APROPRIAÇÕES, COEXISTÊNCIAS E SOBREPOSIÇÕES DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM SERGIPE

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
APROPRIAÇÕES, COEXISTÊNCIAS E SOBREPOSIÇÕES DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM SERGIPE
Autores
  • Daniele Luciano Santos
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas, conhecimentos e saberes de populações tradicionais
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/899908-apropriacoes-coexistencias-e-sobreposicoes-de-manifestacoes-culturais-em-sergipe
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Manifestações culturais, apropriações e ressignificações, coexistências e sobreposições, territorialidades; animais de montaria.
Resumo
As análises e reflexões que se firmam como arcabouço deste trabalho são oriundas da tese de doutorado intitulada Nos trotes dos cavalos: espaços e tempos das cavalgadas, cavalhadas, vaquejadas e pegas de boi em Sergipe. Possui como relevância teórica o olhar direcionado à indissociabilidade entre as formas de apropriações materiais e simbólicas para a compreensão da manutenção dessas manifestações culturais, e como relevância social o registro da pluralidade bem como da expressividade dessas manifestações culturais no território sergipano para além do aspecto cultural, pois a manutenção delas está atrelada, indissociavelmente, às esferas política, econômica e cultural. Na tese foi realizada uma leitura transversal do fenômeno com articulação teórica, metodológica, documental e analítica. Aqui, neste recorte, são apresentadas as reflexões teórico-analíticas pertinentes ao objetivo de compreender as formas de apropriação que resultam em ressignificação, reinvenções, coexistências e sobreposições das práticas de manutenção e realização das cavalgadas, cavalhadas, vaquejadas e pegas de boi. Tomamos como caminho a pesquisa qualitativa que sugere uma análise integrada do fenômeno no contexto em que ele ocorre e do qual faz parte, os procedimentos adotados foram as pesquisas bibliográfica, documental, observação e entrevistas. Entre as mudanças que se observam nas formas e nos enredos das manifestações culturais que se fazem com a significativa e simbólica participação de animais de montaria, está a crescente organização comandada por interesses econômicos, a lógica mercadológica da produção de eventos associada com patrocínios de gestões governamentais municipais, além da criação e venda de cavalos bem como de sêmen que configuram a indústria da “cultura do cavalo”. As pegas de boi, vaquejadas, cavalgadas e cavalhadas têm em comum a centralidade na figura do cavaleiro e a destreza com seu cavalo, mas apresentam origens, enredos e motivações distintas, e, por essas características, são traçados apontamentos que orientam os temas aqui tratados: apropriação, ressignificação, coexistência e sobreposição de manifestações culturais e tradicionais. As formas de apropriação são apontadas como determinantes para a multiplicidade dos processos de ressignificações, reinvenções, coexistências e sobreposições de manifestações culturais. E, na compreensão da geograficidade dessas multiplicidades, as cavalgadas, cavalhadas, vaquejadas e pegas de boi nos são (re)veladas entre a essência e a aparência nos territórios e nas territorialidades. A apropriação é trazida como conceito-chave tratado na ciência por diferentes autores, áreas, abordagens e finalidades. Dialogamos com autores que ajudam a compreender os sentidos das apropriações na dinâmica da produção cultural: apropriação enquanto sentimento de posse e pertencimento, de reconhecer algo como seu e de se reconhecer pertencente a algo (Geertz, 1989; Tuan, 2012); e também, apropriação inserida no jogo de poder como propriedade material (Raffestin, 1993) ou no contexto da manipulação político-ideológica da memória (Halbwachs, 2006). Ao ressaltar as contribuições da Geografia, afirmamos ainda que é por meio da apropriação que advém a diferenciação espacial (Santos, 2006; Cosgrove, 1998; Claval, 2007). Em sequência, a compreensão da relação entre cultura e território é posta como reveladora das ressignificações das manifestações culturais (Raffestin, 1993; Bonnemaison, 2002; Haesbaert, 2009; Tuan, 2013; Vargas, 2014). Nos dedicamos a compreender o uso da memória no processo de (re)invenção de tradições por políticos e empresários (Pollak, 1989; Farias, 2005; Halbwachs, 2006; Hobsbawm; Ranger, 2008). Além disso, procuramos demonstrar como essas manipulações resultam em sobreposições e coexistências que essencializam a transtemporalidade de manifestações culturais no território (Haesbaert, 2012; Silva; Bezerra, 2016; Almeida; 2018). A leitura desses autores fundamenta as nossas reflexões entorno da dificuldade de qualificação das ressignificações, reinvenções, coexistências, e sobreposições pela complexidade das permanências, manutenções, mudanças e transformações dessas manifestações culturais, traduzidas pelas diferentes formas de apropriações nem sempre consensuadas, por vezes conflituosas. Haja vista, que tais variações perpassam pelos tempos e espaços plurais (Santos, 2006). Os espaços de realização das manifestações culturais com animais de montaria são estruturados de múltiplas formas, tanto quanto são múltiplos os sujeitos envolvidos e as segmentações dessas práticas. Contudo, ao considerar que a multiplicidade de espaços advém das formas de apropriação, a relação com a cultura provém do fato de que o homem, o sujeito da ação, é um ser cultural que define e é definido pelas diferentes culturas. A cultura é responsável pelas diferentes formas de relações, de ordem material e simbólica, entre os sujeitos e seus territórios. A composição dos espaços está em conformidade com as necessidades e intencionalidades dos sujeitos e sua cultura, que, por sua vez, determina e é determinada pela forma como as territorialidades e os territórios se apresentam. As intencionalidades dos fazedores e produtores imprimem, no espaço e no tempo, definições múltiplas de manifestações culturais com animais de montaria ao longo dos seus processos de ressignificação. Entendemos por fazedores de cultura os sujeitos que reconhecem, valorizam e se identificam com as manifestações culturais e seus espaços de realizações, isto é, vaqueiros e cavaleiros que fazem, possuem vínculo e vivência cotidiana com as cavalgadas, cavalhadas, vaquejadas e pegas de boi pelo sentimento de pertencimento bem como pelo desejo de permanência da tradição. E por produtores aqueles sujeitos que por meio da dominação econômica e política inventa, reinventa e transforma tais manifestações em produtos culturais de interesses voltados ao mercado e à manutenção de estratégias partidárias, portanto, empresários, políticos, líderes comunitários que organizam, realizam e financiam as manifestações culturais com animais de montaria. Os múltiplos processos de mudanças podem ainda envolver permanência, manutenção, ressignificação, reinvenção, coexistência e sobreposição. A permanência está relacionada à constância ou continuidade, como as pegas de boi, que se mantêm de forma contínua, ainda que obrigadas às mudanças impostas pelas legislações ambientais, por exemplo. Para permanecerem, são necessárias ações de manutenção responsáveis pela conservação; isso é observado nas vaquejadas de mourão, que constantemente se adequam às normas regulamentadoras dos parques de competição. Em meio aos processos de permanência e manutenção, as manifestações culturais podem ser ressignificadas à medida que são atribuídos novos sentidos a elas. As cavalgadas, por exemplo, são constantemente ressignificadas, visto que suas ocorrências correspondem a sentidos diversos como festivo, cívico, ecológico e aventura. Muitas vezes as mudanças vão além da ressignificação, é quando ocorre a reinvenção de algo já existente; um perfeito exemplo disso são as motos argolas, uma nova roupagem das corridas de argolinhas (um recorte das cavalhadas), que substituem o cavalo pela moto. O interessante é que os processos de permanência, manutenção, ressignificação e reinvenção podem, sim, ocorrer de forma constante e concomitante, resguardando a simultaneidade – coexistências e junção – e a sobreposição das manifestações culturais. No fim dessa jornada, evidenciamos que o processo de sucessivas apropriações e, consequentemente, ressignificações das pegas de boi, vaquejadas, cavalgadas e cavalhadas não acontece segundo uma lógica linear. Ainda hoje ocorrem nos interiores as apartações e as derrubadas de boi. As pistas de corrida e os parques mais rudimentares resistem e coexistem com os parques ‘tecnológicos’. As corridas de argolinha, as missas do vaqueiro, os casamentos caipiras resistem, enquanto as cavalgadas e as vaquejadas conquistam espaço e exercem domínio nas festas populares do rural ao urbano. Os vaqueiros e os cavaleiros ganharam as ruas das cidades, mas não abandonaram o campo. Definitivamente, a ressignificação e a reinvenção dessas manifestações culturais não anulam a história, a memória, o patrimônio, a identidade, isto é, a cultura do povo, que resiste, coexiste e se sobrepõe. Referencias: ALMEIDA, Maria Geralda. Geografia Cultural – Um modo de ver. Goiânia: Gráfica UFG, 2018. BONNEMAISON, Joël. Viagem em torno do território. In: CORREA, Roberto L.; ROSENDAHL, Zeny. Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Eduerj, 2002. p. 83-132. CLAVAL, Paul. Cultura, vida social e domínio do espaço. In: A Geografia Cultural. Florianópolis, Editora UFSC, 2007, pp.63-183. COSGROVE, Denis. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: ROSENDAHL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998. p. 92-122. FARIAS, Edson. Economia e cultura no circuito das festas populares brasileiras. Sociedade e Estado, v. 20, n. 3, p. 647-688, 2005. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 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Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Daniele Luciano. APROPRIAÇÕES, COEXISTÊNCIAS E SOBREPOSIÇÕES DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS EM SERGIPE.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/899908-APROPRIACOES-COEXISTENCIAS-E-SOBREPOSICOES-DE-MANIFESTACOES-CULTURAIS-EM-SERGIPE. Acesso em: 06/07/2025

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