NARRAÇÃO GEOARTÍSTICA: SOBRE CONTAR HISTÓRIAS E O FAZER GEOGRÁFICO

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
NARRAÇÃO GEOARTÍSTICA: SOBRE CONTAR HISTÓRIAS E O FAZER GEOGRÁFICO
Autores
  • Cadu Cinelli
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações da cidade e do urbano
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/900349-narracao-geoartistica--sobre-contar-historias-e-o-fazer-geografico
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
narração geoartística; geograficidade; bicicleta; ciclo-entregadores; geoarte
Resumo
A presença dos contadores de histórias em diferentes períodos históricos e contextos comunitários é uma marca. Ao longo da história, desde que a linguagem oral começa a ser desenvolvida, as narrativas, como forma de se inventariar a própria experiência da existência, também se consolida como uma prática cultural frequente. Como uma maneira recorrente de nos lembrarmos que somos humanos, nos inventariando a nós mesmos o que estamos fazendo, ou o que fizemos, ou o que iremos fazer aqui nessa vida e nesse mundo. As formas de como essa manifestação têm sido expressadas ao longo dos milênios são inúmeras: desde tempos primordiais dentro de cavernas; ao redor de fogueiras em comunidades; ou com alguém mais velho contando para crianças debaixo de uma árvore na roça, ou dentro de teatros e bibliotecas na nossa contemporaneidade em que um artista profissional conta uma história que ele trabalhou previamente. O contar histórias profissionalmente ou não se torna daquelas performances do cotidiano que irrompem o tempo presente para evocar o passado ou mesmo o futuro. Diante daquela pessoa que nos narra suspendemos espaço e tempo e somos convidados a adentrar pelos processos imaginativos espacialidades e tempos materializados pelas palavras vocalizadas que nos são ditas revelando a história contada. Mas se ao pensar no contador de histórias pudéssemos também fazer uma analogia com esse alguém que também possa contar/narrar geografias? Não seria possível considerar que as histórias contadas cartografam paisagens imaginadas por aqueles que contam, assim como por aqueles que as escutam? A partir dessas indagações o trabalho a ser apresentado traz em seu cerne parte do processo de pesquisa de doutorado de um contador de histórias imbuído do seu fazer geográfico, em que é levada em conta a narração de histórias como metodologia, caminho, percurso epistemológico artístico e geográfico. Trazer a narração de histórias para a geografia é fazer um deslocamento de perspectivas valorizando aquelas que relacionadas à pessoa que conta a história e àquelas que a escutam. Essas perspectivas estarão conectadas as experiências de mundo, repertórios de vida e realidades distintas, conformando em geografias mais conectadas às pessoas. Neste sentido, uma geografia das histórias contadas se torna uma forma ampliadora e provocadora de fazer geografia(s), que considera subjetividades, processos imaginativos e afetividades, e é claro, contextualizando-as também nas particularidades e coletividades que estão inseridas. No caso deste trabalho as histórias e geografias a serem trabalhadas, não serão contos de fada, ou narrativas das tradições orais, ou mesmo de algum texto literário. Não é este o caminho que foi seguido. Serão apresentadas as narrações geoartísticas, resultado das experiencias espaciais ao longo do trabalho de campo realizado pelo pesquisador/contador de geografias. Essas narrativas geográficas têm como personagens principais ciclo entregadores, suas histórias de vidas, suas cartografias afetivas e sensíveis pela cidade de Curitiba e Porto enquanto trabalham. A pesquisa encontrou na bicicleta um dispositivo artístico e mediador, como forma de acompanhar, estar junto, observar e dialogar com esses personagens que conforme as horas, distâncias, nos seus percursos, entre uma pedalada e outra contam sobre suas vidas. O contador de geografias, que é o pesquisador também por trazer consigo essa perspectiva da experiência de quem conta histórias, traz para a pesquisa uma narrativa a ser apresentada, com aspectos e elementos desse ser narrador – que na tentativa de observar a sua própria geograficidade, amplia a possibilidade de acompanhar a geograficidade de uma outra pessoa, podendo desta forma compartilhá-la através de suas narrações geoartísticas. Cabe ressaltar aqui, que ao denominar estas narrações como “narrações geoartísticas”, surge a partir do desdobramento da compreensão de que para o resultado da experiência de narrar sobre as histórias de vida dessas pessoas e suas geograficidades, o pesquisador / narrador não estaria só fazendo as narrações artísticas, mas ao tratar o eixo e disparador da motivação do que contar sobre as relações espaciais dessas pessoas, há um claro interesse em se trabalhar sobre essas geografias. Pois, se fosse o caso da narração artística, como proposto por Aline Cântia (2021) e Giuliano Tierno (2016), há a necessidade de uma proposição artística para uma performatividade no contar histórias para um público. Por isso, ao se pensar a narração geoartística, se desdobra, para que essa proposição incorpore o espaço como elemento primordial e basilar para o processo criativo. Os cicloentregadores, os personagens, são pessoas que trabalham no funcionamento da cidade, dos serviços de entrega e coleta de objetos, documentos, comida, água, gás, encomendas de um modo geral. São pessoas, que estão na rua, pedalando, usando a própria energia física para se deslocar. São pessoas que são o símbolo da precarização extrema de um trabalho sem vínculos empregatícios, e que ganharam uma grande visibilidade pelas problemáticas emergidas por causa da pandemia da Covid-19. Suas perspectivas, por estarem de bicicleta, entram em confronto com cidades que são planejadas para carros, que excluem ciclistas e pedestres de um modo geral. Seus deslocamentos são marcados intensamente por confrontos de inúmeras ordens: raciais, de classe, com seus clientes, com as pessoas nas ruas, com os carros, com os ônibus, com a polícia, com os olhares que os negligenciam, desmerecem, insultam. Mesmo assim, seguem trabalhando, pedalando em favor às máquinas de lucros dos grandes aplicativos, ou de seus patrões, ao carregarem suas marcas, em nome de supostas autonomias e liberdades. Pedalam por suas sobrevivências seguindo uma analogia com a imagem de corredores ciclistas de campeonatos, só que no caso destes trabalhadores o prêmio é o pouco que monetizam no fim do dia, da semana ou da quinzena... Ao pedalar, enquanto as paisagens se configuram e reconfiguram porque os caminhos são marcados pelos enfrentamentos, há em complexidade os sonhos, as artes e os desejos dessas pessoas, compartilhados em esquinas, travessas, num sinal fechado que permite parar para respirar um pouco: um poema que um dia foi escrito, uma música que embala a vontade de voltar logo para casa, um sonho compartilhado ou o desejo de estar em outro lugar fazendo uma outra coisas da vida. As perspectivas trazidas por essas pessoas são deflagrações dos problemas das narrativizações, das narrativas hegemônicas, e o quanto as cidades podem ser repensadas a partir das suas produções espaciais, portanto das suas geografias. E para isso é preciso contar essas geografias, trazê-las imbuídas do envolvimento dos afetos concomitantemente com o olhar pesquisador. REFERÊNCIAS AUGÈ, Marc. Elogio de la bicicleta. Barcelona: Gedisa, 2009. BENJAMIN, W. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7a. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. 197 -221 p. CAMPOS, C. E. C. O. Narração Geoartística: movimentos de corpos pedalantes, Tese (doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências da Terra, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Defesa: Curitiba, 23/02/2024 https://acervodigital.ufpr.br/xmlui/handle/1884/94277 CAMPOS, C. E. C. O; CRUZ, H. A. Percursos Afetivos: Narrações Geoartísticas de Corpos Pedalantes, na Revista GEOGRAFAR, v 19, n 1 (2024) DOI: http://dx.doi.org/10.5380/geografar.v19i1.93913 CAMPOS, C. E. C. O. de; TORRES, M. A. Entre as geografias narradas e os imaginários geográficos. In: DOZENA, A. (org.). Geografia e Arte. Natal: Caule de Papiro, 2020. p. 175-208. CARMO, R. M. do; CALEIRAS, J.; ROQUE, I.; ASSIS, R. V. O trabalho aqui e agora: crises, percursos e vulnerabilidades. Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2021. DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2015. GONZÁLEZ, L.; HASENBALG, C. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2022. LEANDRO, L. A. Uberização e condições de trabalho dos cicloentregadores que atuam no município de Curitiba - PR. Curitiba: UTFPR, 2022. LINDÓN, A. ¿Geografías de lo imaginário o la dimensión imaginaria de las geografias del Lebenswelt? In: LINDÓN, A.; HIERNAUX, D. (org.). Geografías de lo imaginário. 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Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CINELLI, Cadu. NARRAÇÃO GEOARTÍSTICA: SOBRE CONTAR HISTÓRIAS E O FAZER GEOGRÁFICO.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/900349-NARRACAO-GEOARTISTICA--SOBRE-CONTAR-HISTORIAS-E-O-FAZER-GEOGRAFICO. Acesso em: 05/07/2025

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