GEOGRAFIA FEMINISTA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS: A QUARTA DO FEMINISMO NO BRASIL

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
GEOGRAFIA FEMINISTA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS: A QUARTA DO FEMINISMO NO BRASIL
Autores
  • Larissa Aparecida Dionizio
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações do espaço
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901092-geografia-feminista-e-os-movimentos-sociais--a-quarta-do-feminismo-no-brasil
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Geografia Feminista; Quarta onda feminista; Mobilização digital; Movimento #EleNão.
Resumo
A Geografia é um campo fértil para o estudo e compreensão do conceito de gênero, pois sua estrutura teórica abrange diversos conceitos-chave que fundamentam pesquisas científicas. No âmbito da Geografia Urbana, o conceito de gênero se manifesta na organização dos espaços que compõem a cidade, assim como na produção e circulação do capital. Já na Geografia Econômica, a discussão de gênero se insere nos estudos que investigam o papel da mulher no mercado de trabalho, analisando sua relação com a atuação masculina no mesmo ambiente, além das desigualdades salariais historicamente perpetuadas (Silva, 2009). Diante desse contexto, esta pesquisa tem como objetivo evidenciar o surgimento e desenvolvimento da quarta onda do movimento feminista no Brasil, com ênfase no período do governo Bolsonaro (2019-2022). Para isso, a pesquisa adotou uma abordagem metodológica baseada em revisão bibliográfica, fundamentada na leitura e análise de referenciais teóricos relevantes. Essa metodologia permite um exame aprofundado das discussões já existentes sobre o tema, possibilitando a identificação de diferentes perspectivas, abordagens conceituais e lacunas na literatura. Além disso, a revisão bibliográfica contribui para o embasamento teórico da pesquisa, fornecendo um panorama crítico sobre a evolução do debate acadêmico em torno da quarta onda do feminismo, do ativismo digital e da Geografia Feminista. Dessa forma, a pesquisa se ancora em estudos prévios para interpretar os impactos das redes sociais na mobilização política e na luta por igualdade de gênero no Brasil. O problema central da pesquisa reside na análise do impacto da quarta onda do feminismo na luta por igualdade de gênero, com foco no papel das redes sociais como ferramenta de mobilização e articulação política. Busca-se compreender como as plataformas digitais têm sido utilizadas para fortalecer o movimento feminista, quais são as dinâmicas de inclusão e exclusão presentes no ativismo virtual e de que maneira esse fenômeno influencia a luta contra a desigualdade de gênero nos espaços público e privado. Destaca-se ainda, que o debate geográfico presente nesta pesquisa está inserido no âmbito da Geografia Feminista, a qual busca compreender a relação entre gênero e espaço, analisando a organização do território e as dinâmicas de opressão e resistência. Nesse contexto, a pesquisa considera o espaço digital como uma nova dimensão do ativismo político. Dessa forma, salienta-se que as produções na área da Geografia Feminista ganharam força a partir da década de 1970, quando as pesquisas sobre o conceito de gênero foram ampliadas. Inicialmente, essas investigações buscavam promover a igualdade de gênero dentro da própria ciência geográfica. Os primeiros estudos da área se caracterizavam pela crítica às produções acadêmicas predominantemente masculinas, que eram apresentadas como universais. Em contraposição, a Geografia Feminista propôs uma abordagem alternativa, trazendo um novo olhar sobre a ciência e suas metodologias (Monk; Ramon, 1987). Nessa perspectiva, Chimin Junior (2016) ressalta que as preocupações por parte da Geografia Feminista e suas vertentes, a qual busca promover a transformação social e não se limita apenas a compreender as instituições políticas formais. Esse movimento preocupasse em abranger também as práticas sociais que muitas vezes ultrapassam os limites convencionais das políticas de Estado. Comprometendo-se em analisar e transformar as relações de poder presentes nas estruturas sociais e culturais, que muitas vezes contribuem para a opressão e marginalização de grupos minoritários. As ideias feministas, a partir do conceito de gênero na discussão social, não foram aceitas com facilidade, principalmente porque durante muito tempo está temática foi vista como um problema feminino e apenas uma pequena parcela dos profissionais em geografia se interessava em compreender as questões de gênero. Sendo assim, muitas pesquisas desenvolvidas no campo da geografia feminista contribuíram e contribuem para a expansão do pensamento geográfico, principalmente através de debates epistemológicos e ampliação das análises espaciais (Silva, 2009). De acordo com Chimin Junior (2016), a perspectiva de gênero introduziu uma abordagem diferenciada no âmbito das análises científicas, especialmente da geografia, promovendo uma compreensão mais intricada. Essa perspectiva conduziu a análises mais complexas, estabelecendo conexões entre a variável de gênero e outros elementos socialmente instituídos. Isso implica considerar a influência de diversos aspectos, resultando em análises interseccionais. Destaca-se que as experiências individuais não são simples, mas derivam de uma interação complexa entre vários fatores sociais que moldam a estrutura da sociedade. A partir disso, compreende-se que a incorporação do debate de gênero na geografia provocou muitas mudanças, especialmente na análise do espaço geográfico sob a perspectiva de gênero, marcando um momento de ruptura com a tradição histórica que desconsiderava as dimensões de gênero em suas abordagens espaciais. No sentido das relações de gênero, o uso das redes sociais tem se mostrado presente para a articulação e expansão do movimento feminista no Brasil, ao possibilitar o encontro de novas participantes e a construção de estratégias diversificadas em prol da igualdade de gênero. A internet possibilitou a muitas mulheres se engajarem na luta contra a violência de gênero, que se manifesta tanto no espaço público quanto no privado. Segundo Silva (2019, p. 27), "na internet, essas mulheres encontraram oportunidades para articular a própria luta contra a violência de gênero – violência que se manifesta de diversas formas tanto no ambiente público quanto no ambiente privado." Esse fenômeno se intensificou a partir de 2010, com a popularização de plataformas como o Twitter, que, segundo Costa (2018), foi criado com uma forte vocação para o ativismo. Sendo assim, essa transformação também envolve o surgimento do ciberfeminismo, que emerge como uma estratégia central para integrar a tecnologia da informação à mobilização feminista. A partir de postagens, curtidas, compartilhamentos e organização de eventos em plataformas como Facebook e Twitter, o ciberfeminismo possibilita a articulação entre militantes e dissemina informações sobre as demandas e objetivos específicos do movimento (Castro, 2020). Silva (2019) observa que a chamada quarta onda do feminismo está profundamente conectada às demandas das regiões periféricas do Ocidente, que antes tinham pouca visibilidade e encontraram nas redes sociais um novo espaço para expressar-se. Esse movimento eclodiu em 2018, mas sua origem e organização se deu em meados de 2016 e 2017, quando a democracia brasileira passou por períodos de tensão política extrema, começando pelo golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma Rousseff e, seguidamente, pela prisão política do ex-presidente (naquele momento) Luis Inácio Lula da Silva. O ódio ao Partido dos Trabalhadores (PT) estava instaurado, tanto nas pessoas, quanto nas redes sociais das quais elas faziam uso (Barrancos, 2022) Por isso, as redes sociais tornaram-se, portanto, ferramentas essenciais para a mobilização política e social, facilitando a comunicação e a articulação entre mulheres de diferentes países, classes e etnias. Esse modelo de comunicação digital tem sido fundamental para o fortalecimento de movimentos formados por minorias. Um exemplo expressivo foi o protesto feminista de 2015, organizado exclusivamente pelo Facebook, que mobilizou 74,8 milhões de usuários. O uso de hashtags permite amplificar a visibilidade dos temas feministas, transformando questões locais em tópicos globais e promovendo discussões sobre gênero, raça e classe nos "Trending Topics" – os temas mais comentados do momento em cada plataforma (Costa, 2018). Entre os movimentos que simbolizam essa nova fase de ativismo digital está o #EleNão, que emergiu em reação a ataques públicos que desmereciam candidaturas femininas durante a campanha presidencial de 2018. Este movimento, marcado pela hashtag #EleNão, possibilitou ao feminismo alcançar um público vasto, manifestando-se em oposição à candidatura de Jair Bolsonaro, marcada por declarações preconceituosas, machistas, homofóbicas e misóginas. Originalmente digital, o movimento logo ultrapassou o espaço virtual, mobilizando milhões de pessoas globalmente. A maior parte das postagens utilizou a hashtag #EleNão, atingindo 1.013.000 tweets e transformando-a em um trending topics, termo usado no Twitter para designar os assuntos do momento. Segundo Mussi e Zanini (2020, p. 157), “o protesto se concentrou em dois meses e totalizou 50 milhões de postagens, sendo 28 milhões apenas no dia 29 de setembro, um dia de atos de rua no Brasil e pelo mundo”. Enquanto isso, Mussi e Zanini (2020) relatam que outras hashtags como #EleNunca e #EleJamais foram adicionadas, totalizando 68 milhões de postagens, a maioria de perfis femininos. As manifestações vinculadas ao #EleNão ocorreram em cerca de 114 cidades brasileiras e em metrópoles como Nova York, Lisboa, Paris e Londres, expandindo-se para protestos de rua. Apesar da eleição de Bolsonaro, o movimento #EleNão deixou um legado significativo, reforçando a importância da luta contra a discriminação e a defesa dos direitos humanos. Esse momento histórico foi decisivo para a quarta onda do feminismo, caracterizada pelo uso das redes sociais para organizar atos, refletindo uma nova geração de mulheres engajadas no debate de gênero (Zirbel, 2021). Nesse sentido, um artigo escrito por Castells em 2006, publicado no jornal Le Monde Diplomatique Brasil, retratou o uso das redes sociais e da tecnologia na era da intercomunicação e como essa avalanche de informações pode influenciar nos espaços de poder e tomadas de decisões. O autor salienta que a mídia pode ser utilizada como uma ferramenta de poder, especialmente em casos em que a sociedade é dependente da mesma, as informações apresentadas pela mídia possuem objetivos e atingem públicos específicos. A partir disso, Silva e Ornat (2020) ressaltam que multidões de mulheres, unidas por demandas comuns, têm tomado o espaço público, reunindo participantes de diversas classes, religiões, etnias e orientações sexuais. A nova geração de feministas inclui também jovens homens que adotaram a pauta de gênero, questionando as estruturas de privilégio masculino. Especificamente, os grupos de eleitores bolsonaristas utilizaram das redes sociais e da mídia como um instrumento de poder compartilhando informações errôneas, alimentando as redes com fotos, vídeos e áudios alterados digitalmente, consequentemente dando outro sentido para as eleições de 2018. O alvo das publicações eram as candidatas e pertencentes a algum partido político de esquerda, sendo que a principal delas foi Manuela D'ávila, candidata a vice-presidente juntamente com Fernando Haddad pelo Partido dos Trabalhadores (PT). As manifestações de 2018 evidenciam a urgência e a necessidade da luta por igualdade de gênero, especialmente num contexto em que, durante o governo Bolsonaro (2019-2022), a pauta de gênero foi alvo constante de ataques. Isso afetou diretamente minorias, mulheres, homossexuais, transgêneros e outros grupos vulneráveis, e silenciou debates sobre violência e desigualdade de gênero nos contextos estudantil, político, social e laboral. Além do uso das redes sociais como ferramenta de luta, a quarta onda é caracterizada pela interseccionalidade, ou seja, as reivindicações desta fase levam em consideração mais de um fator de opressão social, como por exemplo, gênero, classe e raça. A interseccionalidade envolve mais de um parâmetro de opressão, sendo eles especificamente aspectos sociais, culturais e econômicos. Baseado nisto, Scott (1995, p. 73) salienta que, a partir dos estudos de cientistas feministas, foi possível compreender quais são as categorias opressoras. O interesse pelas categorias de classe, de raça e de gênero assinalava, em primeiro lugar, o envolvimento do/a pesquisador/a com uma história que incluía as narrativas dos/as oprimidos/as e uma análise do sentido e da natureza de sua opressão e, em segundo lugar, uma compreensão de que as desigualdades de poder estão organizadas ao longo de, no mínimo, três eixos. Sendo assim, a quarta onda emerge como uma forma de romper com esse modelo estrutural de desigualdades e, para isso, utiliza-se das redes sociais como ferramenta de reivindicação (Silva; Carmo; Ramos, 2021). O uso das redes sociais tem desempenhado papel na articulação e expansão do movimento feminista, proporcionando um ambiente onde novas integrantes podem se engajar e diversas estratégias de luta pela igualdade de gênero podem ser organizadas. Nesse sentido, as redes sociais como um espaço de mobilização feminista, alinhando-se com os princípios da Geografia Feminista ao investigar como o espaço digital reflete e, simultaneamente, influencia as dinâmicas territoriais do movimento no Brasil, especialmente em contextos periféricos e regionais.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

DIONIZIO, Larissa Aparecida. GEOGRAFIA FEMINISTA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS: A QUARTA DO FEMINISMO NO BRASIL.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901092-GEOGRAFIA-FEMINISTA-E-OS-MOVIMENTOS-SOCIAIS--A-QUARTA-DO-FEMINISMO-NO-BRASIL. Acesso em: 06/07/2025

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