A CULTURA E A NATUREZA METROPOLITANA DA PICHAÇÃO BELO-HORIZONTINA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
A CULTURA E A NATUREZA METROPOLITANA DA PICHAÇÃO BELO-HORIZONTINA
Autores
  • Erick Vinicius Pereira Lopes
  • Alexandre Magno Alves Diniz
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Identidades territoriais
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/900223-a-cultura-e-a-natureza-metropolitana-da-pichacao-belo-horizontina
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Culturas urbanas/metropolitanas; manifestações culturais/urbanas; organizações; contestatórias.
Resumo
Resumo Expandido A cultura, termo polissêmico, complexo e interdisciplinar, pode ser entendida como o conjunto de aspectos, de atitudes e de comportamentos, que são geradores de um estilo, de um modo de vida, de certa forma específico (LOPES et al., 2023). Já urbano, apesar de representar o tecido que concentra dimensões que nascem nas cidades e espraiam-se para as suas periferias, pode ser entendido como o que é associado ou próprio à/da cidade (MONTE-MOR, 2006). Assim, a junção de ambos os termos (cultura e urbano), entende-se como a expressão/manifestação de grupos, geralmente de jovens, que desenvolvem suas ações, apropriando-se dos variados espaços da cidade, geralmente públicos, (re)criando novas sociabilidades (MENDONÇA, 2009). Esse espraiamento dissemina aspectos materiais e imateriais, congregando além da população e economia, os aspectos das vivências. Deste modo, hábitos que eram característicos da área central, principalmente das metrópoles, tornam-se presentes em toda a sua hinterlândia (LENCIONI, 2020). Ocorre uma espécie de tentativa da homogeneização cultural (globalização), principalmente em culturas cosmopolitas, pelas lógicas recebidas e distribuídas pelas metrópoles. Apesar disso, sucede um processo de adaptação aos costumes locais (glocalização), que altera as identidades (LOURENÇO, 2014). Dentre as culturas urbanas e cosmopolitanas, é comum as interrelações entre grupos variados, visando a sua manutenção. Eles podem complementar-se, excluir-se ou reafirmar-se, diante dos seus desafios e/ou objetivos (ROCHA, 2013). Nessa movimentação, os seus territórios (local de poder) e territorialidades (especificidade e identidade com locais) são constantemente utilizados como estratégias (HAESBAERT, 2004), transformando-os também em lugares (relações de vivências, positivas ou negativas) (TUAN, 2018). Diante do exposto, pretende-se analisar os aspectos grupais da pichação, que se encaixa nos informes anteriores. Ela pode ser definida como uma forma de saturação do espaço urbano (demarcação), a partir de marcas simbólicas nas paisagens (alfabetos, cores, desenhos, palavras, símbolos, signos), significativamente identitária e territorial, que influenciam suas práticas e decisões, individuais ou grupais. Os grupos, como um conjunto de pessoas reunidas proximamente (fisicamente ou não) que forma um todo, é uma organização primordial da prática. É uma espécie de familiaridade, de fraternidade, de irmandade, de relações de confiança e afins; tudo o que denota união e auxílio acima de tudo: vai além da prática (LOPES, 2023). É a experiência coletiva do prazer: estar junto é o que prevalece (ISNARDIS, 1997); configuram o que ditam as suas relações e (re)união contra o sistema. Dentre desses grupos, há culturas que eram inicialmente específicas da porção core da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – Minas Gerais (MG), no caso as áreas centrais (bairro Centro e seu entorno) da capital mineira, que se espalham em espaços relativamente próximos e longínquos, urbanos ou não, a partir da década de 1940, associado ao processo de industrialização e metropolização. Estendem-se, assim, suas condições gerais para espaços de sua influência desde então (MONTE-MOR, 2006). A pichação, seguindo a hierarquia e os processos urbanos, inicia-se no Hipercentro de Belo Horizonte, perpassando para outros bairros centrais, depois para os pericentrais, em seguida para periferias mais longínquas da cidade, alcançando posteriormente as principais cidades vizinhas, e, hoje, consta em toda a RM. Deste modo, este estudo busca analisar as características da atuação dos principais grupos de pichadores que operam na Av. Amazonas (entre Belo Horizonte e Contagem), Av. Presidente Antônio Carlos (entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves) e BR-040 (entre Belo Horizonte, Contagem e Ribeirão das Neves) – três das principais centralidades lineares da RMBH. Subcentros estes, que ligam importantes centralidades regionais, como o Hipercentro (Belo Horizonte), os bairros Eldorado (Contagem) e Esperança (Ribeirão das Neves), abordados em outros estudos (LOPES; DINIZ, 2022). Este estudo é relevante dada a necessidade da compreensão das culturas regionais e/ou metropolitanas, sendo a região, de um lado, tida apenas como uma abstração científica/legal, não sendo passível de apropriação simbólica (BEZZI, 2002); de outro, é apenas vista como homogeneização/globalização, sem aspectos locais/glocais (LOURENÇO, 2014). Como metodologia, com base em Diniz e outros (2024) e Lopes (2023), foram definidos: o levantamento bibliográfico; o levantamento de informações primárias, registro de fotos e vídeos, formulário de observação com 14 variáveis relacionadas à natureza, localização (esquina, prédio, altura, parte constituinte), materiais, estilos, sobreposições e outras relações (assinaturas de grupos fora da pichação, conversas com outras pessoas, referências ao ano da realização etc.), coletados em 2022; criação de banco de dados alfanuméricos e de estatísticas, gráficos e mapas; e por fim, as análises e comparações dos dados. Para os resultados, na análise geral da pichação (11.242 pichações – 100%), das pichações com grupos (4.447 registros – 39,6% – e 508 grupos – representando 39,56% das marcações), nas pichações com grupos que estão presentes concomitantes nas três áreas de estudo (3.037 marcações – 27,1% – e 81 grupos – 15,9% que congrega 27,01% de todas as demarcações) e nas pichações dos grupos mais atuantes (986 inscrição – 8,7% – e 5 grupos – 1,0% que possuíram 8,7% de todas as pichações e 32,1% entre as pichações realizadas por grupos) foram encontrados certos padrões: mais de 97,3% de marcações de território por indivíduos/grupos; superior a 69,7% de marcações sem ser em esquinas; cerca de 92,2% em edificações; em torno de 24,6% em edificações de uso misto; próximo a 76,7% em muros; por volta de 68,9% na altura do nível do olhar; aproximadamente 70,8% do uso do material spray; quase 53,6% do estilo mineiro; pra cima de 97,0% sem sobreposições e sem outras relações. Em seu trabalho seminal, Isnardis (1997) relaciona o fato de os grupos não possuírem correspondência em estilos e outras variáveis. Porém, no exame individual dos cinco grupos, nota-se a alteração desse padrão por alguns. Os grupos 1, 3 e 4 mantiveram o padrão, enquanto os grupos 2 e 5 tiveram outras preferências (marcações maiores de territórios, em edificações comerciais e com estilo paulista). Além disso, apesar de possuírem gêneses belo-horizontinas, o grupo 1, 3 e 5 são grifes (união de grupos, considerados os melhores, os mais ousados ou da mesma região, ou, ainda, os melhores pichadores dos seus grupos) e os grupos 2 e 4 são apenas grupos (organizações gerais). Esses grupos também se figuram entre os mais atuantes das centralidades do Hipercentro (Belo Horizonte), Eldorado (Contagem) e Esperança (Justinópolis). Some-se a isso, que 90 grupos estão tanto nas centralidades regionais e nas lineares, não se limitando somente sua criação a tais municípios, tendo coletividades também de Betim, Esmeraldas, Ibirité, Sabará e Santa Luzia (todos com forte integração com a metrópole), demonstrando, mais outra vez, a metropolização pela pichação. O caso excepcional é grupo internacional, com gênese e forte presença na Europa, buscando ser visto em um importante cenário como o dos contextos brasileiro, mineiro e belo-horizontino. Isto reforça justamente a troca constante entre os grupos nas áreas, pois compartilham suas feições e relações, tendo uma grande dinâmica da manifestação. Mais um destaque pode ser relacionado em suas atuações, a partir das áreas mais pichadas, tanto pelos pichadores em geral, quanto pelos seus grupos, pelos grupos concomitantes e pelos grupos mais atuantes, que são similares: apresentam grande visibilidade (cruzamento de importantes ruas, pontos e passagens de transportes públicos) e a disponibilidade de muros (extensão e tipo de material – relativamente poroso). Tais áreas são reflexos da metropolização, pelo espraiamento das atividades e demandas da população, acompanhada das atividades/demandas dos pichadores. De certa forma, não somente os fatores populacionais e econômicos estão em torno da visibilidade, mas também as manifestações culturais, que estão nas áreas de realização do cotidiano. Por fim, destaca-se o fato de a pesquisa ter alcançado formas de demonstrar como os aspectos metropolitanos não são somente populacionais, laborais ou físicos, também estão relacionados às maneiras culturais, paisagísticos e vivenciais de certos grupos. Como acompanham os movimentos, tantos as pichações, quanto seus padrões espaciais, autores e grupos dão pistas dos processos de metropolização, trazendo foco para como as regiões são passíveis de apropriações simbólicas e locais no seu cotidiano, a partir de territórios, territorialidades e lugares compartilhados. Referências bibliográficas BEZZI, M. L. REGIÃO COMO FOCO DE IDENTIDADE CULTURAL. Geografia, Rio Claro, v. 27, n. 1, p. 5-19, abril 2002. Disponível em: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/1732. Acesso em: 11 mar. 2024. DINIZ, A. M. A.; RIBEIRO, L. M. L.; LOPES, E. V. P.; LIBÓRIO, M. P. 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Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LOPES, Erick Vinicius Pereira; DINIZ, Alexandre Magno Alves. A CULTURA E A NATUREZA METROPOLITANA DA PICHAÇÃO BELO-HORIZONTINA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/900223-A-CULTURA-E-A-NATUREZA-METROPOLITANA-DA-PICHACAO-BELO-HORIZONTINA. Acesso em: 23/06/2025

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