ECOMUSEU DOS SABERES-FAZERES DO CARIRI CEARENSE: POTENCIALIDADES DE COMUNIDADES DA CHAPADA DO ARARIPE

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ECOMUSEU DOS SABERES-FAZERES DO CARIRI CEARENSE: POTENCIALIDADES DE COMUNIDADES DA CHAPADA DO ARARIPE
Autores
  • PAULO WENDELL ALVES DE OLIVEIRA
  • Igor Cardoso Tavares Nobre
  • Edinaldo Filho Moreira Nascimento
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Paisagem, turismo e patrimônio
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901071-ecomuseu-dos-saberes-fazeres-do-cariri-cearense--potencialidades-de-comunidades-da-chapada-do-araripe
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Pertencimento; Paisagem Cultural; Museu de Território; Patrimônio Cultural; Preservação.
Resumo
INTRODUÇÃO O presente trabalho é um recorte do projeto intitulado: “Paisagem Cultural e Pertencimento: elementos para a proposição do Museu de Território do Cariri Cearense”, que vem sendo desenvolvido no âmbito do Laboratório de Espaço, Memória e Cultura Aplicados à Educação (LEMCAE/URCA), em parceria com outras Instituições. Dando a experiência exitosa do GeoPark Araripe, primeiro Geoparque das Américas, que vem abordando os aspectos da biodiversidade local, na perspectiva de sua conservação, em diálogo com as comunidades locais, principalmente no que concerne aos saberes e cultura local, valorizando o território e o patrimônio tangível e intangível. Apresenta-se a inspiração para ampliar tais ações para comunidades que não estão diretamente ligadas aos sítios de interesse que hoje compõe o GeoPark Araripe. A proposição de um Ecomuseu não se confunde com os eixos que vem sendo trabalhos pelo GeoPark Araripe Mundial, mas busca complementar e reforçar o papel de protagonistas dos sujeitos que habitam o território. As comunidades que estão sendo trabalhadas na presente proposta, não se encontram nas poligonais dos Geossítios que compõe o Geoparque. No entanto, apresentam-se com grande potencial de desenvolvimento turístico, com base em uma proposta de turismo de base comunitária, valorizando os patrimônios e a memória do lugar existentes nas comunidades. A princípio serão destacadas as comunidades dos Baixios e Chico Gomes, ambas na cidade de Crato – Ceará, situadas no sopé da Chapada do Araripe. O trabalho foi iniciado nestas comunidades, mas pretende-se ampliar a área de estudo para outros comunidades do entorno, correspondendo as áreas do sopé e encosta da Chapada do Araripe, nos limites entre os municípios de Crato e Barbalha. A proposta que será dissertada, ao longo deste trabalho, traz as abordagens iniciais desenvolvidas nessas comunidades, no intuito de apresentar aos sujeitos o que é a categoria de Museu de Território, a qual está englobado o Ecomuseu. Destacar as potencialidades existentes nos territórios das comunidades, tomando por base os saberes-fazeres dos sujeitos. Centrando as discussões nos saberes-fazeres dos sujeitos, compreende-se que estes devem ser os protagonistas do processo da proposição de musealização do território, cabendo aos pesquisadores o papel de mediação técnica da proposta. Nesse aspecto, os moradores das comunidades serão os agentes de constituição do inventário, valorizando a memória do lugar e seus elementos simbólicos, tanto materiais quanto imateriais, para produção do plano de musealização. Desta forma, o que está sendo proposto é a possibilidade de pensar a constituição de um Ecomuseu, por meio de itinerários culturais/corredores culturais, através de fatores que marquem a paisagem cultural do Cariri e contribuam como subsídios que fomentem a construção de plano de musealização, valorizando a cultura local e a comunidade a ela vinculada, na manutenção de seu pertencimento cultural e territorial. Destarte, a musealização do território pode contribuir como estratégia de administração da memória e instrumento de desenvolvimento social. MATERIAIS E MÉTODOS A proposição de musealização de um território surge como forma de valorizar comunidades pelo seu sentido de pertencimento a um determinado território, contribuindo para a manutenção de seu pertencimento cultural. Os objetos que compõe o acervo do Museu de Território conservam-se em seu contexto original, são inventariados, mas permanecem fazendo parte do cotidiano dos sujeitos (REIS, 2019), mantendo seus valores de uso e de troca, além de seu valor simbólico. A categoria de Museu de Território é adota e reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). O Museu de Território pode ser compreendido como uma estratégia de valorização da memória dos lugares, valorizando o território pelo sentido de pertencimento dos sujeitos, ao passo que a valorização da cultura fortalece a preservação da paisagem cultural local e pode gerar renda aos sujeitos, através de uma abordagem pautada em um turismo de base comunitária. A região do Cariri tem sido uma das regiões, no interior do Ceará, de maior atração para novos investimentos. No entanto, o que se nota, é o fato de que nem sempre esses novos investimentos estão articulados com determinadas condições locais, principalmente em relação às questões culturais. Deve ser destacado que esse processo de modernização dos espaços, em essência, produz um aprofundamento da consciência de si mesmo. Esse processo reflete uma tensão entre o particular e o universal, entre o provincial e o cosmopolita (BERDOULAY; ENTRIKIN, 2012). O pertencimento cultural torna-se evidente e apresenta-se em um campo de disputas entre o moderno e o memoriável. Esse processo de disputa implica em um sentido de pertencer a uma comunidade de memória. Para realizar o levantamento das comunidades locais com potencialidade ao desenvolvimento da proposta de proposição do Ecomuseu dos Saberes-Fazeres do Cariri, buscou-se subsídios no campo da sociomuseologia e nas discussões teóricas do campo da geografia humanista, como chaves de leitura. Quando se fala em Museus de território, compreende uma proposta no qual o museu é entendido como parte da comunidade em que está situado e voltado para a demanda e os problemas da sociedade, e não de forma exclusiva a sua coleção (AIDAR, 2002). Trata-se de preservar o patrimônio cultural e natural, vinculados a comunidade e permitindo um protagonismo no contexto cultural, social e econômico, voltados para o desenvolvimento social. Nesse sentido, o Museu de território deve ser compreendido no sentido de desenvolver-se como "[...] um interlocutor institucional natural à dimensão do território, uma ferramenta cultural para a valorização do capital patrimonial do território" (VARINE-BOHAN, 2008, p. 15). Tomando como fundamentação essa relação de valores e o sentido de pertencimento, propõe-se como base teórico-metodológica na geografia humanista e cultural, por meio dos saberes-fazeres. O geógrafo Eric Dardel (1899-1967), nos aponta as relações íntimas que liga o homem a terra, por meio do sentido de pertencimento, o ser e estar, o habitar um determinado espaço. Essa relação é mediada pelos sentidos e sentimentos dos sujeitos com o seu lugar de pertencimento, uma relação concreta que liga o homem a terra, uma geograficidade (DARDEL, 2011). Essa compreensão da maneira de sentir e agir da sociedade em relação com seus lugares, valorizando as experiências tanto pessoais quanto coletivas (OLIVEIRA, 2016), será uma das referências para compreender as potencialidades locais, visando uma possível construção de plano(s) de musealização do território. O sentido de pertencimento e as experiências espaciais com o ambiente darão os referenciais para pensar as comunidades que estão/estarão inseridas em uma proposta de produção de um plano de musealização do território. Sem esse elo que liga o valor simbólico do patrimônio, para além do seu valor de uso e de troca, com as relações cotidianas das comunidades, marcando de forma clara a identidade cultural daquele grupo de sujeitos, não haverá um sentimento de pertencimento e de preservação por parte da comunidade. Ao delimitarmos conceitualmente nossa compreensão de paisagem, podemos nos reportar a base pela qual será proposta a construção o levantamento das comunidades com potencialidades para se pensar itinerários, visando um plano de musealização do território. No sentido exposto, a paisagem não é uma mera cena, na qual o olhar do observador a descreve. Ao contrário, a paisagem representa o acúmulo, realizado por meio das memórias, e o despojo, proporcionado pelo esquecimento, das marcas e expressões culturais que definem os sujeitos de uma determinada comunidade ao seu espaço geográfico de convívio (HOLZER, 1999). Essa compreensão da paisagem cultural requer a vivência junto as comunidades, desta forma, com base nas experiências das vivências podemos problematizar as primeiras questões referentes à produção das propostas de itinerários/corredores culturais, na qual se insere as comunidades pesquisadas. Uma questão a se valorizar são os sujeitos e suas memórias, desta forma, será necessária a busca pela realização de compreender as relações entre o sujeito e o seu lugar. Esse destaque inicial entre o sujeito e o lugar dar-se, pois, o sujeito e o lugar são constitutivos um do outro (BERDOULAY; ENTREKIN, 2012). RESULTADOS O avanço da malha urbana sobre espaços rurais, espaços estes nos quais a cultura popular se apresenta de forma evidente, tem ajudado no processo de tensão na produção e disputa pela paisagem cultural. A paisagem cultural vai sendo descaracterizada e, o que se nota, é a falta de políticas públicas que resguarde o direito a cultura, o direito ao patrimônio, o direito ao território, no sentido de apresentar subsídios que permitam a comunidade difundir as marcas que lhe caracterizam e de preservar os bens, sejam materiais e/ou imateriais, que dão sentido a sua forma de pertencimento e de seus saberes-fazeres. No sentido inverso a este processo de descaracterização da paisagem cultural das comunidades locais, surge os movimentos de afirmação do direito ao território que, pautado na retomada e fortalecimento das expressões simbólico culturais, desempenham um papel de se afirmarem como pertencentes ao território, legitimados pelo processo de produção da paisagem cultural da comunidade e de seus sujeitos. Tomando por base as comunidades dos Baixios e Chico Gomes, em Crato – Ceará, tal aspecto de disputa simbólica pelo direito ao território é perceptível, seja pelo avanço da malha urbano sobre áreas rurais, seja pelo desenvolvimento de grandes obras, tais como o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), no qual a comunidade reforça seus laços culturais de pertencimento com o território para afirmar seu direito a terra, conforme é apresentado por Nobre (2021). A afirmação do pertencimento cultural, expressa-se simbolicamente na paisagem pelos elementos tangíveis e intangíveis das comunidades, como foi possível observar na construção do diário de campo, em vistas a momentos festivos das comunidades e em diálogos com algumas lideranças, como a retomada de tradições como o Maneiro-pau, Dança do Coco, Meizinhas e valorização de espaços simbólicos, tais como a Casa de Quitéria e a Casa de Farinha Mestre José Gomes, hoje pontos de cultura reconhecidos pelo Município e Estado. A retomada e valorização das expressões simbólico culturais das comunidades, tem produzido um elo de pertencimento com o território, marcando a produção de uma comunidade de memórias que, no processo de preservação de seu patrimônio tangível e intangível, reafirmam a produção da paisagem cultural local. No que tangem a proposição de um Ecomuseu dos saberes-fazeres, a proposta foi dialogada com as comunidades, no sentido de fortalecer a luta empreendida pelos sujeitos, constituindo-se como um instrumento de representatividade social, ao passo que permite o desenvolvimento social, pautado numa proposta de turismo de base comunitária e reforça o sentido de pertencimento existente entre os sujeitos e a comunidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O primeiro levantamento das comunidades dos Baixios e Chico Gomes demonstrou a potencialidade existente para o desenvolvimento de uma proposta de Museu de Território, pautada na concepção de um Ecomuseu dos saberes-fazeres, valorizando ações e processos já conduzidos pelas próprias comunidades, constituindo como um instrumento de preservação da paisagem. O passo seguinte será o desenvolvimento das ações de produção do inventário, na qual está sendo proposta a metodologia produzida pelos pesquisadores do LEMCAE, chamada de tecendo ideias – produzindo ações, a qual busca compreender elementos simbólicos das comunidades como potenciais para constituição do inventário, na elaboração do plano de musealização, dando continuidade à proposta que tem se mostrado viável.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, PAULO WENDELL ALVES DE; NOBRE, Igor Cardoso Tavares; NASCIMENTO, Edinaldo Filho Moreira. ECOMUSEU DOS SABERES-FAZERES DO CARIRI CEARENSE: POTENCIALIDADES DE COMUNIDADES DA CHAPADA DO ARARIPE.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901071-ECOMUSEU-DOS-SABERES-FAZERES-DO-CARIRI-CEARENSE--POTENCIALIDADES-DE-COMUNIDADES-DA-CHAPADA-DO-ARARIPE. Acesso em: 02/07/2025

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