A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DAS EXPERIÊNCIAS DE AMOR A PARTIR DE HISTÓRIAS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS NEGRAS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DAS EXPERIÊNCIAS DE AMOR A PARTIR DE HISTÓRIAS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS NEGRAS
Autores
  • Layana da Rosa Ferreira
  • Benhur Pinós da Costa
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Representações do espaço
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/898351-a-representacao-espacial-das-experiencias-de-amor-a-partir-de-historias-infantis-no-desenvolvimento-de-criancas-n
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Histórias infantis; Infância; Crianças negras.
Resumo
Na infância, constituímos nossa autoimagem a partir das imagens e representações apresentadas por nossos pais/cuidadores, o que contribui para a formação do esquema corporal, da imagem corporal, da consciência de si e para a construção dos espaços de desenvolvimento físico, psíquico e emocional.** “O reconhecimento e a nomeação das partes do corpo são importantes para a aprendizagem da criança sobre o espaço que seu corpo ocupa” (JULIASZ; ALMEIDA, 2014, p. 819). Apresenta-se aqui uma breve análise do enredo de histórias infantis como constituintes de representações de experiências de amor para crianças negras. As histórias infantis apresentadas à própria pesquisadora durante sua vivência na infância, assim como aquelas vivenciadas pelas crianças negras com as quais convive cotidianamente, serão discutidas. Iniciamos ainda na infância os primeiros vínculos e relações de amor e afeto, assim como a constituição das primeiras representações espaciais onde se vive ou se constituem espaços de amor. O desenvolvimento das crianças e sua relação com o mundo ocorre em diferentes espaços e temporalidades, e como nos afirma Lopes (2022, p. 5), “os cuidados que envolvem os processos de educação e, claro, o desenvolvimento de bebês e crianças são manifestações das espacialidades locais [...]”. Sendo assim, essas experiências iniciais de amor vão constituir espaços potentes ou não para o desenvolvimento e reprodução de amor e afeto. Neste período, as representações de imagens, figuras e histórias têm grande importância para a maneira como se desenvolve nossa percepção de mundo. Se as histórias infantis apresentadas têm protagonismo de mulheres e homens brancos, a pobreza, a estigmatização de corpos e a reprodução de uma história única, como ocorre o desenvolvimento da representação espacial das experiências de amor para crianças negras? Saberes e conhecimentos em desenvolvimento, processos de reconhecimento de si e do mundo que as cercam, ainda em formação, a real dimensão e compreensão das condições de opressões cotidianas, que atravessam os corpos das pessoas que pertencem a diferentes grupos sociais. Na infância, a plasticidade neuronal e criativa, assim como a flexibilização dos nossos desejos e projetos futuros, são estimuladas por meio de brincadeiras e da cultura na qual estamos imersos. Uma das principais manifestações dessa cultura é a contação de histórias, fomentada e alimentada pelo imaginário dos nossos pais, responsáveis, cuidadores, familiares e educadores. Histórias que fabulam ou não a realidade. Segundo Ribeiro et al. (2023, p. 1), “essa construção do espaço, por meio da percepção e da motricidade, acontece pela interação das crianças com o ambiente, enquanto estas se organizam e se adaptam continuamente em relação aos objetos. Após esse processo, a construção do espaço passa a ser representativa, aparecendo a imagem e o pensamento simbólico, que surgem juntamente com o desenvolvimento da linguagem.” Com isso, temos o amor romântico alimentado nas histórias infantis, refletindo diferentes perspectivas de análises e alimentando o imaginário e desejo das crianças. Isso resulta na estigmatização das mulheres, colocando-as em posições de submissão e fragilidade, a partir de ideais machistas, sexistas e racistas. Para as crianças negras, existe ainda a invisibilização e a falta de protagonismo dos corpos negros nessas histórias. Na fase adulta, as mulheres negras enfrentam diferentes formas de superação dessas desvantagens, a partir do encontro com o reconhecimento e o agenciamento de outras possibilidades de vivenciar o amor. Ao afirmar que “o amor cura”, Bell Hooks (2000) não tem a intenção de poetizar o amor. O amor cura somente para as pessoas que foram condicionadas ao não-amor. Quando ela nos fala sobre o impacto da escravização de pessoas negras no ato de amar, faz o alerta de que as condições foram difíceis, mas não impossíveis. A forma como conseguimos romper com mais este ciclo de violência é lançando mão do feminismo negro enquanto teoria, metodologia e vida. Construir hoje relações pautadas no amor é mérito nosso, e as ações envolvem, também, judicializar os racismos com os quais convivemos todos os dias. Para as feministas negras, não é tarefa fácil fazer com que nossas vozes ecoem. Falamos quase que sozinhas no espaço acadêmico enquanto o tom do debate ainda é dado por racistas (DIAS, 2019, p. 65). A partir disso, temos como base a vivência das relações românticas na vida adulta, onde a mulher negra está envolta por diversas nuances espaciais, até o reconhecimento das afetações e da espacialização das experiências, a partir do reconhecimento e da interseção de raça e gênero. Criam-se outras possibilidades espaciais para a socialização e vivência das experiências do amor. O objetivo aqui é compreender como se formam as representações espaciais apresentadas na infância, a partir da própria vivência enquanto uma criança negra, e que contribuem para a formação das representações espaciais de amor, sendo estas como possibilidades ou desvantagens. A metodologia da pesquisa será qualitativa e exploratória, dialogando com diferentes autores da geografia e de outras áreas do conhecimento, e utilizando materiais como livros, revistas, artigos, teses, dissertações e bases de pesquisa escolhidas pela pesquisadora. Também serão observadas as dinâmicas espaciais e sociais cotidianas. Durante a infância, principalmente as meninas, quem não ouviu ou não reconhece a história da Branca de Neve, Bela Adormecida, Cinderela, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, A Bela e a Fera, A Princesa e o Sapo. A partir disso, podemos refletir e observar quais os espaços de relações encontrados nas histórias infantis, quem é o público-alvo, e quais são as representações e espaços presentes. Atravessadas pelas reflexões de Lopes (2022, p. 8), “as formas de se imaginar o espaço nos levam a ter ações específicas sobre ele, a desenvolver concepções e epistemologias, e a identificar o caráter político da linguagem.” Analisando as histórias infantis apresentadas, observa-se que elas trazem em suas fabulações jovens casais e a representação do amor romântico, em que a princesa é salva pelo príncipe encantado. O desejo pela constituição do casamento, rodeado pela riqueza material, assim como a quase inexistência de protagonistas negras. Aqui, aponta-se que as representações espaciais observadas em histórias infantis, como as citadas, são representações da pobreza e da violência. As princesas vivem em condições de desigualdade social, são abandonadas ou convivem com bruxas/madrastas que as fazem mal, e o príncipe as retira dessa condição com o casamento. A partir disso, elas passam a morar em grandes palácios e vivem felizes para sempre. Temos também o baile, praças, bosques como locais do primeiro encontro e onde ocorre a “paixão à primeira vista”, o que alimenta a história de “amor” envolta por diversas situações. Em tais histórias infantis, há um apagamento e invisibilização de etnia e raça. A maior parte das princesas são mulheres brancas, loiras, padronizadas, com corpos magros, cintura fina, traços “delicados” e olhos claros. Mulheres frágeis, com papéis a serem salvas. Nem mesmo nos bailes encontram-se figuras de personagens negros/as, ou em papéis de figurantes. Em concordância com Paula e Mares (2022, p. 41), “a mulher negra é triplamente excluída, por seu gênero, sua cor e sua classe.” A lógica de dominação racial e sexista afeta as relações na infância e o reconhecimento da corporeidade e constituição de espaços de formação e desenvolvimento. “O racismo, enquanto projeto de dominação colonial, atualizando-se com instrumentos contemporâneos, alcança todos os espaços, transformando-se em discurso e estruturando toda a sociedade. Esse discurso estrutura as relações raciais no país e mantém sua estratégia perversa operante até a contemporaneidade” (DIAS, 2019, p. 62). **CONSIDERAÇÕES FINAIS** Na verdade, temos aqui considerações iniciais, onde, no período da infância, ocorre a criação e formação das representações espaciais que se perpetuam e ressoam na vida adulta. Durante o nosso desenvolvimento infantil, também estabelecemos os primeiros contatos com as experiências de amor e afeto. As narrativas apresentadas às crianças desde a infância influenciam na constituição das suas autoimagens e na maneira como percebem o mundo ao seu redor. No caso das crianças negras, essas histórias frequentemente não refletem suas realidades ou oferecem exemplos de protagonismo. Ao longo deste texto, discutimos como a representação do amor romântico em histórias infantis é frequentemente limitada a uma perspectiva eurocêntrica, reforçando estereótipos raciais e sexistas. Essas narrativas não apenas excluem protagonistas negras, mas também apresentam mulheres como figuras frágeis e dependentes, reforçando uma lógica de dominação que afeta o desenvolvimento da identidade e da autoestima das meninas negras. Na vida adulta, as mulheres negras enfrentam o desafio de superar as desvantagens impostas por essas narrativas, buscando formas de reconhecimento e agenciamento que possibilitem vivenciar o amor de maneira plena e emancipatória. Como destacado por Bell Hooks, o amor pode ser um caminho de cura, mas é necessário romper com ciclos de violência e opressão histórica. Diante disso, é essencial promover a diversidade nas narrativas infantis, incorporando histórias que representem a pluralidade de experiências e contribuam para a formação de uma sociedade mais justa e inclusiva. Ao proporcionar às crianças negras histórias nas quais elas possam se ver como protagonistas de suas próprias jornadas, estaremos construindo um futuro onde o amor, a igualdade e o respeito sejam acessíveis a todos, independentemente de raça ou gênero. Essa transformação começa na infância, mas reverbera por toda a vida, formando adultos mais conscientes, empáticos e preparados para desafiar as estruturas opressivas que ainda persistem em nossa sociedade, assim como investindo em políticas públicas que fortaleçam e garantam o pleno desenvolvimento e representação de crianças negras. Palavras-chave: Histórias infantis; Infância; Crianças negras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, Luciene de Oliveira. *Lente para mirar estrelas: mulheres e afetividades negras*. Revista Humanidades e Inovação, v. 6, n. 16, p. 58-66, 2019. HOOKS, Bell. *Tudo sobre o amor: novas perspectivas*. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2021. JULIASZ, Paula Cristiane Strina; ALMEIDA, Rosangela Doin. *Cartografia na infância: as relações entre a verticalização da figura humana e a representação espacial*. Revista Brasileira de Cartografia, v. 66, n. 4, p. 819-830, 2014. LOPES, Jader Janer Moreira. *Geografia da infância, justiça existencial e amorosidade espacial*. Revista de Educação Pública, v. 31, p. 1-13, jan./dez. 2022. RIBEIRO, Lygia de Oliveira; SOUZA, Mayara Faria de; MOURA, Jeani Delgado Paschoal. *Perspectivas da infância nos espaços escolares: notas sobre as experiências vividas*. XV Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, p. 1-7, 2023. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/enanpege/2023/TRABALHO_COMPLETO_EV187_MD6_ID57_TB469_16102023111744.pdf. Acesso em: 20 jul. 2023. SILVA, Karina Carla da. *A re-apresentação da criança negra nos livros de literatura infantil adotados pelo PNBE*. 2020. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2020.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FERREIRA, Layana da Rosa; COSTA, Benhur Pinós da. A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DAS EXPERIÊNCIAS DE AMOR A PARTIR DE HISTÓRIAS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS NEGRAS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/898351-A-REPRESENTACAO-ESPACIAL-DAS-EXPERIENCIAS-DE-AMOR-A-PARTIR-DE-HISTORIAS-INFANTIS-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-CRIANCAS-N. Acesso em: 07/07/2025

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