AS PAISAGENS SIMBÓLICAS DE VINCENT VAN GOGH: AS REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO NA PINTURA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
AS PAISAGENS SIMBÓLICAS DE VINCENT VAN GOGH: AS REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO NA PINTURA
Autores
  • Jean Carlos Rodrigues
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/896575-as-paisagens-simbolicas-de-vincent-van-gogh--as-representacoes-do-espaco-na-pintura
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Paisagem Simbólica; Vincent van Gogh; Denis Cosgrove
Resumo
O estudo sobre as paisagens simbólicas não é algo recente na Geografia. Denis Cosgrove, por exemplo, foi um pesquisador que dedicou boa parte de seus estudos e de suas publicações para debates sobre esta abordagem a respeito da categoria paisagem. Além dele, outros pesquisadores, como Giuliana Andreotti (2013), também abordaram a categoria paisagem como mobilizadora de elementos simbólicos que permitiram e possibilitaram um amplo leque de estudos na ciência geográfica a respeito dos significados e dos sentidos impregnados no espaço representado. Neste estudo que apresentamos, procuramos nos embasar nas reflexões teóricas e metodológicas propostas por D. Cosgrove em seus estudos e publicações a fim de demostramos a perspectiva simbólica da paisagem elaboradas nas pinturas das paisagens do pintor holandês Vincent van Gogh. Para este estudo, selecionamos duas telas do artista, uma do ano de 1885 e outra do ano de 1888 para demonstrarmos não apenas as mudanças de estilo do artista em um curto período de tempo, mas para evidenciar o quanto que a elaboração de paisagens de Vincent está relacionada com as diferentes fases da vida do pintor, o que implica em considerarmos os espaços e as experiências destas fases vivenciadas por ele como produtoras de sentidos – inclusive espaciais. Abordar e analisar as obras de Vincent pela perspectiva da paisagem simbólica agrega contribuições para o fazer-geográfico haja vista que amplia as possiblidades de análise das dimensões espaciais, como aquelas contidas e elaboradas na arte, por exemplo. O processo analítico é elaborado, desta forma, não apenas pelo que se vê na tela, mas pelo entendimento do que aquilo que compõe a produção artística pode significar e representar enquanto paisagem simbólica carregada de sentidos e significados. A intenção é de explorar o que “aparece” como portadora de sentidos e significados da paisagem representada artísticamente. A DIMENSÃO SIMBÓLICA DA PAISAGEM Discorrer e pensar sobre a dimensão simbólica da paisagem implica em reconhecer como a sociedade interage e significa o próprio espaço de vivência. Tal significação pode ser elaborada de diversas formas e condições já que tudo quilo que está disposto no espaço tem um sentido para estar-ali. E aquilo que aparece na tela de uma pintura de paisagem também é uma forma de interação e produção cultural acerca da forma como a arte representa o espaço. De acordo com Almeida; Vargas e Mendes (2011, p. 24) “o espaço geográfico, para certos geógrafos, é concebido como um espaço existencial e nele os territórios e lugares são entendidos como porções imbuídas de significados, de emoções e de sentimentos”. Esta abordagem que Almeida; Vargas e Mendes (2011) nos apresentam sobre o espaço existencial, composto por emoções, significados e sentimentos nos direciona para aquilo que pretendemos abordar nestes apontamentos: o espaço é vivenciado, e nesse processo de vivência, os sentidos e significados que o sujeito atribui ao lugar, colabora na produção de sua paisagem. Para Almeida; Vargas e Mendes (2011, p. 24), “a materialidade tangível do espaço está banhada de elementos imateriais e intangíveis que se revelam nas paixões, nos conflitos, nos risos, nas dores, nos encantamentos, nas cores, nas sonoridades e nos odores (...)”. Tais linguagens, também consideradas como “formas simbólicas” por E. Cassirer (2005), são capazes de atribuir sentidos e significados a uma coletividade, constituindo um universo cultural que manifesta valores, sentimentos e emoções de uma dada comunidade e sociedade, que repercute sobre as paisagens. Para Almeida; Vargas e Mendes (2011, p. 28), “(...) para conhecer as expressões impressas por uma cultura em suas paisagens e também compreendê-las, necessita-se de um conhecimento da ‘linguagem’ empregada: os símbolos e seu significado nessa cultura”. Dessa maneira, a paisagem simbólica se estabelece como forma de compreender a produção e a organização do espaço social do homem, haja vista que nesses processos a dimensão cultural-simbólica é um dos componentes destas espacialidades, e para Cosgrove (1998, p. 22), “a paisagem estrutura e é estruturada pelo poder simbólico”. Daí o fato de considerarmos que todas as produções simbólicas da paisagem agregam elementos culturais que manifestam e estruturam valores de uma sociedade e, também, de uma forma de vivenciar aquela paisagem. A discussão sobre a paisagem simbólica remonta ao século XIX. Segundo Correa (2011, p. 11), apoiado em Cosgrove (1979), “ressalte-se que foi John Ruskin quem, no século XIX, sugeriu que a análise da paisagem não deve ater-se apenas à ciência, mas também à experiência que dela se pode ter. Isto possibilita estabelecer significados”. E tais significados são manifestados no modo como as paisagens são elaboradas, bem como a partir das imagens produzidas da paisagem. Ainda de acordo com Correia (2011, p. 16), “as imagens são construídas pelo geógrafo que, a partir de sua visão de mundo, para a qual a imaginação desempenha papel crucial, constrói representações sobre um dado aspecto da realidade”. Podemos considerar a pintura uma destas formas de imagem da paisagem. Conforme Correia (2011, p. 16), “como geógrafo, Cosgrove tinha nas imagens, enquanto representações iconográficas, cartográficas, por meio de pinturas, fotografias e imagens de satélite, assim como da paisagem cultural, verdadeiras e ricas fontes de pesquisa e reflexão”. As pinturas de Vincent van Gogh abordando suas paisagens simbólicas que serão nossa fonte de pesquisa para este artigo, inserem-se como pinturas de paisagem que manifestam o simbolismo na sua elaboração e significação daquilo que aparece na tela e dialoga com nossas percepções acerca da paisagem simbólica. De qualquer modo, essas pinturas de paisagens, simbólicas em sua essência, demonstram que a criação artística se manifesta enquanto um produto cultural de seu tempo, mas cuja pregnância simbólica (CASSIRER, 2005) constitui uma narrativa permanente e presente na vida social contemporânea. Assim, tais representações adquirem uma dimensão social, cultural, histórica e geográfica relevante para pensar o seu tempo de criação, sem deixar de correlacionar com o tempo da recepção, que transcende o espaço-tempo da obra-em-obra. Ou seja, a obra tem um tempo-espaço específico, mas o mesmo não acontece com a repercussão e recepção da pintura. Sendo assim, a manifestação artística da paisagem carrega consigo uma dimensão simbólica capaz de conformar existências e de manifestar percepções espaciais manifestadas a partir da criatividade promotora de sentidos e significados nas telas retratadas. Tal fenômeno ganha corpo e sentido, sobretudo, a partir do século XV no Renascimento Europeu, e a paisagem se manifesta, inicialmente, como arte do que como objeto científico. Para Correa (2011, p. 12), apoiado nos estudos de D. Cosgrove, “a paisagem deve ser considerada como ‘um modo de ver’, associado às transformações econômicas, sociais, políticas, técnicas e artísticas do século XVI e do início do século XVII”. Nessa perspectiva, a ideia de paisagem transcende o aparente, o visível, e se projeta sobre as perspectivas significantes da mesma, contribuindo com uma forma de representar e, ao mesmo tempo, de pensar-o-mundo e pensar-sobre-o-mundo. De acordo com Carvalho (2017, p. 89), “um dos grandes temas cosgroveanos, a paisagem, a partir das conquistas mercantis europeias e das perspectivas filosóficas e artísticas renascentistas, ascendeu como uma maneira do europeu ver, configurar e conformar cosmologicamente e ideologicamente o mundo que o cerca”. Na proposta desenvolvida por Denis Cosgrove, as paisagens podem ser “lidas” em camadas, cada qual abordando perspectivas significativas inerentes à própria paisagem. VINCENT VAN GOGH: O CRIADOR DE PAISAGENS SIMBÓLICAS Para este estudo, selecionamos duas pinturas de Vincent: “Os Comedores de Batata”, de 1885; e “A Casa Amarela”, de 1888. Os Comedores de Batatas (1885), Neunen (Holanda) O quadro “Os Comedores de Batata” (1885) possui um significado muito especial na pinacoteca de Vincent: ele faz parte da primeira fase de pinturas do artista, ainda com influência dos trabalhos realistas tanto do pintor Jean-François Millet (1814-1875) como do escritor Emile Zola (1840-1902), e foi produzido no ano de 1885 em homenagem aos camponeses de Nuenen (Holanda), os quais o artista acompanhava diariamente, tanto em suas atividades laborais durante o dia, como nos momentos privados em suas residências, à noite. Vincent tinha um apreço muito especial por esses trabalhadores, o que revela em uma carta a Theo, quando lhe apresenta a obra: “a pintura da vida dos camponeses é coisa séria, e no que me diz respeito, eu me censuraria se não tentasse fazer quadros de tal forma que provoquem sérias reflexões nas pessoas que pensam seriamente na arte e na vida” (GOGH, 2015, p. 134 – Carta n. 404). Vincent pensava-se enquanto um deles e de atribuir-lhes um quadro no momento em que a arte daquele período os negligenciava como pessoas dignas de arte. A Casa Amarela (1888), Arles (França) A pintura “A Casa Amarela” (1888) de Vincent pode ser abordada como uma paisagem de significados que conformaram a existência do artista. “Terra” de vivências de intensas emoções, “A Casa Amarela” se situa entre o desejo e a frustração de Vincent, em vários aspectos: o desejo de montar sua escola colorista; e a frustração de convivência com Paul Gauguin. Mas não só: podemos compreender a tela também como uma paisagem de vivências de alegria e de dor: a alegria de ter retratado Madame Ginoux quando ela posava para Paul Gaguin; e a dor da automutilação da orelha com consequências que o levou a se retirar de Arles, da Casa Amarela. Nas perspectivas apontadas, “A Casa Amarela” abordada como paisagem, conforma a existência do artista holandês pelas emoções vivenciadas e significa um espaço de desejo/frustração; alegria/dor que adquire imortalidade na pintura de Vincent, mesmo que a construção material não tenha resistido aos conflitos militares do início do século XX. Mas esta destruição não implica em esquecimento: para Van Gogh “os pintores, estando mortos e enterrados, falam à geração seguinte ou a várias gerações seguintes por suas obras” (GOGH, 2015, p. 212 – CARTA 506). REFERENCIAS ALMEIDA. Maria Geralda de; VARGAS, Maria Augusta Mundim; MENDES. Geisa Flores. Territórios, paisagens e representações: um diálogo em construção. Mercator, v. 10, n. 22, p. 23-35, 2011. ANDREOTTI, Giuliana. Paisagens Culturais. Curitiba: Editora UFPR, 2013. CARVALHO, José Luiz de. Denis Cosgrove e o desenvolvimento da perspectiva simbólica e iconográfica da paisagem. Geograficidade, v. 7, n. 2, p. 87-97, 2017. CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem. Introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CORREA, Roberto Lobato. Carl Sauer e Denis Cosgrove: a paisagem e o passado. Espaço Aberto, V. 4, N.1, p. 37-46, 2014 _______. Denis Cosgrove: a paisagem e as imagens. Espaço e Cultura, n. 29, p. 07-21, 2011. COSGROVE, Denis. Em direção a uma geografia cultural radical: problemas da teoria. Espaço e Cultura, n. 05, p. 01-27, 1998. GOGH, Vincent van. Cartas a Theo. Porto Alegre: LPM, 2015. PEREIRA, Clevisson Junior; GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia da Religião e espaço sagrado: diferenças entre as noções de lócus material e conformação simbólica. Ateliê Geográfico, v. 6, n. 1, p. 35-50, 2012
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

RODRIGUES, Jean Carlos. AS PAISAGENS SIMBÓLICAS DE VINCENT VAN GOGH: AS REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO NA PINTURA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/896575-AS-PAISAGENS-SIMBOLICAS-DE-VINCENT-VAN-GOGH--AS-REPRESENTACOES-DO-ESPACO-NA-PINTURA. Acesso em: 13/07/2025

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