NEGRO-BIXA, CORPO-TERRITÓRIO E AFETOS DO CU: DISCURSO E PERFORMANCE, DESEJO E POLÍTICA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
NEGRO-BIXA, CORPO-TERRITÓRIO E AFETOS DO CU: DISCURSO E PERFORMANCE, DESEJO E POLÍTICA
Autores
  • Victor Dantas Siqueira Pequeno
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Corpo, gênero e sexualidades
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/883136-negro-bixa-corpo-territorio-e-afetos-do-cu--discurso-e-performance-desejo-e-politica
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Raça, Gênero, Masculinidades, Sexualidades, Corpo-Território
Resumo
As Geografias Feministas e das Sexualidades no Brasil acumulam uma trajetória de mais de trinta anos. Ainda assim, restam lacunas. Limitações teórico-conceituais. Ausências. Nesse sentido, defendo e argumento que nós, homens negros-bixas, estejamos enquanto criadores de conhecimentos ou grupo a ser investigado, não somos preocupados e nem usufruímos das mesmas visibilidades que demais corpos masculinos (principalmente, os homens brancos) frequentemente protagonizam na agenda de pesquisa geográfica que se pretende feminista e queer que se propõe a investigar as masculinidades. Minha crítica está fundada na verificação de que os estudos de/sobre masculinidades (Pereira, 2014; Hanke, 2016; Goergen, 2017; Morais, 2017; Rossi, 2017; Carneiro, 2018; Gomes, 2018; Vasconcelos, 2018; Nunes, 2019; Gontarek, 2020; Santos, 2020) em Geografia foram desenvolvidos, na sua maioria, por homens brancos que colocaram em evidência cotidianos e contextos racializados mas que, devido à neutralidade racial e do não exercício do letramento racial crítico (Ferreira, 2006; 2014), os homens negros ficaram reservados, apenas, ao dado da descrição racial. Processos como branquitude (Bento, 2022), racismo institucional e estrutural (Almeida, 2019), preconceito geográfico racial (Vitto; Moura, 2022) e outros, não foram considerados como efeitos de conforto racial e artifícios para engendrar políticas (espaciais, territoriais, culturais) que agem sobre corpos masculinos. Diante desse quadro epistêmico, como alternativa crítica e inventiva, no presente trabalho disponho ênfase a algumas escrevivências (Evaristo, 2020) para ilustrar como o eixo interseccional (Crenshaw, 2002; Akotirene, 2019) raça-gênero-sexualidade (e em menor frequência, o marcador regionalidade) tem sido agenciado e (res)significado nos meus relacionamentos afetivos homoeróticos. Para tanto utilizo como suporte conceitual o (meu/nosso) corpo-território (Miranda, 2018; Carvajal, 2019; Rocha, 2019; Haesbaert, 2020; Zaragocin, 2021). Com e a partir das escrevivências pessoais, encaminho a problematização das imagens de controle (Collins, 2019) que incidem sobre os corpos dos homens negros dissidentes, e nesses inscrevem imagens como: cafuçu e bicha preta (Ribeiro, 2020). A primeira, constitui o repertório do imaginário do homem negro viril, bruto, ativo e insaciável sexualmente. Cafuçu, adjetivo que nomeia aquele negro que dispõe de um corpo atlético com músculos realçados, que porta um pênis avantajado com uma rigidez e comprimento fora do comum que transforma àquele num “cavalo” ou “jumento”. Um animal, portanto. Animal esse que se defronta com seu oposto, a bixa preta. Bixa preta um corpo que é “quase homem” e “quase mulher”. Isso porque o marcador bixa denuncia sua feminilidade, sua emasculação, sua passividade sexual, seu afeto-desejo anal. Um animal híbrido, portanto. Em vista disso, argumento que a pornografia homoerótica consiste num dos canais por onde se dá a produção e difusão de tais imagens, consumidas, inclusive, por pessoas LGBTI+. Nesses termos, a pornografia configura-se (também) como um discurso geográfico muito eficaz para engendrar políticas que agem sobre corpos racializados, espaços segregados e desejos hierarquizantes e hierarzquizados vide a diferença sexual e racial. Em tais discursos porno-geo-gráficos, o dispositivo de racialidade (Carneiro, 2023) se manifesta e deixa explícito as dinâmicas e negociações entre masculinidades hegemônicas e subordinadas (Connell; Messerschmidt, 2013). Como referencial empírico utilizarei de algumas produções pornográficas homoeróticas disponibilizadas no sítio eletrônico gratuito Machotube.tv, e que me serão úteis para pensar o eixo raça-gênero-sexualidade sob influência das imagens de controle para corpos dissidentess masculinos negros. Proponho como atitude contestatória desse regime racista-misógino, a postura ética e os afetos por/entre negros-bixas que germinaram, inclusive, nas minhas escrevivências: O que um homem gay branco e sulista espera de mim, uma bixa preta nordestina? Sou reconhecido/desejado pela minha aparência física? Pela minha sexualidade ou pelo prazer sexual que posso proporcionar àquele? Pelo meu corpo como inteiro ou apenas pelo meu pau? Questões de ordem ontológica e epistemológica muito fecundas para redirecionar a leitura geográfica feminista para outras fontes de conhecimento, bem como acolher sujeitos e subjetividades dissidentes que são suficientemente capazes de imaginar e forjar um pensamento-ação e rasuras teórico-conceituais racialmente críticas. Ética e afetos que diz respeito a uma coletividade de corpos dissidentes racializados que partilham de uma experiência histórica tornada miserável. Evoco-me e (in)escrevo(me) como negro-bixa por dois motivos. O primeiro refere-se à minha tonalidade de pele que anuncia minha identidade racial. O segundo motivo diz respeito à flexão conceitual que eu considero pertinente com o termo bixa, qual seja, o eixo raça-gênero-sexualidade. Defendo, a partir das minhas experiências e escrevivências, que a minha cor negra, por vezes, antecede os efeitos da minha expressão de gênero e da minha sexualidade na sociedade, ao mesmo tempo que é por eu ser negro que a minha expressão de gênero e a minha sexualidade é especulada de acordo com minha cor. Assim sendo, é na diferença racial que (re)construo minha expressão de gênero e a minha performance sexual como estando e sendo negro-bixa. O presente estudo deriva da minha pesquisa de mestrado em andamento que tem como perguntas-raízes: O homem negro-bixa está para a Geografia Feminista e Queer assim como outras identidades dissidentes? O que os negros-bixas têm para reivindicar na academia? Seriam os afetos por/entre negros-bixas potenciais processos de inventividade e ampliação epistêmica decolonial-feminista na Geografia a partir do corpo-território? Com as possíveis “respostas”, me desafio a elaborar e sugerir aportes de uma “Epistemi-anal-logia Negra-Bixa para Geografias Decoloniais”. Tal proposta não tem a pretensão de tornar-se um modelo conceitual-metodológico para ser reproduzido em cadeia por demais mentes e vozes. Longe disso, minha vontade e meu desejo é de fazer a “primeira” rasura nessa grande tela em branco chamada ciência moderna. Conceber e cultivar uma autoestima e autenticidade hetero ou homossexual a partir de masculinidades antirracistas e antihomofóbicas é um exercício bastante difícil para nós homens do terceiro mundo que fomos capturados e domesticados pela cultura branca, cristã, racista e misógina. Mas, não é impossível. Os efeitos do racismo e da ética sexual patriarcal e heternormativa não só minam as possibilidades de viver, agir, criar, amar e de se relacionar dos homens negros, mas de todos homens; cis ou transgêneros; sejamos hetero ou homossexuias; gays, bichas ou negro-bixas. Todos nós, homens, estamos suscetíveis a perpetuar tal postura por demais doentia e nociva para com os nossos relacionamentos afetivo-sexuais e sociais. Na travessia para uma masculinidade negra dissidente reinventada e autodefinida (Collins, 2019), (in)escrevo-me aqui enquanto corpo-território. Enquanto um corpo-arquivo (Chaveiro, 2014) de memórias, afetos, lugares e histórias. Enquanto ser desejante e vida insubmissa. (In)Escrevo-me, pois, numa geografia que goza com outros modos de ser-estar e saber-fazer.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PEQUENO, Victor Dantas Siqueira. NEGRO-BIXA, CORPO-TERRITÓRIO E AFETOS DO CU: DISCURSO E PERFORMANCE, DESEJO E POLÍTICA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/883136-NEGRO-BIXA-CORPO-TERRITORIO-E-AFETOS-DO-CU--DISCURSO-E-PERFORMANCE-DESEJO-E-POLITICA. Acesso em: 07/07/2025

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