ENTRE GEOGRAFIA E MÚSICA: FA-TAL - GAL A TODO VAPOR

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ENTRE GEOGRAFIA E MÚSICA: FA-TAL - GAL A TODO VAPOR
Autores
  • Laura Isabel dos Santos Flores
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/883421-entre-geografia-e-musica--fa-tal---gal-a-todo-vapor
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Geografia; Música; Gal Costa; Tropicalismo.
Resumo
Introdução O presente trabalho é fruto de pesquisa em estágio inicial de mestrado acadêmico, no Programa de Pós-Graduação em Geografia (POSGEA/UFRGS), na linha de pesquisa de análise territorial. Com o intuito de abordar os elos entre geografia e música, a partir da análise do álbum “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor”, de Gal Costa, esta pesquisa, mesmo que recém gestada, já trilha um caminho que será apresentado nos próximos parágrafos. Gravado em outubro de 1971, no então Teatro Tereza Rachel, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor”, de Gal Costa, marcou a década de sua estreia e os anos seguintes. O show que originou o lançamento do álbum ao vivo da cantora, em uma prática comum da época, era apresentado semanalmente no Teatro Tereza Rachel, para um público que ansiava por liberdade nos dias severos de ditadura militar no Brasil, e via na cantora, a ousadia necessária para atravessar a censura. Sob a direção de Waly Salomão, o álbum contou com músicas escritas por Caetano Veloso, Luiz Melodia, Waly Salomão e Jards Macalé. Ainda que em estágio inicial, a pesquisa busca, a partir da análise das letras das canções, do show enquanto evento geográfico (Santos, 2009) e da compreensão do momento geo-histórico do lançamento do álbum, identificar elos entre geografia e música, a fim de, também, expandir os estudos em geografia nesta área. Além de colaborar com a ciência geográfica, a pesquisa não deixa de ser, simultaneamente, uma homenagem à cantora Gal Costa, a eterna, Divina, Maravilhosa. O álbum O álbum “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor” é composto por dezenove músicas e pode ser considerado o marco “oficial” da cantora como voz do tropicalismo. Iniciando por “Fruta Gogóia”, na versão voz e violão, a música abre o disco e marca o tom brando e melancólico da primeira metade da obra. Ainda nesta primeira parte, estão composições como “Coração Vagabundo” e “Como 2 e 2”, de Caetano Veloso. Esta aparece primeiro em uma versão voz e violão para, assim como “Fruta Gogóia”, voltar a se repetir no disco em sua versão acompanhada pela banda do show. A música carrega em si as palavras de um amigo exilado: “Tudo vai mal, tudo / Tudo é igual quando eu canto e sou mudo”, “Tudo em volta está deserto tudo certo / Tudo certo como dois e dois são cinco”. A letra expressa, através da interpretação da cantora, o descontentamento com o cenário político e social da época, que não parecia ter fim ou perspectivas imediatas de melhorias, como no prolongamento de palavras como “Tudo é igual”. Seguido por “Falsa Baiana”, “Antonico” e “Sua Estupidez”, a primeira parte do álbum se revela como uma obra semelhante ao canto inicial e explorado pela cantora até ali, em versões de voz e violão com influências nítidas da bossa nova, principalmente por sua maior inspiração, João Gilberto. A segunda parte do disco inicia também por “Fruta Gogóia”, como mencionado anteriormente. Todavia, a interpretação da música apresenta o que viria a seguir: músicas interpretadas com um canto mais agressivo e explosivo, acompanhado pela banda formada por Lanny Gordin na guitarra, Novelli no baixo, Jorginho Gomes na bateria e Baixinho na percussão. Os músicos aparecem aos poucos no show, a partir da segunda música, “Vapor Barato”, de Jards Macalé e Waly Salomão. A música foi composta a partir da prisão de Waly Salomão por porte de maconha, expressando o desejo da juventude por liberdade e pela volta dos direitos civis, negados pelo regime ditatorial da época. Na sequência do álbum, “Dê um rolê” música do grupo Novos Baianos, traz a ideia de que antes da ditadura, tudo e todos já existiam e, mesmo com as repressões e até mesmo com e contra elas, ainda era possível resistir e amar: “Antes de você ser / Eu sou, eu sou, eu sou / Eu sou amor da cabeça aos pés”. A música “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, marca a inserção do compositor e cantor no cenário musical, a partir da interpretação de Gal no show em questão. A canção “Mal Secreto”, de Jards Macalé e Waly Salomão, apresenta um “Rapaz esforçado” que aprendeu a mascarar sua dor nos tempos de chumbo no Rio de Janeiro: “Se você me pergunta / Como vai? / Respondo sempre igual / Tudo legal / Mas quando você vai embora / Movo meu rosto do espelho / Minha alma chora / Veja o Rio de Janeiro”. A música “Hotel das Estrelas”, de Duda Machado e Waly Salomão, pode ser entendida como a composição mais direta e dura, como forma de denúncia e protesto aos lugares de tortura e assassinatos da ditadura militar, “Sobre um pátio abandonado / Profetas nos corredores / Corpos embaixo da escada”. Além disso, pode-se notar uma semelhança entre “Hotel das Estrelas" e “Mal Secreto”, uma vez que ambas as canções trazem o Rio de Janeiro como cenário de violência e também de posterior calmaria. Na parte final do álbum, as últimas três músicas são composições de Caetano Veloso. Iniciando por “Maria Bethânia”, a música em inglês, é um pedido do irmão mais velho, que se encontrava no exílio em Londres, por notícias da irmã caçula que permaneceu no Brasil, e um desejo por tempos melhores. Passando por “Não se Esqueça de Mim”, traz a preocupação do esquecimento daqueles que estavam afastados do Brasil e o desejo pelo reencontro: “E vamos embora ladeira abaixo / Acho que a chuva ajuda / A gente a se ver / Venha, beija, deixa, beija / Seja o que Deus quiser, ser, ser, ser”. A última canção, “Luz do Sol”, ganha destaque e encerra o álbum de maneira esplêndida. A música, cantada até sua primeira metade de forma mansa, ganha explosão a partir da segunda metade, de forma a representar, assim como a linha do tempo do álbum, o próprio canto da artista. Trazendo versos como “Quero ver de novo a luz do sol / Que me brilha ascende / Aquece e me queima / Batendo na porta do meu lar”, a música que exalta o Sol, pode ser compreendida como o desejo pela volta da liberdade, da alegria e energias apagadas e censuradas pela ditadura militar. Procedimentos Metodológicos A pesquisa vem se realizando a partir da revisão bibliográfica de trabalhos publicados na área de geografia e música, como “Redes musicais e [re]composições territoriais no Prata: por uma Geografia da Música em contextos multi-localizados”, do geógrafo Lucas Manassi Panitz (2017). Bem como, estudos feitos diretamente sobre obras de Gal Costa, como “Canto Popular E Significação: Uma Proposta De Análise Do Gesto Vocal De Gal Costa No Disco Fa-Tal – Gal A Todo Vapor”, da musicista Maria Elisa Xavier De Miranda Pompeu (2017), entre outras obras que contribuem para o arcabouço teórico da pesquisa. Nos próximos passos metodológicos, estão previstas a escolha do método, elaboração de um roteiro para a análise da letra das canções, entrevista com produtores musicais para compreender a importância do álbum no que ultrapassa o conhecimento geográfico. Estando em aberto para possíveis alterações e inclusões de procedimentos metodológicos ao longo da realização da pesquisa. Resultados preliminares e discussões Diante do exposto até aqui, fica evidente que a pluralidade do canto de Gal Costa pode ser assimilada, para além de sua grandiosidade musical, uma contribuição para a geo-história do Brasil. De forma que ao analisar as composições e a própria interpretação da cantora do show que originou o álbum Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, é possível entender e aprofundar os cenários que integram categorias geográficas como cotidiano, lugar e espaço. Como visto no segundo tópico deste resumo, ao analisar brevemente a letra das canções, é possível reconhecer como a música se relaciona com a geografia: ao descrever lugares e experiências que refletem crimes da ditadura militar, entendido como principal contexto geo-histórico da obra. Ao compreender o movimento tropicalista, desde sua origem etimológica, se referindo à música feita nos trópicos, até seu caráter de contracultura. E até mesmo, na discussão do simbólico, de Gal enquanto uma representação do movimento feminista, a partir da perspectiva Doreen Massey (SILVA; ORNAT; CHIMIN, 2017), ao compreender a geografia feminista como também, um fazer metodológico. Diante do exposto, fica marcado a potência da relação entre geografia e música. Referências Bibliográficas PANITZ, Lucas Manassi. Redes musicais e [re] composições territoriais no Prata: por uma Geografia da Música em contextos multi-localizados. 2017. POMPEU, Maria Elisa Xavier de Miranda. Canto popular e significação: uma proposta de análise do canto de Gal Costa no disco Fa-Tal-Gal a Todo Vapor. Campinas, SP, 2017. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009. SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose; CHIMIN Jr., Alides Balptisa. ‘Não me chame de senhora, eu sou feminista!’! Posicionalidade e reflexibilidade na produção geográfica de Doreen Massey. In: GEOgraphia. Niterói: Universidade Federal Fluminense. Vol.19, N. 40, 2017: mai./ago. Disponível em https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13796/8996. Acesso em: 01 jul. 2024.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FLORES, Laura Isabel dos Santos. ENTRE GEOGRAFIA E MÚSICA: FA-TAL - GAL A TODO VAPOR.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/883421-ENTRE-GEOGRAFIA-E-MUSICA--FA-TAL---GAL-A-TODO-VAPOR. Acesso em: 29/06/2025

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