ESPACIALIDADES NARRATIVAS EM GEOGRAFIA DA RELIGIÃO DA IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL.

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ESPACIALIDADES NARRATIVAS EM GEOGRAFIA DA RELIGIÃO DA IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL.
Autores
  • Daniel Oliveira Pacheco
  • Sylvio Fausto Gil Filho
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Religião e religiosidades
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/880286-espacialidades-narrativas-em-geografia-da-religiao-da-igreja-evangelica-de-confissao-luterana-no-brasil
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
luteranos- Igreja- Geografia-Religião- Brasil
Resumo
Introdução: O presente texto tem como foco compreender as espacialidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), da comunidade Martin Luther, na paróquia Cristo Salvador, em Curitiba. Para isso, nos aproximamos da fenomenologia casseriana e a Hermenêutica de Paul Ricoeur. Desde o período colonial, há registros da presença “protestante” no Brasil, que segundo Matos (2011) os protestantes estiveram pela primeira vez no Brasil quando houve a invasão da Guanabara realizada pelos franceses (1555-1567), e posteriormente com invasão do nordeste realizada pelos Holandeses (1630-1654), já que muitos dos invasores eram protestantes. Porém, as invasões tiveram uma curta duração de tempo e foram reprimidas pelos portugueses, e que “No restante do período colonial, o Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada a entrada de protestantes” (Matos, 2011, p.6). A presença luterana no Brasil se deu inicialmente no período colonial, mas só se concretizou como comunidade a partir da chegada dos imigrantes europeus em 1824, como destaca Gertz (2001) a chegada de um grupo expressivo de luteranos ocorreram em 1819, mas só concretizaram a comunidade em 1824, com a chegada expressiva de alemães. A maioria desses imigrantes eram de origens teutas e dos cantões suíços1, porém veio muitos imigrantes de diversas regiões diferentes da Europa, que estava situada num contexto de uma grave crise econômica. Como fruto dessa migração, ocorreu a formação da primeira colônia alemã no Brasil, que foi em São Leopoldo (RS), em 1824. Posterior a essa colônia, houve muitas outras que se formaram principalmente no Sul, sudeste e Centro-Oeste do território brasileiro2. Em 1886 houve a formação do primeiro sínodo3 (Rio Grandense) e posteriormente surgiu o sínodo Caixa de Deus (1905), sínodo evangélico Santa Catarina e Paraná (1911) e o sínodo Brasil Central (1912). Em 1949 houve uma fusão dos 4 sínodos, que formou a federação dos sínodos. Em 1962, após o quarto concilio da igreja, que dissolveu a federação dos sínodos, dando origem a igreja evangélica de confissão luterana no Brasil (IECLB). Por fim, “Em 1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro, integraram-se em definitivo na IECLB, aceitando uma nova constituição” (Matos, 2011, p.22). Atualmente a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil está espalhada em 18 sínodos no território brasileiro, e possuem 628.577 membros (censo 2021). Em Curitiba, os registros indicam que os luteranos chegaram em meados da década de 1860, e por conta das leis e a proibição do império brasileiro (1822-1889), as práticas religiosas eram retidas as casas das pessoas e os pais faziam o culto. Só em 1866 que ocorreu a formação da comunidade com o primeiro pastor fixo. No início do século XIX, a comunidade luterana já havia se consolidado no Paraná, tanto no aspecto institucional como no social. A primeira paróquia luterana de Curitiba foi inaugurada em 1876, onde na verdade funcionava uma escola, e aos poucos foi se deteriorando, quando foi demolido em 1892, pelo fato dele ser construído a base de madeira. A inauguração do segundo templo ocorreu em 1894, onde até hoje funciona a comunidade Cristo redentor, sendo em Curitiba a maior comunidade luterana. Já havia algumas comunidades luteranas em Curitiba, mas as expansões das comunidades e das paróquias em Curitiba, só ocorreu durante as décadas de 1960-1970, como consequência do êxodo rural enfrentado no Brasil. Houve nessa época um conjunto de debates internos da IECLB, que segundo Dreher (2024) foi responsável por mudar a forma pela qual a instituição enxergava as missões, levando a compreender que a missão é um seguimento evangélico e, por alguns membros, passa a ser considerada uma questão social, sendo que não necessita de um crescimento estatístico da instituição para realizar uma missão. A paróquia Cristo rei é fruto dos processos de missões urbanas, sendo construída em 1975 e era chamada inicialmente de paróquia nordeste. Por muitos anos essa paróquia atendeu as necessidades religiosas de diversas comunidades, como a Martin Luther, a comunidade trindade e paz. Atualmente a paróquia Cristo salvador atende a comunidade Martin Luther e possui cerca de 2 mil crentes que a frequentam. Vale ressaltar que atualmente em Curitiba há 12 comunidades luteranas da IECLB.4 A base da fé da IECLB é a bíblia, e os 4 princípios da sua doutrina são somente (Cristo, fé, graça e as escrituras sagradas). Além disso, a igreja evangélica de confissão luterana reconhece como base da sua doutrina os credos da igreja antiga, a confissão de Augsburg (1530) e o catecismo menor. São reconhecidos como sacramentos apenas o batismo e a santa ceia. Das formas simbólicas a hermenêutica de Paul Ricoeur: o que as narrativas podem nos contar? Essa pesquisa foi composta por um levantamento bibliográfico, onde foi realizada uma análise da história institucional da IECLB. Também foi realizado um conjunto de entrevistas com pessoas luteranas, onde foi possível detectar e se aproximar das espacialidades luteranas. Sendo assim, foi utilizado como base teórica a filosofia das formas simbólicas de Ernst Cassirer (1874-1945), que segundo Gil Filho (2012) o sistema casseriano trabalha com a premissa de que o ser humano é um ser simbólico e que a partir das suas próprias experiências de vida, o ser vai conformando o mundo, ou seja, dando formas e significados ao espaço geográfico, que geram o seu entendimento. Na filosofia de Cassirer, existem 5 formas simbólicas: mito, arte, religião, ciência e a linguagem. Dentro das formas simbólicas, Gil Filho (2012) destaca que a religião é uma estrutura funcional e portanto, funciona numa lógica própria. Porém dentro das formas simbólicas, que Fernandes e Gil Filho (2011) desenvolvem a ideia de Cassirer, que segundo eles a linguagem cumpre um papel essencial, e que é através da linguagem que ocorre a ponte entre o material e o metafísico. Vale ressaltar que no pensamento de Cassirer admite-se que existem 2 universos: O simbólico (metafísico) e o dos Fatos (material). Partindo dessa premissa de que é a linguagem que faz a ponte entre os dois universos, foi utilizado como metodologia a Hermenêutica de Paul Ricoeur, trabalhada em conjunto com a Tripla mimesis, para conseguir uma aproximação adequada nas interpretações das narrativas. A escolha de Ricoeur está no fato dele reconhecer epistemologicamente o ser, como um ser linguístico. Dentro da Hermenêutica, Ricoeur (2000) define que os símbolos possuem um “excesso de significação “, ou seja, todos os símbolos possuem mais do que um sentido e mais do que um significado, e portanto, há uma Metáfora simbólicas que torna o símbolo bidimensional, pois o símbolo teria suas prioridades próprias e as suas prioridades linguísticas (metafóricas). A triple mimesis é um procedimento que nos aproxima da forma pela qual as narrativas caem sobre os sujeitos, e se dividem em 3 partes, como se fosse uma espiral: Mímesis I (prefiguração), Mímesis II (configuração) e a mímesis III (refiguração). Segundo Marandola, Orengo e Gil Filho (2021) Ricoeur entende que os processos de simbolização e a sua transcendência está presente na linguagem e através dela se gera significação. É através dessa significação dos elementos, que geram as espacialidades. Resultados: A presença das palavras e dos versículos bíblicos nas ações da comunidade luterana são decisivas, onde as suas missões, os seus cultos, seus símbolos, e suas diretrizes são embasadas. Não apenas nas ações, as liturgias (entrada, palavra, ceia do senhor e saída) presentes no culto luterano, demonstram e refletem a composição do Espaço sagrado na sua expressividade material, que comporta as roupas que são utilizadas pelos membros da Igreja, até a fonte batismal, estante de leitura e a mesa da ceia, onde configuram os dois sacramentos (batismo e a santa ceia), presentes no culto. Também há uma comemoração da data do batismo, onde a comunidade celebra, pois eles a consideram o segundo dia mais importante da nossa vida, sendo o primeiro o dia em que nascemos, pois seria o dia em que Deus nos colocou no mundo dele. Essa pesquisa ainda está em andamento, porém nas narrativas adquiridas foram obtidos relatos que demonstram uma separação que os luteranos possuem em relação a instituição e a fé, seguindo assim os ensinamentos de Martinho Lutero que refletem na salvação pela fé. Para além do pensamento institucional, algumas ações práticas também refletem na vida subjetiva das pessoas entrevistadas, como o ato da oração diária, da busca por boas obras, do pensamento do cuidado com o próximo e a presença de Deus em todas as conquistas pessoas ou coletivas. Notas: 1 Nos estudos de Dreher (2024) é mencionado que a maioria dos imigrantes dessa época era jornaleiros e agricultores, que migraram das regiões mais pobres da Alemanha e suíça, como Hunsrück e a Pomerânia, além dos cantões suíços. 2 Podemos citar a fundação da colônia Teófilo Otoni (1847) e a colônia Juiz de Fora (1852) presente no estado de minas gerais, a colônia de Petrópolis (1845) presente no estado do Rio de janeiro, e a colônia Blumenau (1850) e colônia dona Francisca (1851) presente no estado de Santa Catarina. 3 Sínodo é uma união de comunidades e paróquias, que resolvem caminhar juntas para o desenvolvimento mútua das duas. 4 Informações foram coletadas empiricamente em campo e parte delas retiradas da carta aberta do pastor Marcos Antônio da Silva, colocado nas referências. Referência: DA SILVA, Marcos Antônio. 150 anos da Igreja Luterana em Curitiba. Círculo de Estudos Bandeirantes, v. 29, 2016. Dreher, Martin N. Igreja evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Presença Luterana no Brasil : História e caminhada. N. Dreher, Osmar L. Witt, Wilhelm Wachholz. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, p. 9-56, 2024. DE MATOS, Alderi Souza. Breve história do protestantismo no Brasil. Vox Faifae: Revista de Teologia da Faculdade FASSEB, v. 3, n. 1, 2011. FERNANDES, Dalvani; GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia em Cassirer: perspectivas para a geografia da religião. GeoTextos, 2011. GERTZ, René Ernaini. Os luteranos não são o Brasil. Revista História Regional , 2001. GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia das formas simbólicas em Ernst Cassirer. Visões do Brasil: estudos culturais em Geografia [online]. Salvador: EDUFBA, 2012. GIL FILHO, Sylvio Fausto. Espacialidades de conformação simbólica em geografia da religião: um ensaio epistemológico. Espaço e Cultura, n. 32, 2012. Marandola, Hugo; Orengo, Alex; Gil Filho, Sylvio. Tempo Narrado e Espaço construído: Aproximações com o Pensamento de Ricoeur. XIV encontro nacional de pós-graduação e pesquisa em geografia [online], 2021. RICOEUR, Paul; MORÃO, Artur. Teoria da interpretação: o discurso e o excesso de significação. 2000.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PACHECO, Daniel Oliveira; FILHO, Sylvio Fausto Gil. ESPACIALIDADES NARRATIVAS EM GEOGRAFIA DA RELIGIÃO DA IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL... In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/880286-ESPACIALIDADES-NARRATIVAS-EM-GEOGRAFIA-DA-RELIGIAO-DA-IGREJA-EVANGELICA-DE-CONFISSAO-LUTERANA-NO-BRASIL. Acesso em: 02/07/2025

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