REGISTROS DO COTIDIANO ESQUECIDO: FOTOGRAFIAS ANALÓGICAS COMO REGISTRO DAS EXPERIÊNCIAS GEOGRÁFICAS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
REGISTROS DO COTIDIANO ESQUECIDO: FOTOGRAFIAS ANALÓGICAS COMO REGISTRO DAS EXPERIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
Autores
  • Carla Marques
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/898529-registros-do-cotidiano-esquecido--fotografias-analogicas-como-registro-das-experiencias-geograficas
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
fotobiografia, fotografia analógica, casa, cotidiano, experiência geográfica
Resumo
Introdução O mundo é formado por imagens. Elas participam das experiências e evocam sentimentos, sensações e lembranças sobre os lugares, as pessoas e os momentos. Com o surgimento da fotografia, em particular da fotografia digital, as imagens ocuparam o principal lugar de representantes imagéticos do mundo. Assim, esse registro das ações cotidianas ocupa um lugar para além da representação, porque envolve o espaço sentido e experienciado no cotidiano. O autor Walter Benjamin (1985, p.93), coloca que na fotografia surge algo “estranho e novo”. Agora, a imagem importa mais do que o autor da imagem, como acontecia no caso das pinturas. A fotografia, enquanto um decalque do real (Sontag, 2004), faz com que o observador busque na imagem “a centelha do acaso” (p.94). Esse trabalho trata de fotografias analógicas tiradas ao longo dos anos de 2020 e 2023. Entendendo que a fotografia analógica é uma forma própria, pois possui um tempo e espaço diferentes da fotografia digital. Envolve uma multiplicidade maior de dispositivos (máquina, filme e luz) e o tempo da revelação. A fotografia analógica também apresenta uma granulometria, que insere na fotografia um espaço com textura, com luz e sombra, com cores distintas e com a vida pulsante sem a correção efetuada pelas máquinas digitais. Também parte-se da concepção de uma pesquisa centrada no corpo do pesquisador. É nesse corpo que começa a geografia, a medição, as sensações, a produção da subjetividade e é através dele que se dá as intersecções com o mundo e com o outro (Sarmento, 2009). Assim, é através do pesquisador-fotógrafo que se estabelecem as reflexões dentro desse trabalho. É a partir dessas reflexões, que pretendo analisar sobre os outros corpos,as outras vidas e as outras geografias que compõem o micro-espaço da minha casa e como eles se manifestam através do olhar da minha fotografia. Fotobiografia: registro das histórias de vida As fotografias constroem, de certa maneira, os registros das histórias de vida. Elas contêm traços de emoções, sentimentos e memórias que queremos guardar de determinado momento. Ainda, as emoções são parte fundamental das experiências cotidianas e das relações com/no espaço. Elas participam das conexões que estabelecemos com o mundo, com a materialidade e imaterialidade que nos cerca nos variados espaços. Também participam da construção e organização do conhecimento sobre o espaço e sobre o outro (Silva, 2020). Adotamos nesse trabalho o conceito de fotobiografia. Esse conceito, segundo a antropóloga Fabiana Bruno (2014), nos auxilia a pensar a fotografia como uma imagem composta por histórias, preenchida por significações e memórias, como parte de uma arqueologia visual. A escolha das fotografias se deu a partir do desejo de contar uma história. Esse processo coincide com o que é apontado por Bruno (2014), sobre as escolhas de fotografia no desenvolvimento do seu trabalho, a partir do registro de um evento dentro de um sistema de relações. A autora também aponta a importância da montagem das fotografias. Esse processo se constitui pelo estabelecimento da ordem e do local em que as fotografias selecionadas aparecem. Ambos os processos produzem uma e significação para as imagens. Através desses componentes encontramos aquilo que deve ser desvendado na biografia de cada pessoa. Assim, aparecem as emoções, os sentimentos, os fragmentos cotidianos que dão significados aos lugares, as relações e que são colocados nas fotobiografias. Aqui as imagens são trabalhadas a partir do esquecimento. A fotografia analógica não permite que a imagem seja reconhecida assim que é coletada, portanto na sua visualização pelo fotógrafo ela torna-se carregada de memórias. Assim, a imagem é carregada do pensamento que produziu ela e daqueles que olham para ela (Silva, 2020). O movimento de fotografar o cotidiano permite também significar a vida cotidiana, construindo nossa biografia através das imagens e das memórias, evocadas e produzidas nesse movimento (Silva, 2020). Os registros esquecidos da vida, da casa e dos corpos A produção da fotobiografia aqui se coloca em diálogo com a percepção e o descobrir das geografias do próprio cotidiano. Esse processo se estabelece de diferentes maneiras para cada geógrafo. Aqui, ele parte da busca pela compreensão do lugar, das sensações, dos olhares e dos nomes de cada imagem. As fotografias conduzem, assim, o estudo sobre o lugar principal da minha vida íntima, produzindo uma topoanálise (Bachelard, 2000) A seleção e montagem das imagens 1, 2, 3 e 4 partem do princípio que a vida tem início na casa. A casa é nosso “canto no mundo” (Bachelard, 2000. p.24) Ela é parte fundamental das primeiras experiências vividas, constituindo nossas principais lembranças. A Imagem 1, nomeada “La fora”, foi um teste de luz das primeiras fotos analógicas tiradas em 2021. Ela registra o fundo da casa observado a partir da porta da cozinha. Apenas a área externa é visível, com panos pendurados, uma planta ao canto esquerdo, tijolos próximos a parede amarela que serão usados em alguma reforma. Esses objetos ocupam uma pequena porção da fotografia, enquanto o que seria a parede e porta da cozinha são duas faixas pretas. A foto registra o interior sem iluminação e o exterior iluminado. Ao observar a fotografia após a revelação não foi possível identificá-la imediatamente. Os tijolos, os panos, a bagunça, a presença do movimento nem sempre são recordados quando pensamos na casa. Ainda assim, é esse movimento, irreconhecível, esquecido pelo devaneio, que participa do universo das experiências e dá sentido ao lugar. As imagens 2, 3 e 4, nomeadas “Dança da Tarde”, “Plantando” e “Corpo rendado”, foram tiradas em 2021 e 2022. Elas apresentam os outros corpos que habitam a casa, produzindo os movimentos, (organizando) as bagunças. Na Imagem 2, em preto e branco, vemos uma mulher idosa, varrendo a calçada, entre as sombras produzidas pelas árvores de Ipê e Jabuticaba, que estão conectadas por um arco de folhas. Na imagem 3, agora colorida, essa mesma mulher está entre uma miríade de vegetações, plantando. A imagem 4 mostra a intersecção entre as atividades humanas e os corpos não humanos que habitam um espaço. Nessa imagem, em preto e branco, um gato se enrosca em uma cortina de renda. Essas imagens nos recordam que a casa é habitada (Bachelard, 2000). Os corpos habitam a casa em um devaneio particular, construindo múltiplos lugares. Um quarto particular, um canto próprio. Através da fotobiografia descortinamos esses cantos. Revelamos, também, que esse lugar é produto de um vínculo relacional entre espécies humanas e não humanas, como os animais e as vegetações. Assim, esses componentes afetam as próprias existências humanas, produzindo novas percepções, compartilhando as variações do mundo. O gato que arranha a cortina, a grama que cresce, as folhas da árvore que cai, as mudas que são plantadas, tudo isso produz um lugar sensível partilhado entre diferentes corporeidades (Souza Júnior, 2022). Assim, a casa não é apenas morada e proteção material, ela é marcada pelos espaços de brincar na infância, pelos espaços de sol, de grama, de terra, de “passar um tempo”, de plantar, de dormir e de sonhar. A casa é substancialmente simbólica, ela é uma experiência geográfica. Conclusão Essas reflexões possibilitam inspirar diferentes olhares para a geografia. Outras experiências que partem do corpo do geógrafo e da busca pela subjetividade nas paisagens cotidianas revelam a riqueza das interações humanas com o espaço. Assim, a fotografia emerge não apenas como um registro visual, mas como uma ferramenta de investigação e expressão, capaz de capturar as nuances do lugar e do tempo. Em última análise, a integração desses elementos promove uma compreensão mais profunda e sensível da geografia, ampliando o campo de estudo e aproximando-o das vivências pessoais e coletivas que moldam nosso mundo. Referências BACHELARD, Gastón. A casa. Do porão ao sótão. O sentido da cabana. In:____.A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993. BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In:__. Obras escolhidas:magia e técnica, arte e política. São Paulo:Editora Brasiliense, 3º ed., 1987. BRUNO, Fabiana. Fotobiografia: uma proposta antropológica e estética. Revista Espaço Acadêmico, n. 163, 2014. Disponível em: Acesso em:10/06/2024 SARMENTO, João. As inescapáveis geografias do corpo:mobilidade, escala e lugar. In:AZEVEDO, A.F.; PIMENTA, J.R.; SARMENTO, J.(Orgs.). Geografias do corpo. Lisboa: Livraria Figueirinhas, 2009. SILVA, Marcia Alves Soares da. Pensar e sentir para (re)existir: Geografia emocionais e fotobiografias de estudantes de Geografia. Revista Brasileira de Educação em Geografia, Campinas, v. 10, n. 20, p. 258-283, jul./dez., 2020. SONTAG, Susan. O mundo-imagem. In:__. Sobre fotografia. São Paulo:Companhia das Letras; 1ª ed., 2004. SOUZA JÚNIOR, Carlos Roberto Bernardes de. Lugar e animismo: geografias do (co)habitar em mundos partilhados. In: GeoTextos, vol. 18, n. 2, dezembro/2022. OBSERVAÇÃO: Caso os anexos não funcionem, segue link para acessar as imagens https://drive.google.com/drive/folders/1tlLA-4c0VzbF8fWBFW1tXqAjFraeA_SE?usp=sharing
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARQUES, Carla. REGISTROS DO COTIDIANO ESQUECIDO: FOTOGRAFIAS ANALÓGICAS COMO REGISTRO DAS EXPERIÊNCIAS GEOGRÁFICAS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/898529-REGISTROS-DO-COTIDIANO-ESQUECIDO--FOTOGRAFIAS-ANALOGICAS-COMO-REGISTRO-DAS-EXPERIENCIAS-GEOGRAFICAS. Acesso em: 01/07/2025

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