FESTA DA CASA AMARELA: RECORTE ESPAÇO- TEMPORAL DO CABARÉ DE CAXIAS – MARANHÃO.

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
FESTA DA CASA AMARELA: RECORTE ESPAÇO- TEMPORAL DO CABARÉ DE CAXIAS – MARANHÃO.
Autores
  • Ana Carolina Nunes de Azevedo
  • Maria Augusta Mundim Vargas
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/893170-festa-da-casa-amarela--recorte-espaco--temporal-do-cabare-de-caxias--maranhao
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Geografia e Literatura, Festividade, Lugar.
Resumo
A literatura proporciona a geografia reflexões e abordagens de suas categorias geográficas, trazendo em sua essência uma infinidade de discussões relacionadas as ações do meio. É relevante mencionar a capacidade que a geografia tem de se encontrar nas artes literárias, facilitando o entendimento do que poderia ser os conflitos e ações do cotidiano, tais como: conceitos da dinâmica territorial e ambiental, disputas territoriais em seus costumes e práticas, a ideia de identidades do lugar, elementos e construção da paisagem entre outros conceitos da ciência geográfica, que vai pontuando de maneira objetiva cada etapa do mundo literário. No presente trabalho pretende-se fazer uma breve discussão a respeito da relação entre geografia e literatura, com ênfase no romance Julieta, Coisa e tal de Osmar Rodrigues Marques, buscando entender a dinâmica do espaço Caxiense para a construção de diferentes vivências e experiências. Atrelado ao contexto, a trama permite compreender a história do cabaré Casa Amarela situado na área central da cidade, um local de diversão para moças e rapazes que encontrava na ambiência do espaço momentos de integração e festividade, como também a intensificação do fluxo econômico e populacional. Entender os aspectos da temporalidade é um quesito relevante para essa discussão, são nas marcas do vivido que encontramos os elementos necessários para realizar o estudo do cabaré enquanto elemento do meio, através das vozes dos personagens é possível compreender o espaço-temporal Caxiense e os aspectos socioespaciais do lugar. Qual o sentido do lugar e do tempo? O lugar acompanha o homem desde sua gênese e sua definição perpassa sobre o sentido do tempo, dia, mês, ano, século, em que a vida é estabelecida, construída e transformada pela ação do trabalho, resultando em espaço produzido socialmente a partir das necessidades e relações humanas (Oliveira e Passos, 2020. p. 91). Em Julieta, Coisa e tal a vida dos personagens incorpora diferentes maneiras de ver e sentir o lugar Caxiense, a temporalidade é um evento importante para analisar a simbologia do lugar e os aspectos que compõe os enlaces da afetividade. METODOLOGIA: A pesquisa foi fundamentada em levantamento bibliográficos junto a autores que relatam a relação entre geografia e literatura, sendo esses os responsáveis pelo direcionamento das ideias do objeto de estudo: ALMEIDA (2010), BACHELARD (2008) BROSSEAU (2007), CASTRO (2016), DARDEL (2015), SOUZA (2021). Utilizamos documentos referentes a geobiografia do autor como fotos e jornais dos anos 1970/80, período da construção e desvelar do enredo, esses documentos foram adquiridos no Instituto Histórico Geográfico de Caxias – IHGC e Academia Caxiense de Letras. Atrelado a esse contexto realizamos um percurso etnográfico com o objetivo de conhecer a realidade local e aplicação de entrevistas com populares que conheceram a realidade do prostibulo Casa Amarela. RESULTADOS E DISCUSSÕES: O romance em estudo realiza a abordagem de um período marcante na historicidade da cidade de Caxias no estado do Maranhão, em meados da década de 1970/80, quando o lugar Caxiense sediava a efervescência dos cabarés, que em sua dinâmica e capacidade de expansão garantia uma intensificação dos aspectos socioespaciais da cidade. Conhecer a história da Casa Amarela provocou ao conhecimento geográfico a busca de entender a realidade do meio, foi através do imaginário de Osmar Rodrigues Marques que a geografia teve a oportunidade de conhecer os lugares de existência e espaços de liberdade atrelados as ações, vivências e experiências de todos os envolvidos na trama romanesca. Falar desse prostíbulo é desvelar o imaginário de um lugar que foi além da ficção. A Casa Amarela realmente existiu na cidade de Caxias, como descrita por Osmar Rodrigues Marques, localizada na antiga rua da Areia, popularmente conhecida como “rua do Cabaré”, assim como “rua da Alegria”. Nos arredores havia outros prostíbulos de nome Calçada Alta, Boate Madri, Casa Verde, entre outros que conformavam um lugar de intensa festividade, habitado e frequentado por moças e rapazes de outros estados e cidades vizinhas. A sensibilidade do autor para realizar a descrição do vivido, desperta em seu imaginário o anseio de entender a vida de uma jovem migrante, nomeada Julieta, a protagonista. Ela é o alvo de todo e enredo e a trajetória de sua existência, fundamenta diferentes maneiras de ver, sentir e pertencer ao lugar Caxiense, através de suas vivências e experiências o autor ganha liberdade para expressar assuntos relacionados as atuações e dinâmicas dos cabarés da época, é através das vozes dos personagens que as práticas ao oficio da prostituição garantia reconhecimento em suas diferentes nuances. Rodrigues Marques é pontual ao descrever a Casa Amarela enquanto elemento do meio. O autor chama atenção para o entendimento de diferentes aspectos geográficos, tais como: elementos naturais, dinâmica populacional, processo migratório, economia, religiosidade, festividade, entre outros conceitos que proporciona uma reflexão relacionada ao sentimento de pertencimento e construções identitárias ancoradas a todos esses conceitos. Para entender a construção literária e artística da cidade, fez-se necessário buscar em sua história os acontecimentos e elementos da dinâmica espacial. Caxias oferece inspiração e visibilidade por guardar no Morro do Alecrim as ruinas do quartel da Balaiada, contempla os visitantes com a exuberância das igrejas seculares, recepcionou um longo período industrial, os cemitérios com diferentes modelos arquitetônicos, as praças como espaço do cotidiano, além dos aspectos naturais (reserva ecológica do Inhamum, balneário Veneza, rio Itapecuru, piscina da ponte, entre outros) que com suas singularidades caracteriza o perfil do lugar Caxiense. As festividades eram um marco significativo na cidade, os períodos carnavalescos e festejos religiosas tinham a capacidade de intensificar o fluxo de visitantes nos cabarés, as fantasias carnavalescas direcionavam as pessoas aos bailes, na mesma intensidade que Rodrigues Marques revela as atitudes do prefeito, delegados, guardas que festejavam o carnaval no prostíbulo fantasiados para evitar reconhecimento e críticas oriundas da sociedade em decorrência de suas visitas ao espaço, e no objetivo de atender as exigências e demandas do meio as prostitutas prioriza a construção de suas vestimentas para garantir exuberância nos momentos de diversões do recinto. As festas podem relacionar-se ao lazer, às manifestações da cultura, aos momentos de socialização, às contribuições financeiras para quem as realiza, ao sentimento de pertencimento ao lugar e também como atrativo turístico. Todas essas funções devem ser discutidas na interface com o lugar em que as festas ocorrem (Oliveira e Calvente, 2011, p. 4). Com efeito, as festas na Casa Amarela estavam relacionadas ao lazer, o espaço oferecia momentos de diversão para turistas que chegavam à cidade motivados pelas festas carnavalescas e período de festividade das igrejas católicas, na época o catolicismo garantia um alcance significativo na cidade, podendo assim mencionar os festejos das igrejas Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião, Nossa Senhora dos Remédios, todos localizados na área central e comercial da cidade. A geografia pode pensar o lugar para além de sua estrutura material, o lugar aprecia diferentes situações e realidades que são construídas aos anseios de viver e experenciar. A trajetória de Julieta e demais personagens concede o sentido do lugar em seus aspectos individuais e coletivos, embora os indivíduos encontrem a necessidade de habitar o mesmo espaço, a maneira de sentir e pertencer ganha dimensões distintas, logo o percurso do enredo convida o leitor a perceber a função do lugar para a vida do escritor, a realidade favorece a construção imaginária, que em uma abordagem literária disponibiliza a geografia o suporte necessário para o conhecimento da dinâmica do lugar Caxiense. A dinâmica dos cabarés é um elemento significativo para o conhecimento geográfico e o histórico de suas existências memoriza a capacidade da construção dos lugares atrelados a condição humana. Pelo viés literário tivemos a oportunidade de conhecer a área central onde estavam localizados os antigos prostíbulos da cidade de Caxias, a influência da igreja católica no sentido da espacialidade, o mercado com a capacidade de atração econômica, os cemitérios, a interligação das ruas no fluxo comercial, a cidade como um lugar de construção identitária, e a casa como um espaço de diversas simbologias. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Decifrar uma cidade não é fácil, principalmente quando se lança um olhar para percebê-la em livros, jornais, memórias, músicas, melodias, fotografias ou mesmo pinturas. E nem são apenas areia, madeira, ferro, e assim por diante, reunidos para lhe dar forma. A cidade é mais que essa materialidade. Dessa forma, buscamos perceber Caxias para além desses aspectos, tentando compreender os outros sentidos que ela pode nos mostrar (Ribeiro, 2012, p. 2). O recorte espaço – temporal da Casa Amarela proporciona entender os elementos que constituíram a efervescência dos cabarés na cidade, elencando conceitos significativos do espaço vivido junto as ações dos integrantes do meio, observando a dinâmica do recinto como um lugar de diversão e festividade. Observamos que as atividades cotidianas no romance Julieta, Coisa e tal referenciam a dinâmica do lugar Caxiense, a Casa Amarela – ambiente central na obra era um espaço de diferentes simbologias aos visitantes e integrantes do recinto, a existência dos personagens oferece ao pensamento geográfico a oportunidade de conhecer as maneiras como a sociedade experienciava a cidade, as formas de ver e sentir o lugar era algo individual de cada integrante, os sentidos e significados eram atribuídos as vivências com o meio, no entanto a Casa Amarela tornou-se o objeto de análise para os elementos que constitui a geograficidade. REFERÊNCIAS BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2008. CASTRO, Júlia Fonseca. Geografia e Literatura: da aproximação ao diálogo. In: SUZUKI, Júlio César;LIMA, Angelita Pereira de; CHAVEIRO, Eguimar Felicio (Orgs.). Geografia, literatura e arte: epistemologia, critica e interlocuções. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2016, p.332-347. GOMES JÚNIOR, Gervásio Hermínio. Geografia e literatura: ensaio sobre o lugar em Patativa do Assaré. In: SUZUKI, Júlio César. SILVA, Valéria Cristina Pereira da. (ORG) Imaginário, Espaço e Cultura: Geografias poéticas e poéticas geografias-Porto Alegre, 2016.p.166-189. LIMA JÚNIOR, Ednaldo da Silva. OLIVEIRA, Jucivan Carlos de. COSTA FILHO, Alcebíades. Da areia movediça ao hotel familiar: tiquira, arroz, babaçu e “assaltos” em Julieta, Coisa e Tal. 2021. Caxias- Maranhão. MARQUES, Osmar Rodrigues. Julieta Coisa e Tal. Rio de janeiro: Editora Jornal de Letras, 1986. OLIVEIRA, A.N. CALVENTE, M.D.C.M.M. As múltiplas funções das festas no espaço geográfico. Campo Grande, v.13, n.1 , p.81-92, jan/jun.2012. OLIVEIRA, Natallye Lopes Santos. A experiência ontológica na geografia de Jorge Amado e o viés epistemológico. In: SUZUKI, Júlio Cesar; Lima, Angelita Pereira de; CHAVEIRO, Eguimar Felício (Orgs.). Geografia, Literatura e arte: epistemologia, critica e interlocuções. Porto Alegre: Imprensa Livre,2016, p.247-271. OLIVEIRA, Simone Santos de. PASSOS, Mirian Barreto de Almeida. Memórias, Histórias e Geografias: Os lugares e tempos versados na literatura. In: PORTUGAL Jussara Fraga (Org) Geografias Literárias: escritos diálogos e narrativas-SALVADOR: Edufba, 2020. 81-103. RIBEIRO, J.S. A princesa entre ideal Cristã Burguês e o perfil desregrado: representações de identidades masculinas em Caxias entre 1940 a 1970. In: Seminário Internacional História e Historiografia 3. 2012, Fortaleza - CE. SOUZA, Jamescley Almeida de. Literafia: O dialogo entre a Literatura e a Geografia – 1.ed.- Manaus, AM: Ed.do Autor, 2021.136p.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

AZEVEDO, Ana Carolina Nunes de; VARGAS, Maria Augusta Mundim. FESTA DA CASA AMARELA: RECORTE ESPAÇO- TEMPORAL DO CABARÉ DE CAXIAS – MARANHÃO... In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/893170-FESTA-DA-CASA-AMARELA--RECORTE-ESPACO--TEMPORAL-DO-CABARE-DE-CAXIAS--MARANHAO. Acesso em: 06/07/2025

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