O RESÍDUO COMO MEIO PARA O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA (RESISTÊNCIA) E COEXISTÊNCIA DE COMUNIDADES RURAIS TRADICIONAIS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
O RESÍDUO COMO MEIO PARA O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA (RESISTÊNCIA) E COEXISTÊNCIA DE COMUNIDADES RURAIS TRADICIONAIS
Autores
  • Arlete Mendes Rosa
  • Marcos Augusto Marques Ataíde
  • Wellington Ribeiro da Silva
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações da cidade e do urbano
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/900132-o-residuo-como-meio-para-o-desenvolvimento-da-resiliencia-(resistencia)-e-coexistencia-de-comunidades-rurais-trad
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Representação socioespacial, Resíduo, Resiliência, Comunidades tradicionais rurais
Resumo
A resiliência adquirida pelo indivíduo a partir do uso potencial dos resíduos acumulados na história e perpetuada no tempo e no espaço vivido desencadeia a metamorfose do sujeito e do grupo social em lugares acometidos de perturbações internas e/ou externas, naturais, socioeconômicas e/ou político-estruturais. Igualmente, a necessidade de resistir a novos eventos oferece uma forte razão para a mudança. A resiliência é teimosamente contextual, como são também os resíduos depositados na cultura de um grupo social. Martins (2008) adverte que no residual e no virtual estão centradas as necessidades radicais, ora, são essas estreitezas que “retiram” das entranhas novas possibilidades. É justamente nesse micro sistema de reprodução local contra hegemônico que se encontram particularidades e possibilidades do que é residual nos modos de vida e saberes nas comunidades visitadas e percebidas. O saber e o fazer se mostram latentes por meio dos sentimentos e ações de resistência da comunidade rural contra insurgências capitalistas segregadoras e compulsórias. Contrapondo-se ao processo modernizador do território, grupos sociais de agricultores afirmam dar continuidade à criação de pequenos animais, à produção diversificada na agricultura e à outras atividades ligadas ao campo, como nichos de subsistemas resistentes à produção hegemônica rural. Enquanto mudanças provocadas pelos atores hegemônicos se dão do global ao local, os resíduos vão se sedimentando na mesmice da vida cotidiana transformando-se em ‘arsenal’ futuro quando surge a necessidade (a crise). Com efeito, é nas tensões do vivido que tem lugar o encontro / desencontro da vida cotidiana com a vida privada e desse mero acontecer com a História (Martins, 2008). Ainda, buscando a luminosidade das construções teóricas e de método lefrebvriano, importa lembrar que esse método, esse saber fazer residual não é utópico, nem abstrata nem concretamente. “Os resíduos em questão estão aí, hic et nunc. Não é, tampouco, prospectivo. Não mostra uma imagem enganadora do futuro, embora esteja voltado para o futuro e faça apelo ao possível (logo, a imaginação)” (Lefebvre, 1967, p. 376). Conhecer os elementos residuais que podem auferir comutações é o ponto principal nos momentos de transe e exiguidade. Para os camponeses, pequenos produtores rurais, “a permanência na terra, a luta para conquistá-la e as representações que retêm o substrato da vida camponesa são traços de um tradicionalismo que surge ressignificado” (Castro, 2009, p. 160). O tradicional ressignificado torna-se campo de luta pela sobrevivência e coexistência, inscrevendo práticas dentro de lógicas diversas, totalizantes e capitalistas. Isso pode ser medido nos momentos de crise os quais remetem às representações elaboradas pelo grupo, evidenciando ações e pensamentos compatíveis com o contexto de sua existência. Em “Cultivando a Resiliência em um Mundo Perigoso”, de Laurie Mazur (2013 p. 211), são bem apresentadas ideias dos interlocutores da pesquisa quando demonstram os resíduos reavivados, as inovações inferidas no cotidiano e a abertura às mudanças. Pelo discutido, apresenta-se, gráfico sugestivo dos conteúdos, identidades e resiliências observados em comunidades rurais tradicionais no interior goiano (Maurilândia / GO) a partir dos eventos dados. Deveras, nas Ciências Humanas, o empírico e a pesquisa documental refutam e/ou comprovam dados teóricos à luz da Ciência. Caso fosse o contrário, estudos e incursões na realidade empírica dos grupos sociais trariam à baila ressonâncias do ser e fazer social como elementos passíveis de análises científicas. Na Geografia tudo isso importa, contando que esses elementos estejam inseridos num “todo espacial” sem se tornar totalidade (mais abrangente e menos real). Na experiência concreta dos sujeitos, perceber práticas residuais do campo (no campo e na cidade rural) se efetivou como argumento robusto para se pensar a resiliência enquanto processo, meio e fim aplicados à prática cotidiana dos atores sociais locais. Por isso, torna-se importante o olhar mais atento aos mecanismos que promovem os resíduos a práticas de permanência e arranjos para reafirmar o lugar como identidade e identificação social. Resíduo como forma de permanência e reafirmação do lugar É sabido que através do conhecimento tradicional, das relações socioespaciais e das experiências camponesas são franqueadas possibilidades de permanências rurais que alimentam o imaginário das pessoas de dar continuidade a formas pretéritas de vida. Em que sentido pode-se falar em permanência no contexto das comunidades rurais? A permanência está atrelada, dialeticamente, ao processo de ruptura. Então, o que permanece e o que se pulveriza? Muito embora esses termos, aparentemente antagônicos, se complementem quando conhecida a sequência do movimento: permanecer – romper nas mediações sociais e espaciais, a ruptura indica descontinuidade, pausa ou mudança súbita de rumo no decorrer dos acontecimentos. Num sentido cultural, tem-se a cisão no conjunto de valores e expectativas de determinada época; um salto em direção a uma nova conjuntura, uma ruptura das práticas sociais precedentes. A contradição das rupturas está em manifestar-se mediante a existência de permanências já estabelecidas. Entende-se que a permanência está intimamente ligada à mudança, transformação, superação, às rupturas. Mesmo assim, no processo de ruptura a superação do antigo pode não ser eliminada sumariamente e continuar existindo no interior das transformações anunciadas. Para Lefebvre (1983), superação implica, também, numa espécie de “retorno ao passado” que é, em cada etapa do desenvolvimento, reencontrado, mas superado e por isso mesmo aprofundado, liberado de suas limitações. O movimento antagônico de permanecer e romper (cessar e extinguir) se manifesta no campo, na cidade rural, como em outras formas espaciais em que, por conta de processos de transformação e inserção do novo, o que é velho e superado não se aniquilada de imediato. Nesse entendimento, Martins (2008, p. 57) assevera que é “no instante dessas rupturas do cotidiano, nos instantes da inviabilidade da reprodução, que se instaura o momento da invenção, da ousadia, do atrevimento, da transgressão”. Esses espaços cotidianos são, por vezes, tomados de assalto, saqueados, negados e mesmo assim resistem, transgredem no processo de transformação. Com amparo em Lefebvre (1991) e mais recentemente em Duarte (2006), tem-se, no contexto das mutações, no espaço e na práxis social, o valor de uso como bem que não esvanece, não desaparece de imediato. O valor de uso, que implica em “apropriação”, reaparece nas práticas socioespaciais cotidianas, em contradição dialética com o valor de troca, que pressupõe “propriedade”. Tem-se, por meio das permanências, a reafirmação do lugar pelas humanidades na condição de cidadãos resilientes frente aos eventos contrários, numa coexistência (e resistência) espacial e sociocultural. Desse modo, ruralidades e urbanidades podem, em bom termo, responder aos diversos modos de permanências e reafirmações do campo e da cidade fora desses espaços. Pode-se pensar num processo de continuar fazendo (como num gerúndio contínuo – mesmo que redundante) apesar das descontinuidades processuais. Esse permanecer ligado ao vivido, contraditoriamente, é a simultaneidade dos tempos idos e da novidade em estado de transmutação. Trata-se da transição entre o que já foi e o que ainda não é. Aquilo que se encontra em processo de superação se opõe e resiste ao novo que se anuncia. Por conseguinte, nem tudo que é superado desaparece no agora, continua a contribuir com o processo de transformação da sociedade. Dito de outra forma, as ruralidades e urbanidades correspondem aos saberes e fazeres congelados e, a posteriori, reencontrados (buscados) numa contingência de retorno ao aprendido e experienciado. Seria o refazer ou o possuir aquilo que permaneceu, mesmo não mais existindo, numa criação dialética. Para além das formas e funções espaciais do vivido e/ou percebido, tem-se em outra dimensão saberes e fazeres repetidos e sacralizados nos ritos, mitos, crenças alardeadas nas festas profanas e/ou religiosas em prol dos santos padroeiros; crenças típicas da cultura e dos festejos religiosos do campo e das cidades rurais. Num mix dialético entre o rural e o urbano, campo e cidade são manifestas e revalorizadas ações e releituras culturais (artesanato, gastronomia, festas, costumes) que são percebidas com valor único, original, real e simbólico. Talvez uma hibridização pós-moderna de revalorização do tradicional, do antigo, do artesanal e rural numa reconfiguração de usos e costumes da urbanidade com baixa subjetividade ligadas ao campo. Essa circulação contraditória do que permanece, do que é revalorizado e reafirmado como característica intrinsecamente local remete aos resíduos de épocas pretéritas readmitidos no contexto atual. Em sua assertiva, Einstein (1915) há muito, anunciava que no meio das adversidades e dificuldades emergem, muitas vezes, as oportunidades e/ou resíduos potenciais. Na perspectiva antropossocial têm na resiliência dos sistemas sociais sua capacidade adaptativa e regenerativa. Isto é, a competência que um ecossistema socioecológico possui de aprender, organizar-se e adaptar-se frente a distúrbios, sem perder sua estrutura e função. Seria, enxergar novas oportunidades mesmo no conflito. Dessa maneira, a resiliência sociocultural seria um farol na articulação dessas esferas simbólicas, produtivas e políticas de natureza, articulando conhecimento ecológico local com as ciências (Seixas e Berkes, 2005). O resíduo como fator resiliente advém de pequenas iniciativas, por vezes insignificantes e escurecidas em micro escala, obstativo, que dão movimento ao lugar e ressignificação aos territórios. São ocorrências que se dão na dimensão da cotidianidade marcada pelo mimético, pelo repetitivo, pelo ordinário e entediante. Nesses lugares não se apresenta nada de novo e original, exceto o extraordinário e o insurgente. Há que surgir, “de um constante movimento, de uma ininterrupta dinâmica de repetição, algo de novo [que] irrompe e esparge laivos de uma revolução” (Xavier, 2012, p. 4). São pequenas revoluções que trazem o novo, o inesperado, mesmo sobre vestiduras do passado. A filosofia, no amparo da questão, diz que “a tradição filosófica sempre deu prioridade à imaginação reprodutora, considerada como um resíduo do objeto percebido que permanece retido em nossa consciência. Referências LEFEBVRE, H. Metafilosofia – Prolegômenos. Trad. e introd. de Roland Corbisier. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1967. (Coleção Perspectivas do Homem) _____________. A vida cotidiana no mundo moderno. Série Temas. Vol. 24 – Sociologia e Política. Editora Ática. São Paulo, 1991 MARTINS, J. S. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. 2. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2008. MAZUR, L. Cultivando a resiliência em um mundo perigoso. In: ASSADOURIAN, E.; PRUGH, T. (Org.). Estado do mundo 2013: A sustentabilidade ainda é possível? Worldwatch Institute. Produção em parceria: Instituto Akatue Universidade Livre da Mata Atlântica. 1. ed. Salvador: Editora Uma, 2013. p. 184-193. XAVIER, G. B. Espaço, método e vida cotidiana: a metafilosofia e o pensamento sociológico de Henri Lefebvre. Universidade Estadual de Goiás - Relatório parcial de projeto de pesquisa. Anápolis – GO, 2012. YUNES, M. A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa renda. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ROSA, Arlete Mendes; ATAÍDE, Marcos Augusto Marques; SILVA, Wellington Ribeiro da. O RESÍDUO COMO MEIO PARA O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA (RESISTÊNCIA) E COEXISTÊNCIA DE COMUNIDADES RURAIS TRADICIONAIS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/900132-O-RESIDUO-COMO-MEIO-PARA-O-DESENVOLVIMENTO-DA-RESILIENCIA-(RESISTENCIA)-E-COEXISTENCIA-DE-COMUNIDADES-RURAIS-TRAD. Acesso em: 29/06/2025

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