O MOVIMENTO PUNK COMO CONTESTADOR POLÍTICO NO BRASIL

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
O MOVIMENTO PUNK COMO CONTESTADOR POLÍTICO NO BRASIL
Autores
  • Paulo Ernesto Lopes Rickli
  • Alides Baptista Chimin Junior
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/901026-o-movimento-punk-como-contestador-politico-no-brasil
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Movimento Punk, Política, Bolsonaro
Resumo
Resumo: O presente trabalho é um recorte do projeto de mestrado em andamento, que tem como objetivo entender como o discurso anti-reacionário se instituiu no movimento punk e nas letras de músicas punk rock a partir da ascensão política do ex-presidente Bolsonaro no Brasil. Musicalmente falando, as canções de protesto são uma versão do movimento punk, seguindo a ideologia anarquista do it yourself (DIY) e rompendo com a direção conservadora. O punk protegeu a autonomia das pessoas em termos de liberdade de vestir, liberdade de pensamento e liberdade de rebelião contra a moralidade previamente concebida pela sociedade. O movimento conservador do Brasil é o mais proeminente desde o impeachment/golpe da presidente Dilma Rousseff, que levou à ascensão do líder conservador Jair Bolsonaro e de sua retórica conservadora. Como resultado, algumas ferramentas de resistência contra o conservadorismo emergiram do movimento punk. Palavras-Chave: Movimento Punk, Política, Bolsonaro / Introdução O punk surge no começo dos anos 70 fortemente influenciado por diversos movimentos anteriores, como existencialismo nos anos 40 que promovia questionamentos sobre o sentido da vida com uma visão pessimista, o que acabou influenciando o pensamento de uma juventude de esquerda que já tinha em sua origem a contestação política, assim como outros movimentos que influenciaram o punk que viria a surgir como o beat e próprio rock and roll nos anos 50 (Bivar, 1982). Para Gallo (2011) o punk surge como uma acontecimento social que veio para mudar a estrutura cultura e social da sociedade norte americana e inglesa, nos anos 60 o sistema capitalista recebia crescentes críticas, devido ao contexto histórico do pós-guerra onde se havia uma prosperidade econômica e uma paz social, a classe burguesa estadunidense se consolidou, aumentando seu poder de compra e influenciando a construção de sua cultura e identidade própria (Guimarães, 2013), porém também gerou uma juventude insatisfeita que se viam aprisionados pelos ideais do capitalismo que os tornavam alheios aos problemas do mundo, com isso acabou-se por se tornar um terreno fértil para que movimentos contestatário surgissem e ganhassem força, entre esses movimentos se encontravam “o movimento negro, o movimento estudantil, a nova esquerda, o movimento feminista, a contracultura” (Cleacak, 1985 apud Biagi 2005) Desenvolvimento Jeffrey S. Debies-Carl, (2014), explora a relação intrínseca entre o movimento punk e os espaços que ele ocupa. Para Debies-Carl, uma subcultura punk não pode ser descoberta apenas pela sua música ou estilo, mas deve ser comprovada também pelo uso que faz do espaço físico. Ele argumenta que os punks criam e mantêm lugares que refletem seus valores e práticas culturais, muitas vezes em oposição às estruturas capitalistas dominantes. Esses espaços, que podem incluir desde porões e armazéns ocupados até parques e prédios oferecidos, são fundamentais para uma identidade punk. Eles permitem a expressão de um ethos de ‘do it yourself’ (faça você mesmo) (DIY) e antiautoritarismo, proporcionando um ambiente onde as relações são mais equitativas e a autoexpressão é incentivada. Debies-Carl (id.) observa que, ao ocupar e transformar esses espaços, os punks resistem às pressões do capitalismo e criam nichos onde possam viver de acordo com suas próprias prioridades, que muitas vezes estão em desacordo com a ordem espacial dominante que privilegia o consumo e a acumulação de capital. Ele enfatiza que a persistência e relevância do punk ao longo das décadas deve muito à capacidade desses espaços de promoção e perpetuação de subculturas, mesmo diante de recursos e situações sociais e espaciais limitadas. No Brasil com o processo de redemocratização a partir de 1979 o cenário político, econômico e social brasileiro passava por transformações e uma nova juventude emergia, uma juventude nascida e criada durante a ditadura militar, que não conhecia uma experiência democrática. Para Afonso (p.23, 2019) “Mais que um gênero musical, o rock produz uma atitude de ruptura às instituições e de imposição no espaço onde atua, no qual o adolescente se identificava e utilizava para conseguir seu lugar na sociedade”. o Punk no Brasil vai se desenvolver nesse contexto surgindo em São Paulo e em Brasília, porém logo se espalhando para outras cidades, eram jovens de baixa renda que viviam nas periferias, com trabalhos pouco recompensadoras ou desempregados, eram jovens que já tinham críticas ao rock nacional e encontraram no punk o seu espaço. (Reis, 2018) A ideologia punk diz respeito especialmente à atitude dos jovens inseridos em nosso contexto social reacionário e opressivo, mas não possui idéias de alternativas a esse contexto. Portanto, na primeira metade da década de 80, algumas ideologias políticas surgirão como substrato para a ação dos punks brasileiros, em parte pelo contato com os punks estrangeiros, as principais serão as idéias comunistas e como esmagadora maioria as anarquistas. (Milani, p.6 2008) Porém o punk foi recebido com resistência pela mídia brasileira e pelas alas políticas de direita, assumindo o papel de antagonizar esses grupos, uma vez que o movimento se caracterizava como movimento contestador político e engajado em causas sociais. Era previsto que o movimento punk e suas músicas e atitudes seriam mal-vistos pela mídia e pelo governo, apesar de se encontrar perto do fim do regime militar no Brasil a ditadura ainda estava vigente, e o punk com sua filosofia anárquica e ‘do it yourself’ e em ir contra o que conservadorismo pregava, confrontava o governo militar em suas músicas. No segundo mandato da Presidente Dilma, os discursos conservadores ligados a partidos de direita da política brasileira começaram a crescer e questionar a permanência de Dilma no cargo, esses discursos conservadores se encontravam tanto no espectro social do discurso ao acusar a Presidente de corrupção, como no espectro moral ao ressaltar os valores conservadores como a ética, a defesa da família tradicional, a valorização do livre mercado e a religião. (Rodrigues e Silva, 2023) Desde 2015, grandes acontecimentos na vida política do povo brasileiro, especialmente a trajetória política do deputado federal Jair Bolsonaro, têm despertado enorme repercussão. A exemplo disso vemos o discurso expresso no que viria a se tornar a principal figura conservadora do país, em seu discurso durante a seção para o impeachment de Dilma, ocorrido em 17 de abril de 2016: Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula que PT nunca teve, contra o comunismo pela nossa liberdade contra o foro de São Paulo pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim Com esse contexto de um governo conservador reacionário, os punks brasileiros vão voltar a se posicionar politicamente se opondo ao bolsonarismo, Mão, integrantes da banda Garotos Podre, em entrevista para a revista Carta Capital , em 2019 afirmou: “muitas bandas que tinham um posicionamento mais discreto em relação ao que estava acontecendo, hoje ele já assume a multa, já tocam como uma postura de defesa do povo brasileiro, do trabalhador, é contra a opressão, isso é que me deixa muito feliz e então o punk rock de alguma forma ele se revigora aqui no Brasil, porque nada mais revigorante que você ter uma causa por que lutar, e o Bolsonaro ele tá conseguindo transformar o Lula no herói no sentido da mitologia grega, e tá fazendo ressurgir um punk rock enquanto proposta de contestação a um regime autoritário” ou seja o bolsonarismo esta propiciando que o movimento punk volte a ganhar força no Brasil graça ao cenário político do governo reacionário, também em 2019 tivemos o cancelamento do Show da banda punk norte-americana Dead Kennedys após sofrerem ameaças ao divulgar de um poster satirizando os bolsonaristas .Em semelhança com caso do Dead Kennedys o festival punk Facada Fest, realizado no Pará, entrou em conflito com o governo Bolsonaro ao divulgar um cartaz em que palhaço Bozo aparece empalado por um lápis gigante e usando uma faixa presidencial com o número 171 . Na época o ministério da justiça abriu um inquérito contra festival, alegando que o cartaz se caracteriza como uma ameaça ao presidente da república. Considerações Finais Com base nessa fundamentação, a análise se estende à relação entre o punk e as espacialidades que ocupam, conforme argumentado por Debies-Carl (2016), e a capacidade desses espaços de promover e perpetuar subculturas que resistem às estruturas capitalistas. No Brasil, o movimento punk encontrou um terreno fértil no contexto de redemocratização pós-ditadura, ganhando força como voz de uma juventude revoltada e em busca de identidade. O estudo da ascensão e influência do conservadorismo e do reacionarismo contemporâneo, representados pela figura de Jair Bolsonaro, e a resposta do movimento punk a esses fenômenos, aponta para uma rica interação entre música, política e Geografia. Referências Bibliográficas AFONSO, L. F. F. . 'A gente não somos inútil': o rock como ação política na década de 1980. AQUILA (RIO DE JANEIRO) , v. 1, p. 15-34, 2019. BIAGI, O. L. . A Contracultura e o Rock n Roll: a Relação dos Movimentos de Contestação Social e a Música Jovem dos Anos 60 e 70. Nethistória (Brasília) , v. 1, p. 15, 2005. Bivar, Antonio. O que é punk? São Paulo: Brasiliense. 1982. DEBIES-CARL, J. S.. Punk Rock and the Politics of Place: Building a Better Tomorrow. Routledge, 2014. GALLO, Ivone. POR UMA HISTORIOGRAFIA DO PUNK. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, [S. l.], v. 41, 2011. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/6542. Acesso em: 15 jun. 2024. GUIMARÃES, Felipe Flávio Fonseca. Do surgimento do rock à sua difusão pelo mundo [manuscrito] : a apropriação do rock no Brasil através das versões de meados da década de 1950 a meados da década de 1960 / Felipe Flávio Fonseca Guimarães. – 2013.101 f.: il, Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social/PPGDS,2013. MILANI, Marco Antonio. Dinâmicas ideológicas no movimento punk. 2008. Disponível em:www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/terceirosimposio/marcoantonio.pdf. Acesso em: 15 jun. 2024. REIS, Susana Azevedo. “Faça você mesmo”: o fanzine como representação do movimento punk em Juiz de Fora. Dissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Comunicação Social. Programa de Pós-graduação em Comunicação,2018. RODRIGUES, Yago de Souza; SILVA, Janine Targino da. O impeachment de 2016 a partir dos campos de moralidade: os discursos conservadores ativados na deposição de Dilma Rousseff. Revista Inter-Legere, [S. l.], v. 6, n. 38, p. c32594, 2023. DOI: 10.21680/1982-1662.2023v6n38ID32594. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/interlegere/article/view/32594. Acesso em: 15 jun. 2024.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RICKLI, Paulo Ernesto Lopes; JUNIOR, Alides Baptista Chimin. O MOVIMENTO PUNK COMO CONTESTADOR POLÍTICO NO BRASIL.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/901026-O-MOVIMENTO-PUNK-COMO-CONTESTADOR-POLITICO-NO-BRASIL. Acesso em: 03/10/2025

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