ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA: UMA METODOLOGIA PARA OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA LITERÁRIA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA: UMA METODOLOGIA PARA OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA LITERÁRIA
Autores
  • Amanda Rech Brands
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/899545-analise-textual-discursiva--uma-metodologia-para-os-estudos-de-geografia-literaria
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Geografia Literária, Análise Textual Discursiva, Metodologia
Resumo
RESUMO: Conhecer a história da Geografia Literária e seus desdobramentos, do período pré-científico até a contemporaneidade, permite visualizar as diferentes formas como ela foi trabalhada até se consolidar como área própria de pesquisa a partir de meados de 1970. A partir disso, já ocupando certo espaço dentro da ciência geográfica, pode-se pensar metodologias aplicáveis em materiais textuais capazes de promover estudos geográficos-literários, como é o caso da Análise Textual Discursiva (ATD) que tem como objetivo a obtenção de novas interpretações sobre textos já conhecidos, exposta aqui como um método que pode auxiliar na contínua produção de pesquisas envolvendo Literatura em Geografia. INTRODUÇÃO Geografia e Literatura apresentam, ao menos, desde a Idade Antiga (Marandola JR; Oliveira, 2009) forte ligação, sendo expressa por meio de prosas literárias que visavam passar os conhecimentos geográficos acerca do espaço de indivíduo a indivíduo. No decorrer da evolução social, no entanto, essa intersecção entre escritos literários e Geografia foi se alterando constantemente, passando por distintas fases, desde a Geografia no seu processo inicial de moldagem científica, até a contemporaneidade enquanto uma ciência plenamente estabelecida. Durante o seu processo de sistematização, quando os temários exclusivos da Geografia foram elencados, ao final do século XVIII (Moraes, 1981), resquícios literários encontravam-se presentes de forma um tanto quanto tímida em meio às produções da época. Como exemplo disso, é possível citar o geógrafo alemão Alexander Von Humboldt que, além da sua escrita de tonalidade literária, trouxe em obras como Cosmos (1985) menções ao escritor romancista Johann Wolfgang Goethe, conhecido por livros como Fausto e Os Sofrimentos do Jovem Werther. Após o efetivo estabelecimento da Geografia como ciência autônoma, já no início do século XX durante a chamada Geografia Clássica, as aplicações da Literatura se apresentam de forma mais acentuada através de nomes como Vidal de La Blache, John Wright e Hugh Robert Mill, como destaca Júlio César Suzuki (2017). No entanto, apenas nos anos de 1970, após a ascensão da Geografia Humanista de Yi-Fu Tuan que os estudos de Geografia e Literatura adquirem um espaço consumado dentro das pesquisas geográficas, deixando de ser apenas um complemento que agrega valor. Visto que, o método fenomenológico, característico da corrente, aproximou Literatura e Geografia, tendo o próprio Tuan (1978) redigido sobre a temática no capítulo “Literature and Geography: Implications for Geographical Research”, presente no livro “Humanistic Geography: Prospect and Problems”, retomando com força o emprego da Literatura para a análise da experiência humana sobre o mundo. Interligando dessa forma as pesquisas de cunho literário a Geografia Humanista, a qual carrega consigo grande propriedade sobre o assunto, explorando-o por mais de cinco décadas. Ao que tange os estudos geográficos-literários brasileiros, é constatada a presença de nomes como os de Pierre Monbeig, na década de 1940 (Suzuki, 2017), e de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, a partir dos anos de 1980 (Monteiro, 2002), que se ativeram, até determinado ponto, as investigações envolvendo ambas as áreas. Mais recentemente, há também o surgimento do grupo de pesquisa Geografia, Literatura e Arte, sendo responsáveis pela organização do Simpósio de Geografia, Literatura e Arte (SIGEOLITERART) e da Revista Geografia Literatura e Arte, que corroboram para a disseminação e aprofundamento de conhecimentos voltados especialmente para as expressões artísticas e literárias em meio a Geografia. Sabendo-se disso, ao pensar acerca destes diferentes momentos perpassados pelos estudos literários em Geografia, como forma de colaborar para a constante produção voltada para esta área em específico, o presente trabalho tem como objetivo central apresentar o uso da Análise Textual Discursiva - ATD (Moraes; Galiazzi, 2016) como método de investigação passível de ser aplicada a Geografia Literária. Trazendo suas etapas de desenvolvimento e promovendo-as como possibilidade de emprego em trabalhos dentro da área. ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA: UMA APLICAÇÃO A ATD, proposta por Roque de Moraes e Maria do Carmo Galiazzi (2016), é um método estritamente qualitativo e majoritariamente vinculado a visão fenomenológica para se realizar as análises, mas podendo ser realizado a partir de outros vieses, possibilitando um novo olhar acerca de fenômenos retratados em produtos textuais, extravasando a esfera exposta unicamente pelas autorias destes materiais. Para se chegar a essa outra interpretação, a ATD é composta por quatro etapas fundamentais que se desdobram, até resultar no objetivo final, sendo elas: 1° a desmontagem do texto, 2° o estabelecimento de relações, 3° a captação de um novo emergente, e 4° um processo auto-organizado. Na desmontagem do texto há a leitura e ressignificação dos materiais textuais, analisando-os profundamente e se envolvendo com a temática, trazendo outros significados ao texto, os que não impressos escancaradamente, disso indo para o corpus que são os produtos, imagéticos ou linguísticos, válidos a serem utilizados na promoção de outras perspectivas, auxiliando na construção de uma visão concreta da realidade das autorias e suas vivências. Seguindo com a desconstrução e unitarização em que os produtos da análise são dissecados e examinados de forma cuidadosa, desordenando a estrutura original a fim de facilitar a interpretação, seja por tópicos, códigos numéricos ou títulos, produzindo um envolvimento e impregnação a partir desta desordem, para dar luz às novas ideias. Durante a segunda etapa, no estabelecimento de relações, inicia-se com a categorização das unidades desconstruídas na primeira etapa, unindo-as conforme suas características se aproximam, traçando as propriedades destas categorias que delineiam o novo olhar sobre o texto. Além disso, durante a categorização e levantamento de teorias, as categorias elencadas partem de uma base implícita ou explícita, que corroboraram para a produção de argumentos sobre a divisão textual, deixando estas categorias isoladas e embasadas conjuntamente, etapa a qual serve como “produção de uma ordem, uma compreensão, uma síntese’ (Moraes, Galiazzi, 2016, p. 53). Em um terceiro momento, na etapa de captação de um novo emergente, são empregados sentidos as categorias designadas e embasadas anteriormente, produzindo desse modo um metatexto a partir de “argumentos centralizadores” ou “teses gerais” sobre o produto textual que validem o objeto do trabalho, seguido de uma descrição e interpretação na qual é realizado o detalhamento imparcial do texto com citações diretas e embasado teoricamente. Na produção textual, efetivamente, cria-se novas interpretações do material e, consequentemente, novas teorias, dando sustentação ao metatexto, para a construção de validade, com o metatexto já finalizado, são agregadas os argumentos criados que fundamentam a aplicação da ATD. Para a etapa final do método, tem-se a auto-organização que parte da desconstrução de ideias preexistentes, aplicando certo caos as concepções existentes para dar margem ao surgimento de outras interpretações, emergindo daí novas ideias, tanto relacionadas ao produto textual usado como base, quanto da temática da pesquisa como um todo, olhando-os de diversas formas. Compreensões essas que são expressas, compreendendo o texto de maneira demasiada, de modo fluído, assim chegando a uma nova ordem formada pelo processo de aprendizagem resultante desta análise profunda, trazendo novos significados. Sabendo-se de toda a estrutura e funcionamento da ATD, é possível apresentar como exemplo da aplicação do método para pesquisas com foco em Geografia e Literatura como o trabalho “A Fome em Carolina Maria de Jesus e Josué de Castro: Entrelaçamentos entre Geografia Literária e Geografia Crítica” de Brands (2023). O qual foca, principalmente, sobre o fenômeno da fome através dos diários que compõem Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (2020), que relata o cotidiano de Carolina e seus três filhos em meio à fome e pobreza, utilizando-o como objeto central para passar pela ATD. Unindo, desse modo, o resultado adquirido com a metodologia, o metatexto de Quarto de Despejo (2020), aos escritos de Josué de Castro em Geografia da Fome - O Dilema Brasileiro: Pão ou Aço (2022), obtendo novas ideias sobre o texto, como a congruência entre os materiais. Tais pontos de concordância constatados são: o quadro alimentar apresentado por Carolina Maria de Jesus (2020) delineado com exatidão por Castro (2022), a denúncia da situação de fome como um reflexo político e a perpetuação de uma estrutura da fome no Brasil constatada em meados de 1960, período de publicação de ambos os livros, considerando a versão expandida de Geografia da Fome (2022), e mantida até a contemporaneidade, conforme demonstra o Atlas das Situações Alimentares no Brasil (2021). CONSIDERAÇÕES Deste modo, conhecendo brevemente o repertório histórico da evolução da Geografia com a Literatura, sabendo que ambas as áreas possuem laços desde, ao menos, a Idade Antiga (Marandola JR; Oliveira, 2009), passando por momentos de menor proximidade, mas ainda sem perder certo contato, durante a sistematização geográfica e no decorrer da Geografia Tradicional. Nota-se uma ascensão e maior interesse da ciência geográfica pelos estudos literários a partir da década de 1970 com a Geografia Humanista (Suzuki, 2017), tendo como vetor os escritos do geógrafo naturalizado norte-americano Yi-Fu Tuan (1978). Em razão disso, pensando no constante entrelaçamento ao longo do tempo entre estas duas áreas, com a finalidade de corroborar na promoção de pesquisas envolvendo Literatura e Geografia, traz-se a ATD como método viável de aplicação para este tipo de estudo. Visto que o método, em suas etapas, proporciona uma impregnação do texto, conhecendo-o e a sua autoria intimamente, associando-o entre si e demais materiais, interpretando-o por outra ótica, gerando novos significados sobre um produto já existente, como o realizado por Brands (2023), podendo ser ainda mais explorado em outras temáticas. REFERÊNCIAS: BRANDS, A. R. A Fome em Carolina Maria de Jesus e Josué de Castro: Entrelaçamentos entre Geografia Literária e Geografia Crítica. Santa Maria: Manancial - Repositório Digital da UFSM, 2023. Disponível: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/30822/TCC%20II%20-%20Final%20%281%29%20%281%29.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso: 27 Jun. 2024. CASTRO, J. Geografia da Fome - O Dilema Brasileiro: Pão ou aço. São Paulo: Todavia, 2022. JESUS, C. M. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2020. MARANDOLA JR, E; OLIVEIRA, L. Geograficidade e Espacialidade na Literatura. Revista Geografia. Rio Claro, 2009. Disponível: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/4795 . Acesso em: 29 Jun. 2024. MONTEIRO, C. A. F. O Mapa e a Trama: Ensaios sobre o conteúdo geográfico em criações romanescas. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002. MORAES, R; GALIAZZI, M. C. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Editora Unijuí, 2016. RIBEIRO JUNIOR, J. R. S; SAMPAIO, M. A. P.; BANDONI, D. H; CARLI, L. L. S. Atlas das Situações Alimentares no Brasil: A disponibilidade domiciliar de alimentos e a fome no Brasil contemporâneo. Bragança Paulista: Universidade São Francisco - UFS, 2021. Disponível: https://ifz.org.br/atlas-das-situacoes-alimentares-no-brasil/ . Acesso: 29 Jul. 2024.. SUZUKI, J. C. Geografia e Literatura: Abordagens e Enfoques Contemporâneos. Revista Centro de Pesquisa e Formação. Bela Vista, 2017. Disponível: https://portal.sescsp.org.br/files/artigo/e5e7f714/f8ed/443d/b048/0b3a58e284cc.pdf . Acesso: 29 Jun. 2024. TUAN, Y. Literature and Geography: Implications for Geographical Research. In: Ley, David; SAMUELS, Marwyn (org). Humanistic Geography: Prospect and Problems. Chicago: Routledge, 1978. VON HUMBOLDT. A. Cosmos: Ensayo de Una Descripción Física Del Mundo. Biblioteca Hispano-Sur-Americana, 1985.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

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BRANDS, Amanda Rech. ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA: UMA METODOLOGIA PARA OS ESTUDOS DE GEOGRAFIA LITERÁRIA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/899545-ANALISE-TEXTUAL-DISCURSIVA--UMA-METODOLOGIA-PARA-OS-ESTUDOS-DE-GEOGRAFIA-LITERARIA. Acesso em: 29/06/2025

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