Ágatha faz parte, algumas questões são necessárias para a compreensão da importância da reforma agrária não apenas distributiva de terra e da permanência dos camponeses no campo e da agroecologia: Identidade; Coletividade; Mobilização e articulação; Protagonismo dos camponeses; Dificuldade de obtenção de crédito e assistência técnica; Infraestrutura crítica nos primeiros anos dos assentamentos; Conflitos; Sensibilização; Agricultura orgânica, sustentabilidade; Contribuição ao desenvolvimento local; Luta pela permanência na e democratização da terra; Ameaças, despejos, violência; Resistência. As características descritas acima podem ser tratadas como categorias de análise para trabalhar com a temática proposta: de análise da resistência e identificação dos camponeses no assentamento de reforma agrária. As temáticas em torno do desenvolvimento rural têm sido muito diversas. Dentre as principais, está o debate sobre a importância que assume a agricultura familiar para o desenvolvimento e fortalecimento das economias locais. É necessária a elaboração de uma proposta de desenvolvimento rural com bases sustentáveis, englobando novas atividades, como agroecologia, policultura e a inserção do turismo ecológico. No caso do Sítio Ágatha, sua atuação socioeducacional é o diferencial na luta coletiva. Seus mutirões agroecológicos, cursos e oficinas visando a resistência cultural e agroecologia, projetos esses que incluem todos os camponeses que possuam interesse e com o apoio e articulação de diversos parceiros, ongs e outros movimentos sociais de resistência, como por exemplo o Serta (Serviço de Tecnologia Alternativa). É importante compreender o Sítio como um local de resistência, militância e luta agroecológica, feminista e antirracista, por isso a importância das parceiras, da coletividade. Os assentados do Chico Mendes ao qual pertence o Sítio Ágatha, apesar de passar por enormes dificuldades, conseguiu, através da luta e da organização do movimento social e do desenvolvimento agroecológico manter-se na terra, conquistar e desenvolver seu território de forma comercial. Ao longo dos anos, estão conseguindo produzir e vender o excedente. Um exemplo de camponeses que enfrentaram as perversidades do capital, respeitando a sua identidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os conflitos pela apropriação do espaço são constantes, porém, apesar da existência deles, há um ponto que contribui para a reprodução das relações sociais. Para garantir os seus direitos como prática cidadã, os movimentos sociais de resistência existentes encontram-se fortalecidos, pois não apenas reivindicam ações e proteção do Estado para permanecer numa determinada área, mas participam ativamente de lutas e conquistas para viver no campo com melhores condições de trabalho e acesso aos bens públicos: educação de qualidade, saúde, cultura, lazer etc. As famílias do assentamento Chico Mendes permanecessem na luta e resistência constante. A política de reforma agrária, segundo o Incra, para ser sustentável e comprometida com a qualidade de vida das famílias assentadas, deve dar acesso à terra com infraestrutura adequada, crédito rural e assistência técnica. Se for realizada uma reforma agrária eficiente, é possível garantir as condições para o assentado produzir de forma viável. Assim, obtém-se resultados econômicos e sociais extremamente positivos, dando possibilidade de inclusão social, cidadania e melhoria de vida para famílias que estavam excluídas do mercado de trabalho e do acesso à terra. Dessa forma, analisando o processo de posse da terra e construção do assentamento Chico Mendes, foi verificado que a reforma agrária não ocorreu, e sim apenas a distribuição de terras. Ela, inicialmente, limitou-se a distribuição de lotes de terra entre famílias assentadas e não ocorreu um apoio à produção e distribuição, que promoveria uma qualidade de vida às famílias, contribuindo com o desenvolvimento local. O que vem ocorrendo são os espaços de resistência, como o Sítio Ágatha que contribui de forma socioeducacional através de um paradigma agroecológico e valorização cultural. Espera-se com esse trabalho ampliar a discussão acadêmica e técnica sobre os assentamentos a partir da compreensão da importância de uma política ampla de reestruturação fundiária, de apoio à produção e distribuição, de modo que promova o bem-estar das famílias e o desenvolvimento local. E nesse caso, o Sítio Ágatha contribui para as atividades agroecológicas, ou como tratados pelas mulheres, “Afroecologia”, que entendem a filosofia agroecológica, como práticas já utilizadas pelos indígenas e africanos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEFEBVRE, Henri. Lógica formal, lógica dialética. 2ªed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1979. LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Grupo “As (im)possibilidades do urbano na metrópole contemporânea”, do Núcleo de Geografia Urbana da UFMG (do original: La production de l’espace. 4ª Ed. Paris: Éditions Anthropos, 2000). Primeira versão: Início – fev. 2006). Mimeo. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. 3ªed. São Paulo: Hucitec, 1999. SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. SERAFIM, Ana Regina. Resistência e identificação dos assentados rurais na Mata Norte Pernambucana, Brasil. In: Carrión Hurtado, Andrea, y María Fernanda López-Sandoval, coordinadoras. Ciudades intermedias y nueva ruralidad. Quito: FLACSO Ecuador, 2021. SÍTIO ÁGATHA. In: https://sitioagatha.org/?page_id=15. Acesso 15 de julho de 2023.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SERAFIM, ANA REGINA MARINHO DANTAS BARBOZA DA ROCHA. RESISTÊNCIA CAMPONESA NA ZONA DA MATA PERNAMBUCANA: AFETIVIDADE, IDENTIDADE E COLETIVIDADE NO COTIDIANO DO SÍTIO ÁGATHA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901180-RESISTENCIA-CAMPONESA-NA-ZONA-DA-MATA-PERNAMBUCANA--AFETIVIDADE-IDENTIDADE-E-COLETIVIDADE-NO-COTIDIANO-DO-SITIO-. Acesso em: 04/07/2025

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