O SAGRADO E O SEU DES-VELAR NO LUGAR: A RELIGIOSIDADE MAZIONE NA COSTA DO SOL EM MAPUTO, MOÇAMBIQUE

Nelson Cortes Pacheco Junior; Eduardo Marandola

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Trabalho

Título do Trabalho

O SAGRADO E O SEU DES-VELAR NO LUGAR: A RELIGIOSIDADE MAZIONE NA COSTA DO SOL EM MAPUTO, MOÇAMBIQUE

Autores

Nelson Cortes Pacheco Junior
Eduardo Marandola

Modalidade

Resumo Expandido

Área temática

Religião e religiosidades

País da Publicação

Brasil

Idioma da Publicação

Português

Página do Trabalho

https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/900075-o-sagrado-e-o-seu-des-velar-no-lugar--a-religiosidade-mazione-na-costa-do-sol-em-maputo-mocambique

ISBN

978-65-272-1352-9

Palavras-Chave

Experiência religiosa, Lugaridade, Zione, Modo de ser.

Resumo

PREÂMBULO O presente trabalho possui o intuito de apresentar a reflexão em relação a constituição dos lugares, mediante o des-velamento do sagrado, a partir do compartilhamento das experiências religiosas. Nossa abordagem é situada em uma área localizada na praia da Costa do Sol, na cidade de Maputo, Moçambique. Tal localidade é conhecida por ser um lugar de encontro, onde diferentes pessoas adeptas da Igreja Zione, sejam sozinhas ou em grupos, se dirigem para prestarem seus cultos. Os mazione, como são conhecidos, normalmente se concentram nesse trecho do litoral da Costa do Sol, em maior quantidade, semanalmente as quartas e sextas-feiras, onde realizam orações, jejuns, meditações, batismos e cerimônias de cura e purificação nas águas do Oceano Pacífico. Essas pessoas sem encontram, compartilhando suas experiências, como pudemos vivenciar durante os meses de setembro a dezembro de 2023, fruto da pesquisa de campo e do estágio doutoral ocorrido na Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique. Durante nossas visitas semanais, acompanhamos especificamente um grupo, buscando vivenciar o um pouco do cotidiano destas pessoas. A CHEGADA DA IGREJA ZIONE Os mazione, como são conhecidos os adeptos da Igreja Zione, estão presentes em Moçambique aproximadamente desde o final dos anos 1910, oriunda da Igreja Zion, estadunidense, fundada em 1893 (Lindsay, 1980). A partir dos anos 1887, o fundador da igreja, John Alexander Dowie, envia alguns missionários para a implementação da desta no continente africano, mas especificamente na África do Sul. Com o passar dos anos, foram incorporados ao modo de ser dos adeptos, diversos elementos do cotidiano religioso africano, como a incorporação dos espíritos, sendo está um dos modos de manifestação do sagrado. Tais missionários e os primeiros adeptos no continente africano, basicamente viviam em Witwatersrand, cidade sul-africana, que possuía grandes jazidas de minerais, atraindo trabalhadores de diversos países da África Austral (Cavallo, 2013; Harries, 1998). Entre esses trabalhadores, existia um quantitativo considerável de moçambicanos, que foram responsáveis por levaram os ensinamentos da fé zione para o seu país de origem, junto com religiosos oriundos de outras nacionalidades. Nesse contexto, podemos considerar que três foram os principais modos pelos quais a Igreja Zione se estabeleceu em Moçambique: o primeiro pela fundação da Igreja Etiópica Luso-Africana, em 1918, inicialmente pentecostal e depois se tornando Zione; A segunda, via pelo ex-minerador, Samuel Mutendi, entre os anos de 1922-1923, nascido na Rodésia do Sul, atual Zimbábue; Já a terceira, também, foi proveniente de um trabalhador das minas de Witwatersrand, Paulo Moiane, que em 1935, leva o modo de ser zione para a província de Manica (Resane, 2020; Seibert, 2005). Ressalta-se que durante muitos anos, os mazione sofreram intensa perseguição, primeiramente no período colonial, notoriamente da Igreja Católica, aliada ao governo português que dominava o país. Tal situação continuou após a independência moçambicana, entre 1974-1990, pelo governo de tendência comunista, que buscou expurgar do país a prática religiosa (Cavallo, 2013; Resane, 2020; Seibert, 2005). Porém, mesmo com tais dificuldades, a quantidade de pessoas que se tornaram mazione continuou a crescer ao ponto de se tornar a terceira maior do país, atras apenas do catolicismo e do islamismo (INS, 2017). A nossa reflexão em relação ao lugar, se dá mediante ao modo de ser religioso mazione e como este contribui no acontecer da lugaridade. A experiência compartilhada entre os adeptos é fundante para que o sagrado possa se desvelar, fazendo com que uma dada localidade se torne um lugar sacralizado. Tal vivência entre as pessoas pode contribuir para o des-velar do fenômeno, que segundo Heidegger (2014), pode ocorrer de três maneiras no nosso modo de ser-e-estar-no-mundo: pelo nosso mundo próprio, de cada um que vivência um dado fenômeno, pelo compartilhar uma da experiência com o outro, mundo compartilhado e com as coisas e as pessoas ao redor, mundo circundante. Esse compartilhamento de experiências é importante para que as lugaridades venho a revelarem e o próprio fenômeno em si, em nosso caso o des-velamento do sagrado (Heidegger, 2018; Marandola Jr, 2012, 2021; Pacheco Junior, 2024). O SAGRADO E O COMO DO SEU MANIFESTAR A manifestação do sagrado é um dos principais fenômenos, que permeiam um dado modo de ser religioso. Tal fato, ocorre, mediante a experiência religiosa, que ocorre no mundo, como um espelhamento da nossa constituição transcendental, expondo externamente para o outro o nosso projeto ao qual o nosso modo de ser está associado (Silva, 2010a). Esse projeto está relacionado a situacionalidade vivenciada quando da manifestação do sagrado, reverberando no modo como uma dada religiosidade se desvela e por sua vez como um dado lugar se sacraliza (Gil Filho, 2012; Rosendahl, 2018). Assim, podemos nos indagar em relação ao como a manifestação da hierofania se desvela. Para Eliade (2011), no momento que o sagrado se apresenta, se estabelece uma situação diferente da rotineira, vivenciada no dia a dia, fugindo inúmeras vezes da racionalidade. Silva (2010a), indaga a necessidade de se ultrapassar a esfera do conhecimento humano, pois assim teremos acesso ao conhecimento que o sagrado deixa em aberto quando do seu acontecer. Nesse sentido, torna-se necessário romper com alguns a priori, que podem ocultar o desvelar do fenômeno religioso. No acontecer da manifestação do sagrado, o lugar e as coisas neles dispostas são componentes, que em diversos casos, são essenciais para o acontecer religioso e para a aparição do divino, que mediante a sua vontade “pode de fato, não assumir a configuração da personalidade fechada, idêntica a si mesma, podendo manifestar-se como vida fluida e difusa que assume diversas formas e aspectos” (Silva, 2010b, p. 106). Tal situação, ocorre devido aos múltiplos modos como o sagrado pode se revelar no lugar, seja através dos animais, da vegetação, das coisas sacralizadas entre outras possibilidades. REFLEXÕES EM RELAÇÃO AO CAMPO Durante o campo realizado em Moçambique, buscamos vivenciar o cotidiano do adepto mazione, estando presente aos cultos realizados na Costa do Sol, que é um lugar que possui um simbolismo ímpar para o mazione, pois é mediante a vivência e a realização das suas orações que ocorrem o des-velamento do sagrado, a partir da manifestação dos anjos pelos profetas, da água como elemento de purificação e cura. Sendo para muitos adeptos, quase que obrigatória a sua presença na praia, buscando manter a mais estreita ligação possível com o Divino. Foi fundamental o compartilhamento de experiências e os ensinamentos sobre o modo de ser zione. Como citamos anteriormente, apesar de termos participado de algumas cerimônias com diferentes grupos de pessoas, acompanhamos um especificamente, no período de nossas visitações. Buscamos, por meio através dos diálogos com os religiosos, sejam eles pastores, profetas ou membros que se dirigiam a praia para suas orações, refletir em relação ao como da manifestação do sagrado professado pela fé Zione. Esse conversar com o outro durante o campo foi de grande importância, pois: Uma conversa ordinária, permite desvelar a existência porque ela não tematiza, mas permite a irrupção no fluxo da experiência. Quando racionalizamos o diálogo, pautamos e ordenamos. Em vez da intuição e de fluxo, temos ordem, busca de argumentações, seguindo procedimentos para concluirmos e convencer. Essa é a finalidade das questões fechadas ou semiabertas: direcionam a conversação para tópicos previamente estabelecidos, rompendo o fluir da experiência em prol da objetividade (Marandola Jr, 2024, p.75). Essa situação reforça a importância do outro para se refletir em relação a um dado fenômeno, fugindo assim, da visão que o considera como um objeto ou sujeito da pesquisa no qual será “estudado”. Na verdade, este outro é que conosco vivencia uma dada pesquisa, sendo em muitos casos o real responsável para que possamos refletir em relação a uma dada situação. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sagrado não ocorre aleatoriamente e nem o lugar é fornecedor de regras em relação a determinados modo de ser, principalmente quando abordamos o fenômeno religioso. Na verdade, são os modos como as religiosidades se desvelam que são responsáveis pela constituição dos lugares, bem como a sua sacralização. É mediante o compartilhamento da vivência religiosa que o sagrado pode se desvelar, envolvendo o lugar, que para o religioso, não possui apenas um sentido locacional, mas em alguns contextos, este passa a ter uma ligação ontológica e de ancestralidade para o adepto de um dado modo de religiosidade, sendo um canal com o Divino. REFERÊNCIAS CAVALLO, Giulia. Curar o passado: mulheres, espíritos e “caminhos fechados” nas igrejas Zione em Maputo, Moçambique. 2013. Tese (Doutorado em Antropologia). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais / Universidade de Lisboa, p.309. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2011. GIL FILHO, Sylvio Fausto. Espaço Sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012 HARRIES, Patrick. Christianity in Black and White: the Establishment of Protestant Churches in Southern Mozambique. Lusotopie, n°5, p. 317-333, 1998. HEIDEGGER, Martin. Fenomenologia da vida religiosa. 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Título do Evento: IX NEER
Cidade do Evento: Curitiba
Título dos Anais do Evento: Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora: Even3
Meio de Divulgação: Meio Digital

Como citar

JUNIOR, Nelson Cortes Pacheco; MARANDOLA, Eduardo. O SAGRADO E O SEU DES-VELAR NO LUGAR: A RELIGIOSIDADE MAZIONE NA COSTA DO SOL EM MAPUTO, MOÇAMBIQUE.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/900075-O-SAGRADO-E-O-SEU-DES-VELAR-NO-LUGAR--A-RELIGIOSIDADE-MAZIONE-NA-COSTA-DO-SOL-EM-MAPUTO-MOCAMBIQUE. Acesso em: 04/07/2025